CONSORTES DE CAMETÁ: Performances de corpos homoafetivos em uma educação Curupiranha da Amazônia.
Casamento homoafetivo. Comunidade de Inacha. Olho de Boto. Filosofia da Diferença. Educação Curupiranha.
Esta pesquisa infere de um estudo acerca da literatura e memória de um casamento homoafetivo entre dois homens, Inajá e Inajacy (nomes fictícios), ocorrido em 1967 na comunidade quilombola de Inacha, Município de Cametá-PA, na região Amazônica. O evento ocorreu em período da Ditadura Cívico-Militar (1964-1985) presente nas memórias da população da região e no livro de romance ficcional Olho de Boto (2015) do escritor cametaense Salomão Larêdo. Os “consortes de Cametá” – como foram nomeados pelo jornal da época – sofreram retaliações e ataques vindos do poder público de Cametá, principalmente a Inajacy, qual estava trajando o vestido de noiva, logo, este ato performativo desestabilizou as normas de gênero e sexualidade de uma cidade arraigada em valores morais de resquícios da colonização europeia, e que por décadas tenta apagar do imaginário popular aquele ato vanguardista. Assim, levantamos questões: Como ocorreu o enredo e as tramas do casamento de Inajacy e Inajá? Como foi arranhar a posição factual dos “consortes de Cametá”? Como foi romper o armário onde a sociedade conservadora os tentou colocar? Como se mostraram Inacha e Cametá à época de 1967? Quais as potências de um corpo curupiranizado em movimentos de transgressão e insurreição? Como este acontecimento impacta nas memórias de moradores e no ambiente social na atualidade? Que reverberações políticas, educacionais, de gênero e sexualidade este estudo impacta na comunidade acadêmica e nas lutas LGBTQIAPN+ na atualidade? A pesquisa se baseia no método cartográfico-rizomático de Deleuze e Guattari (1995), uma pesquisa-intervenção traçada nos rastros e linhas de fuga das memórias e sexualidades pulverizantes estilhaçadas entre Cametá-Inacha, que instigaram a cartografia dos corpos homoafetivos deste trabalho. E também, de modo interseccional, em decorrência da construção rizomática do estudo, traçou agenciamentos entre duas teorias, Queer e Curupiranha, ambas, campos de estudo de sexualidade e gênero divergentes à heteronormatividade hegemônica, fortalecidas pelo encontro com diversos estudiosos da área, como Butler (2003), Miskolci (2012), Foucault (2005), Louro (2004) e Sena (2020). O reverberar deste trabalho discute uma educação curupiranha e infernal que ultrapasse o modelo tradicional de espaços educacionais, onde perpetra a violência a corpos dissidentes à heteronormatividade. Portanto, esta pesquisa-intervenção, em diálogo com a filosofia da diferença, Corazza (2002), hooks (2013) e outres, aposta em uma educação não abjeta aos corpos homo-curupirinhizados marginalizados e invisibilizados, e abre espaço a uma pedagogia infernal que transgrida e produza vidas em multiplicidades.