A psicodinâmica no processo de sofrimento psíquico do trabalhador docente relacionado à precarização do trabalho na rede pública de ensino
Precarização do trabalho. Docente. Adoecimento biopsicossocial.
Estamos em uma época de globalização, em que, cada vez mais, os trabalhadores são explorados pelas grandes corporações, as quais, objetivando aumentar seus lucros a partir da nova organização do trabalho, da globalização do mercado e da produção para consumo, causam consequências políticas, econômicas, sociais e educacionais. Toda essa gama de consequências afetaram os docentes através das reformas educacionais que implementaram conceitos de produtividade, eficácia, excelência e eficiência assentados nas novas teorias administrativas aplicadas ao campo pedagógico, pois tais exigências são cobradas do professorado em um contexto de escolas sucateadas e com pouco recurso material e pessoal, levando o professor ao adoecimento biopsicossocial a médio e longo prazo. Nesse sentido, nosso estudo visa se debruçar sobre esse contexto da precarização do trabalho para poder entender o adoecimento dos docentes. Assentamo-nos, desse modo, na seguinte temática: A psicodinâmica no processo de sofrimento psíquico do trabalhador docente relacionado à precarização do trabalho na rede pública de ensino. O objetivo geral da pesquisa é analisar a precarização do trabalho como condição desencadeadora do adoecimento psicossomático dos professores, e este sintoma como linguagem de protesto na parcela docente da rede pública de ensino. De modo mais específico, objetivamos: a) verificar as relações entre a precarização do trabalho e o adoecimento biopsicossocial na população docente; b) interpretar como a condição desestruturante do trabalho desencadeia os sintomas psicossomáticos nos professores; c) analisar quais os prejuízos individuais e coletivos que os sintomas psicossomáticos causam no docente. Utilizamos a seguinte metodologia – pesquisa bibliográfica; explicativa; qualitativa; estudo de caso e com análise de conteúdo – sob o método de abordagem materialismo histórico dialético. Os resultados parciais de nossa pesquisa sinalizam que a) há uma relação direta entre precarização do trabalho e adoecimento dos docentes, sendo que, dentre alguns dos sintomas mais presentes nesse público, está a insatisfação crônica, a desesperança na mudança da realidade, o aparecimento de estratégias de defesa para o autoconvencimento e a aceitação das condições de trabalho; b) as condições desestruturantes da organização do trabalho na educação pública leva os docentes ao adoecimento como efeito da incongruência entre estrutura precarizada e exigência de eficácia na sua produtividade; c) os docentes, além do adoecimento psicossomático, lidam com prejuízos sociais, econômicos e afetivos, com a dificuldade de organização da categoria para enfrentar a exploração vivida e, por fim, com os afastamentos sistemático de seus postos de trabalho; d) também alcançamos, como resultado parcial, a compreensão de que há todo um processo de moldagem do comportamento de servidão no trabalhadores em geral, assim como nos docentes, através da submissão à ideologia da classe dominante embasada na economia globalizada - alienação pautada em um tradição que leva o trabalhador a ter uma postura de mansidão perante as injustiças vividas no trabalho. Em linhas gerais, nossa pesquisa vem conseguindo atingir nossos objetivos e confirmar nossas hipóteses de que a precarização do trabalho tem um efeito direto sobre a dinâmica saúde-doença do docente que vive um contexto de educação pública de sucateamento, o qual, em nosso entendimento, reflete a visão da educação como um mercado a ser explorado, cujo efeito mais imediato é a privatização dessa área.