TRAMAS DA SEXUALIDADE EM ANTÔNIA CUDEFACHO: Educação, micropolíticas e resistências.
Sexualidade. Educação. Micropolíticas. Devir. Antônia Cudefacho.
A pesquisa tece um estudo em torno das tramas da sexualidade que perpassaram a trajetória de Antônia Cudefacho, mulher prostituta e personagem-sujeito cametaense da década de 1950, a qual foi inscrita e ficcionalizada por meio da narrativa literária “Antônia Cudefacho” do escritor cametaense Salomão Larêdo e publicada em 2006. As construções discursivas da sexualidade e as narrativas literárias estão predispostas nesta pesquisa dentro da abordagem arqueogenealógica de Michel Foucault (1996), (1999), (2004), (2008), (2015), assim como, estabelecem um fecundo diálogo entre os estudos da história da sexualidade e o campo feminista, pós-feminista e teoria queer com Butler (2016), Miskolci (2015), Rago (2008), (2013), Britzman (2000), Louro (2000), (2004); e ainda, Del Priore (2011); Deleuze e Guattari (1995), (1997). Essa movimentação teórica propiciou um olhar problematizador aos cenários discursivos, sociais e literários que enredaram as tramas da personagem-sujeito Antônia Cudefacho, em meio às micropolíticas de poder e resistência, engendrando valores, modos de vida e de educação, ao movimentar-se no território de uma “cultura heteronormativa compulsória e falocêntrica”, como afirma Rago (2013). Desse modo, a pesquisa articula alguns questionamentos: Como pensar as tramas da sexualidade que enredam a narrativa literária e de vida de Antônia Cudefacho? Como analisar os enunciados de gênero que reverberam dessas tramas de poder e resistências, através dos tempos e que participação exercem na construção de valores morais e modos de educação frente à sexualidade vista como desviante? A construção metodológica da pesquisa baseia-se na arqueogenealogia foucaultiana entrelaçada às análises da narrativa literária e aos depoimentos de doze interlocutores cametaenses conhecedores da vida de Antônia Cudefacho, de variadas idades e composições sociais, que auxiliaram a traçar uma analítica das microesferas do poder, tabus e transgressões que perpassaram as tramas da sexualidade de Antônia Cudefacho, no intuito de observarmos essa movimentação entre uma educação do passado e do presente e pensarmos sobre como o sujeito da sexualidade se constitui em meio às teias de poder e resistência. Por meio das análises da pesquisa, percebemos que essas tramas da sexualidade se constituem enviesadas nas micropolíticas de poder e resistências que configuraram os valores morais e as normas hegemônicas instituídas na sociedade cametaense de sua época, sendo tramas constituídas por normas, tabus, rótulos, exclusões, mas também, devires, resistências, transgressões que atravessam a temporalidade presente e nos levam a pensar a sexualidade por outras perspectivas. Em âmbito acadêmico e social, a pesquisa desafia-se a pensar a sexualidade na educação na perspectiva da diferença, aliada aos estudos (pós)feministas e teoria queer, sendo capaz de tensionar os (pré)conceitos forjados dentro dos parâmetros heteronormativos que engendram a sexualidade, o sexo, o gênero, o corpo normalizado, bem como, o modo de vivenciar as sexualidades diferentes, geralmente vistas como marginais e desviantes, visa, ainda, contribuir para a abertura de espaços socioeducativos plurais em consideração à liberdade de viver a sexualidade e suas diferenças para além dos códigos normalizadores instituídos na sociedade de antes e de hoje.