Dissertações/Teses

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2024
Descrição
  • PETI MAMA GOMES
  • Caminhos de gênero nas feras de Bissau: resiliência e desafios de mulheres guineenses em contextos de vulnerabilidade diante dos impactos sociais e econômicos da COVID-19

  • Orientador : JANE FELIPE BELTRAO
  • Data: 24/04/2024
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  • Na Guiné-Bissau, as feras - palavra do Crioulo parafeiras” - exercem um significativo papel na vida econômica, social e cultural do país. São locais de intensas atividades de compra e venda de mercadorias, e também englobam questões de emancipação feminina, pontos de encontro e reencontros, narrativas históricas, vivências e experiências compartilhadas. Sendo assim, configuram-se como espaços públicos plurais e privilegiados desde um ponto de vista etnográfico, onde uma série de relações socioculturais complexas se desenvolvem. Nesse contexto, a presente tese tem como objetivo compreender, por meio de uma perspectiva antropológica-feminina, a dinâmica socioeconômica de mulheres guineenses, que ora como bideras (vendedoras de feira oficiais), fassiduris di bida (mulheres que fazem a vida vendendo), ora como sumiaduris (vendedoras que têm hortas) e bindiduris (vendedoras no geral), estão em movimento com mercadorias desempenhando papéis ativos nas três principais feras locais: Bande, Caracol e Bairro Militar, todas na cidade de Bissau, capital da Guiné-Bissau, antes, durante e após a pandemia. O estudo é resultado de uma pesquisa de natureza etnográfica, cujo processo metodológico combinou pesquisa etnográfica online e trabalho de campo presencial. Para isso, utilizaram-se narrativas orais provenientes de plataformas digitais, como redes sociais, através de mensagens e áudios compartilhados com mindjeris di fera (mulheres de feira). Durante o período de pesquisa, os principais métodos de trabalho etnográfico incluíram conversas informais, transcrição e análise posterior dos dados. Essas últimas etapas ocorreram na cidade de Bissau, com o foco nas bideras e fassiduris di bida. A análise centrou-se na problematização das relações de gênero e trabalho e como elas foram afetadas pela pandemia. Os resultados indicam que as minhas interlocutoras de pesquisa são responsáveis pela organização de uma grande parte da subsistência material e simbólica no país, coisa que foi evidenciada e acentuada durante a emergência da pandemia de COVID-19.

  • ALANA PEREIRA DA SILVA
  • “A igreja rachou”: uma etnografia das dissidências e dramas de gênero no circuito daimista de Marabá – PA

  • Orientador : JULIA OTERO DOS SANTOS
  • Data: 04/04/2024
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  • O campo etnográfico desta pesquisa situa-se no município de Marabá, região sudeste do estado do Pará. Com a intenção de descrever a constituição do que estou chamando de circuito daimista marabaense, analiso as cisões que ocorreram nos centros do Santo Daime na cidade. As dissidências são comuns no processo de expansão dessa religião ayahuasqueira. Nesta dissertação, procurei refletir a partir da categoria de “indisciplina”. Uma vez que a disciplina é valorizada pelos praticantes desta religião, seu oposto – a “indisciplina” – é a categoria que utilizo para entender os comportamentos divergentes de homens e mulheres cisgêneros e transgêneros envolvidos em rixas e rachas nos centros daimistas. Utilizo de descrições das relações conflitantes entre corpos sexuados e generificados no sistema binário daimista e mobilizo-as enquanto dramas de gênero. Os episódios aqui narrados trazem elementos para pensar tradição, modernidade e identidades sexuais e de gênero na Amazônia brasileira. 

  • EWERTON DOMINGOS TUMA MARTINS
  • Aspectos da pesca artesanal nas comunidades de Bacuriteua, Camará e Sossego em Marapanim (PA): mudanças e continuidades

  • Data: 18/03/2024
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  • Este estudo visou desvelar aspectos da pesca artesanal praticada por pescadores e pescadoras artesanais que habitam três comunidades pesqueiras situadas no município de Marapanim, região costeira do estado do Pará. O objetivo foi identificar processos que resultaram em mudanças nessa atividade, identificando estratégias de resiliência que permitem a continuidade nas práticas pesqueiras. Para isso, buscou-se identificar as características dos territórios pesqueiros, os tipos de ambientes onde são realizadas as pescas, as principais técnicas utilizadas no passado e quais têm continuidade no presente; os fatores que contribuíram para mudanças e as estratégias adotadas pelos(as) pescadores(as) para dar continuidade a essa atividade. A análise utilizou conceitos como tradição, modernização e mudança, e dialoga com referenciais teóricos que debatem sobre mudança, continuidade e as injunções na atividade de pesca. A metodologia utilizada consistiu na realização de pesquisa etnográfica, para obter informações de caráter qualitativo e quantitativo, com a utilização de técnicas da etnografia que incluíram a observação participante em colaboração com pescadores(as) de três comunidades, tomadas como referência para o estudo de caso: Bacuriteua, Camará e Sossego. Além disso, uma pesquisa de campo foi realizada via entrevistas pela rede social WhatsApp, ressaltase que a etapa a distância se estendeu de julho de 2023 a fevereiro de 2024. A pesquisa identificou tensões entre a pesca em escala industrial e artesanal na atividade pesqueira local. Os resultados alcançados apontam que mudanças no ambiente como o aterramento de rios, a pressão da pesca em escala comercial afetou os estoques das espécies-alvo da pesca artesanal, tornando ineficientes técnicas de captura fixa, como os currais; e a dificuldade de realizar a pesca em áreas distantes das praias e no estuário afeta a capacidade de produção e, consequentemente, a renda dos(as) pescadores(as). Nesse sentido, como uma das estratégias de resiliência, a pesquisa identificou a criação da Reserva Extrativista Marinha Mestre Lucindo, no município de Marapanim.

  • CARLOS SERGIO DE BRITO MOREIRA JUNIOR
  • O “pensamento concentrado”: concepções sobre saúde mental e bem viver na pajelança do povo Tembé/Tenetehar

  • Data: 11/03/2024
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  • Nesta dissertação propõe-se uma análise do que entendemos por saúde mental a partir da percepção do próprio povo Tembé/Tenetehar, assim como suas imbricações e formas de tratamento destes quadros levadas a cabo pela pajelança e seus muitos especialistas. Para tal, será realizado um levantamento bibliográfico acerca das diversas formas que a saúde mental pode assumir entre os povos indígenas, como suas imbricações com a cosmologia, sonhos e xamanismo, para permitir a comparação com a realidade do povo Tembé/Tenetehar e suas demandas. Ao tentarmos traduzir nosso entendimento do que seria saúde mental para a realidade ameríndia, encontramos diversas barreiras, com diversas tentativas resultando em situações onde as formas do pensamento ocidental se sobrepuseram às formas indígenas de refletir sobre o fenômeno. As sociedades ameríndias percebem o que entendemos por saúde mental a partir de suas próprias ontologias, cosmologias e formas de pensamento. Assim, espera-se contribuir para o conhecimento em saúde mental entre o povo Tembé/Tenetehar e suas demandas de forma que suas reflexões sejam respeitadas e levadas em consideração na análise, abordando as questões relacionadas ao tema sob uma perspectiva antropológica e tentando construir pontes entre as formas indígenas e as concepções médicas ocidentais.

  • SILVANDRA CARDOSO GONÇALVES
  • “Tudo ali eles usavam tipiti pra espremer massa, tem o pilão, são objetos que foram usados pelos nossos avós”: O Museu Negra Lúcia Maria Cardoso - Quilombo São José dos Pretos, Guimarães, Maranhão

  • Data: 29/02/2024
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  • Esta dissertação apresenta reflexões resultantes de pesquisa de mestrado que desenvolvi no museu quilombola “Negra Lúcia Maria Cardoso”, localizado no município de Guimarães, Estado do Maranhão. O estudo teve como objetivo reconhecer os sentidos da cultura material reunida no museu em diálogo com as comunidades quilombolas do município de Guimarães, no âmbito dos debates das áreas de Antropologia, Arqueologia e Museologia. O Quilombo São José dos Pretos é uma comunidade de referência no movimento negro quilombola da cidade de Guimarães, tanto pelas suas dinâmicas socioculturais, como pela ação política na organização de seu território. Em 2009, a comunidade se autodeclarou quilombola, desde então, as suas ações consideram elementos identitários ancestrais africanos de sua história que incluem suas tradições, saberes, fazeres e a ressignificação de objetos. O município de Guimarães tem em sua história uma forte presença de negros e negras africanos desde o século XIX, período em que foram distribuídos como mão de obra escravizada nas mais de 80 fazendas de engenhos de açúcar implantadas na cidade. Os quilombolas de São José dos Pretos narram a presença africana em seu território, referindo-se às pessoas negras que ali trafegavam para fugir dos canaviais do antigo engenho da Fazenda Brejo. Do mesmo modo, rememoram as histórias e experiências de Negra Lúcia Maria, sua avó, que os inspiraram a preservar a história da formação do seu território étnico. Esse universo ancestral os levou a organizar um museu quilombola que reúne objetos relacionados com os seus ancestrais e com o cotidiano da comunidade. Nesse sentido, viso compreender os significados do museu para os coletivos quilombolas, bem como as dimensões étnicas das materialidades que constroem o próprio museu como território quilombola. Para isso, questiono: por que criar um museu quilombola? Por que escolheram os objetos ali expostos? O que o espaço museal quilombola do São José dos Pretos visa expressar com essas memórias materiais?

  • JULIENE PEREIRA DOS SANTOS
  • TERRITORIALIDADES ESPECÍFICAS NO ALTO RIO TROMBETAS: Reflexividade sobre os Modos de Vida dos Quilombolas em Conflito com Grandes Projetos.

  • Orientador : ROSA ELIZABETH ACEVEDO MARIN
  • Data: 20/02/2024
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  • Esta tese de doutorado propõe uma análise reflexiva das dinâmicas resultantes de estratégias empresariais de exploração mineral na Amazônia, com foco específico nos efeitos sobre as lógicas de vida e trabalho de povos e comunidades tradicionais, em particular os quilombos situados na região do Alto Rio Trombetas, município de Oriximiná/Pará. O estudo se centra na interseção dessas comunidades em meio às ações do Projeto Trombetas, ali instalado desde a década de 1970, com destaque à iniciativa da extração de bauxita, tendo ainda por propósito a implantação de Unidades de Conservação (UC). O método adotado nesta pesquisa é fundamentado na descrição etnográfica, procedendo-se a uma análise detalhada das práticas cotidianas e das relações dessas comunidades com os recursos naturais. O uso comum desses recursos pela comunidade quilombola contrapõe-se às lógicas neoliberais de exploração mineral e as abordagens de preservação ambiental orientadas pelo estado, via através da qual prima-se por compreender a teia de interações entre diferentes modos de objetivar a terra e os recursos que dela provém. Ao construir conhecimento, destaca-se que este estudo – realizado por uma pesquisadora quilombola –, adota posturas da antropologia reflexiva, reconhecendo a importância das memórias vividas e registradas através das narrativas dos informantes, sujeitos da pesquisa. Ao identificar conflitos étnico-territoriais decorrentes de interferência da empresa e da agência estatal nos territórios quilombolas, a pesquisa reflete sobre como essas intervenções afetam as formas de autonomia da comunidade, ou seja, de sua autogovernabilidade; condições essenciais para a reprodução física, social, cultural e simbólica dos agentes sociais autodeclarados oficialmente como “remanescentes de quilombos”. Com isso, objetiva-se prioritariamente compreender os efeitos das estratégias empresariais e estatais na vida das comunidades quilombolas, destacando a importância dos direitos étnicos e territoriais, com ênfase na preservação de práticas ecológicas e modos de vida específicos. Ao abordar essas questões, a tese contribui para o debate acadêmico sobre os desafios enfrentados por comunidades tradicionais diante da exploração mineral e da implementação de políticas de conservação ambiental, ressaltando a necessidade de considerar as perspectivas e os direitos dessas comunidades no contexto das políticas, programas e projetos face aos critérios norteadores de territórios tradicionalmente ocupados.

  • JOANA EMMERICK SEABRA
  • Mulheres organizadas e corpo-territorialidades de cuidado: saberes-fazeres e lutas frente aos conflitos e megaprojetos de morte do extrativismo em Abya Yala e Pindorama

  • Data: 30/01/2024
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  • Por toda Abya Yala e Pindorama, o (neo)extrativismo vem implicando aprofundamento de contínuos de violência colonial nunca ceifada. Mega projetos de desenvolvimento avançam com seus fluxos, processos de territorialização e infraestruturas logísticas, capitaneados sobretudo pela mineração e agronegócio, cercando e pressionando os corpos-territórios de mulheres diversas e suas comunidades. Nesta pesquisa, acompanhamos mulheres organizadas que estão muitas vezes à frente dessas lutas ecológicas-ontológicas, buscando aprender com elas sobre as múltiplas violências perpetradas contra a terra/natureza, os corpos feminizados e racializados, nestes contextos, por um lado, e, por outro, as formas como a relação corpoterritório-terra é mobilizada em sentipensamentos, territorialidades e estratégias de coletivização das r-existências. Construímos uma etnografia em movimento, através de conversas no espaço virtual, nos anos de 2020 e 2021, pisando o chão de algumas de suas/nossas lutas, e através de documentos, relatórios, e outros textos escritos e publicizados em diferentes canais. Seguindo os fios que tecem suas/nossas teias, vamos atentando ao diálogo com mulheres indígenas, negras e quilombolas, ribeirinhas, extrativistas, quebradeiras de coco, lideranças, sabedoras – parteiras, com uma diversidade de saberes-fazeres e perspectivas e com atuação político-comunitária em cinco territórios no Pará e no Maranhão. Todas estas conversas, virtuais e presenciais, tangenciam os significados do corpo-território-terra para cada uma delas e suas coletividades, assumindo o conceito como categoria de análise etnográfica. Categoria que nos leva a aprender e descrever como o cuidado desponta como elemento articulador da relação corpo-território-terra nos distintos sentipensares, evidenciando certas semelhanças nas discursividades sobre os corpos-territórios em luta. Argumentamos que isto reflete a vigência de um processo de afirmação e politização destes saberes, práticas e relações garantidoras da reprodução das vidas em sentido comunitário, logo, de uma politicidade ecológica própria pautada no cuidado. Sustentamos a tese de que mulheres diversas e suas comunidades encarnam, por sua vez, territorialidades de cuidado, políticas e espirituais, na permanente constituição de seus corpos-territórios/mundos, e que o cuidado expressa modos de defesa das relações de vida que se contrapõem e enfrentam os projetos e planos da morte de mega projetos extrativistas.

2023
Descrição
  • LUCIANA RAILZA CUNHA ALVES
  • O POVO DO FUNDO: cosmologias em construção e territorialidades no Baixo Amazonas

  • Data: 22/12/2023
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  • Esse é um trabalho de pesquisa etnográfica desenvolvido na região do Baixo Tapajós e Amazonas entre agentes sociais de diferentes identidades étnicas (indígenas, quilombolas) e os autoatribuídos pajés, curadores, benzedores, sacacas e puxadores. A pesquisa objetiva apreender como a cosmologia está imbricada no território, para tal questão foi necessário acessar diferentes localidades, narrativas do modo de viver dos povos e comunidades tradicionais com os quais trabalhei. No percurso do trabalho foi possível observar como a prática de cura, fundamentada, às vezes, na viagem ao fundo do rio realizadas por aqueles dotados do dom, os sacacas. As viagens aparecem como transmissão de conhecimento e o domínio que exercem sobre o território (O’Dwyer, 2019), ultrapassando os limites de fronteiras das comunidades. Nas narrativas o fundo do rio ou o encante, emergem os encantados: animais (boto, sereia, sapo, cobragrande), bichos, mestres, os quais são assinalados numa relação cotidiana com os agentes sociais. O que me faz questionar: o que estes agentes sociais ao ressaltar a importância dos lugares, o encante, morada dos encantados, trazem como contribuição para compreensão da relação identidade, território e cosmologia, diante do contexto de conflitos entre madeireiros, sojicultores e o avanço de projetos de infraestruturas (portos, estradas, etc.), os quais têm devastada em larga escala sobre as florestas nativas, assoreamento dos rios e envenenando solo? Como organizar a reprodução social e a manutenção do modo de vida destes povos e comunidades tradicionais? Como se dará a busca pelo conhecimento no fundo dos rios, tendo em vista o crescente destes avanços? Neste sentido, a interpretação dos dados coligidos em trabalho de campo me leva a seguinte tese: é possível pensar o território sem cosmologia? Na pesquisa de campo realizei entrevistas, conversas informais, assistir documentários e em meio a pandemia da Covid 19 passei a conversar por meio da rede social WhatsApp. Neste sentido, as narrativas dos agentes sociais, revelam que a cosmologia está diretamente associada à identidade étnica e à luta pela permanência nos territórios.

  • TATIANE SILVA SOUSA
  • Da seringa à farinhada: produção e modo de vida na Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade, Vale do Juruá – Acre

  • Data: 27/11/2023
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  • Este trabalho tem como objetivo observar a dinâmica das redes de relações sociais de modo a verificar como pessoas e grupos constroem estratégias para assegurar a reprodução de suas práticas sociais, culturais e econômicas em comunidades da Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade, Alto Juruá, Acre. Para tal, utilizo o conceito de redes sociais como estratégia de método e técnicas como observação participante nas comunidades Morro da Pedra e Periquito, fotografias, entrevistas, genealogias, assim como mantive um caderno de campo. O Riozinho da Liberdade foi ocupado por não indígenas durante o primeiro ciclo de produção de borracha (Hevea brasiliensis) (1870- 1912), quando se estabeleceu o sistema de aviamento nos seringais. A produção ocorreu até meados da década de 1990, quando o governo brasileiro encerrou as políticas protecionistas que garantiram a produção de borracha amazônica. Ocorre a mudança dos interesses políticos e econômicos do governo brasileiro para com a Amazônia, passando a incentivar sua colonização e a financiar projetos de infraestrutura que vieram a ameaçar o modo de vida dos povos de comunidades tradicionais. A fronteira da exploração da pecuária, da madeira e especulação fundiária avançou na Amazônia Acreana e é quando surge o movimento social dos seringueiros. Organizados e representados inicialmente pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), fundaram delegacias sindicais nos seringais e posteriormente fundaram e atuaram através do Conselho Nacional de Seringueiros (CNS) e associações locais. Estabeleceram alianças com os povos indígenas, movimento ambientalista, organismos internacionais e outras instituições. Primeiro utilizaram os empates como uma estratégia local para frear o desmatamento e posteriormente, vieram a incorporar ao seu discurso a pauta ambientalista, pressionando o Estado brasileiro pelo reconhecimento dos seus direitos sociais, territoriais, pelo fim do sistema de barracões e criação das RESEX’S. Com o fim da atividade extrativa, os seringueiros passam a se dedicar a agricultura e principalmente a produção de farinha de mandioca. As famílias migram das colocações no interior da floresta e se aglomeram nas margens do Riozinho da Liberdade, onde instituições públicas começam a atuar e assim são formadas as comunidades que existem hoje em dia. Há continuidades estruturais na forma como os grupos domésticos constroem suas relações de troca e parentesco, entre o período de colocações para agora com as comunidades. Relações de aviamento ainda persistem, mas já não ocorre a imobilização da mão de obra como havia anteriormente nos seringais. A criação da RESEX assegurou direito territoriais, mas não novas fontes de renda baseadas no extrativismo vegetal, o que vem sendo trabalhado por novas associações, ainda que de forma incipiente. Redes fundamentadas no parentesco, reciprocidade, aviamento e ajuda são importantes para que se garanta a produção, comercialização, alimentação e assistência em momentos de dificuldade. Garantindo desta forma segurança e estabilidade social e econômica.

  • BRUNA SOARES DO VALE
  • Rosas de Saron: Etnografia de uma “ocupação”, modos de resistir, lutar e fazer arte em Ananindeua

  • Data: 23/11/2023
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  •  A pesquisa teve como objetivo compreender como a participação na luta política por moradia, em uma ocupação de terra no município de Ananindeua, influencia o cotidiano, a perspectiva e a produção artística dos residentes locais. Para alcançar esse entendimento, a pesquisa se baseou em um diálogo interdisciplinar entre arte e antropologia. Esse enfoque permitiu analisar os processos de organização, modos de vida, produção e resistência dentro da ocupação. A interseção entre arte e antropologia trouxe à tona reflexões cruciais sobre a importância da arte e sua relação com a precarização da vida, além de destacar o papel das imagens na humanização dos indivíduos. O estudo foi conduzido na ocupação Rosas de Saron, localizada no bairro periférico das Águas Brancas, na fronteira com o território tradicional do Quilombo do Abacatal.

  • RAIMUNDO NEY DA CRUZ GOMES
  • O fazer arqueológico no trabalho de campo em um sítio na Campina, Centro Histórico de Belém – pessoas, paisagem e cultura material

  • Data: 19/10/2023
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  • Esta tese, apresentada em três artigos, busca relacionar pessoas, paisagens e cultura material, três conceitos muito caros, seja a antropologia que a arqueologia. As junções e disjunções entre os três objetos, ensejo para produzir história, são trazidas pelo fazer arqueológico na escavação de um casarão localizado no centro histórico de Belém, no Pará, que foi registrado a partir desta pesquisa como sítio Sesc Ver-o-Peso. A tese aqui defendida é a de que, no centro histórico de Belém, pessoas, paisagem e cultura material, realizam complexos intercâmbios e entrecruzamentos, que contam histórias. E que essas histórias podem ser escritas por meio da investigação arqueológica e antropológica em sua interface com a problematização da ideia de patrimônio cultural. Essa é a tese que costurou os artigos que compõem este trabalho final de doutorado.

  • ELIENE DOS SANTOS RODRIGUES
  • Saúde Indígena: Com o Caderno e a Caneta na Mão Trazendo os Determinantes Sociais, Epidemiologia, Genética/Ancestralidades e os Povos Indígenas na Pandemia da COVID-19, Amazônias - Brasil

  • Data: 11/10/2023
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  • As vivências nos primeiros meses da pandemia foram difíceis, longe de nossas famílias e territórios, e principalmente com a preocupação com os nossos anciãos e anciãs, pois são nossas bibliotecas vivas de ciências ancestrais que muitas vezes não conseguimos reconhecer e aprender para dar continuidade com os conhecimentos das medicinas indígenas. Este Tese é desenvolvida por meio da agregação de um texto integrador e quatro artigos científicos. Na primeira parte é descrita minha trajetória acadêmica e profissional entre dois mundos, os quais se vinculam fortemente com a minha “pertença” Baré/Baniwa. Os Determinantes Sociais, a relação entre o subsistema de saúde indígena e os impactos da pandemia de SARS-CoV-2 nos grupos indígenas, bem como a discussão de possíveis impactos da biologia evolutiva e de questões de natureza epidemiológica como hipóteses e desafios para explicar o padrão de morbimortalidade pela COVID-19 observado entre os povos indígenas atendidos pelo Subsistema de Saúde Indígena, serão apresentados como partes do texto integrador, seguido por três artigos publicados que demonstram a resistência ancestral dos Povos Indígenas, com base em dados epidemiológicos, genéticos e suas ciências ancestrais, além de um artigo ainda em construção sobre as bases genéticas subjacentes que podem explicar a resposta dos povos indígenas à infecção pelo Sars-CoV-2. O artigo 1 relata a experiência de indígenas estudantes na UFPA com a COVID-19nos serviços de saúde pública de Belém. O artigo pretendeu ser propositivo nessa reflexão, dando voz aos indígenas que passaram por essas experiências e rompendo com o que poderia ter se tornado apenas silêncio, mas que, agora, é um grito. E trouxe para discussão também os dados epidemiológicos dos indígenas estudantes que foram contaminados pelo Sars-CoV-2 e os sintomas mais frequentes da COVID-19. Os artigos 2 e 3 estão entre os primeiros no Brasil a trazer informações em relação ao sistema imune dos Povos Indígenas em contexto de aldeamento. Os resultados apresentados no artigo 2 reforçam a importância dos estudos de vigilância soroepidemiológica, especialmente estudos usando métodos com alta sensibilidade/especificidade para minimizar resultados falso-negativos. É destacada também a importância das políticas públicas de saúde indígena como meio de monitorar e minimizar o impacto durante a pandemia da COVID-19. O artigo 3, submetido para publicação, é um estudo descritivo sobre a pandemia de COVID-19 no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2021, que foi realizado com dados da SESAI nos povos indígenas atendidos pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) nos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) que perfazem um total de pouco mais de 762 mil indígenas, distribuídos em 250 etnias ou povos, que vivem em terras indígenas em todo o Brasil. Visto de outro modo, os resultados obtidos nesse artigo descrevem aspectos altamente positivos dos povos indígenas brasileiros, com uma resposta não usual frente à pandemia pelo Sars-CoV-2, pois, ao contrário do esperado, pelo menos com relação à mortalidade, se saíram melhor do que a população brasileira em geral. No artigo 4 são descritos dados sobre a frequência de variantes dos genes ACE1, ACE2 e TMPRSS2, envolvidos na entrada do SARS-CoV-2 na célula hospedeira, em seis povos indígenas do estado do Pará, na Amazônia brasileira (Araweté, Kararaô, Parakanã, Xikrin do Bacajá, Kayapó e Munduruku). O estudo teve como x objetivo descrever informações que possam contribuir para esclarecer a base genética subjacente à suscetibilidade à infeção por SARS-CoV2 e à gravidade da doença COVID-19. O perfil genético exibiu um padrão étnico-específico, com baixas frequências de alelos de risco, sugerindo que o risco global de gravidade da COVID-19 representado pelas variantes genéticas analisadas é menor do que nas populações continentais e nos brasileiros em geral.

  • PAULO VICTOR NERI CARDEAL
  • Povos Indígenas nos papéis do Relatório Figueiredo: uma etnografia da tortura

  • Data: 29/09/2023
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  • Inúmeras são as violações de Direitos Humanos produzidas nos anos da Ditadura Civil-Militar Brasileira. O lastro de chumbo que se espalhou pelos corpos de todas/os aquelas/es que se opuseram ao governo deixou feridas atrozes, as quais, ainda hoje, sangram nos pontos de autoritarismo, negligência e esquecimento promovidos pelo Estado brasileiro. Desta forma, este trabalho objetiva discutir as práticas de torturas realizadas contra aqueles que foram – e ainda são – entendidos como entrave ao progresso, corpos esquecidos pela história oficial e relegados a um lugar secundário nos estudos sobre a ditadura, vidas consideradas menos importantes e atravessadas pela colonialidade, os povos indígenas. O “trabalho de campo” foi realizado a partir da etnografia das quase sete mil folhas do relatório conclusivo da CPI instaurada em 1967 e presidida pelo procurador Jader de Figueiredo Correia, a qual objetivava averiguar as irregularidades administrativas presentes no Serviço de Proteção aos Índios (SPI), órgão que cuidava das políticas indigenistas na época. Documento que ficou, metonimicamente, conhecido como Relatório Figueiredo e contém em suas linhas, além de indícios de irregularidades com as contas públicas, diversos casos de violações de Direitos Humanos contra pessoas indígenas, tais como torturas físicas e psicológicas, estupros, massacres de aldeias inteiras, execuções sumárias, entre outras. Os dados foram coletados em meio aos diversos tipos de documentos que compõem o conjunto, foram devidamente organizados e vêm sendo analisados em uma perspectiva interdisciplinar, nos quais os trânsitos entre a Antropologia Social, a História, a Arqueologia e o Direito se fazem fundamentais. Diferente das torturas praticadas contra não indígenas, contempla-se nesta análise a incidência da colonialidade como ponto fundante das ações nefastas do estado brasileiro, pois muito mais que inimigos do desenvolvimento, a desconsideração da própria humanidade desses corpos é um elemento chave para a estruturação dessa esfera do terror na política de controle e gestão dos territórios.

  • ROSENILDO DA COSTA PEREIRA
  • Identidade étnica, formas de enquadramento institucional, modos de fazer e práticas de uso dos ribeirinhos amazônidas: o caso do assentamento quilombola na ilha de Campompema, Abaetetuba, Pará

  • Data: 19/09/2023
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  • Este texto de tese analisa a partir de uma abordagem etnográfica como modos de conhecimento são mobilizados por grupos domésticos no contexto do território de comunidades tradicionais da Amazônia. O lócus em que a pesquisa foi desenvolvida trata-se do assentamento quilombola São João Batista, situado na cidade de Abaetetuba, Estado do Pará. A partir de um estudo etnográfico, descrevo tecnicamente como os modos de conhecimento do confeccionar o matapi e do seu respectivo uso são mobilizados pelos moradores locais, bem como, trago para o debate os modos de conhecimento da carpintaria naval artesanal construídos na dinâmica do território em estudo. Traço como objetivos principais: Fazer uma pesquisa etnográfica na comunidade, descrevendo modos de conhecimento transmitidos e mobilizados/utilizados/construídos na relação com o território ocupado até o respectivo reconhecimento de terras tradicionalmente ocupadas, cujos saberes foram sendo reajustados ao longo dos anos; analisar como se dá o processo de fabricação do matapi pelos sujeitos ribeirinhos locais a partir da antropologia da técnica, descrevendo etnograficamente os processos de conhecimento envolvidos e etapas de produção; fazer uma análise das formas de uso do instrumento matapi pelos moradores do território local, descrevendo todo o processo com o trabalho de pesca com tal apetrecho; e abordar, da mesma forma, o conhecimento da carpintaria naval local. A análise situacional aponta para um conjunto de saberes e conhecimentos mobilizados pelos moradores dentro do/no território referenciados, sobretudo e de forma particular, à carpintaria naval artesanal e à confecção e uso da armadilha matapi, em uma perspectiva da antropologia da técnica.

  • NEUSANI OLIVEIRA IVES FELIX
  • Agrobiodiversidade Tentehar na Aldeia Olho D’Água, Maranhão: trajetórias, saberes e práticas

  • Data: 08/09/2023
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  • A agrobiodiversidade, parte da biodiversidade que agrega variedades agrícolas e recursos genéticos relevantes para a alimentação e para a agricultura, em interação com os processos socioculturais e com os saberes associados às plantas e animais manejados e silvestres com fins alimentares, tem diminuído nos últimos anos em virtude da política de modernização agrícola que fortaleceu os processos de uniformização das dinâmicas de produção, vulnerabilizando os sistemas agrícolas locais. Na abordagem teórica e metodológica deste trabalho utilizei a pesquisa etnográfica com observação participante, controle de impressões, memória coletiva, narrativas orais, entrevistas semiestruturadas e abertas, questionários e caderno de campo. A questão central da tese foi: qual o lugar da agrobiodiversidade na vida do povo Tentehar, Aldeia Olho D’Água, considerando a dinâmica dos sistemas agrícolas locais, roças e quintais, e, a interação mata-caçadorpresa? Pode se inferir que esse lugar é de resiliência e que se relaciona com a reprodução e manutenção dos modos de vida Tentehar. A agrobiodiversidade se constituiu como o fio que entrelaçou as relações do agricultor local com o manejo das roças, dos quintais e com as matas. As roças, apesar de terem os seus espaços diminuídos nos últimos tempos, assumem um papel central na conservação da biodiversidade de plantas e na manutenção e transmissão de conhecimentos e práticas associadas ao modo de fazer roças. Os agricultores locais reconhecem/ou cultivam etnovariedades de favas; de mandiocas, de arroz, de feijão, de melancia, de milho, de batata-doce, de algodão, de inhame, dentre outros. Já, os quintais, em sua multifuncionalidade, formam um mosaico onde coexistem plantas, animais domesticados, humanos e os donos das plantas, o àràbin. Dentre as suas etnovariedades de cultivares foram registradas 87 espécies de plantas úteis presentes em 10 quintais, bem como, a criação de porco, bode, gado, aves, dentro outros. Da agrobiodiversidade vinda das matas, estão: o tatu, peba, veado catingueiro e mateiro, caititu, cutia, quati mundé, jacu, juriti, lambú, pombinha. E, os saberes ancestrais, táticas empregadas para a captura dos animais, as armas, as armadilhas, situações de convívio interespécies permeadas pela ambivalência entre matar a caça para se alimentar e o medo da represália vinda de seus piwáras. Regras, interdições e proibições estabelecidas e respeitadas na atividade de caçar, uma ou mais interações, entre mata-caçador-caça. A agrobiodiversidade das roças-quintais-matas é fonte considerável na promoção da SSAN e conferem traços de singularidades na cultura alimentar Tentehar. Como guardiões da agrobiodiversidade os agricultores Tentehar resistem com seus pequenos pedaços de roça cultivando seus legumes, multiplicando e trocando sementes com parentes e vizinhos. Nos quintais realizam experimentações com animais e plantas, e, fabricam mudas de cultivares que circulam entre si, em um sistema de conservação de recursos genéticos in situ/on farm. Por fim, as narrativas orais trazidas ao longo do texto, os dados da pesquisa de campo, em diálogo com a literatura pertinente, confirmam que o manejo de roças, de quintais, e, a interação mata-caçador-presa, é pedra angular no processo de manutenção da agrobiodiversidade, remetendo ao sentido de trajetórias, identidade e autenticidade.

  • NADISON GOMES DE OLIVEIRA
  • O potencial da cultura material na educação museal sobre formas de violência na Amazônia

  • Data: 04/07/2023
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  • O objetivo principal deste trabalho é analisar e refletir sobre possibilidades de práticas de educação museal que através da cultura material abordem o tema da violência em instituições museológicas na região amazônica. Com o intuito de compreender maneiras em que a cultura material pode ser utilizada em atividades de educação museal e/ou patrimonial voltadas para problemas sociais e políticos envolvendo diferentes formas de violências na região, principalmente, contra grupos considerados socialmente minoritários, envolvendo questões étnico-raciais, de gênero e sexualidades. Como metas para alcançar este objetivo me proponho a compreender a importância da cultura material e algumas possibilidades em que podem se tornar agentes em práticas educativas nos museus; mapear as compreensões de museus, educação museal e violências em museus da região amazônica, através de relatos de discentes do curso de Museologia da Universidade Federal do Pará e pessoas museólogas formadas, que atuam ou atuaram em instituições na região; e comparar as práticas relatadas com as noções de educação presentes em cartas patrimoniais e de museus, e também, com a Declaração Universal de Direitos Humanos, para compreender se as ações descritas, localizadas na região amazônica, estão condizentes com as diretrizes que visam a manutenção de práticas para o desenvolvimento da democracia e da paz. Com isso surgem reflexões de como a memória e o poder são elementos intrínsecos dos museus; propostas para educar sobre violências de forma sensível e engajada através das coisas; e a possibilidade de pensar em uma Museologia amazônica e uma educação museal regional.

  • ANTONIO DA CONCEIÇÃO PACHECO NETO
  • Viagem por uma cartografia viva e agente: uma etnografia da conservação do Mapa Etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes (1943), de Curt Nimuendaju

  • Data: 25/05/2023
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  • Curt Nimuendajú (1883-1945) produziu um vasto material nos mais de 40 anos de atuação no campo da etnologia indígena. Dentro deste significativo corpo de trabalho, destacam-se as três versões do “Mapa Etno-histórico do Brasil e Regiões Adjacentes”, documentos que resumem a experiência e o conhecimento de Nimuendajú na área. Esta dissertação tem como objetivo etnografar o processo de conservação, entre os anos de 2012 e 2013, pelo qual foi submetida a versão do mapa que está depositada na Biblioteca do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém. A materialidade do documento é utilizada como interlocutor nesta etnografia usando os conceitos de agência de objetos e vida das coisas desenvolvidos por Gell (2005), Latour (1992) e Ingold (2012) para entender como essa materialidade atuou nas negociações que aconteceram durante o processo de conservação entre o objeto e as profissionais responsáveis. Esta etnografia também discute a importância do Mapa para além da sua materialidade. A partir da biografia do seu autor, discuto como o Mapa também pode ser entendido como um registro no tempo e no espaço da presença dos povos indígenas no Brasil e como ele influencia a sua instituição de guarda e pode ser utilizado como ferramenta para a garantia de direitos dos povos indígenas.

  • RAMIRO ESDRAS CARNEIRO BATISTA
  • De colonialismos e memórias sitiadas: história, antropofagia e tecnologia bélica nas guerras guianenses

  • Data: 09/05/2023
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  • Este estudo constitui-se no exercício de documentação, tradução e interpretação das narrativas de guerra de quatro povos habitantes do Baixo rio Oiapoque. Por meio de métodos etnográficos, mnemônicos e narrativos o texto discorre sobre o tema da colonização que sulca a história da invasão de um Caribe periférico, situado à região do Oiapoque. Considerando que a produção de uma história Afro e Indígena apresenta-se, em muitos casos, como uma história de impossibilidades, dada a dificuldade teórica e metodológica das Ciências Sociais em lidar com um passado caracterizado pela ausência de registros escritos, pressupõe-se que as possibilidades de produção da História Étnica, narrada nos próprios termos, estão diretamente relacionadas ao conhecimento e tradução da memória originária. Na produção acadêmica é comum o exercício de reinterpretação e/ou correção da memória coletiva a partir da produção historiográfica, mas os dados desta pesquisa propõe uma pergunta invertida: as memórias afro e indígenas podem auxiliar na correção e/ou complementação dos cânones historiográficos? Perseguindo a questão, este estudo procura identificar e traduzir aspectos constantes das memórias de pessoas etnicamente diferenciadas marcadas pelo advento da Colônia, em que guerra, exercício de alteridade, aliança Inter étnica e violação/recomposição de direitos territoriais parecem fazer parte de uma mesma dinâmica. A tradução das narrativas de guerra desses quatro povos converge no sentido de propor a invasão colonial como um dos marcos fundantes da historicidade afro e indígena. Neste sentido, constata que a colonização perpetrada por diferentes povos e agências europeias à região das guianas – colonialismos que prevalecem de distintas maneiras no presente – constitui-se como o fio enredador que permite não só recompor, como entrecruzar as Memórias e Histórias recentes e remotas dos povos e narradores alcançados, desvelando, finalmente, como cada grupo étnico representa e compreende as hierarquias, alianças e dissonâncias constantes do mundo neocolonial.

  • URIEL MELQUISEDEQ LOPES COELHO
  • Politicas urbanas e de saúde pública: desafios para uma perspectiva integral das relações entre produção do espaço, vulnerabilidade socioambiental e fatores de risco à saúde na bacia do Tucunduva, Belém/PA.

  • Data: 30/03/2023
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  • A produção do espaço engloba múltiplos atores, mecanismos e processos que estão envolvidos nasinterações entre a sociedade e o ambiente.No meio urbano, relaçõessociais dos mais variados tipos geramdiferentes impactos ambientais que alteramaspectos importantes envolvidos na manutenção do ecossistema. Por outro lado, diferentes elementostambém integram dinâmicas ecológicas complexas que afetamo convívio sociale a qualidade de vida no meio urbano. Em meio a estas relações, os processos de saúde e doença constituemum dos principais componentes afetados. Neste sentido, este trabalho busca analisar as relaçõesentre a produção do espaço na cidade de Belém e a criação devulnerabilidadessocioambientais que constituem fatores de risco à saúde para os moradoresderegiões periféricas e de várzea como a bacia do Tucunduba, problematizando estas sob a ótica da integralidade entre as políticas urbanas e de saúde pública. A metodologia utilizadabaseia-se na coleta de dados secundários e na análise documental. Deste modo, busca-se primeiramente analisar as características da produção do espaçourbano na cidade de Belém, considerando os impactos socioambientais gerados na bacia do Tucunduba eaveriguandocomo estes problemas podem estar conectados a fatores de riscoàsaúde nesta área. Logo apósé realizada a análise de quatro documentos (a Lei Orgânica da Saúde, o Plano Diretor Municipal da cidade de Belém, o Plano Municipal de Saúde da cidade de Belém (2018-2021) e o Plano Plurianual da cidade de Belém (2022-2025)) afim de: 1 – identificar os princípios e diretrizesque norteiam as políticasurbanas e desaúdepública no âmbito nacional;2 – analisaro nível de diálogo existente entre estes documentos, as problemáticas suscitadas e o marco teórico e 3 –compreender quais as potencialidades e limitações dos instrumentos de gestão municipal considerando a especificidade dos desafios à saúde colocados em regiões periféricas e de várzea como a bacia do Tucunduba. Os resultados apontam para a existência de diversas contradiçõesnas relações entre a produção do espaço urbano e as condições de vidanestas regiões, bem como para um cenário complexo na interação entre as políticasurbanas e de saúde pública no âmbito municipal. Espera-se, assim, que este trabalho possa contribuir tanto para o fortalecimento da perspectiva biossocial na análise dos processos de saúde e doença, quanto para a formulação de instrumentos que estejam em maior sintonia com as necessidades específicas de regiões como a bacia do Tucunduba. 

  • MARIA HELENA DE AVIZ DOS REIS
  • NOS CAMINHOS DO SAGRADO: a devoção e as relações geracionais e de gênero na Festa de Todos os Santos no quilombo de Jurussaca, Pará.

  • Data: 19/01/2023
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  • A prática etnográfica é essencial para desenvolver os trabalhos de campo e a imersão nas festas, em específico na Festa de Todos os Santos no quilombo de Jurussaca, que me permitiu desenvolver arcabouço para a produção desta tese. A etnografia contribui às descrições dos rituais, dos símbolos, das memórias, das orações, da materialidade nos vestidos, na comida, das emoções e sentimentos, das hierarquias políticas internas e regras sociais, das tensões e conflitos, dos sentidos de pertencimento e território produzidos na festa. Na centralidade da festa estão homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e velhos que me ajudaram a reconhecer os lugares de tradição com suas especificidades, respeitando os direitos culturais destes grupos sociais e promover a valorização de suas vivências, seus saberes e costumes. No quilombo de Jurussaca, esses costumes são basilares para que as novas gerações se auto identifiquem dentro da dinâmica cultural pela qual transitam, firmando suas identidades e transformando os dias de rotina em festa. Nesse entremeio, estão as relações de gênero e geracional as quais são sustentadas nesta pesquisa como primordiais para a manutenção da festa da promessa, surgida há mais de oitenta anos e que ainda hoje, no quilombo e nas comunidades em seu entorno, é a que fortalece os laços identitários, socioculturais e religiosos, econômicos, políticos e, reafirma-se como fato social fundamental aos velhos e às outras gerações. Nessa inserção etnográfica na Festa de Todos os Santos, procurei por fios que me levassem aos lugares da escuta que levam em conta coortes, com entrevistas semiabertas, questionários, técnica da associação livre e a etnometodologia que preconiza uma descrição minuciosa e densa do que se pretende investigar no campo da pesquisa. Vi e ouvi, que a devoção delas e deles saia do espaço familiar e transitava nas relações geracionais de outras casas. Dessa forma, busquei saber como se davam as conexões entre elas, eles e seus antepassados? Quais as histórias de vida e vivências reiteradas no cotidiano e que se constituem dimensões das práticas culturais e políticas identitárias daquele lugar? Até que ponto a Festa de Todos os Santos media a vida das pessoas, (re)constrói e (re)significa identidades? Transmite os saberes ditos tradicionais nas relações intergeracionais, demarca lugares e posiciona as relações de gênero? A tese traz, portanto, sua análise acerca das inquietações colocadas em foco no seu escopo.

2022
Descrição
  • BÁRBARA DE NAZARÉ PANTOJA RIBEIRO
  • “Bagunça danada”: uma etnografia sobre diversidade sexual entre os Assuriní da aldeia Trocará, Ti Trocará, PA.

  • Data: 19/12/2022
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  • Esta pesquisa aborda o tema da sexualidade e relações de gênero entre os Assuriní da aldeia Trocará, TI Trocará, estado do Pará, para compreender como os moradores operam moduladores de socialidade e produzem formas de atuar diferenciadas nos diferentes espaços sociais, dentro e fora da aldeia. Para isso, a etnografia produzida com interlocutores Assuriní de diferentes idades e em momentos intermitentes, entre 2013 e 2019, perpassa os conjuntos variados de saberes e referentes indígenas associados à produção de corpo-pessoas na interface dos processos de transformações de sentidos atribuídos aos domínios do parentesco, nas formas de atuar generizadas e da produção de alianças. O objetivo da pesquisa é discutir, partindo-se da trajetória de vida de seis indígenas assuriní, o lugar que novos referentes políticos e morais ocupam e o que fazem aparecer nos modos de produzirem sentidos às relações afetivo-sexuais entre eles, quando formas não convencionais de relacionamentos sexuais desestabilizam e atualizam critérios e valores de socialidade.

  • MARIA PASCOA SARMENTO DE SOUSA
  • Resistências Malungas: agências sociopolíticas de mulheres quilombolas em Salvaterra, Arquipélago do Marajó – Pará

  • Orientador : ROSA ELIZABETH ACEVEDO MARIN
  • Data: 16/12/2022
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  • Novas etnias são uma realidade no Marajó contemporâneo, revelando-se com particular ênfase nas primeiras décadas do século XXI, quando grupos humanos majoritariamente formados por pessoas negras passaram a reivindicar a identidade etnopolítica quilombola neste lugar. Neste trabalho sustentamos a premissa que os aquilombamentos deste século estão imbricados em agências femininas, pois fomos e somos as principais articuladoras de ações no âmbito do movimento quilombola nesta região, desde 1998. Aqui, esforço-me para compreender, através da afrocentricidade e desde a perspectiva antropológica feminista (feminismo afrodiaspórico), as agências sociopolíticas das mulheres em processos de aquilombamentos contemporâneos no município de Salvaterra, na tentativa de localizar o lugar do feminino no campo do político em sociedades étnicas contemporâneas, espaços onde a identidade é um fenômeno eminentemente político e corporificado (corpo-político) e onde as pessoas se apercebem como sujeitas de direitos a partir de confrontações com o Estado, com outras instituições e outros indivíduosDeste modo, introduzo questões centrais como o deslocamento do ser individualizado para o ser coletivo, próprio à existência e experiência política através de um exercício de escrevivência autoetnográfica que é reflexo de experiências pessoais e coletivas no interior de um movimento étnico situado em um sistema de dominação cujos fundamentos são o racismo, o patriarcado, o machismo, o heterossexismo e o capitalismo. Este estudo filia-se aos Estudos NegrosEstudos Africana ou Africalogia enquanto campo científico que tem por base teórica a Afrocentricidade ou Paradigma Afrocêntrico, um amplo campo de estudos construído pelo trabalho de diversa(o)s intelectuais africanas africanos situada(o)s em variadas latitudes no globo terrestre e em tempos diversos, desde a África, passando pelas Américas, Caribe até a Europa, constitui-se como o lugar de enunciação de uma nova maneira de pensar a África e os/as africanos/as no continente e seus descendentes na Diáspora Negra Transatlântica, recentralizando-os/as enquanto agentes da/na História. Esta pesquisa, também, filia-se à teoria crítica feminista e orienta-se desde as proposições teórico-práticas do Feminismo Afrodiaspórico, gestado nos diversos lugares onde mulheres negras e não-brancas situam-se em projetos de subjetivaçõesinsurgências e enunciações frente a sistemas de opressão que interseccionam nossas existências no mundo, com especial enfoque nas interrelações entre gênero, raça/etnia e classe social e localização, vistos não apenas como sistemas hierarquizados de opressão, mas como interseccionalidades que estruturam ‘lugares’ onde as mulheres negras são obrigadas a viver e permanecer. Estas escrevivências autoetnográficas exigiram mergulhar em minhas experiências pessoais enquanto mulher negra quilombola, enquanto quilombola amazônida, enquanto ativista do movimento negro e afrofeminista, mas também implicou imersão em experiências coletivas compartilhadas com aquelas que são minhas outras manas e manos quilombolas, a fim de tentar compreender nossas agências sociais e políticas nos lugares de pertença. Concluo pela existência de uma agência malunga, significando com isso as maneiras diversas de ação articuladas por nós mulheres quilombolas ao longo de mais de 20 anos de movimento quilombola em Salvaterra, uma agência que é contra colonial, insurgente e desafiadora, mas que se realiza mediada pelos sentidos do Ubunto materializado em solidariedade, partilha, cooperação, enfim permeada por Amor.

  • RODRIGO CALDERARO ROCHA
  • Corpo, Sexualidade e diferenciação de gênero no ritual do Daime no CICLUJUR-PA em Santa Izabel-PA

  • Data: 15/12/2022
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  • Este texto disserta sobre a produção da diferenciação de gênero e da sexualidade nos corpos a partir da análise do ritual da Doutrina do Daime, manifestação religiosa baseada no consumo da bebida psicoativa ayahuasca, iniciada durante os anos de 1930 na capital do Estado do Acre, Rio Branco. A partir da participação e observação dos rituais e do cotidiano da comunidade do “Centro de Iluminação Cristã Luz Universal de Juramidã Pará – CICLUJUR-PA” situado em Santa Izabel-PA, realizo uma leitura da Doutrina do Daime como uma tecnologia que reproduz os efeitos dos ritos na subjetividade dos corpos dos participantes membros afiliados, os fardados.

    Retomo a trajetória da fundação da Doutrina do Daime em Rio Branco-AC e os principais elementos rituais para problematizar a marcada distinção dos participantes em homens e mulheres dentro dos ritos e refletir sobre este aspecto na construção da pessoa fardada.

    A partir da etnografia elaborada com participações nos rituais e interlocução com pessoas LGBTQIA+ que são membros do CICLUJUR-PA, evidencio a relevância da disciplina, dispositivo-chave para o funcionamento da relação dos rituais com a produção de identidade e alteridade de gênero, de idade e de sexualidade observadas nas cerimônias. Problematizo como a disciplina atua na (re)produção da diferenciação dos homens e mulheres durante os rituais e indago sobre os efeitos que este dispositivo tem sobre a subjetividade das pessoas LGBTQIA+ enquanto praticantes da Doutrina.

    Com isto, quero propor reflexões sobre a sociabilidade de pessoas LGBTQIA+ em espaços de consumo ritual da ayahuasca marcados pela moral cristã e pela configuração ritual típica da Doutrina do Daime.

  • ALARCIDIO FIGUEIREDO NARCISO
  • A festa do Pajé: ritual e xamanismo Galibi-Marworno

  • Data: 12/12/2022
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  • Esta dissertação é baseada em pesquisa etnográfica realizada na aldeia Kumarumã na Terra Indígena Uaçá, no Munícipio do Oiapoque, Amapá. Ela versa sobre o Dãse dji piai lãdã zés Galibi-Maraun - A dança do Pajé Galibi-Marworno. A partir de trabalho de campo, da realização de entrevistas com anciões e anciãs e da execução de uma festa organizada por mim, registrei os saberes dos nossos ancestrais referentes à produção de artefatos (bancos e mastros cerimoniais), organização e realização da festa. A festa é um ritual de agradecimento aos médicos do outro mundo. Trata-se de um pagamento de pessoas curadas pelo pajé e os espíritos do multiverso, que na festa ficam alegres por dançar, cantar, beber caxixi e fumar. O ritual apresentado entrelaça-se com o xamanismo, também abordado nesta dissertação.

  • ISADORA BASTOS DE MORAES
  • “SER FEMINISTA ATÉ… EM GESSO”: Julieta de França e o trabalho urbano feminino no Pará (entresséculos)

  • Data: 07/12/2022
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  • Este trabalho consiste em uma tentativa de pôr em diálogo a trajetória da escultora paraense Julieta de França (1872-1951) e as demais experiências de mulheres trabalhadoras que circularam no Pará no período entrésseculos (XIX e XX). Não se trata de uma biografia de Julieta de França, mas de uma pesquisa etnográfica que percebe a
    singularidade de sua trajetória e a configuração social na qual ela existiu. Além disso, penso que entrecruzar as vivências de mulheres pertencentes a diferentes camadas sociais, que exerceram diferentes ofícios na cidade, nos ajudam a compreender os significados atribuídos à força de trabalho formal e informal feminina na Amazônia. Diante disso, este estudo pretende um imbricamento antropológico e histórico, utilizando-se da etnografia documental como método.

  • GISELA DA SILVA CAMPOS
  • “O Uso da Iconografia da Cerâmica Arqueológica no Artesanato do Centro Mulheres de Barro, Parauapebas, Pará, Amazônia”

  • Data: 21/11/2022
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  • Este estudo trata do processo de ressignificação e comodificação da iconografia da cerâmica arqueológica no artesanato produzido por uma cooperativa de mulheres. Elas estão reunidas no Centro Mulheres de Barro de Exposição e Educação Patrimonial da Serra dos Carajás (CMB) onde criam peças em cerâmica (vasos, tigelas, colares etc.) cuja decoração é inspirada nos motivos decorativos das cerâmicas encontradas em sítios arqueológicos da região. O CMB surgiu como um desdobramento de ações de educação patrimonial vinculadas a programas de arqueologia conduzidos pelo Museu Goeldi, em meados dos anos 2000, no âmbito do licenciamento ambiental. A pesquisa pretende contribuir para as reflexões sobre a socialização do patrimônio arqueológico na Amazônia.

  • ELIANETE DE SOUSA GUIMARAES
  • PROCESSO DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL E RESISTÊNCIA ÉTNICA NO MARAJÓ: O caso do Quilombo do Rosário/Mangabal, Salvaterra

  • Data: 14/10/2022
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  • Esta dissertação é resultado de pesquisa etnográfica realizada no Quilombo de RosárioMangabal em Salvaterra, Ilha do Marajó, Estado do Pará, e tem por objetivo analisar processos de ocupação territorial e conflitos ambientais resultantes do avanço da exploração de commodities - sobretudo a rizicultura – que se instalou há cerca de 10 anos sobre as terras tradicionalmente ocupadas pela comunidade, afetando os seus modos próprios de fazer, criar e viver. Focalizando igualmente formas de resistência mediante autoatribuição quilombola, organização e mobilização étnica pelo reconhecimento de direitos territoriais e culturais constitucionalmente garantidos. Os conflitos permeiam a disputa por espaço territorial neste contexto, pois os interesses internos rivalizam ou são antagônicos com interesses externos, e isso decorre das formas diferentes de apropriação e exploração do espaço e de seus recursos ambientais. Os externos, representados por agentes do agronegócio e grandes latifundiários, tomam o lugar como propriedade privada, usam os bens e recursos ambientais para produção de grãos em grande escala (arroz, milho, feijão e soja), sendo atraídos para a área, onde realizam a grilagem de terra no território; já os quilombolas de Rosário se relacionam de forma coletiva com a terra/território desde sua ocupação ancestral, pois priorizam os usos compartilhados de todos os recursos do território e os usam de forma a garantir a continuidade do uso pelas gerações presentes e futuras. A memória social sobre a origem comum do grupo, pelos laços de parentesco, ocupando autonomamente este território há mais de um século, por sucessivas gerações, constituem denominadores comuns que fundamentam as relações comunitárias étnicas e o projeto político de um destino comum compartilhado mediante a titulação coletiva do território. Nesse sentido, procura-se analisar os estudos de casos desdobrados das ocorrências dos conflitos, colocando em evidência os modos como a comunidade vem se organizando para resistir, enfrentando o processo de expropriação territorial e os impactos ambientais. Demonstra-se que os quilombolas se contrapõem aos atos de violência cotidiana provenientes de antigos criadores de gado e, cada vez mais, dos empreendedores do agronegócio, em parceria com determinados programas de governo, que, a partir de uma perspectiva desenvolvimentista de estado, estigmatizam a comunidade de Rosário/Mangabal como “atrasada” e, por isso, figurando como “obstáculo ao desenvolvimento regional”. Aponta-se a centralidade e urgência da titulação definitiva do território, o que daria maior empoderamento e segurança aos membros da comunidade no enfrentamento dos conflitos, frisando o fato de que o RTID se encontra publicado desde 2017 e, a despeito disto, as autoridades judiciais não têm conseguido inibir a grilagem de terra no quilombo de Rosário/mangabal.

  • ADRIANA BATISTA CECIM DA SILVA
  • “Antes tinha peixe e não tinha essas coisas, agora tem essas coisas e não tem peixe”: considerações sobre a atividade pesqueira artesanal na Vila dos Pescadores, Bragança - Pará.

  • Data: 30/09/2022
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  • O presente estudo trata sobre a atividade pesqueira artesanal realizada na costa norte brasileira, por moradores da Vila dos Pescadores, situada na Reserva Extrativista Marinha (RESEX Mar) de Caeté-Taperaçú, no município de Bragança - Pará. A pesquisa tem como objetivo caracterizar esta atividade, identificando os tipos de pescas, as espécies alvo e os impactos que ameaçam a capacidade produtiva dos pescadores e pescadoras artesanais. Para isso, busquei identificar os principais fatores de mudança e as estratégias de continuidade da atividade, utilizando como metodologia a revisão da literatura e a pesquisa de campo com técnicas da etnografia a partir de entrevistas semiestruturadas com pescadores e pescadoras e agentes do setor público; coleta de dados secundários por meio de revisão bibliográfica e pesquisa documental, e o uso de registros fotográficos das atividades cotidianas da comunidade, do trabalho na pesca e rituais. Lúcia Helena Cunha (2013) menciona que conhecimento tradicional e modernidade estão em uma relação de complementaridade, onde ambos sofrem modificações e são ressignificados. Tal ressignificação também é apontada por Marshall Sahlins (1997). Assim, os resultados apontam que a modernização das tecnologias de pesca e a construção da Rodovia PA 458 se apresentam como os principais fatores de mudanças, estimulando a sobrepesca, que interfere, sobretudo nas pescarias realizadas no estuário e próximos a praia. Esse conjunto de fatores influencia na diminuição das safras, prejudica o uso de tecnologias tradicionais da pesca e afeta aspectos socioculturais do grupo, como a prática de partilhar o pescado no porto, denominada kial, realizada por pescadores ao retornarem da pesca – esse peixe, antes destinado somente à alimentação, agora é comercializado como alternativa de renda. As análises apontam que os impactos à pesca artesanal podem influenciar na circularidade de conhecimentos ecológicos essenciais à sustentabilidade dessa atividade quando os jovens se afastam da pesca e outras pessoas se voltam para práticas extrativas como estratégias de subsistência a fim de garantir a segurança alimentar das famílias. Algumas dessas ações permitem a continuidade e a ressignificação de conhecimentos tradicionais locais que orientam os modos de interação com o ambiente, mas outras podem afetar negativamente o ecossistema de manguezal e práticas socioculturais locais. Além disso, a criação da RESEX Marinha não impediu a sobrepesca, devido a fraca atuação do Estado na implementação de um sistema de gestão pesqueira eficiente que delimite as áreas de atuação da pesca artesanal/comercial e semi-industrial (por vezes operando de forma insustentável em áreas distantes da costa com rede apoitada e/ou de arrasto) e esteja em consonância com os interesses dos pescadores e pescadoras artesanais da comunidade, a partir de uma relação dialógica.

     

  • ARANTXA CARLA DA SILVA SANTOS
  • Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Igualdade de Gênero: Uma Análise Sobre Políticas Públicas Voltadas a Comunidades Ribeirinhas do Pará 

  • Data: 27/09/2022
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  • Este trabalho analisa as perspectivas de alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5, voltado para a igualdade de gênero, no contexto das mulheres ribeirinhas do Estado do Pará. O tema é pertinente pois a sustentabilidade abrange múltiplos aspectos, possibilitando aplicá-la em âmbito local, especialmente acerca dos papeis sociais de gênero e sua relação com o meio ambiente, e como estes se apresentam de maneira diferenciada em diversos grupos populacionais. Sendo assim, é possível avaliar o alcance dos objetivos globais de sustentabilidade a partir da atuação governamental, com políticas públicas que busquem a igualdade de gênero e considerem a realidade das comunidades ribeirinhas. Ponderando tais questões, esta pesquisa teve como objetivos, a fundamentação nos referenciais teóricos de Antropologia Ambiental e Antropologia das Políticas Públicas, a discussão do conceito de Desenvolvimento Sustentável, e a problematização de gênero com foco no Ecofeminismo; a descrição do ODS 5, e a contextualização das populações tradicionais, exibindo a perspectiva feminina nas comunidades ribeirinhas; e por fim, a apresentação e análise das políticas públicas sob o viés antropológico, enfatizando aquelas inspiradas no ODS 5. Foram analisadas 40 políticas públicas, em forma de leis, decretos e portarias, sendo 21 federais e 19 no âmbito do Governo do Estado do Pará. Ademais, foram obtidos os dados dos Indicadores Brasileiros para os ODS elaborados pelo IBGE e pela SEAS, sobretudo aqueles voltados para o ODS 5. Conclui-se que as políticas públicas são problemáticas pois apresentam as populações tradicionais enquanto grupo homogêneo, especificando poucas vezes políticas para ribeirinhos. Identificou-se ainda que a adaptação dos ODS ao contexto brasileiro é lenta, onde a maioria dos indicadores está em construção. Além disso, as políticas públicas apresentam as mulheres sob uma visão patriarcal e ainda bastante desigual, generalizando quais seriam suas necessidades e funções de gênero, influenciando seu papel no alcance do desenvolvimento sustentável.

  • DIANA ALEJANDRA TRUJILLO BELTRAN
  • Processos de gourmetização, identidade regional e consumo na Amazônia paraense

  • Data: 21/09/2022
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  • A dissertação apresentada tem como objetivo discutir sobre como tem sido o processo de gourmetização da culinária regional paraense. A escolha de Belém se deve ao seu segundo mandato como Cidade Criativa de Gastronomia pela Unesco, o que nos permite questionar sobre como a comida se torna patrimônio e como a partir disso existe uma maior contribuição para a identidade regional e o sentimento de pertencimento. O consumo de comida em Belém tem um sentido diferente, já que a gourmetização funciona como uma maneira de visibilizar uma culinária regional extremamente rica por produtos oriundos tanto da floresta amazônica, quanto do mar Atlântico. Contudo, existem desafios para a cozinha regional: a globalização, o tempo (dedicado ao trabalho) e o acesso aos produtos. Assim como problemas ambientais desencadeados pelas grandes monoculturas, consequência das grandes exportações.

    Entretanto, a pesquisa foi realizada durante o período da pandemia de Covid-19, o que exigiu uma adaptação metodológica importante, na qual a etnografia clássica deu lugar à etnografia de documentação e virtual. A partir do momento que a pandemia teve uma fase mais tranquila e com menos casos graves, realizei oito entrevistas complementares com chefs de cozinha e cozinheiras; além das conversas informais que mantive com os locais. Todas as interações se mantiveram no formato remoto.

    A gastronomia e a gourmetização têm sido associadas ou a temas fúteis e superficiais, ou que faziam parte apenas de um determinado grupo que utilizava o prazer por consumir alimentos como uma maneira de distinção. Todavia, o discurso construído em Belém, em parte pelo legado do chef Paulo Martins, é o da conservação e valorização dos ingredientes regionais. Por isso a importância dos eventos gastronômicos realizados no Estado, principalmente quando eles visam fazer uma ponte entre os chefs e produtores locais com os chefs e meios de comunicação de outras cidades do Brasil.

    Finalmente, a estrutura do trabalho está dividida em três partes principais. Na primeira é possível encontrar a história da alimentação na antropologia desde uma perspectiva dos clássicos até os grandes pensadores latino-americanos e paraenses, com o objetivo de ampliar e mostrar a importância do diálogo sobre a alimentação para os estudos sociais. Na segunda parte, foram expostos os casos do açaí e da mandioca como produtos tradicionais e de grande trajetória ancestral até seu ápice no consumo nacional e internacional, chegando lá a partir de discursos para grupos específicos. Finalmente, na terceira parte é possível vislumbrar um pouco mais sobre os eventos gastronômicos que ocorrem no Pará e a importância deles para a visibilidade da gastronomia local.

    Com isso é viável ter um panorama mais amplo sobre o processo de gourmetização da comida da Amazônia paraense tanto da perspectiva regional, como do discurso que conquistou o público nacional.

  • FELIPE CARLOS DAMASCENO E SILVA
  • “É quando não é na carteirada, é no grito, na porrada’’: poder, conflitos e masculinidades em meio ao torcer pelo Clube do Remo durante a pandemia do COVID-19 

  • Data: 09/09/2022
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  • Partindo da premissa de que o futebol é um fato social total brasileiro, esta dissertação aborda as relações de poder e masculinidades em meio ao torcer pelo Clube do Remo – PA, durante a pandemia do COVID-19. No cenário de caos e destruição causado pela referida pandemia, o futebol – disputado por homens e aceito como profissional – não parou e as sociabilidades e socialidades em seu universo também não. Trata-se de uma pesquisa situada da área da Antropologia Social, realizada em Belém do Pará, e que contou uma breve abordagem no município de Santarém-PA. No primeiro capítulo, através de uma abordagem autoetnográfica, apresento alguns relatos de vivências minhas guardadas na memória, visando subsidiar uma escrita que possibilite compreender como a minha construção como torcedor de um clube de futebol foi pautada em variados contextos de disputas por poder e (re)afirmação social fortemente marcadas pelo gênero, por masculinidades e pela branquitude, em uma narrativa que chega ao momento que me tornei um torcedor/pesquisador. No segundo capítulo, abordo sobre casas-bares, tem cunhado por mim para se referir a bares que ocupam o mesmo espaço físico da residência do/a proprietário/a. A partir da observação participante e de entrevistas semiestruturadas, mostro como esses ambientes futebolísticos foram impactados pela pandemia do COVID-19, e quais estratégias foram utilizadas por seus/sua proprietários/a para a manutenção do funcionamento desses lugares em meio à pandemia. Por Fim, no último capítulo, valendo-me das mesmas ferramentas metodológicas do capítulo anterior, apresento relatos etnográficos a respeito de socialidades futebolísticas no entorno e dentro do estádio do Clube do Remo em Belém durante alguns jogos realizados no contexto do retorno de público ao estádio. Em ambos os capítulos, marcadores sociais de gênero, raça e sexualidade dão o tom da diversidade social que compõem a torcida do Clube do Remo.

  • RENATO VIEIRA DE SOUZA
  • ETNOGRAFIA DA RESISTÊNCIA: Memórias das Artes, Saberes e Encantarias de Mosqueiro – PA

  • Data: 06/09/2022
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  • A história da Ilha de Mosqueiro confunde-se com o próprio movimento de colonização da Amazônia. A partir da segunda metade do século XIX, especialmente depois da Cabanagem, diferentes agentes sociais começaram a visitar essa parte da região para desfrutar de suas belezas naturais. Ao ver esse interesse, a intendência municipal de Belém cuidou de tornar o lugar um polo atrativo, projeto que ficou preso no tempo, assim como as dinâmicas de fartura capitaneadas pelo ciclo da borracha. As tramas que envolvem esse processo histórico entre elites políticas, turistas e moradores provocaram conflitos e mudanças culturais nos modos de vida de Mosqueiro. Com foco na Etnografia da Resistência, a tese mergulha no universo das artes e saberes locais para analisar as experiências de mulheres e homens artesãos das varinhas bordadas, criando condições para visibilizar outras vozes, histórias e memórias que permitiram desvendar as relações arte e encantaria, como territórios de lutas culturais entre gerações que participam e resistem aos processos de dominação e exploração turística desse território amazônico. Para chegar a esse objetivo, o estudo partiu das seguintes questões problematizadoras: como se realizaram os projetos turísticos em Mosqueiro? Qual a sua produção cultural e de que formas ela se apresenta? Como se manifestam as heranças culturais nos fazeres artesanais? Olhando para sua história e cultura, que vínculos são possíveis de aprender com o passado dos encantados que se fazem presentes, ainda que indiretamente, nessas dimensões? A investigação fundamentou-se na Antropologia Social e Cultural em mediações com os Estudos Culturais e Decoloniais. A coleta de informações foi obtida etnograficamente por meio das narrativas orais das interlocutoras e interlocutores, arquivos documentais da biblioteca pública Arthur Viana, hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, mapas, imagens fotográficas e pesquisa bibliográfica. Com base no diálogo teoria, metodologia e empiria, a tese, portanto, revela que os saberes artísticos produzidos por populações locais são peças-chave para leituras profundas de trajetórias, expressões mítico-religiosas e formas de resistência de uma comunidade. Deste modo, é possível afirmar que o estudo das varinhas da lembrança, do amor ou da conquista permitiram desvendar dramas históricos da Ilha de Mosqueiro, onde os seus desenhos geométricos parecem compor elementos de conexões, saberes e fazeres entre os mundos humanos e não-humanos.

  • CLARICE BIANCHEZZI
  • Entre cacos e flores: apropriações, usos e significados dos vestígios arqueológicos pelos moradores do sítio Macurany, Parintins, Amazonas

  • Data: 31/08/2022
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  • Esta pesquisa buscou compreender as apropriações, usos e significados atribuídos aos vestígios arqueológicos pelas pessoas que moram sobre e no entorno do sítio arqueológico localizado na comunidade do Macurany, em Parintins, estado do Amazonas. Apresento as narrativas das pessoas do Macurany sobre os vestígios arqueológicos, sua pluralidade de interações estabelecidas com a Terra Preta de Índio, as castanheiras, a paisagem, com o intangível – visagens, assombros, encantados e outros habitantes que podem tomar conta do corpo físico e espiritual das pessoas – e que no Macurany também estão vinculadas com a materialidade arqueológica. Destaco os desafios da gestão do patrimônio arqueológico na Amazônia, no município de Parintins e no Macurany, a partir da realidade das coleções domésticas de material arqueológico no Macurany e em Parintins. As reflexões aqui trazidas intencionam contribuir com a gestão do patrimônio arqueológico na Amazônia e a compreender melhor as relações das gentes amazônicas com os vestígios de ocupação ancestral. No emaranhado de cultivares agrícolas, flores e cacos arqueológicos, foi possível reconhecer afetos e os sentimentos de pertencimentos das pessoas ao lugar e suas marcas; as coisas do passado e do presente na comunidade de Macurany.

  • NADIA ALINNE FERNANDES CORREA
  • Bom para comer, bom para pensar: políticas públicas e a segurança alimentar e nutricional de populações quilombolas na Amazônia paraense

  • Data: 25/08/2022
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  • Historicamente, para grupos negros rurais da Amazônia, ter segurança alimentar e nutricional significa garantir a soberania alimentar. Isto se concretiza com a propriedade e posse de suas terras, e do acesso aos recursos naturais, de maneira a estabelecer proteção aos meios biológicos, à agricultura e à diversidade de alimentos de suas dietas, os tornando menos suscetíveis aos danos à saúde. Tais situações, no entanto, têm sido impactadas por conflitos que envolvem injustiça ambiental, estimulando o surgimento de doenças crônicas relacionadas a má nutrição, a falta de assistência médica e estilos de vida não saudáveis. As novas identidades étnicas e raciais, como os quilombolas, trazem uma mobilização intensa pelo reconhecimento de direitos à biodiversidade, à sociodiversidade e à proteção às tradições alimentares. Estes processos de luta estão influenciando as políticas de alimentação no contexto da segurança alimentar e nutricional no Brasil. Esta tese, estruturada em formato de artigos, examina a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e sua interseção com as comunidades remanescentes quilombolas da Amazônia paraense. O estudo foi desenvolvido a partir da análise do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa Bolsa Família (PBF), pilares da política de alimentação e nutrição no país. A coleta de dados pautou-se em pesquisas exploratórias nos sites dos órgãos governamentais; no Mapa de Insegurança Alimentar, com recorte no Pará-2018; e observação direta e entrevistas na Escola Municipal de Ensino Fundamental da comunidade quilombola de Umarizal — Baião-PA. Os resultados evidenciaram um nível severo de insegurança alimentar e nutricional dos grupos quilombolas da região e uma invisibilidade desta categoria nas agendas públicas. Há a necessidade em desenvolver e implementar políticas e práticas que garantam o direito de existir desses sujeitos a partir da inclusão das especificidades dos grupos quilombolas, para combater a discriminação racial historicamente construída contra a população negra rural e que a impede de alcançar melhores condições de vida.

  • GLENDA CONSUELO BITTENCOURT FERNANDES
  • Arqueologia contemporânea e suas possibilidades: o caso da Capela Pombo em Belém-PA

  • Data: 08/07/2022
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  • A presente tese aborda questões sobre a Capela Pombo, localizada no bairro da Campina, Travessa Campos Sales, antiga Rua do Passinho. Construída num contexto colonial e escravista sem data precisa e ainda presente no Centro Histórico da cidade, a Capela Pombo vem resistido ao tempo. O objetivo da pesquisa, é investigar do ponto de vista arqueológico, a biografia da ermida, entendendo-a como cultura material importante que pode nos ajudar na compreensão sobre seus significados no passado e presente. Desta forma, além de pesquisa bibliográfica, foram feitas visitas à capela afim de mapear seu estado atual. Foi realizado também trabalho de campo, onde procurei observar a dinâmica da rua Campos Sales e conversar com algumas pessoas, trabalhadores formais e informais e frequentadores do bairro do comércio, sobre suas relações com a ermida. Assim, os caminhos metodológicos seguem os rumos da interdisciplinaridade entre a arqueologia, antropologia e história. O objetivo geral é investigar a trajetória da Capela Pombo e analisar os impactos das transformações urbanas sobre a mesma.

  • LETICIA MORGANA MULLER
  • Escrito em ossos e dentes: dieta e saúde oral de populações pré-coloniais da Volta Grande do Rio Xingu (PA) por meio da análise de isótopos estáveis e bioarqueologia

  • Data: 28/06/2022
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  • Nesta tese, buscou-se conhecer mais sobre as ocupações do holoceno tardio (entre 2.200 e 250 anos BP) na região da Volta Grande do Rio Xingu (VGRX), baseado em aspectos de saúde oral e paleodieta, além de fornecer informações para serem comparados em outras regiões e culturas da Amazônia. Para isso duas abordagens foram utilizadas: análises de isótopos estáveis de Carbono e Nitrogênio e análises de patologias orais dos indivíduos exumados da VGRX, na perspectiva de que 1) duas diferentes abordagens poderiam trazer informações complementares em estudos com n pequeno e 2) podemos identificar diferentes dietas na Amazônia em período imediatamente anterior ao contato com os europeus, em consequência das diferentes culturas e microbiomas. A hipótese testada é adequada para a ambas as perguntas. Nesta construção, o conhecimento dos valores de δ13C e δ15N da fauna local foi fundamental, pois foi possivel identificar que toda a fauna terrestre amostrada na VGRX se alimentava de recursos C3 e que as mesmas espécies de animais podem apresentar diferenças nos valores médios de isótopos estáveis de até 2‰ quando proveniente de diferentes regiões da Amazônia, como resultado da influencia de microbiomas. Quando comparado com os humanos, os valores de δ15N colocam os grupos humanos em topo de cadeia, possivelmente consumindo uma grande variedade de animais caçados e pescados. Os valores de δ13C dos humanos apontam para o consumo de planta C4 em diferentes quantidades entre os indivíduos, no entanto em nenhum deles este alimento era o de primeira importância da dieta, sendo mais um item no rico e complexo sistema de manejo de recursos florestais, coleta e plantio, algo que dialoga com resultados de pesquisas anteriores no baixo Amazonas. O alto índice de cáries dos adultos (24%) reforça uma dieta cariogênica nestas populações que certamente era composta por itens que possuem alto índice de carboidrato. Os dados são provenientes de pesquisas realizadas no âmbito do Licenciamento ambiental da UHE Belo Monte e o trabalho foi organizado na forma de três artigos, submetidos a diferentes periódicos, além de um texto integrador. O primeiro artigo discute sobre a dieta das populações pré invasão utilizando-se de análises de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio, o segundo compara as patologias orais de adultos com os dados disponíveis na literatura arqueológica e bioantropológica recente, buscando perceber mudanças na prevalência das patologias e suas relações com a dieta; e o terceiro tem a mesma preocupação que o segundo artigo, mas com foco nas crianças e o período da amamentação. Comparações com dados disponíveis em outras regiões da Amazônia reforçam a ideia emergente de não haver um único padrão adaptativo alimentar, e que pesquisas bioantropológicas e bioarqueológicas regionais contribuem para o conhecimento das Amazônias existentes antes da invasão europeia.

  • ALEX BATISTA SILVA
  • “A nossa escola já é a nossa aldeia”: Construção política da educação escolar Tembé/Tenetehar das aldeias Jeju e Areal na Antropologia

  • Data: 02/05/2022
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  • Esta pesquisa foi desenvolvida a partir das discussões feitas com o meu povo Tembé Tenetehar de Santa Maria do Pará nas aldeias Jeju e Areal. Seu propósito é construir uma pesquisa participativa, qualitativa, etnográfica e de campo com os meus parentes. As mudanças sociais, econômica, religiosa e política, moldam um aspecto social interétnico, juntamente com a sociedade ocidental e essa relação social entre o Karaiw (não indígena) e nosso povo Tembé configuram um determinado meio de sociabilidade e de demanda política, e com ela a educação escolar e a educação escolar Tembé/Tenetehar, essas são as categorias elencadas dentro da pesquisa, na qual tratará de desenvolver uma discussão seguindo a trajetória de luta dentro da perspectiva de construção política de implementação educacional do nosso povo, onde os parentes colaborarão com suas narrativas de percepção que possuem sobre a educação escolar tembé/tenetehar que queremos, e sua importância para a resistência do nosso povo, considerando o processo de socialização e equilíbrio entre ambos, sociedade Karaiw e povos indígenas. A estrutura desta pesquisa é uma etnografia, onde os interlocutores transmitem suas narrativas que possibilitam reunir os dados necessários, bem como a transcrição de documentos e mídias da pesquisa de campo. Os instrumentos usados para esta pesquisa são: os documentos dos arquivos da Associação Indígena Tembé de Santa Maria do Pará; as decisões tomadas na audiência com o Ministério Público Federal (MPF) que traz em inédito a tramitação do Inquérito Civil Público da construção das duas escolas nas duas aleias; a Conferência de Educação Escolar Indígena Local das Aldeias Jeju e Areal e Regional e as ATAS das reuniões extraordinárias das lideranças indígenas, esses instrumentos usados serão fontes de embasamento para o diálogo sob a sustentação bibliográfica levantada. Por fim, a pesquisa faz uma mostra das atividades educacionais Tembé, executadas pelos próprios parentes como forma de resistência cultural, onde o denominamos como Ensino Intercultural Tembé (ENSITE).

  • WILLIAM CESAR LOPES DOMINGUES
  • Entre o ouvido e o escutado: uma história da saúde indígena no Brasil

  • Data: 26/04/2022
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  • A tese é uma história “não escrita”, pois encontra-se “inscrita em nossas memórias”, em nossos corpos, nos lutos que vivemos e porque não nas vitórias difíceis que, após muitos embates, obtivemos. É um depoimento coletivo dos interlocutores com quem convivi e que aqui me faço relator. É uma história das lutas dos povos indígenas pela possibilidade de continuar o “bem viver” em que pese o convívio com os não indígenas. Não deixa de ser um depoimento que gostaria fosse ouvido e respeitado. Trata a tese de política indígena e indigenista sobre saúde e a respeito da necessidade de um entendimento geral do que e o que foi dito por nós indígenas, e nem sempre ouvido pelos que, por diversas razões foram nossos interlocutores, e, ainda o que não foi dito, apesar de absolutamente relevante pela ausência que, por vezes foi tomado como regra para a elaboração de políticas de saúde para povos indígenas, inteiramente diferentes entre si e dos ocidentais. Não pretendo discutir aqui de que nosso povo adoece e morre, porque isso me obrigaria a adotar os conceitos ocidentais de saúde e doença e a trabalhar com dados de morbi-mortalidade, que embora eu tenha levantado não estão no que julgo ser a raiz dos problemas que temos em relação à nossa saúde, e à configuração do modelo de atenção que temos hoje no país. Em linhas gerais a história do que temos hoje como atenção à saúde indígena é uma colcha de retalhos com uma história ainda por ser contada pelos principais envolvidos com ela, a saber, nós povos indígenas.

  • MARIA DE NAZARE BARRETO TRINDADE
  • A “senhora do reino encantado de Guimarães” e suas contemporâneas: antropologia e literatura na trajetória da escrita feminina negra na Amazônia do entresséculos XIX e XX 

  • Data: 08/04/2022
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  • A tese A “Senhora do Reino Encantado de Guimarães” e suas contemporâneas: Antropologia E Literatura na Trajetória da Escrita Feminina Negra na Amazônia do entresséculos XIX e XX pretende reconstruir etnograficamente a trajetória literária, social e política de vozes femininas e negras na literatura produzida no Brasil e, especialmente na Amazônia no entresséculos XIX e XX. Produzir uma teia de relações onde a multivocalidade, ou seja, as múltiplas vozes sejam evidenciadas e, essencialmente, as vozes silenciadas por uma sociedade que se construiu sobre o tripé do preconceito- racismo- discriminação social. Por meio do diálogo entre a antropologia e a literatura e usando a etnografia enquanto concepção teórico- metodológica que fundamenta uma espécie de “arqueologia” do conhecimento acerca das mulheres que escrevem e escreveram e cujos textos ficaram à sombra da historiografia literária. Penso que essas questões são relevantes nesse contexto de intensificação das discussões em torno da construção de novas relações de poder e da democratização do acesso aos bens culturais no Brasil. Assim, encaramos a literatura também como campo de poder, espaço construído histórica e socialmente, onde as publicações e o acesso foram controlados por homens, brancos e de classes sociais privilegiadas. A tese rastreia algumas dessas autoras, cujos nomes sofreram em determinados momentos apagamento dos registros oficiais, mas sua escrita permanece registrada seja em folhetins, em publicações avulsas, em periódicos, em livros já publicados.  Levarei em conta suas subjetividades, o riscado de suas existências no mundo, ou como bem aponta Evaristo, suas escritas de vida- ou escrevivências, portanto são para mim sujeitas, das quais a tese compila e analisa um pouco da trajetória de vida e da produção literária. Algumas autoras e autores foram meus companheiros nessa incursão, entre eles, cito: Lélia Gonzalez, Conceição Evaristo, Ângela Davis, bell hooks, Michele Perrot, Regina DalCastagnè, Vicente Salles, Abdias do Nascimento, José Veríssimo, Aimé Cesairé, Frantz Fanon, George Balandier, Goldman, Pierre Bourdieu, J. Clifford entre outros.

  • CAMILLE GOUVEIA CASTELO BRANCO BARATA
  • Trajetórias feministas na UFPA: luta, violência e memória entre mulheres

  • Data: 29/03/2022
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  • A tese reflete sobre as histórias de vida de mulheres autodeclaradas feministas e vinculadas, na condição de estudantes, egressas e professoras à Universidade Federal do Pará. A tese defendida é a de que, a despeito das históricas tentativas de apagamento dos movimentos feministas na(s) Amazônia(s), as feministas na região existem, resistem, produzem conhecimentos e política. Espera-se demonstrar, por meio do trabalho, a complexa e polifônica amálgama que articula as feministas na UFPA, o que inclui ocupação de espaços, produções acadêmicas, memórias sobre violência, protestos públicos, redes de solidariedade. A pesquisa possui caráter etnográfico e pauta-se na condução de entrevistas com 20 interlocutoras, observação participante de eventos públicos e análise do corpo documental de eventos na Universidade. Categorias como dor e violência, bem como o entendimento de marcadores sociais da diferença sob um ponto de vista interseccional estruturam o olhar sobre a pesquisa. Os aportes teóricos fornecidos pelo legado conceitual de Veena Das, Judith Butler e Grada Kilomba auxiliam no entendimento da tese.

  • TIAGO SILVA ALVES MUNIZ
  • Da materialidade do período da borracha (1850-1920) aos agentes do deus elástico durante o século XIX no Baixo Amazonas: emaranhamentos em um presente emergente

  • Data: 28/03/2022
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  • Este projeto tem como objetivo discutir sobre a obtenção de 70.000 sementes de borracha por Henry Wickham, no Baixo Amazonas. Em 1876, sir Wickham vendeu essas sementes coletadas em Santarém (Pará) para o Kew Gardens e, a partir das sementes germinadas, a borracha (Hevea brasiliensis) foi introduzida no Ceilão, colapsando a economia gomífera no Brasil. Produtos de borracha, como luvas, botas para neve, pneus e itens industriais, na virada do século XX, moldariam o mundo ao que se poderia chamar de "moderno". Nesse sentido, pode-se dizer que a assepsia e a globalização eclodiram sob a produção de materiais de borracha. No entanto, o local onde as sementes de seringueira nativa foram colhidas foi deixado para trás. Atualmente, a maioria dessas comunidades de seringueiros no Baixo Amazonas ainda não possui energia elétrica e sobrevivem principalmente através de práticas tradicionais (caça, pesca, produção de farinha de mandioca e venda de produtos florestais em menor escala). Através de materiais arqueológicos encontrados na vila de Boim (Santarém, Pará), dados históricos e a cultura material envolvida na materialidade do período da borracha aqui será discutido como a borracha se tornou uma das caixas negras da modernidade - em perspectiva latouriana - e como hoje as pessoas lidam com esse patrimônio e seu futuro.

  • ANA CAROLINA DA SILVA BRITO DE AZEVEDO
  • Cuidados e Práticas de Saúde em bebês nos três primeiros meses de vida em Belém, Pará

  • Data: 28/03/2022
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  • Os primeiros meses de vida são primordiais para o desenvolvimento humano, nos quais fatores associados agem nos processos de adoecimento na infância. Esta dissertação está inserida no projeto mais amplo denominado "Ecoculturing the Infant Gut Microbiome". A dissertação possui como objetivos investigar e comparar práticas e cuidados em saúde de 20 bebês de alto Nível Socioeconômico e 30 bebês de baixo Nível Socioeconômico (NSE) nos três primeiros meses de vida em Belém, Pará. A pesquisa  trabalha com a primeira hipótese de que bebês de baixo NSE apresentarão maior quantidade de doenças e problemas na amamentação. A segunda hipótese é de que as famílias de baixo NSE utilizarão mais da medicina popular em relação à classe mais alta. Este trabalho utiliza a metodologia mista, que conjuga métodos quantitativos e qualitativos para a obtenção de dados. Os resultados obtidos mostram que há uma tendência de mais episódios de doenças em bebês de NSE baixo, ao passo que, por outro lado, esses bebês tendem a serem amamentados por mais tempo. Já medicina popular está presente em ambos os NSEs, mas ela é mais atuante na classe mais baixa, que também apresenta maior presença de atividades culturais ligadas ao resguardo. Este trabalho evidenciou as práticas de cuidado com bebês na área urbana de Belém, assim como as desigualdades sociais e iniquidades em saúde na primeira infância.

  • CARLA VITORIA LOBO DE SOUZA
  • Digitalização em 3D de acervos arqueológicos: O uso da Fotogrametria como ferramenta de preservação e pesquisa

  • Data: 04/03/2022
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  • Este trabalho tem por objetivo a análise da eficácia do uso da técnica de Fotogrametria na digitalização em 3D no contexto da preservação de acervos arqueológicos. Com a aplicação em uma coleção arqueológica: a coleção do sítio Albergue da UFPA da Reserva técnica do laboratório de Arqueologia Denise P.Schaan, tendo por base a importância desses acervos como espaços de diálogo e poder que contam “narrativas” através da cultural material de povos do passado presentes na história da humanidade e, também, da inserção do mundo “digital” como uma ferramenta prática e de ampla divulgação para esses acervos. Para o desenvolvimento do estudo, a metodologia dividiu-se em três etapas: a primeira voltada para uma pesquisa exploratória e documental com o intuito de compreender mais sobre o tema e o objeto de estudo; a segunda na escolha de peças da coleção para a prática da fotogrametria ao qual se teve a seleção de uma peça para cada tipo de material (vidro, cerâmicas, louças, ossos e metais) e a terceira na realização da técnica de fotogrametria com o auxílio de um celular Samsung modelo A30 para a produção das fotos, dos programas Meshroom para o processamento das fotos e respectiva transformação do objeto em 3D e Blender para a limpeza de outros possíveis pontos (além do objeto) captados, além da plataforma digital Sketchfab para disponibilização dos objetos em 3D. Com os resultados, observou-se que para as cerâmicas, metais e ossos a técnica demonstrou-se de grande utilidade, mesmo que os objetos apresentassem falhas na visualização tridimensional provocada devido à falta de iluminação e de uma maior qualidade dos equipamentos escolhidos para a realização da técnica, para as louças e vidro infelizmente o resultado não foi satisfatório apresentando muitas falhas no objeto e sua visualização, como o vidro e as louças acabam por serem mais reflexivos, o programa tem maiores dificuldades no reconhecimento da forma. Porém, de uma forma geral e com os recursos disponíveis, a técnica demonstrou ser de grande potencial para ser utilizada em instituições científicas e locais de guarda.

  • DEBORA CRISTIANE BLOIS NASCIMENTO
  • Arqueologia com Pipoca: Representações e Representatividade de Gênero e Negritude no Cinema

  • Data: 23/02/2022
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  • Esta dissertação analisa a partir de um viés antropológico e arqueológico a imagem da Arqueologia, suas construções e representações nas produções cinematográficas. É importante perceber que o cinema é uma arte absurdamente discursiva, dessa forma, os discursos se constituem, sobretudo, nas inferências. A percepção artística depende do background cultural de cada expectador. Em meu recorte, neste campo de investigação, me pautei na composição das imagens apontadas nos filmes da plataforma digital Netflix, a qual recebeu esse enfoque, por ser o maior streaming da atualidade. Para isso, classifiquei os títulos de modo quantitativo por ordem de produção; em seguida, a partir da análise fílmica, observei a alegoria por repetição; para enfim recusar a posição judicativa de uma arqueologia branca e homogênea. Dessa forma, tenciono fomentar discussões acerca das narrativas que não falam somente de arqueologia, mas das relações de gênero, raça, diversidade, entre outros. Objetivando mostrar que na sétima arte, os enredos, as imagens, os discursos e silêncios contribuem para o racismo estrutural e a invisibilidade de gênero no constructo da arqueologia enquanto disciplina acadêmica. Naturalizando lugares de poder e fazendo parte da nossa visão de mundo para além das telas de cinema.

  • CIBELLY ALESSANDRA RODRIGUES FIGUEIREDO
  • A Ação do PAC 2 Cidades Históricas e a Governança Municipal na Amazônia: O Caso da Praça do Carmo em Belém, PA

  • Data: 14/02/2022
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  • Esta pesquisa contempla análises acerca do encadeamento de ações do Governo Federal e Municipal no processo de criação e de implementação do “Programa de Aceleração do Crescimento - PAC2 Cidades Históricas”, lançado em 2009 e efetivado em 2013, como parte de uma política do Governo Federal voltada à preservação de sítios históricos urbanos. O PAC2 Cidades Históricas é então lançado com o objetivo de executar ações que permitam a preservação do patrimônio cultural brasileiro, de forma harmônica com outras políticas públicas e com o desenvolvimento local, de forma a proporcionar melhorias na qualidade de vida de comunidades adjacentes. Este programa se insere em um plano estratégico, de âmbito internacional, cujos critérios de seleção pré-estabelecem regiões de interesse mercantil. A abordagem e a efetiva aplicabilidade das ferramentas de gestão, alinhadas a políticas públicas atuais e pretéritas, convergem à hipótese de que instâncias privadas são beneficiadas em detrimento de uma gestão democrática e participativa. No caso de Belém, na Amazônia brasileira, o projeto de intervenção realizado na Praça do Carmo serve de aporte ao entendimento de como impedir a invisibilidade de grupos sociais em frente à imposição do poder público e privado.

  • LUANA DA SILVA CARDOSO
  • Kirimbawa: forte e valente articulação de mulheres indígenas do Baixo Tapajós

  • Data: 28/01/2022
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  • Esta pesquisa teve como objetivo analisar e descrever a atuação e articulação das mulheres indígenas do Baixo Tapajós. O processo político de uma mulher indígena enquanto liderança produz contradições, conflitos sociais e pessoais e redefinição de relações de poder nos universos sociais em que ela transita. Assim, proponho reflexões sobre os processos de mediação social, construção da autoridade acadêmica/militante e estratégias políticas em uma interpretação analítica sobre a militância de mulheres indígenas, parte da minha vivência junto atuação mulheres indígenas lideranças na região do Baixo Tapajós. A metodologia de pesquisa concentrou-se no recorte espaço-temporal do período do mestrado, mas também me debruço em falar do contexto do o período de ativação do Departamento de Mulheres Indígenas do CITA – Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (2018). Com diversas perspectivas sobre o movimento, contrapondo e/ou convergindo com o papel político e da militância das principais lideranças femininas que atuam na mobilização e no enfrentamento à violência, em defesa da vida e de seus territórios indígenas. Nós Mulheres Indígenas, somos parte da história de (re) existência do Brasil.

  • BEATRIZ FIGUEIREDO LEVY
  • Narrativas em disputa sobre a loucura: da (re)produção discursiva sobre a periculosidade aos agenciamentos de internos em manicômios judiciários no Pará e no Distrito Federal.

  • Data: 14/01/2022
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  • Este trabalho teve por objetivo analisar os processos de (re)produção discursiva sobre as representações sociais da loucura e da periculosidade associada a ela, materializadas na figura de pessoas com transtornos psíquicos em conflito com a lei, e os agenciamentos de internos de manicômios judiciários, um Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), o Hospital Geral Penitenciário (HGP) do Pará, e uma Ala de Tratamento Psiquiátrico (ATP) do Distrito Federal. Pretendeu-se investigar de que forma esses discursos atuam como modo de justificar mecanismos de poder em uma instituição que possui caráter tanto manicomial, quanto carcerário. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a respeito dos processos de produção discursiva que conduziram às concepções estigmatizadas sobre os ditos loucos infratores e ao contexto de surgimento e fortalecimento dos manicômios judiciários no Brasil. Posteriormente, foi realizada uma etnografia de e em documentos, momento no qual foram analisados processos judiciais que perpassam as internações no HGP e na ATP, bem como proposições legislativas pertinentes ao estudo, atentando-se, sobretudo, a como se manifestam as narrativas sobre a categoria periculosidade. Espera-se que o resultado da pesquisa subsidie a promoção de ações cabíveis para melhorias da realidade enfrentada por esses sujeitos. Igualmente, almeja-se contribuir para o debate acerca da primordialidade em superar o modelo institucionalizado de tratamento psiquiátrico.

2021
Descrição
  • LUCAS MONTEIRO DE ARAUJO
  • O QUE OS VIAJANTES LEVARAM? A Cultura Material Marajoara em Invenção nos Museus Brasileiros e Norte-Americanos

  • Data: 15/12/2021
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  • O século XIX demarca o surgimento do interesse da ciência moderna pelo Marajó. Nesse período, homens e mulheres viajantes singraram as águas do arquipélago na busca dos famosos vestígios arqueológicos descobertos em tesos e sítios da região, os quais despertaram o interesse de museus e universidades nacionais e estrangeiros. De igual maneira, ao transitarem por aquela realidade, esses/essas naturalistas não foram míopes aos seus aspectos sociais, relatando em artigos, livros, cartas e manuscritos os modos de vida das gentes que lá moravam. Em especial, ao aportarem na vila de Breves, ao sul do arquipélago, registraram destacadamente a produção de cerâmica indígena local que, da mesma forma que as peças coletadas nos tesos, foi enviada para instituições científicas brasileiras e internacionais. Cientes da existência e importância dessas coleções para a construção da ciência moderna, a hipótese central da tese é: a cultura material arqueológica e etnográfica foi o grande vetor da invenção de uma imagem ancestral de Marajó no oitocentos. Para além da pergunta título dessa tese, buscamos questionar: qual imagem sobre populações marajoaras, do passado e do presente oitocentista, foi construída a partir dos objetos levados para museus e universidades brasileiras e norte-americanas? À luz dessa indagação, objetivamos analisar aquilo que chamamos de “invenção marajoara”, ou seja, o processo de construção de uma imagem de Marajó a partir da cultura material musealizada no Brasil e nos Estados Unidos. O prisma analítico tomou como bússola os Estudos Culturais, pós-coloniais e decoloniais para iluminaram investigações que metodologicamente trilharam instrumentos da pesquisa referencial no Museu Paraense Emílio Goeldi (Belém), Museu do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (Maceió), Museu Nacional (Rio de Janeiro), Museu Peabody (Cambridge), Museu Kingman (Battle Creek), Museu Nacional de História Natural (Washington), Museu de arqueologia Antropológica da Universidade do Michigan (Ann Arbor), Universidade de Cornell (Ithaca), Faculdade de Albion (Albion), Faculdade de Hillsdale (Hillsdale), que reúnem coleções arqueológicas e etnográficas, formadas por doze cientistas, dos quais William Barnard, Charles Hartt, Ferreira Penna, Orville Derby, Joseph Beal Steere e Ladislau Netto são estudados mais detidamente por sua significativa produção literária. Como resultado, notamos que a cultura material transmigrada para os espaços museológicos e eleita para estudos pelos cientistas, foi interpretada à luz, principalmente, de um pensamento evolucionista e difusionista que legitimou uma imagem enaltecida dos ceramistas do passado, ao mesmo tempo em que inventou o presente antropológico como “degenerado”. Por esse enredo, em escala internacional, as peças arqueológicas foram utilizadas para reconstituir uma história da humanidade desde seus primórdios, enquanto as etnográficas ilustraram os descaminhos tomados por aquela sociedade. Em circuito nacional, os objetos foram fontes de uso político por uma elite que pretendia constituir-se nobre e buscava garantir seus privilégios de classe. Associar-se a um passado arqueológico imaginado foi basilar na invenção da história e da identidade não só marajoara, mas da Amazônia e do Brasil como um todo. Ocultas nas sombras dessa narrativa única, estão pessoas, objetos, memórias, saberes e práticas, cujas vozes, mesmo negligenciadas pelas letras da ciência oitocentista, pululam de suas entrelinhas e são, na medida do possível, aqui reveladas, bem como seus processos de apagamentos nas ambiguidades das zonas de contato.

  • ALINE DE SOUZA MUNIZ
  • Todas as dores da alma – uma só dor: um estudo antropológica sobre o medo, a vergonha e a culpa em relatos de vítimas de estupro

  • Orientador : EDNA FERREIRA ALENCAR
  • Data: 03/12/2021
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  • O presente estudo tenciona enfatizar o protagonismo de mulheres vítimas de estupro, partindo da importância da denúncia e da visibilização desse tipo de crime realizado contra elas em seus relatos publicados em plataformas digitais. Para tanto, analiso a violência sexual enquanto parte do patriarcalismo e seus mecanismos de controle historicamente constituídos para obstruir a compreensão dessa forma de violência, bem como os estereótipos estabelecidos quanto ao estupro, à vítima e ao estuprador — termos empregados pelo senso comum e repetidos no âmbito judiciário que as submetem a constantes revitimizações. Por tratar-se de uma violência que concatena agressão física, sexual e psicológica, urge a deslegitimação da cultura do estupro respaldada pelo patriarcalismo visando à garantia do direito das mulheres ao exercício livre e digno de sua sexualidade, luta travada há anos por movimentos sociais feministas, continuada atualmente sob diversas formas, que incluem o ativismo online mediado por grupos de apoio que encorajam as vítimas à denúncia, fornecendo-lhes o suporte necessário. Nesse sentido, pretendo destacar, nos relatos de dor compartilhados por suas autoras no ciberespaço, algumas das emoções decorrentes do crime, tais como medo, culpa e vergonha que evidenciam a intensidade do trauma com o qual lidam e a dificuldade vivenciada na busca por superá-lo, traduzidas no ato de autorrepresentação de suas histórias, direito negado pela prática do silenciamento imposto social e institucionalmente. Ao relatarem, elas apoiam outras vítimas e constroem redes de apoio entre si criando uma indispensável ferramenta para esclarecimento, reivindicação de direitos e estratégia de resistência à naturalização das violências contra as mulheres. 

  • ELIDA NASCIMENTO MONTEIRO
  • Itacoã – Miri “terra dos descendentes além da casa grande”: situações sociais do pós-titulação do território coletivo

  • Data: 18/11/2021
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  • A dissertação intitulada Itacoã-Miri: As terras dos descendentes além da Casa Grande: situações sociais do pós-titulação do território coletivo propõe descrever as mudanças no quilombo Itacoã-Miri, localizado no Baixo Rio Acará, município do Acará- Pará e propõe-se analisar as situações sociais no território, a partir do ato de titulação pelo Instituto de Terras do Pará (ITERPA), em 2003. Já transcorreram 22 anos e as alterações espaciais e sociais indicam os direcionamentos marcados por tensões e conflitos internos e externos. Quem tem direito a morar no território? Quais as regras sociais para ser integrado à comunidade? Como e por que ocorre a violação de princípios, a exemplo do que está sendo denominado “loteamento” que está contra a cláusula da inalienabilidade? As noções de território, “comunidade”, “comunidade política” e “autonomia” estão sendo pensadas e analisadas com base em registros etnográficos e o debate com os autores que se debruçaram sobre essas categorias analíticas (Acevedo Marin, 1999; Scoles, 2005; Almeida, 2008, 2013). Descrevemos e realizamos o mapeamento das mudanças de Itacoã-Miri, a partir da titulação do território, com foco nas vivencias dos quilombolas sobre suas vidas e sobre a organização social e política da comunidade. Apresentamos um quadro da atual situação de Itacoã-Mirim; elucidando os múltiplos planos de organização da vida social, política, econômica, ecológica e cultural, pós-titulação do território. Ao longo desta experiência de pesquisa busco pensar, praticar a etnografia e refletir essas práticas.

  • KARLA PAMELA REVELES MARTÍNEZ
  • Donde quiera que voy me acuerdo de la mata de moriche Prácticas de salud en la transitividad migratoria de indígenas warao en Belém, Pará

  • Data: 10/11/2021
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  • La presencia de indigenas warao en el flujo migratorio venezolano en Brasil ha generado controversias con respecto a la atencion a la salud de este grupo. Las trayectorias terapeuticas de las personas en transito migratorio muestran diversos matices en la atencion a la salud durante las fases de la migracion. En esta investigacion se identifican factores de busqueda y acceso a las practicas de atencion a la salud de familias warao en la ciudad de Belem, Para, region norte de Brasil. La manera de aproximacion es a traves de la observacion participante en actividades de asistencia social y en actividades del Consultorio na Rua [“Consultorio en la calle”], y a traves de las experiencias narradas de personas que prefieren vivir fuera de los refugios. Este trabajo muestra que la atencion a la salud brindada por el Consultorio na Rua, la terapia con los chamanes warao (Wisiratu y Joarotu), la terapia con ensalmistas, la automedicacion (uso de medicamentos farmaceuticos y remedios caseros), la preferencia por el parto domiciliar, el rechazo a procedimientos medicos y la busqueda de alimentacion adecuada son practicas que forman parte de la atencion a la salud de los warao en su transitividad migratoria en Belem. Sin embargo, este trabajo identifica que la exclusion laboral, la falta de acceso a la informacion y orientacion de los servicios de salud, la poca interaccion de los migrantes warao con los centros de salud (Unidades Basicas de Saude), entre otros, son factores que tambien intervienen en la subutilizacion de los servicios de salud. Se brindan algunas recomendaciones para redireccionar el acceso de los warao a los servicios de salud del municipio. Asimismo, se resalta que la permanencia en Belem y el posible retorno a unas tierras con procesos de extractivismo son fases de la trayectoria migratoria que deben continuar siendo discutidas con respecto a la irrupcion en el derecho a la salud como un bien comun para la vida de este pueblo indigena, forzado a los desplazamientos y la marginacion.

  • BRENDA BANDEIRA DE AZEVEDO
  • Tradição Tupiguarani na Bacia Guamá-Moju? Uma Análise a Partir do Sítio Arqueológico Guamá

  • Data: 05/11/2021
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  • Esta pesquisa é um estudo de caso do sítio Guamá com objetivo de investigar as ocupações Tupiguarani na área da Sub-bacia Hidrográfica Guamá-Moju. Localizada na região do Nordeste Paraense, esta bacia engloba os rios Guamá, Moju, Acará e Capim, que nos últimos anos tem sido alvo de diversas pesquisas arqueológicas sobre a presença de ocupações pré-coloniais na área. Com base nos resultados das análises do sítio Guamá e das diversas pesquisas arqueológicas da região, somados ao levantamento bibliográfico, realizou-se uma síntese sobre essas ocupações. E a partir dos artefatos cerâmicos e líticos, evidencia-se as similaridades em suas características com uma ocupação Tupiguarani na Amazônia Oriental.

  • CAMILA DE FÁTIMA SIMÃO DE MOURA ALCANTARA
  • Pontos de Memória: de política cultural à museus em periferias

  • Data: 05/11/2021
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  • A seguinte tese apresenta uma etnografia sobre as iniciativas comunitárias de Pontos de Memória que participaram de um processo democrático para a construção de uma política pública cultural no Brasil, pautada na museologia social. O objetivo deste estudo é de compreender os (re)arranjos políticos e sociais que as doze iniciativas autodenominadas de “pioneiros” fazem para manter seus processos museais nas periferias brasileiras. Territórios marcados pela privação e abandono de políticas públicas efetivas, onde há proliferação de todo tipo de violência com o lugar e com a sua gente. As reflexões sobre o objeto da pesquisa deram-se por meio da Antropologia dos Museus que forneceu uma interpretação dos processos museais em contato com a percepção das representatividades dos Pontos de Memória pioneiros sobre as suas realidades nos seus lugares de existência. Organizada em cinco capítulos, a tese traz uma discussão sobre museus em processos que se servem das realidades e soluções criativas nos espaços urbanos periféricos para registrar a memória social e salvaguardar o patrimônio cultural dos diversos grupos sociais que vivem nesses territórios. Apresentando as principais diretrizes de políticas públicas voltadas para museus que incentivaram esses grupos a criarem os seus processos museais. As iniciativas dos pontos pioneiros são revisitadas a partir de uma visão privilegiada do Ponto de Memória da Terra Firme, em Belém do Pará, em que considerou os movimentos em comunidade para defender o desenvolvimento territorial, social, cultural e político das comunidades que representam. Nesta pesquisa etnográfica compreendo que os Pontos de Memória pioneiros são museus em processos formados por sujeitos diversos que se enriquecem como comunidades, ao desenvolverem pensamento crítico sobre suas realidades e organizarem ações coletivas transformadoras nas cidades onde acontecem, a partir das forças ativas da memória. Esses processos museais ganham vida no interior das comunidades as fortalecendo como sujeitos que criam, recriam e decidem sobre suas realidades.

  • CARLOS AUGUSTO PALHETA BARBOSA
  • Cavidades-sítio do Platô N1: características dos lugares procurados pelos antigos habitantes de Carajás

  • Data: 30/09/2021
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  • A proposta deste trabalho foi identificar, através de analises estatísticas de dados arqueológicos e espeleológicos, levantados nas cavidades do Platô N1, a existência de características físicas peculiares às cavidades com diferente conteúdo arqueológico que pudessem demonstrar que a utilização desses lugares, pelas populações antigas, não foi resultado de escolhas casuais e sim de procuras conscientes. Pesquisas arqueológicas têm revelado inúmeras informações sobre a ocupação humana antiga em Carajás, região pertencente à Amazônia brasileira e localizada no sudeste do Estado do Pará no Brasil. Os dados obtidos permitem levantar questões sobre as formas que os grupos humanos ocuparam e interagiram com seu ambiente em função de fatores culturais e econômicos.  Essas pesquisas mostram, entre outras coisas, que existem um grande número de sítios arqueológicos em cavidades naturais em platôs da região e, com base na materialidade existente nesses lugares, indicam que alguns tiveram usos direcionados para atividades domesticas ou especiais. Porém, na maioria das vezes, essas inferências sobre a ocupação regional não levam em consideração o fato de as cavidades naturais serem elementos de grande potencial informativo sobre o contexto arqueológico da paisagem. As cavidades-sitio de Carajás integraram os contextos de paisagens vividas por grupos humanos antigos que ocuparam essa região em diferentes momentos históricos. E, portanto, são lugares que eram percebidos e utilizados por possuírem características físicas que, certamente, se adequavam a critérios sociais pré-definidos sobre o uso do espaço. 

  • ELOANE JANAY DOS SANTOS PICANÇO
  • Ressignificar o passado e agir no presente: identidade, memória e ação política em Cuipiranga, Santarém/PA

  • Data: 24/09/2021
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  • O objetivo desta pesquisa foi compreender uma situação social na qual os moradores da comunidade Cuipiranga, pertencentes ao Assentamento Agroextrativista PAE Lago Grande, na região do Baixo Amazonas, tomam um evento histórico – a Cabanagem, para afirmar uma identidade em contextos onde está em disputa o direito ao território. Este evento ganhou contornos e sentidos próprios para os moradores dessa comunidade, quando estes passaram a se identificar como descendentes dos cabanos, construindo, dessa forma, uma identidade a partir da evocação de fragmentos da memória social, da ressignificação de elementos da paisagem local, utilizados como âncoras dessa memória coletiva e da atribuição de sentidos ao lugar do passado onde a comunidade está erguida no presente. Nesse sentido, há um esforço conjunto em destacar as lembranças sobre a Cabanagem que enfatizam a luta, a coragem e a resistência dos antepassados em defesa de seus territórios. Partindo desta premissa, a pesquisa fundamenta-se no método da observação participante e uso de técnicas para obter informações como entrevistas, conversas informais, participação em reuniões e eventos locais, levantamento bibliográfico e o método da história oral. Destaca-se que os resultados obtidos indicam que essa reconstrução do passado que ocorre em Cuipiranga e que desencadeou a afirmação desses moradores como descendentes dos cabanos, não impede que o grupo também se reconheça como agroextrativistas ou ribeirinhos, uma vez que essa produção de identidades sociais não é feita isoladamente, mas em um contexto de tensões e conflitos socioambientais históricos envolvendo o direito sobre a posse de terras do PAE Lago Grande ameaçadas de expropriação por empresas do ramo da mineração e indústrias madeireiras. Nesse cenário, a participação e a mobilização de agentes externos à comunidade é uma estratégia que contribuiu para que os moradores buscassem legitimar direitos coletivos. Por fim, considera-se que a Cabanagem, tal como vem sendo ressignificada e incorporada às lutas destes sujeitos no presente, está associada direta ou indiretamente a conflitos por terras.

  • LIENDRIA MARLA MALCHER SILVA
  • Cinema de Beiras: produção de narrativas audiovisuais por documentaristas do Baixo Tapajós

  • Data: 23/07/2021
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  • Partindo de um conjunto de documentários produzidos na região do baixo Tapajós entre 2007 e 2020 por cineastas locais, esta pesquisa propõe uma etnografia com base em dois procedimentos metodológicos, a análise fílmica e a etnobiografia. Trabalharemos, portanto, com três filmes e com as trajetórias de seus respectivos realizadores: A Margem (2008), de Carlos Matos, Memórias de Velho (2020), de Carlos Bandeira Jr. e O Sonho dos Antepassados (2011), de Clodoaldo Corrêa. O primeiro é migrante maranhense e chega ao baixo Tapajós na infância, o segundo é nascido em Santarém e antropólogo formado na região, e o terceiro é oriundo da Aldeia Andirá, de etnia Arapium. Entende-se que nessas narrativas audiovisuais articula-se uma gama de processos e discursos históricos, sociais, políticos e estéticos, inerente à apropriação de tecnologias advindas da modernidade em conjunturas de colonialidade do poder. Os filmes de beiras, tal como dispositivos cartográficos, produzem mapas abertos e polifônicos, a partir da expressão do olhar desses cineastas e tecem redes de relações com os atores sociais envolvidos na produção e em comunidades de cinema. Dessa maneira, aborda-se a agência dessas narrativas e seus efeitos na produção de regimes de memória. São, sobretudo, filmes feitos nas beiras, nas fronteiras, nas margens, do rio, da indústria cinematográfica e do regime de memória hegemônico. Refletindo o contexto de visibilidade dessas obras apontamos as potencialidades dessas imagens endógenas para o aprofundamento sobre a ideia de “Amazônia”.

  • BRUNA JOSEFA DE OLIVEIRA VAZ
  • Emanuela Sousa e o Movimento Indígena no Baixo Tapajós

  • Data: 12/07/2021
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  • Este estudo é uma etnografia sobre as narrativas e memórias de Emanuela Sousa, mulher indígena do povo Kumaruara, freira por mais de cinco décadas e uma grande referência do movimento indígena na região do rio baixo Tapajós. Através do método de história de vida e história oral, procura-se compreender sua trajetória, o processo de emergência étnica e a organização do movimento indígena no baixo Tapajós, território em que nasceu e dedicou parte do seu trabalho como ativista indígena. Descritos como mortos ou extintos há muito tempo, os povos indígenas desta região passaram a mobilizar publicamente suas identidades étnicas a partir do final do século XX, momento em que se reconfigurou o quadro político e social na região. Desta forma, as narrativas e memórias de Emanuela, como fios condutores, possibilitaram uma compreensão renovada deste processo.

  • ESTEBAN FRANCISCO ACOSTA BARRENO
  • BOIS, PEIXES E OUTROS BICHOS”. LA VIDA COTIDIANA, LA ALIMENTACIÓN Y LA CARNE. UNA APROXIMACIÓN A LA AGENCIA EN LA ALIMENTACIÓN Y AL CONSUMO DE CARNE EN UNA CASA DE “ELITE” DURANTE EL SIGLO XVIII EN LA CIUDAD DE BELÉM PA. UN ANÁLISIS ZOOARQUEOLÓGICO

  • Data: 29/06/2021
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  • Ofrece una aproximacion a lo que fue el consumo de carne verde y la agencia de los actores durante este proceso. El material oseo faunistico recuperado mediante un rescate arqueologico durante la restauracion de un predio en la “Ladeira do Castelo” que fue parte del convento de los padres jesuitas en el barrio en la “Cidade Velha”, en Belem-PA, fue analizado mediante tecnicas zooarqueologicas. Estas tecnicas ofrecen una primera mirada del tipo de proteina animal consumida por los habitantes de ese predio durante la ocupacion del siglo XVIII. A partir de la comparacion de los datos historicos junto con los resultados de los analisis zoorqueologicos se emitiran algunas reflexiones preliminares sobre las preferencias alimentarias proteicas, tanto de tipo de animal, como de las partes del cuerpo, de la elite que habito el predio. Este trabajo no pretende hacer una clasificacion taxonomica rigurosa de las espécies preferidas, sino mas bien conocer el proceso de transformacion del animal en alimento pasando por los cuatro estados del proceso alimentario: procuramiento, coccion, formas de comer y descarte.

  • FLÁVIA SIQUEIRA CORRÊA ZELL
  • O silêncio das inocentes: o estigma da periculosidade e a internação perpétua de mulheres que cumprem medida de segurança no estado do Pará

  • Data: 15/04/2021
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  • Esta pesquisa remete de forma crítica às lutas emblemáticas que atravessaram (e atravessam) o campo psiquiátrico no tocante ao tratamento social despendido às mulheres acometidas de sofrimento mental, com enfoque sobre as dialéticas contemporâneas de (não) observância ao princípio da dignidade humana. Para a abordagem histórica, foi considerado o marco da Revolução Francesa como divisor do encargo social que incidiu sobre a loucura na sociedade, já que o período pós-revolução é demarcado pelo culto à razão, pela relação contratual e pela livre circulação de mercadorias, o que caracterizava o louco como incapaz de produzir por não trabalhar. Isso acarretou uma segregação social histórica e a exclusão das pessoas assim caracterizadas do atributo de cidadãs. A curatela dessas pessoas foi, então, chancelada pela figura do psiquiatra. Pode-se associar o surgimento da Medicina Social, difundida por Pinel, com a necessidade de controle do desvio do louco. O isolamento era justificado pela busca da cura. No campo da saúde mental, os movimentos de reforma psiquiátrica foram fortalecidos em virtude do crescimento econômico, reconstrução social, movimentos civis de luta contra as exclusões e preeminência de ideologias libertárias. Dessa forma, faz-se necessário traçar um compêndio histórico acerca da loucura, com especial atenção aos direitos das mulheres consideradas loucas criminosas. A finalidade última deste trabalho é possibilitar que haja uma reflexão sobre a dificuldade de se firmar os direitos sociais em uma sociedade excludente, na qual as mulheres, particularmente aquelas tidas como loucas infratoras, têm seus direitos violados, e contribuir, assim, para a efetivação de mudanças nesse cenário.

  • JOSE CARLOS ALMEIDA DA ROSA
  • “Homens Heteros Não Costumam Usar esse Tipo de Combinação”: Consumo, Paisagens e Sensibilidades entre Gays de Belém, Pará

  • Data: 06/04/2021
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  • Interpretar as materialidades por meio da antropologia do consumo auxilia na compreensão da constituição de um mapeamento de identidades, costumes, sensibilidades e estilos de vida dos indivíduos a partir de diferentes contextos históricos e sociais, pois os objetos deixam de ser vistos apenas como bens tangíveis e passam a ser considerados como agenciadores que provocam, afetam, constroem os sujeitos e influenciam, de forma direta, as suas dinâmicas de sociação. Isso se torna perceptível dentro das paisagens gays da capital paraense, Belém, no qual os homens homossexuais, ao utilizarem determinadas indumentárias, acessórios, marcas e possuírem específicos modos de consumo dentro de locais de socialização LGBTQIA+, categorizam e hierarquizam outros rapazes homossexuais a partir dessas “coisas”, que revelam um debate acerca dos marcadores sociais de distinção de classes e raças. Considerando os estudos da antropologia dos sentidos dentro das paisagens da 18ª Parada do Orgulho de Belém e em duas casas noturnas gays da cidade. Este trabalho tem o objetivo de realizar uma observação participante para entender como os homens gays belenenses identificam e categorizam outros membros pertencentes do coletivo social LGBTQIA+ a partir do consumo de paisagens e materialidades, em um período que condiz ao antes e durante a pandemia da Covid-19 no Brasil.

  • TALLYTA SUENNY ARAUJO DA SILVA
  • Riquezas da Terra: paisagens e ocupações na Serra Leste de Carajás

  • Data: 05/04/2021
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  • O trabalho investigou as ocupações humanas e as transformações na paisagem por elas provocadas considerando a longa duração desse processo de habitar. Para realização da tese, ora apresentada, três momentos foram escolhidos: (1) a ocupação em cavidades, especificamente as realizadas na CECAV-047: Tyto Alba e CECAV-079: Samambaia do Inferno; (2) a ocupação do sítio a céu aberto Serra Leste 1; e (3) a ocupação recente do garimpo de Serra Pelada iniciada no ano de 1980, do século XX, no atual município de Curionópolis. A ocupação recente ligada à exploração de minérios ocasionou grandes transformações na paisagem, produzindo novas marcas e afetando as deixadas em outros momentos. Uma análise integrada dos diferentes momentos do habitar na Serra Leste de Carajás visou destacar a importância de cada uma das ocupações como instituidoras de novas paisagem local, modificada conforme as relações sociais mantidas pelas pessoas com os espaços que habitaram e habitam a partir da exploração e do uso das “riquezas da terra”.

  • JHEUREN KAROLINE COSTA DE SOUZA
  • Pelos Rios da Amazônia: mulheres e violações de Direitos Humanos

  • Data: 26/03/2021
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  • O trabalho apresenta resultados da dissertação sobre mulheres da Amazônia e violações de Direitos Humanos, considerando necessidade de visibiliza-las, baseando-se no estudo de autoras e autores decoloniais que entendem a interseccionalidade entre raça, gênero e etnia como chave para compreensão e análise das mulheres em situação de violência. Os rios como condutores e reprodutores de práticas sociais estão presentes nos discursos das entrevistadas, tanto pela falta de acesso à Justiça para restaurar direitos, como pela possibilidade de resistência ao colonialismo que persiste mesmo após o período colonial no Brasil. A discussão é importante para pensar as violações de forma diferenciada e assim indicar a possibilidade de mudanças teórico-metodológicas, as quais são fundamentais à escrita das histórias de mulheres da Amazônia, contemplando a multiplicidade de vozes.

  • DIEGO BARROS FONSECA
  • Bioarqueologia Maracá: do mundo dos mortos ao mundo dos vivos

  • Data: 01/02/2021
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  • O estudo bioarqueológico aqui apresentado compreende a análise de remanescentes osteológicos humanos presentes em urnas da cultura Maracá, aventando possibilidades e/ou reafirmando algumas inferências já realizadas por outros pesquisadores. Para tanto, agrega novos dados biológicos que proporcionam um melhor entendimento dos indivíduos e processos mortuários que se apresentam para essa cultura como: patologias ósseas e dentárias, modificações tafonômicas, estimativas de estatura, diagnose sexual, entre outras. Assim, se poderá atingir um maior detalhamento do modo de vida e das possibilidades investigativas que podem ser realizadas a partir de vestígios ósseos, objetos que até pouco tempo, de forma injustificada, eram quase que ignorados, sempre sob a justificativa da não conservação de vestígios biológicos em contextos Amazônicos. Tendo como norte a contribuição entre campos disciplinares e olhares diferenciados sobre as práticas mortuárias Maracá e levando em conta que os vestígios osteológicos são a “expressão física” do ato ritualizado da morte, vislumbra-se não somente criar um estudo em bioarqueologia ou osteoarqueologia para a área, mas em especial dar visibilidade aos estudos funerários na Amazônia e à cultura Maracá.

  • RAYANE GOMES DA SILVA
  • Hàkti Jõkrín: A política e a chefia Gavião

  • Data: 15/01/2021
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  • O trabalho apresentado percorre as trajetórias vividas pelo povo Gavião da Terra Indígena Mãe Maria, no Sudeste Paraense, e propõe compreender o modo como as relações acontencem e definem os seus três grupos: Akrãtikatêjê, Kỳikatêjê e Parkatêjê. A ideia é acompanhar os processos de dispersão que envolvem esses grupos, sobretudo aos Kỳikatêjê da aldeia Hàkti Jõkrín, como aproximação para entender as diferenciações e movimentos que realizam os Gavião, contextualizando essa dinâmica através das observações de campo e investigações bibliográficas. Meu objetivo é compreender como a dinâmica de dispersão desses grupos está relacionada com o processo de constituição de seus territórios e as articulações políticas que os grupos estabelecem, em um constante movimento pela busca de sua autonomia. Movimento que pode estar relacionado não somente à sua organização social, mas também à constituição dos processos políticos dos Gavião.  Meu interesse, nesse sentido, está focado na circulação de um grupo específico, os Kỳikatêjê da aldeia Hàkti Jõkrín, e a forma que se constituíram enquanto tal na Terra Indígena, após uma divisão. As relações territoriais e políticas em que eles se colocam como Parkatêjê, Kỳikatêjê e Akrãtikatêjê, ou mais ainda, como lidam com suas diferenciações, é o meu interesse nesse trabalho.

2020
Descrição
  • TAYNARA SOARES DO NASCIMENTO SALES
  • Arqueologia contemporânea na Amazônia: reprodução da iconografia e cerâmica da cultura Maracá

  • Data: 10/12/2020
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  • A presença de iconografias de culturas materiais arqueológicas é uma prática frequente no cotidiano do Norte do Brasil, Amazônia, sejam em formas de réplicas, cerâmicas utilitárias com referências, tatuagens, silhuetas no vestuário ou em propagandas, e assim por diante. Belém/PA possui uma ampla produção nesse setor, que engloba algumas dessas produções, referenciadas em culturas indígenas pré-coloniais, como Marajoara, Tapajônica e Maracá. Destas, a cultura Maracá, diferente das outras mencionadas, é proveniente da região Sudoeste do Estado do Amapá, porém também possui forte presença em Belém. Posto isto, essa pesquisa tem como objetivo central entender como se deu esse processo de apropriação de identidade da cultura Maracá através da produção contemporânea de cerâmica, e como ela se propagou em Belém e em Macapá/AP. Utilizando uma abordagem etnográfica, buscou-se compreender o processo pessoal dos artesãos dentro do universo cerâmico e os diferentes usos da iconografia desses objetos tanto no Pará, quanto no Amapá. O resultado deste estudo almeja problematizar sobre uma nova narrativa do que já era conhecido da trajetória do fazer cerâmico contemporânea na Amazônia, focando na cultura Maracá; pois analisou como algumas referências arqueológicas foram usadas e ressignificados ao longo dos anos; e qual o papel da/o arqueóloga/o dentro desse evento.

  • MAJIN BOOTTE SILVA DOS SANTOS
  • Quilombo Patos do Ituqui (Santarém, Pará): etnicidade, conflitos intergrupos e terras tradicionalmente ocupadas

  • Data: 03/12/2020
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  • O quilombo Patos do Ituqui, no qual se desenvolve esta pesquisa etnográfica, está localizado na mesorregião do Baixo Amazonas, mais especificamente em Santarém, estado do Pará. De acordo com a memória social do grupo, o quilombo foi formado por negros antes escravizados e depois aquilombados na Fazenda Taperinha, vivendo em liberdade e autonomia no pós-abolição até 1911, quando foram expulsos e se estabeleceram em uma terra doada a uma família que ali fez seu lugar permanente de ocupação. Autorreconhecido como quilombo em 2012, mediante certificação da Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura, Patos do Ituqui está inserido em um cenário de conflitos socioambientais que envolvem a disputa pelo uso da terra, dos rios, igarapés e lagos do território ocupado de modo tradicional pela comunidade. Tanto os conflitos que contrapõem interesses de fazendeiros aos da comunidade quilombola, quanto as disputas intergrupos que emergem nesse contexto de reivindicação territorial como quilombo, junto ao Estado brasileiro a partir de procedimento administrativo em curso aberto no INCRA, constituem temas a serem desenvolvidos neste trabalho de pesquisa, a partir de uma análise situacional, visando a construção de uma etnografia dos processos políticos envolvidos no reconhecimento das terras de quilombo na fronteira amazônica. Os modos de ser, fazer, criar e viver de Patos do Ituqui, como em outras comunidades tradicionais, são diretamente relacionados com suas experiências individuais e de grupo, em interação com o meio ambiente nas atividades de caça, pesca, extrativismo vegetal, agricultura e pecuária de pequeno porte. O exercício dessas atividades segue uma lógica própria da comunidade, segundo o ciclo de desenvolvimento dos grupos domésticos e das atividades de reprodução, no qual pode-se afirmar que os danos causados pela extração ilegal de madeira, queima de áreas florestais e pesca predatória de peixes no território quilombola destroem a lógica de reprodução social e cultural e põem em risco os modos tradicionais de conhecimento garantidos pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988. 

  • ANDREY MACIEL CASTRO
  • Um regime de opulência: grupos ceramistas da Volta Grande do rio Xingu 

  • Data: 22/10/2020
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  • A presente pesquisa foi conduzida no âmbito da arqueologia preventiva do Projeto UHE Belo Monte. A partir de três sítios, procurei estabelecer marcadores estilísticos e formais para a cerâmica da Volta Grande, relacionando os complexos estudados advindos de compartimentos topográficos e áreas do projeto distintos, para conseguir uma amostragem comparativa que fosse robusta. Para a comparação, foi possível fazer associações internas ao projeto, bem como a partir dos dados levantados regionalmente. Utilizei para essas associações os modelos linguísticos hipotéticos, cuja relação entre grupos linguísticos pode estar associada às tradições cerâmicas amazônicas. Os estilos identificados nos sítios foram associados aos complexos Saladoide, Arauquinoide, Koriabo, Tupi, Hachurado-Zonado e Alto-Xinguano. Com isso, demostrei que a diversidade estilística regional refletia em uma confluência de grupos que ocupavam a bacia do Xingu.

  • AGUINALDO DE JESUS MORAES MARQUES
  • A variabilidade artefatual cerâmica nas ocupações Bela Vista na Volta Grande do Xingu

  • Data: 28/08/2020
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  • A arqueologia preventiva está associada a empreendimentos que causam impactos na região ou área em que ocorrem, a exemplo disto, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte na região do Médio Xingu. É neste contexto que esta dissertação se debruça, trata-se da análise da variabilidade artefatual cerâmica de 11 sítios arqueológicos situados especificamente, na região conhecida como Volta Grande do Xingu. De acordo com as circunstâncias, o trabalho aporta um breve histórico do desenvolvimento dos direitos adquiridos e das obrigações da prática da arqueologia preventiva. Posteriormente, é abordado um levantamento bibliográfico, especificamente sobre a área estudada, desde os viajantes do século XVIII até às pesquisas arqueológicas atuais, com o objetivo de compreender minimamente a extensão regional investigada. Em seguida, são apresentadas as metodologias e intervenções executadas em campo e laboratório, e concomitantemente os resultados obtidos, que possibilitaram a classificação das características morfológicas e decorativas das cerâmicas. Por fim, a partir entendimento artefatual, as relações entre as ocupações foram compreendidas à luz da análise comparativa, e conjuntamente com os demais dados proporcionaram novas informações arqueológicas à área pesquisada

  • DIEGO PÉREZ OJEDA DEL ARCO
  • Reflexões sobre a construção de fronteiras sociais e étnicas: levantamentos etnográficos e estudos de caso no contexto regional do Baixo Amazonas, Santarém-PA

  • Data: 05/08/2020
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  • Considerando os distintos processos identitários étnicos protagonizados por grupos sociais que orientam as suas ações em prol do autorreconhecimento enquanto comunidades remanescentes de quilombos na região do Baixo Amazonas, o objetivo geral deste trabalho é analisar a produção e reprodução da etnicidade partindo do entendimento de que ela não decorre de descontinuidades culturais empiricamente observáveis. Cientes de sua variação, destacamos as complexas relações existentes entre etnicidade e cultura por meio de uma etnografia dos processos políticos de reconhecimento territorial como quilombo feita com base na análise situacional realizada na comunidade quilombola de Surubiu-Açú, cuja associação comunitária foi a última em passar a compor a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), e na comunidade quilombola de Saracura, uma das primeiras comunidades em passar a se autorreconhecer como quilombola no município de Santarém, Pará. Assim, levando em conta diferentes escalas de análise, daremos ênfase aos contextos de interação onde a identidade étnica é manifestada, seja na interação social com outras comunidades vizinhas ou com o próprio Estado, na reivindicação de direitos étnicos e territoriais. Com isso, as similitudes presentes nos modos de fazer, criar e viver observadas entre as comunidades quilombolas e “ribeirinhas”, serão comparadas contrastivamente aos diferentes processos de distintividade cultural. É justamente por meio desses processos que sinais diacríticos são eleitos e se tornam relevantes tanto na interação intercomunitária, quanto na configuração de identidades étnicas e políticas.

  • FLAVIO PEREIRA PASSOS
  • Saúde & Envelhecimento: diálogo com as frequentadoras do Centro de Convivência Zoé Gueiros

  • Data: 23/07/2020
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  • A pesquisa se propõe a dialogar sobre a importância do Cento de Convivência, saúde e dor em idosas frequentadoras do Centro de Convivência Zoé Gueiros, em Belém-Pará, considerando que apesar do processo de envelhecimento biológico, a maneira de usar o corpo e senti-lo encontra-se imbricada nas relações sociais estabelecidas pelas pessoas ao longo da vida. Os objetivos são investigar a partir das interlocuções e do convívio direto as estratégias de saúde e enfrentamento da dor; compreender a importância do Centro de Convivência e seu papel como condutor terapêutico; e apresentar as concepções nativas sobre saúde e dor. Categorias que foram atravessadas por violência, sofrimento e resiliência. Os resultados obtidos em campo demonstram que o decorrer dos anos confere maneiras de significar a dor e lidar com a mesma, para que cada interlocutora se mantenha saudável e não tenha a autonomia e independência comprometidas. Frequentar o Centro vai para além de um espaço de sociabilidade, é uma oportunidade de recomeço.

  • LUIS ALBERTO FREIRE DOS SANTOS FILHO
  • Quando o campo são jornais do século XIX: Representação, nacionalismo e etnicidade marajoara (1840-1868)

  • Data: 10/04/2020
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  • Esta investigação se propõe a estudar narrativas de jornais paraenses do século XIX, mais precisamente no contexto de 1840 a 1868, compreendido pela historiografia como um tempo de transição entre dois grandes eventos que marcaram a História da Amazônia, a Cabanagem e a Belle Époque, para sondar representações construídas por esses impressos sobre modos de vida, de negociação e de luta sob a agência de diferentes moradores, na cidade e na floresta no arquipélago de Marajó. Procurando articular os campos da Antropologia com a História e a Comunicação, a pesquisa esforça-se por apreender os jornais em suas produções, valores, significados e reflexos na realidade social. Utilizamos, por esse caminho, a etnografia dos/nos arquivos como meio de possibilitar essa imersão do antropólogo neste campo, na tentativa de articular conhecimentos distintos e disciplinas variadas para o exercício da "descrição densa" e produção de uma escrita etnográfica. Na imersão das informações colhidas em campo, intenciona-se analisar como foram narrados os modos de vida, os processos de resistência e solidariedade entre homens e mulheres da região, especialmente aqueles que se encontram em uma posição inferiorizada pelos grupos de poder, sejam eles locais ou nacionais. Entre os aspectos que emergem nas linhas desses matutinos, dado o período pós-cabanagem, observam-se diferentes tentativas de inserção do estado imperial brasileiro em campos e florestas marajoaras, como por exemplo, com a abertura do rio Amazonas às nações amigas do Império. Na contramão deste processo, populações marajoaras em seus próprios modos de construir a existência física, social e simbólica, deixam ver a fragilidade na proposta de integração nacional do Norte ao poder central brasileiro.

  • LAURA CAROLINA VIEIRA
  • Saberes da Floresta, Produtos na Cidade? Os atravessamentos socioculturais que permeiam as práticas tradicionais de cura amazônica em ambiente urbano – Belém/Pará.

  • Data: 31/03/2020
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  • O Setor das Ervas está entre as seções mais características do Complexo do Ver-o-Peso, maior e mais antiga feira atacadista e varejista da capital do estado do Pará, Belém, acompanhando o surgimento da cidade e reunindo particularidades significativas para a realidade urbana. Os artigos ali para venda são direcionados para fins de cura fisiológica e espiritual, frutos de conhecimentos tradicionais e manejo etnobiológico comuns a região amazônica. No município de Belém, esses entrelaçam-se às práticas culturais e fenômenos histórico-sociais próprias ao município e seus sujeitos variados. Pretende-se, com tais fundamentos, a análise das dinâmicas socioculturais influentes na vigência de saberes medicinais tradicionais em contexto urbano. Para tal exame, são consideradas as significações, interações e manejos das práticas em meio citadino político e urbanizador utilizando-se de levantamentos histórico-bibliográficos, observação participante e entrevistas. São percebidos perspectivas subjetivas segundo diferentes coletividades e suas expressões sociais, gerando configurações conflitivas sobre a valoração dos saberes tradicionais de cura e seus sujeitos associados. Dessa forma, a pesquisa contribui para o estudo de realidades urbanas e seus elementos mercantis, culturais e políticos, considerando as novas as demandas e readequações que se fazem presentes. Contribui, também, para a ampliação do campo de estudo das medicinas populares e trabalhar sobre as janelas existentes que envolvem o estudo dos saberes tradicionais encadeadas com esferas hegemônicas de produção e consumo.   

  • WALDILENA ASSUNCAO
  • NO AVESSO DA HISTÓRIA INDÍGENA: Da criminalização às prisões de lideranças indígenas no Sistema Penitenciário do Estado do Pará

  • Data: 30/03/2020
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  • Esta pesquisa procura trazer contribuições cientificas a nível regional para questões relativas às prisões de pessoas indígenas no Estado do Pará. Tal discussão iniciou-se através do levantamento populacional de indígenas no cárcere nos anos de 2006 a 2007, que teve enforque antropológico de abrangência nacional que se deu através da parceria entre Procuradoria Geral da República (PRG) com a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e teve como objetivo reunir dados e informações preliminares sobre a realidade da criminalização e o encarceramento dos povos indígenas tendo como estudo a situação carcerária nos Estados do Amazonas, Bahia e Rio Grande do Sul, por serem Estados que eram reconhecidos como área conflitos Interétnicos entre os respectivos povos indígenas e segmentos da sociedade regional-nacional. Desta forma, a pesquisa realizada em 2007 pela PGR e pela ABA, é a referência bibliográfica inicial para esta este trabalho, principalmente pelas dificuldades de acesso às informações da realidade que envolve prisões de pessoas indígenas no Estado do Pará. Assim, considerado que a criminalização de indígenas ocorre desde sempre, e a escassez dessas informações pode inviabilizar o acesso aos direitos indígenas. Neste sentido, para poder almejar os objetivos deste constructo é preciso compreender o sistema que cerca os sujeitos, a regionalidade das questões em suas variações no contexto social que envolve as prisões, vez que o sujeito que se declarou indígena, e está preso, tem o direito ao respeito à sua cultura, a sua história, tem relação de parentesco pertencente ao mundo da cultura étnica de sua comunidade, ou seja, mesmo estando preso, o indígena não deixa de pertencer ao seu povo - há um conjunto de saberes, conhecimentos, cosmovisões específicas que não desaparecem a despeito do fato de se encontrar encarcerado. É por isso que para pensar essas questões é necessário acionar a aproximação entre o saber jurídico, o saber antropológico e os saberes das experiências vividas por indígenas no cárcere. Dessa forma, o trabalho procura trazer informações preliminares sobre a situação prisional de indígenas custodiados no sistema penitenciário do Estado do Pará nos anos 2007 a 2017, buscado refletir sobre a criminalização de indígenas e a efetividade dos direitos étnicos nestas prisões. Sendo assim a dissertação de Mestrado em Antropologia, através da escuta da história vivida pelos “Suruí-Aikewara”, comunidade Itahy localizada no sudeste do  Estado do Pará, assumi o desafio  de etnografar os efeitos sociais do encarceramento para os indígenas, buscando interpretar as relações que permeiam a execução da pena privativa de liberdade imposta pelo Estado no universo indígena, já que, as instituições totais como as penitenciárias podem causar como será visto, danos irreparáveis ao seu modo de viver tradicional. 

     

  • ROBSON CARDOSO DE OLIVEIRA
  • Éguas & Caboclos: as representações de uma paraensidade a partir de anúncios publicitários e vídeos compartilhados em mídias sociais

  • Data: 30/03/2020
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  • Este trabalho teve como objetivo de investigar os significados de ser paraense a partir de uma construção em anúncios publicitários produzidos na cidade de Belém do Pará e vídeos compartilhados em mídias sociais. A análise centrava-se em perceber os sinais diacríticos, as práticas e os costumes acionados que remetiam a uma construção de paraensidade sendo visualizada como uma raiz cabocla. Nesse sentido, realizei conversas com produtores, atores, criadores de comerciais, bem como pessoas que elaboram um conteúdo regional disseminado nas redes sociais na internet, os Youtubers. Para além disso, uma etnografia de tela por meio da análise de 54 anúncios e 15 vídeos. Como resultado, percebi que a paraensidade na mídia não é tão recente, um processo iniciado na literatura e nas artes ao longo do século XX, chegando até a publicidade na década de 1980. Hodiernamente, quando acionada, é operada em demasia no que denominei de “exagero proposital”, no qual se percebe uma ênfase em mostrar um ser paraense combinado a símbolos étnicos (Motta-Maués 1989). Contudo, essa situação não engendra uma única performance dessa identificação. Nesse sentido, é possível visualizar uma raiz cabocla que sustenta múltiplas formas de expressar essa marca de paraensidade.

  • DILMA COSTA FERREIRA
  • Cultura, oralidade e língua Mebêngôkre sob o prisma de seus mitos 

  • Data: 16/03/2020
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  • A presente pesquisa buscou evidenciar nos mitos Mẽbêngôkre, o entrelaçamento entre “cultura”, língua e oralidade, evocando temas como memória, literatura oral e história, através de investigação bibliográfica e aproximação do campo realizada em algumas aldeias Mẽbêngôkre no Sul do Pará, especificamente no município de São Félix do Xingu. Observou-se que os mitos evidenciam, dentre outros, aspectos históricos e “culturais”, ao apresentar os modos de vida dos ancestrais e seus feitos, que propiciaram a formação “cultural” dos Mẽbêngôkre, refletidas na atualidade. O objetivo dessa pesquisa foi, através de levantamento bibliográfico, e observação participante, com coleta de dados em campo, dialogar com os dados existentes sobre mitos Mẽbêngôkre, a fim de compreender o lugar do mito para esse povo. Para os fins que se propõe o presente trabalho, comparou-se quatro versões de um mito Mẽbêngôkre, no intuito de proporcionar melhor compreensão do entrelaçamento entre mito, história e “cultura”. Os interlocutores desse estudo foram oito pessoas Mẽbêngôkre, dentre eles, uma mulher. Sendo as versões dos mitos aqui apresentadas, narradas por três destes interlocutores. A pesquisa se torna relevante por proporcionar conhecimentos sobre o lugar dos mitos entre os Mẽbêngôkre, refletindo sobre temas que os perpassam, como a formação “cultural”, a importância da oralidade e memória e, como mito e história se tocam entre os ameríndios. A presente pesquisa buscou refletir os modos de vida ameríndios, tendo por base os Mẽbêngôkre, de forma a incentivar o caráter subversivo frente as realidades indígenas, no sentido de contribuir significativamente com estes. A incursão em campo ocorreu por meio da realização de pesquisa, inicialmente de observação participante. Foram observados o cotidiano dos indígenas em suas relações, entre si e com o meio. O segundo momento consistiu em consolidação do campo e coleta de dados. O trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo versa sobre aspectos gerais do povo estudado, contexto histórico, cerimônias, aquisição de nomes e nekretx; o segundo capítulo traz revisão bibliográfica sobre os principais aspectos estudados da língua Mẽbêngôkre; o terceiro capítulo busca refletir teoricamente sobre cultura, oralidade, memória, história e mito e no quarto capítulo há a contextualização dos dados obtidos, tanto bibliográficos, quanto de campo, a fim de discorrer sobre o lugar do mito entre os Mẽbêngôkre. O embasamento teórico teve contribuição dos autores Louis-Jean Calvet (2002; 2011), Jack Goody (2012), Claude Lévi-Strauss (1991; 2018), Marshall Sahlins (1997), Viveiros de Castro (2017; 2018), Aryon Rodrigues (2000; 2001 e 2013) e outros.

  • LEONARDO DE SOUZA SILVA
  • “Aqui não dá nada! Não dá peixe, não dá camarão, não dá fruto!”: a percepção  dos ‘filhos de Barcarena’ (PA) sobre os megaprojetos de Alumínio e Caulim.

  • Data: 04/03/2020
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  • Centros hegemônicos ocidentais instauraram modelos universais de  modernidade,  cujos processos  e  práticas  separam  a  humanidade  e  a  natureza,  gerando  o  aval  para  a manipulação  de  bens  naturais.  Como  exemplo,  temos  a  América  Latina,  em  especial  o Brasil,  que  a  partir  do  ano  1960,  pensando  em  lucros  imediatos,  pautou  sua  economia  na retirada  de  minérios,  cujo  investimento  e  destino  são  definidos  pelo  capital  estrangeiro. Nesse sentido, territórios são reconfigurados de acordo  com  interesses  políticos  e empresariais  sob  o  discurso  do  progresso  e  do  desenvolvimento.  Algumas dessas modificações se dão por meio de  megaprojetos  de  mineração,  que  produzem  impactos socioambientais  que  modificam  o  cotidiano  dos  moradores  do  entorno.  Na Antropologia, estudos  sobre  megaprojetos  e  suas  perturbações  são  recentes,  porém  necessários.  Sendo assim, a presente pesquisa está pautada em  informações  adquiridas  por  intermédio  de etnografia  e  conversas  informais,  traça  a  história  de  sujeitos  tradicionais  do  município  de Barcarena,  Estado  do  Pará,  e  suas  relações  para  com  as  mineradoras  instaladas  na  região. Há problemáticas socioambientais em torno das indústrias, há deslocamentos,  inchaço populacional  e  desastres  ambientais,  assim  como  outros  transtornos  que  modificaram  as vidas  dos  moradores  das  comunidades  mais  próximas  das  empresas  e  suas  bacias  de rejeitos. Em suma, há  narrativas  sobre  perdas  e  ganhos,  e  novos  estudos  nesses  contextos colaboram  para  a  identificação  de  quem  são  os  vencedores  e  os  perdedores.

  • IGOR ERICK DA SILVA
  • Entre corpos, sensações e paisagens: reflexões sobre a diversidade sexual e de gênero no interior da Amazônia

  • Data: 03/03/2020
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  • Partindo dos estudos sobre a diversidade sexual e de gênero realizados no Brasil, cuja ênfase maior são os espaços de sociabilidade homossexual nos centros urbanos dos eixos Sul, Sudeste e Nordeste brasileiros, pretende-se neste trabalho criar subsídios para compreender as relações entre as experiências da diversidade sexual e de gênero e as paisagens em um contexto de interiorano da Amazônia. Através de uma investigação etnográfica, foi possível perceber a maneira como os interlocutores (indígenas, ribeirinhos, pessoas pretas e pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e cultural) descrevem, narram e praticam o(s) seus corpo(s), a(s) sexualidade, a(s) moralidade(s), a(s) percepção(ões), a(s) sensorialidade(s), as relações de poder, o ser/estar em suas experiências locais durante o processo de interação com as paisagens. Os espaços de sociabilidade serão considerados enquanto “paisagens do desejo” experiênciadas, vividas e habitadas pelos interlocutores, tais como igarapés, praias, lagos, campo de futebol da comunidade, barracão da comunidade e a mata. Assim, as paisagens não são apenas um cenário inerte para as ações humanas, pois estão imbricadas nas interações dos interlocutores, compondo a sexualidade amazônica, o desejo e o sentir. Nesse sentido, não se trata de pessoas se relacionando em um determinado cenário amazônico, mas como os corpos, sensações, agências e memórias se constituem na relação entre as pessoas com as paisagens, e as paisagens com as pessoas.

2019
Descrição
  • DANIEL DA SILVA MIRANDA
  • Passar-Espalhar-Tirar: Uma etnografia do existir de peconheiros, espalhadores e passadores de açaí do rio Bacabal-Afuá/PA

  • Data: 16/09/2019
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  • Traçando caminhos por entre a Antropologia Interpretativa e pela História Oral a presente dissertação investiu interesses em etnografar os modos de vida e de luta de homens e mulheres marajoaras, usando como via de acesso a tais elementos a escuta e a observação de práticas que emergem em meio a invenção do preço do açaí in natura, envolvida com o passar-espalhar-tirar paneiros e a fruta, do Marajó à Belém. Para tanto, o trabalho de campo desenvolvido na localidade do rio Bacabal e adjacências, na Ilha do Pará, município de Afuá, ampliou-se em escala de observação até a chegada da fruta para comercialização na Feira do Açaí, em Belém do Pará. Transpassando deste modo pelo registro de saberes, gestos, etiquetas e práticas corpóreas, ou seja, táticas, acionadas por estes sujeitos marajoaras enquanto processos que figuram seus jogos de negociação para tirar e determinar o preço da fruta. Recorreu-se ainda à gramática nativa coletada em entrevistas, conversas informais e observações em campo e que auxiliaram na reafirmação do importante papel desempenhado pela tradição oral na existência destes indivíduos.

  • BARBARA FACIOLA PESSOA BALEIXE DA COSTA
  • Reduzido a termo: Violências sexuais de indígenas mulheres segundo o Relatório Figueiredo

  • Data: 09/09/2019
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  • O trabalho problematiza a possibilidade de utilização do Relatório Figueiredo como instrumento de análise da relação entre Estado brasileiro e indígenas mulheres, especificamente no que tange a violência sexual. Investiga-se como a violência sexual é abordada no conjunto documental, realizando-se um levantamento de referências, reconstituindo-se casos sobre o assunto, em um esforço etnográfico, a partir de categorias êmicas do mencionado documento.

  • KELTON LIMA MONTEIRO MENDES
  • Organização e uso do espaço interno em cavidades por grupos humanos antigos na Amazônia Oriental: primeiros apontamentos sobre o sítio Gruta do Ananás, em Carajás-PA

  • Data: 29/08/2019
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  • A antiga ocupação humana em Carajás-PA é alvo de estudos arqueológicos desde a segunda metade do século XX. Aspectos culturais relacionados aos modos de viver e de ocupar essa área foram alguns dos focos dessas pesquisas. Na Serra Norte de Carajás, atualmente outros sítios arqueológicos foram encontrados; e ao serem analisados sob o ponto de vista das discussões sobre organização e uso do espaço intra-sítio podem contribuir potencialmente com novas interpretações. Um exemplo é o sítio abrigado Gruta do Ananás, com vestígios de cultura material e datações (superiores à 9000 A.P.) ligadas aos comumente  conhecidos grupos “caçadores e coletores”. Assim, objetiva-se com esta dissertação refletir sobre alguns aspectos de como esses antigos grupos humanos organizaram e utilizaram o espaço interno dessa cavidade. O que propomos é a necessidade de observar as relações entre vestígios de cultura material e sua relação com o espaço interno dos sítios em cavidades na intenção de identificar esses lugares como espaços de construção humana e de experiências sociais e culturais, onde os vestígios relacionados a essa ocupação podem contribuir para a visualização de uma organização e uso social do espaço habitado no interior dessa cavidade

  • VINICIUS BRITO DA SILVA MACHADO
  • Práticas estatais documentadas: do relatório Figueiredo aos 30 volumes do indigenismo brasileiro

  • Data: 28/08/2019
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  • Esta dissertação tem como lócus os Trinta Volumes do Indigenismo Brasileiro (30VIB), popularizados pela metonímia processual como Relatório Figueiredo (RF) e como objeto as práticas de controle e a administração de territórios e povos indígenas por parte do Estado. Utilizando a Etnografia de Documentos como metodologia, salienta a importância das fontes documentais para a Etnologia indígena e para a compreensão do Indigenismo brasileiro. Destaca as políticas que fomentaram o estabelecimento do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) registradas nos 30VIB, demonstrando as ideias e práticas estatais que orientaram o indigenismo no Brasil, tendo como base os conceitos de paradoxo da tutela (PACHECO DE OLIVEIRA, 1988), poder tutelar (SOUZA LIMA, 1995) e colonialismo interno brasileiro (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1978). Dialogando a partir de entrevistas, relatórios e textos acadêmicos produzidos sobre as leituras já realizadas dos 30VIB dentro e fora da Antropologia, com a intenção de ampliar os debates. Demonstra-se, assim, as classificações desenvolvidas sobre as quatro comissões, sobre os volumes e as provas que compõem os 30VIB, apresentando também quadros demonstrativos, qualitativos e sintéticos, com os conteúdos de cada um dos trinta volumes, com o desígnio de expandir as possibilidades de usos dos 30VIB.

  • SABRINA CAMPOS COSTA
  • Porto, Água e Vida: Paisagem, Sensorialidades e Transformações de uma Zona Portuária Amazônica (Cidade Velha, Belém, Pará)

  • Data: 28/08/2019
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  • No bairro da Cidade Velha, o mais antigo de Belém, convivem construções históricas, museus, praças, igrejas, arquiteturas populares e uma cultura material na beira do rio. Em sua antiga zona portuária, mais de cem famílias transformaram trapiches em lar, onde vivem e trabalham em relação com as águas. Estes ribeirinhos urbanos desenvolveram formas de organização espacial, usos e sociabilidades particulares de uma beirabilidade, que conferem uma biografia a esta paisagem. 

  • MARIA ALICE COSTA DE OLIVEIRA
  • Bēnjadjwýr Nire: processos de agências das mulheres Mebengokré/Kayapó

  • Data: 27/08/2019
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  • esta pesquisa trata-se de uma etnografia sobre as atuações e performances políticas das mulheres Mebengokré/Kayapó e sobre suas agências acionadas em diferentes espaços e de formas diversas. O contexto histórico do povo Mebengokré, a partir do qual apresento sua relação com o Estado e a sociedade não indígena, contribui para a compreensão dos processos de resistência e agência, por meio dos quais os Mebengokré/Kayapó se posicionaram (e se posicionam) com autonomia e protagonismo nos diversos espaços de disputa e conflito. Os diferentes perfis de atuação política das mulheres Mebengokré são apresentados e categorizados, assim como a aproximação com a atuação dos caciques homens; a apresentação de elementos que permitiram à pesquisa a tentativa de esboçar um ethos da nire Mebengokré; e a discussão sobre gênero a partir de questões que perpassaram os depoimentos. A análise etnográfica das performances de atuação política das nirex aponta para elementos que são reforçados e comunicados por estas mulheres nos espaços de luta, a exemplo do facão, símbolo desta agência. A política partidária e seus reflexos diversos na vida e no futuro do povo Mebengokré e dos mais vulnerabilizados também são abordados na pesquisa, além dos processos de mudança e atualização que os Mebengokré vivenciam e que preocupam as interlocutoras, mas que lhes permitem, também, vislumbrar a continuidade e a ampliação de suas atuações políticas, seja a partir da constituição de novas lideranças mulheres ou da efetivação do movimento de mulheres Mebengokré – espaço almejado de protagonismo e mobilização das nirex. Esta pesquisa, portanto, reflete sobre a mulher Mebengokré na luta, na mobilização, na disputa e no embate por suas aldeias e por seu povo, preocupação intrínseca à atuação de uma Bēnjadjwýr Nire – mulher chefe ou mulher liderança – que aciona diversas agências, sempre políticas, para efetivar, proteger e ampliar estes direitos.

  • THAISE MACEDO DA COSTA
  • Comparação da idade cronológica e dental segundo os métodos de Demirjian e Nicodemo da população paraense: potenciais implicações para a Antropologia Forense

  • Data: 01/08/2019
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  • Estimar a idade humana é um ponto importante para a identificação de pessoas vivas ou mortas, sendo uma prática comum na Antropologia Forense. Os principais propósitos que levam à solicitação das análises de estimativas de idade são direitos civis, razões criminais, desastres em massa e imputabilidade penal. As análises odontológicas são os métodos mais utilizados para estimar a idade em decorrência dos dentes apresentarem uma baixa suscetibilidade às alterações hormonais, patológicas e tafonômicas. Muitos métodos foram desenvolvidos para esse fim, com destaque para os de Demirjian et al (1973) e Nicodemo et al (1974), que utilizavam técnicas de imagens radiográficas dos dentes. Tais técnicas são empregadas devido serem não invasivas, de registro comum, de fácil obtenção e com potencial de coleta em acervos de clínicas radiológicas para estudos populacionais. Este trabalho objetivou comparar os métodos de Demirjian et al (1973) e Nicodemo et al (1974)em uma amostra de indivíduos residentes no Estado do Pará, no intuito de determinar qual método possui maior concordância com a população avaliada, e no futuro a produção de tabelas com valores mais representativos da população a partir do método mais preciso. A pesquisa contou em sua primeira parte com uma amostra  de 540 radiografias divididas por sexo (270 feminino e 270 masculino) e idade (a faixa etária de estudo foi de 07 a 15 anos e 11 meses). Os resultados indicam haver correlação entre a idade cronológica e o processo de mineralização dos dentes em ambos os métodos, porém o de Demirjian et al (1973) apresentou uma subestimação menor ( 1 ano e 4 meses) e quando comparado ao de Nicodemo et al (1974) (2 anos e 5 meses). A partir da escolha do método de Demirjian et al (1973) a amostra foi ampliada para 1020 radiografias divididas por sexo (510 feminino e 510 masculino) e idade (a faixa etária de estudo foi de 07 a 23 anos e 11 meses) e valores representativos da população em estudo foram apresentados. Não houve diferença estatisticamente significante entre os sexos. Concluiu-se que, em geral, ambos os métodos apresentaram concordância entre idade cronológica e estimada. Entretanto, o método de Demirjian et al (1973) foi mais preciso para a população estudada.

  • BRUNA RAISSA CRUZ CALDAS
  • IDENTIDADE, CONFLITO E RESISTÊNCIA: a luta pelos territórios tradicionalmente ocupados por quebradeiras de coco babaçu, indígenas Gamella e quilombolas na Baixada Ocidental Maranhense

  • Data: 27/05/2019
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  • A pesquisa destaca três noções teóricas essenciais para pensar a luta pela demarcação territorial em “terras tradicionalmente ocupadas” (Almeida, 2008), são: identidade, conflito e resistência, este tripé fundamenta todo o debate a respeito dos distintos processos de “territorialização” (Oliveira, 1998) e “territorialidades específicas” na Baixada Ocidental Maranhense, pensado como um movimento político, especificamente em duas comunidades, no Território Indígena Akroá Gamella e no Quilombo Mó São Caetano. Ambos os grupos estão em emergência étnica e reivindicação pelo seu território tradicional, a identidade de quebradeira de coco babaçu está presente entre as duas outras identidades, o que demonstra um aspecto de pluralidade étnica. A composição do termo território pluriétnico é pensada aqui através dessa composição étnica de grupos sociais, bem como pelo contexto plural das formas de representação política, assim como nas formas de uso do meio ambiente. Historicamente, a composição do Brasil é dado num contexto de relação com distintos grupos de forma plural (Gomes, 2005), para compreensão da história destes povos, numa tentativa de acessar informações, faz-se breves pesquisas documentais usadas em conexão com a memória e história oral, uma busca, não para retomar aspectos originais do passado, mas sim para fortalecer os laços de pertencimento com seus ancestrais, na garantia de fortalecimento e reforço das identidades étnicas emergentes, observados a partir de um presente etnográfico para fazer relações com o passado. Todo o movimento de construção deste estudo fundamenta-se numa perspectiva da Antropologia Política como formas de organizações/ reivindicações e resistências políticas a respeito da dinâmica social do conflito no qual os agentes sociais estão envolvidos, resistindo pelo seu reconhecimento étnico e território tradicional.

  • AMAURI ASSIS MATOS
  • As Indústrias Líticas do Sítio Gruta Garganta da Jararaca, Carajás (PA)

  • Data: 30/04/2019
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  • O objetivo do trabalho é apresentar um estudo tecnológico da  indústria lítica de caçadores coletores do sítio: Garganta da Jararaca, que está localizado na região de Carajás-PA. A metodologia que irá guiar os estudos é aquela que foi desenvolvida no século XX, pela Escola Francesa Clássica, baseada no conceito de Cadeia Operatória, onde o objetivo é tentar entender todo o processo de fabricação de um objeto deste a escolha da matéria-prima às técnicas aplicadas, as atividades em que esse objeto foi utilizado e até mesmo porque foi descartado, assim sendo fazer um histórico de vida desse objeto. Neste caso a descrição dos processos técnicos tem sua base nos sistemas produtivos de fabricação onde os princípios químicos e físicos são articulados entre si para dar vida aos objetos, pois esses vestígios guardam nas suas estruturas comportamentos técnicos que foram aplicados por nossos antepassados. Assim sendo esses objetos foram produzidos em um contexto espacial, junto com outros objetos dentro de um contexto simbólico, provocando várias formas de relações internas.

  • JOEL PANTOJA DA SILVA
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    Patrimônios, narrativas e encantaria no Marajó

  • Data: 29/04/2019
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  • O arquipélago do Marajó se localiza, no norte do Pará, entre a entrada e saída flúvio-marinha da foz do rio Amazonas, perfazendo trajetos marítimos da sua embocadura na parte oriental (leste) por contatos fluviais de confluências da Baia de Marajó com o oceano Atlântico e a parte ocidental (oeste) em direção ao rio Tocantins rumo ao interior da região marajoara. Neste estudo, analiso os sentidos de patrimônios expressos em narrativas da cultura de tradições orais, na Amazônia Marajoara, em particular nos municípios em fronteiras como Melgaço, Breves, Portel, Bagre e Gurupá, constituídos a partir de narrações, não só com um meio de comunicação, mas como patrimônio cultural que se revela através da fala e construído em práticas sociais, gestos, religiosidades e costumes trazendo as concepções de dimensões culturais de patrimônios do fundo em narrativas dos habitantes. Assim, o objetivo deste estudo consiste em compreender e etnografar os significados culturais de patrimônios atribuídos pelos moradores do ocidente marajoara – Melgaço, Breves, Portel, Bagre e Gurupá, em zonas de interações com a crença em lugares de habitações dos encantados, cujas narrativas desvelaram significações de patrimônios do fundo formados em narrações de tradições orais dos habitantes destes municípios. Nessa direção, utilizamos a produção da etnografia nas compreensões dos patrimônios entre os moradores, que se constituem pela natureza da pesquisa de maneira multisituada, em interfaces com uma concepção Foucaultiana de análise das narrativas orais e escritas, desvelamos histórias de patrimônios culturais, além de narrativas orais que constroem, em suas dispersões e regularidades, sentidos de cidades encantadas em interfaces com cidades terrenas, sem separação entre o imaginário e o real, produzindo sentidos de patrimônios do fundo configurados pelos lugares de habitações dos seres encantados.

  • GABRIELA PEREIRA MAURITY
  • Garimpo das Pedras: Um estudo sobre as relações entre as pessoas e as coisas do passado na Amazônia

  • Data: 26/04/2019
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  • A pesquisa aqui tratada visa à reflexão sobre o estatuto das coisas do passado, especialmente, as ametistas extraídas de um garimpo contemporâneo, aquelas recuperadas no registro arqueológico e outros artefatos arqueológicos, na vida de um grupo de garimpeiros/as no sudeste do estado do Pará, Amazônia. A partir do mapeamento e análise de suas narrativas memoriais e das materialidades que compõem as paisagens cotidianas de Alto Bonito, ou “Garimpo das Pedras”, pretendo contribuir para as discussões sobre o passado presente na Amazônia, a partir da cultura material.

  • ELI DO SOCORRO PINHEIRO TEIXEIRA
  • Corpos que transitam: as trajetórias desafiadoras de dois Homens

  • Data: 12/04/2019
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  • Este trabalho apresenta as trajetórias de dois homens, com enfoque sobre os percalços de suas transições, respeitando aspectos importantes e únicos que cada um viveu e vive, suas possibilidades de percepções diante do que representou/representa esses processos em torno dessas descobertas, das dificuldades, dos acessos às etapas que cada um passou, sendo o aspecto geracional como um dos destaques à tese apresentada. É dividido em três capítulos, sendo o primeiro: a introdução com suas partes, apresentando como cheguei ao tema; os estudos sobre transexualidades; pensando sobre gêneros e sexualidades; o porquê desses dois entrevistados e sobre as narrativas, mostrando os diversos conceitos. Como segundo capitulo, as entrevistas apresentando as narrativas de Antônio e Anathólio falando sobre vários assuntos que compõem as trajetórias de suas vidas, objetivando observar as interseccionalidades a partir das idades, renda, diferenciados especialmente pelas experiências de militância política e pelas políticas públicas. Como metodologia foi utilizada entrevistas semiestruturadas, num total de três para cada um os interlocutores.

  • ALINE WANESSA PINHEIRO DA SILVA
  • Meio caminho andado: República Terapêutica de Passagem e a tarefa de ressignificar vidas e espaços

  • Data: 01/04/2019
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  • As pessoas com transtornos mentais em conflito com a lei recebem da Justiça uma medida segurança como sanção penal, cujo cumprimento se efetiva após a emissão de laudo psiquiátrico e persiste até a “cessão da periculosidade”. No Brasil, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (2016). 2770 pessoas receberam uma medida de segurança. No Pará esse grupo representa 118 indivíduos. É importante considerar que pessoas, em sua maioria, encontram-se em situação de vulnerabilidade psicossocial no que se refere à falta de acesso aos serviços de saúde. Muitas vezes esse acesso só ocorre por meio do acionamento do Poder Judiciário, após o cometimento de um delito, quando, então além de “loucas”, essas pessoas passam também a ser consideradas “perigosas”. Considerando esse cenário, esta pesquisa se desdobrou na República Terapêutica de Passagem (RTP), que é um dispositivo substitutivo à internação que recebe egressos do Hospital Geral Penitenciário (HGP). Trata-se de um espaço para que sejam ressignificadas a autonomia, independência, individualidade dessas pessoas após a vivência em uma instituição total mediante o restabelecimento de vínculos sociais e gradativamente, na medida do possível, laços familiares. Os interlocutores desse estudo fôramos onze moradores da RTP. A relevância antropológica do estudo está pautada no cerne de tornar visíveis pessoas com transtornos mentais que tiveram um conflito com a lei ao tratá-las como cidadãs detentoras de direitos. A incursão em campo aconteceu por meio da realização de uma etnografia, com observação participante. Foram observados o cotidiano dos moradores, suas relações com os cuidadores, o ambiente e os companheiros. A dissertação está estruturada por meio da apresentação de dois artigos científicos: o primeiro, já publicado, aborda um recorte bibliográfico sobre a contextualização da loucura no Ocidente, o decurso da reforma psiquiátrica no Brasil e no Pará, assim como mostra a iniciativa de alguns estados no desenvolvimento de dispositivos substitutivos à internação. O segundo artigo, sobre o campo realizado, aborda a arquitetura da loucura. A RTP conforma as mudanças por que esse conceito passou na história. Tendo sido construída em um período cujo pensamento político e social estava alicerçado em uma concepção manicomial segregatória e excludente, atualmente segue as premissas antimanicomiais e vem desenvolvendo um trabalho de ressignificação de vidas humanas e também do próprio espaço físico ao qual a loucura foi destinada.

  • ADONIAS GUIOME IOIO
  • Kayka Aramtem (Dança/Festa do Turé) entre os Palikur-Arukwayene

     

  • Data: 29/03/2019
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  • A dissertação discute especificamente a Kayka Aramtem (Dança/Festa do Turé) dos Palikur-Arukwayene que habitam o, hoje, estado do Amapá, na Terra Indígena Uaçá. A Kayka Aramtem (Dança/Festa do Turé) é inteiramente conectada com o calendário, identidade, com o território, a cosmologia, as fases da lua e os demais elementos da natureza. Todavia, essa dança/festa foi silenciada e invisibilizada há mais de três décadas, devido a chegada da educação não indígena, das religiões externas, da influência da cultua da sociedade não indígena e a da conversão dos Palikur-Arukwayene. A Kayka Aramtem é uma festa/dança de agradecimento (Iepé 2009), consiste em uma relação expressa de união que produz comunicação entre os ihamwiben (xamãs) arukwayene, os participantes, os dançarinos e os seres invisíveis e visíveis de outros mundos. O propósito é pesquisar/investigar, estudar, registrar e documentar a Kayka Aramtem (Dança/Festa do Turé) do Palikur-Arukwayene dos preparativos ao encerramento e fazer com que a comunidade aprenda a defender, preservar e registrar o evento. Na coleta de dados utilizei fontes orais, principalmente das entrevistas com o xamã Uwetmin, da aldeia Mawihri, no rio Urucauá e demais velhos/sábios da comunidade.

  • VICTORIA ESTER TAVARES DA COSTA
  • Pelos caminhos da cidade: experiência e percepção de paisagens em videoclipes na Amazônia contemporânea

  • Data: 22/03/2019
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  • A Amazônia tem um histórico de imagetizações estrangeiras diversas, o que a estigmatizou em referências de simplificação e exotismo. Aqui, procuro percorrer outras paisagens desta região, aquelas cuja construção imagética perpassa pelas vivências e interações cotidianas que nela ocorrem. O espaço citadino vem a ser essa imagem pouco explorada de uma área conhecida por sua fauna e flora. Expressões artísticas, por sua vez, são uma forma de demonstrar as percepções e vivências dos espaços, o videoclipe faz isto através da visualidade e da sonoridade, conferindo mais elementos que tornam possível também (re)criar imaginários. A partir das particularidades deste gênero audiovisual e o recorte de seis videoclipes filmados em ruas da cidade de Belém do Pará, cheguei a três grupos-base de interlocutores locais, com quem pude dialogar sobre o cotidiano, a experiência e as imagens destes espaços diante do que se cria e o que se mostra hoje sobre a cidade.

  • RAMIRO ESDRAS CARNEIRO BATISTA
  • Keka Imawri: narrativas e códigos de Guerra entre os Palikur-Arukwayene

  • Data: 15/03/2019
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  • A dissertação é um estudo histórico-antropológico sobre a Keka entre o povo Palikur-Arukwayene do rio Urukauá que demonstra a constituição da pessoa autônoma entre os povos que compõem o mosaico interétnico na fronteira do Oiapoque a partir de evento considerado belicoso, ao tempo em que busca trazer a lume a versão indígena relativa ao histórico de ocupação da região guianense que se constituiu ao longo de séculos como a Amazônia caribenha. Não obstante a Keka ser traduzida como Guerra por distintos interlocutores indígenas, o cotidiano etnográfico demonstra que a mesma encontra melhor tradução em português como festa ou competição guerreira, abordando princípios e motivações para a belicosidade indígena ritual que precedem a invasão europeia e prevalecem de distintas maneiras, ao arrepio da atuação e dos impactos causados pelo indigenismo dos estados nacionais limítrofes.

  • SABRINA FERNANDES DOS SANTOS
  • Memórias e esquecimentos na Fazenda Velha: O sítio arqueológico-histórico Engenho do Murutucu

  • Data: 15/03/2019
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  • Localizado na cidade de Belém do Pará, no bairro do Curió-Utinga, o sítio arqueológico Engenho do Murutucu faz parte da paisagem cotidiana de diversas pessoas. O projeto de mestrado intitulado “Memórias e esquecimentos na Fazenda Velha: O sítio arqueológico-histórico Engenho do Murutucu” tem por objetivo identificar em quais esferas de memória e esquecimento o sítio histórico e arqueológico Engenho do Murutucu está inserido, a partir do olhar da Comunidade Porto Ceasa, dos trabalhadores da CEASA/PA e dos moradores antigos do bairro Curió-Utinga, entendendo de que forma este sítio é compreendido – atualmente – por esses três grupos sociais. Para que essa análise seja feita, são utilizados dados qualitativos oriundos de entrevistas orais. Pretende-se inserir esse trabalho nas discussões que envolvem as relações sociais e os sítios arqueológicos, precisamente no contexto amazônico que está ligado também a urbanidade das grandes cidades. Esclarecendo questões que demonstram que os sítios são permeados por diversos tipos de valorização e os patrimônios, além de arqueológicos, são também afetivos, tornando-se, em alguns casos, motivos de disputa para diversas populações que estão presentes ou não no entorno desses lugares. Além disso, investigar os pertencimentos e formas de usos contemporâneos dos artefatos arqueológicos, é demasiadamente importante para a Arqueologia que, assim, pode compor estudos mais abrangentes sobre a cultura material. 

  • AMANDA DALTRO DE VIVEIROS PINA
  • Os artefatos podem jogar? A digitalização do patrimônio arqueológico em jogos eletrônicos

  • Data: 14/03/2019
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  • Destaca a utilização de elementos arqueológicos no campo digital e a influência dos jogos eletrônicos no tocante à teoria arqueológica. Pauta-se em conceitos antropológicos ligados a Cultura e Interação aplicados ao contexto imaterial do ciberespaço, da cibercultura e da ciberarqueologia. Isto posto, analisa os estudos acerca da cultura material em espaços imateriais, elucidando o que seriam os pixels e de que forma eles estão inseridos na vida humana e, por conseguinte, na Arqueologia. Tem por objetivo compreender as variadas formas que o patrimônio arqueológico se apresenta em contextos palpáveis e não palpáveis. Utiliza como Estudo de caso um jogo desenvolvido pelo Laboratório de Realidade Virtual da Universidade Federal do Pará, intitulado "Jogo da Cabanagem". Aplica metodologia inspirada por estudos pautados na Arqueologia Pós-Processual e analisa de forma arqueológica os vestígios digitais presentes no estudo de caso. Elabora entrevistas semiestruturadas com os desenvolvedores do "Jogo da Cabanagem" e com jogadores que se propuseram a testar o jogo em questão. As análises e as entrevistas revelam a possibilidade da aplicação metodológica da Arqueologia em jogos eletrônicos e a viabilidade de aplicação futura para trabalhos vindouros.

  • AMANDA CAROLINA DE SOUSA SEABRA
  • Arquitetura disciplinar na Amazônia: o Educandário Dr. Nogueira de Faria - Ilha de Cotijuba - Belém - Pará

  • Data: 13/03/2019
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  • Por mais de 30 anos a ilha de cotijuba (Belém - PA) abrigou no mesmo espaço

    diferentes instituições (Colônia reformatório, educandário e presídio) que tinham como

    propósito a educação e recuperação do indivíduo para o convívio na sociedade. A

    arquitetura deste local é grandiosa e chama atenção sempre que se chega a esta ilha. Esta

    pesquisa faz um levantamento histórico inicial de quais contextos e motivos este

    educandário foi criado no início da década de 1930 e o que levou o seu fechamento no final

    da década de 1970. A partir disso buscaremos compreender como a arquitetura de toda

    esta construção foi utilizada como mais uma forma de controle dos internos e, também,

    entender como a disciplina se materializou e se perpetuou por anos nesta arquitetura. Para

    isso, utilizamos a abordagem da arqueologia da arquitetura para atingir nossos objetivos,

    estudando sua história, conceitos e principalmente as suas metodologias. Assim, é

    realizada uma descrição de todo o ambiente, desde a quantidade de salas, janelas e portas,

    até as suas medidas. Com isso, acreditamos ter dados para comparar, analisar e então

    responder a nossa pergunto principal que é: como a disciplina se materializou na arquitetura

    do educandário Dr. Nogueira de Faria?

  • RODRIGO OTAVIO MAROJA BARATA
  • ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO NA VOZ DE ESCRITORES E PROFESSORES: Narrativas e Escritas da Amazônia em Livros Didáticos de Língua Portuguesa

  • Data: 08/03/2019
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  • A proposta da tese é analisar, por meio do diálogo entre Antropologia e Educação, a representatividade da Região Norte e da Amazônia em livros didáticos de Língua Portuguesa, a partir de discussões acerca de interditos, subalternizações, invisibilizações, etnocentrismo, poderes hegemônicos, violência simbólica, atravessando temas sobre obstáculos no processo ensino-aprendizagem, literatura oral, oralidade e sobre a Coleção Avança Brasil, da Samauma editorial, obra que, sendo de autoria de professores do Estado do Pará, busca introduzir uma proposta de regionalização de conteúdos e de representatividade, de diversidade, de valorização do ensino e da aprendizagem pelo afeto, pensada para alunos da região Norte. No 1º capítulo, faz-se uma análise histórica do livro didático, trajetórias e saberes; no 2º momento, tece-se uma investigação acerca do diálogo entre Antropologia e Educação; no 3º e 4º capítulos, tratam-se do livro didático sob um olhar regional (região Norte) e sobre autoria e editoração de livros na Amazônia (Pa); no 5º capítulo, empreende-se, em uma viagem de campo, os olhares e leituras dos profissionais da educação frente aos ditames impostos pela subalternização de suas realidades em municípios afastados da capital do estado. Nessa empreitada, dialoga-se com teóricos decoloniais e dos estudos culturais, tais como Walter Mignolo, Néstor García Canclini, além de Pierre Bourdieu, Adriana Puigrós, Neuza Maria Gusmão, Paulo Nunes, Josebel Akel Fares, Violeta Refkalevski, dentre outros, para escutar as vozes de quem, no quotidiano front da sala de aula ou nas direções e coordenações de escolas, enfrentam a lida de trabalhar com livros-didáticos produzidos no sul-sudeste, fazendo-se presentes a fim de dar vez as suas visões e leituras de vida acerca da Amazônia, da realidade do discente e do docente no Estado, a inexistente política de fomento de produção de livros-didáticos no Pará e a toda uma gama de obstáculos, que, por vezes, inviabiliza e silencia o processo ensino-aprendizagem no Estado. Para tanto, tenta-se chegar à conclusão de que a regionalização de grande parte dos conteúdos nacionais e a visibilização da região Norte nos didáticos torna-se emergencial no fortalecimento da trajetória educacional dos discentes da Amazônia paraense.

  • LAURA SOFIA FONTAL GIRONZA
  • La experiencia de las Asociaciones de Autoridades Tradicionales Indígenas: territorialización en el Gran Resguardo del Vaupés

     

  • Data: 01/03/2019
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  • El presente trabajo describe los procesos de territorialización en el Vaupés colombiano, desde la ocupación del territorio por órdenes religiosas y caucheros a comienzos del siglo XX, hasta la declaración del Gran Resguardo del Vaupés como propiedad colectiva e inalienable de los pueblos indígenas que lo ocupan, focalizando la atención en las posibilidades de agencia y resistencia que los pueblos han alcanzado a través de las organizaciones indígenas, particularmente, las Asociaciones de Autoridades Tradicionales Indígenas (AATIs), organizaciones formalizadas ante el Estado colombiano. Considero que, desde la segunda mitad del siglo XX, el movimiento indígena realiza una gestión de su etnicidad para alcanzar derechos territoriales y liderar procesos de territorialidad indígena. Con la acción de las AATIs circunscritas al resguardo, problematizo las intersecciones entre territorialización y etnicidad. Considero, además, algunas transformaciones culturales de las sociedades indígenas que ocupan el Vaupés, en consonancia con las situaciones de contacto y con la progresiva expansión del Estado-nación hacia esta zona de frontera. A partir de la combinación de elementos históricos y etnográficos, ofrezco una mirada hacia el asociativismo en el Vaupés, identificando algunos de sus desafíos, de la mano de los relatos de personas vinculadas a las AATIs, quienes comparten sus experiencias.

  • JOAO AIRES ATAIDE DA FONSECA JUNIOR
  • Modelos preditivos e espaços arqueológicos: métodos e usos na Amazônia

  • Data: 01/03/2019
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  • A presente tese aborda as discussões metodológicas referentes às modelagens de dados espaciais de sítios arqueológicos, utilizando o conceito de modelo preditivo. São apresentados os resultados alcançados nas regiões do baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas, das Serras de Carajás e do baixo curso do rio Tocantins, localizadas no Estado do Pará, Brasil. As análises demonstram que o conceito de modelo arqueológico preditivo permanece o mesmo desde a sua origem, mas os métodos de sua construção e aplicabilidade são constantemente aprimorados. Tal fato pode ser explicado devido este ramo da arqueologia estar atrelado a programas de computador e às novas tecnologias. Sua utilização tem adquirido cada vez mais importância como ferramenta de gestão e de proteção de sítios arqueológicos permitindo, também, que empreendedores públicos ou privados possam avaliar possíveis impactos ao patrimônio cultural da União. Através de seus mapas hipotéticos são projetadas as áreas com elevados potenciais de ocorrência de novos sítios, servindo como orientação para pesquisas de campo, otimizando tempo e recursos em prospecções arqueológicas. Dentre as considerações finais da pesquisa, verifica-se que para a elaboração e o uso de modelos arqueológicos preditivos devem ser consideradas as características dos complexos arqueológicos e os locais em estudo, observando a diversidade de antigos grupos indígenas ao longo dos rios da Amazônia e, por conseguinte, das diversas formas e escolhas de se ocupar e modificar a paisagem.

  • ANA MARIA SMITH SANTOS
  • MULHERES IDOSAS ENTRE BORDAS E AGÊNCIASMigração, Política Pública de Assistência Social e Sociabilidade (Marajó-PA)

  • Data: 25/02/2019
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  • A tese analisa experiências socioculturais de mulheres idosas atendidas pela política pública de assistência social em Breves, Marajó, Pará. Trata-se de uma Etnografia articulada à História Oral, centrada nas vozes de 10 idosas residentes no núcleo urbano do município, sem perder de vista interações com documentos escritos produzidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social, como relatórios e legislações locais em consonância com as nacionais. Todas participam das unidades de atenção básica de assistência social, por meio de seus programas e projetos destinados aos idosos e às famílias. A fundamentação teórica articula-se à Antropologia Social e ao Pensamento Pós-Colonial para refletir como a experiência das sujeitas em territórios das bordas evidenciadas na sociedade local, revela-se em posições triplamente subalternizadas: por serem mulheres, idosas e pobres. Tais condições a que foram submetidas no sistema de hierarquia social dificultam o acesso pleno a direitos ligados às políticas públicas. Na contramão desses processos de dominação e subalternação frente às dificuldades enfrentadas, a experiência das mulheres idosas de Breves mostra o desenvolvimento de um certo poder de agência na luta por direitos e seu protagonismo na condução da trajetória de vida pessoal, amorosa e profissional, pois em situações limites da vida como a separação, a migração e a escolha por trabalho precisaram tomar decisões para alcançar outros horizontes. Tais agências, em muitos casos, estão atreladas às suas crenças, às formas de ver o mundo e lutar para resolver problemas e alcançar uma vida melhor. Atualmente essa agência contribui para serem mulheres mais ativas na velhice, ao participarem dos bailes semanais nas unidades de assistência social básica e, ao mesmo tempo, construírem espaços de convivências nos grupos de idosos com sentidos que ultrapassam a mera oferta de serviços da política pública. Assim, as idosas reelaboram o significado de lazer, tomando-o como um enfrentamento dos problemas vivenciados no cotidiano ou daqueles já vividos e que ainda são vivos em suas memórias. As tecituras da tese mostram, enfim, que as narrativas das mulheres idosas de Breves constituem-se em repertorio rico de informações do modo de viver, lutar e resistir desse grupo social na região. Igualmente, o tom empreendido para reconstituir trajetórias à luz das inquietações e provocações do presente, aponta os múltiplos significados do que é ser mulher idosa no Marajó em sua parte ocidental.

  • LUCIELMA LOBATO SILVA
  • A cura que vem dos rios e das matas: um estudo sobre a Curandeiria nas Ilhas de Abaetetuba-Pará

  • Data: 22/02/2019
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  • Esse trabalho apresenta a curandeiria, um sistema religioso de cura física e espiritual desenvolvido em comunidades ribeirinhas situadas no município de Abaetetuba-Pará, cidade da mesorregião do nordeste paraense, dentre elas, duas: a ilha Urubuéua e Paruru. A curandeiria utiliza os curadores, os elementos da natureza e os encantados – caboclos e guias – para realizarem as curas. Nesse sentido, ela necessita dos humanos, dos não humanos e dos extra-humanos para realizarem suas atividades. Os sujeitos da pesquisa são dois agentes de cura, Dona Neca e Seu Orivaldo, que se autodenominam curadores, suas práticas se assemelham ao xamanismo (Eliade 1998). O objetivo é conhecer e etnografar os saberes e técnicas presentes nas práticas de cura desses curadores, como eles adquirem esse poder de curar ou de tratar determinados problemas que lhe desafiam diariamente. Por essa razão, realizei uma etnografia das práticas de cura buscando compreender como os curadores interagem com certos elementos do ambiente onde vivem, tendo em vista que eles residem em um contexto dominado pela presença das florestas/mata e dos rios. Assim, seu Orivaldo afirma que foi “preparado” pelas “mãos da mata” e Dona Neca diz que foi “preparada” pelo “povo do fundo”. Portanto, este trabalho apresenta um importante elemento de cura utilizado nas ilhas de Abaetetuba que é a curandeiria, pois evidencia as formas pelas quais um indivíduo se torna uma pessoa agente da cura, por meio da teoria da dádiva (Mauss 2003), em que o dom não pode jamais ser negado, havendo a necessidade de ser retribuído por meio de uma terna linha de reciprocidade que alinha as pessoas necessitadas de ajuda/cura. 

2018
Descrição
  • SANTIAGO WOLNEI FERREIRA GUIMARÃES
  • Início do Gênero Homo: O Problema do Hipodigma sob Novas Abordagens

     

     

  • Data: 04/12/2018
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  • Esta tese retoma a questão da diversidade de espécies no início do gênero Homo. O problema é primordial dentro da paleoantropologia e apresenta basicamente duas possibilidades explanatórias: ou se está diante uma única espécie altamente variável, ou então a amostra de fósseis correspondente ao início do gênero Homo é um reflexo de diversidade de mais de uma espécie.

    Uma das formas para se responder esta questão parte do ordenamento do registro fóssil segundo uma matriz comparativa, empírica, derivada dos organismos vivos ou que tenham sido extintos recentemente. Depreende-se, pois, que as espécies com proximidade filogenética mais recente são as que apresentam maiores possibilidades para o presente estudo, pois, em muitos casos, permitem o intercruzamento de informações de âmbito macroscópico (morfológicas), como também microscópico (genéticas). Nesse sentido, consideraremos a hipótese de separação recente, ocorrida entre o Homo sapiens e o Homo neanderthalensis, como o melhor parâmetro para se definir o limiar que considera a especiação e provável divisão de grupos mais antigos dentro do gênero Homo. Neste caso, desde que as distâncias existentes entre os espécimes Homo mais antigos se mostram, por um lado, maiores que as distâncias existentes entre o Homo sapiens e Neandertais, há uma grande probabilidade do início do gênero Homo ser composto de espécies distintas. Por outro lado, se tais distâncias mostram-se menores que aquelas existentes entre o Homo sapiens e Neandertal, há uma grande probabilidade de estarmos diante apenas um grupo.

    Diante do exposto, apresentamos como hipótese inicial a indicação de que teria havido uma multiplicidade de espécies dentro do grupo formado pelos fósseis mais antigos do gênero Homo, hipótese esta também baseada em análises que consideram o estudo do dimorfismo sexual dos fósseis KNM-ER 1470 e KNM-ER 1813, bem como a discussão que indica a variação do volume craniano um indicativo de múltiplas espécies.

    A pesquisa foi realizada a partir de dados secundários craniométricos relativos aos fósseis do início do gênero Homo que poderiam ser minimamente comparados ao Homo sapiens e Neandertal. Os fósseis utilizados apresentam cronologia entre 2.0 a 1.5 milhões de anos e provém da África – KNM-ER 1813, 1470, 3883, 3733, OH 24, KNM-WT 15000 – bem como da região do Cáucaso, República da Geórgia – D 2700 e D 3444. As informações referentes às populações de Homo sapiens provém do banco de dados Howells, enquanto as informações relativas aos Neandertais foram obtidas de teses e artigos orientados ao seu estudo.

    Iniciou-se o trabalho a partir da análise exploratória das variáveis, passando então à análise multivariada. Utilizou-se, neste caso, a Análise de Compoentes Principais – PCA e Análise de Cluster como meios de proporcionar uma melhor visualização geral do que ocorre na interrelação entre os grupos e as variáveis. A utilização do Escalonamento Multidimensional e a reamostragem de Distâncias Mahalanobis ampliadas por meio do bootstrap proporcionaram a resposta para a hipótese apresentada nesta tese.

    Os resultados reiteram a hipótese que justifica a diversidade morfológica encontrada no início do gênero Homo como sendo reflexo da multiplicidade de espécies dentro do mesmo gênero. Desta forma, estaríamos diante varias espécies, e não apenas uma que mostrasse grande diversidade fenotípica no início de nossa linhagem, para o período indicado entre 2.0 e 1.5 milhões de anos.

    Urge ressaltar que os resultados indicados nesta tese não permitem concluir acerca do problema da multiplicidade de espécies no início do gênero Homo, o que se deve, em grande parte, à reduzida quantidade de fósseis bem como dos dados craniométricos deles provenientes. Entendemos, porém, que o emprego dos métodos estatísticos de análise empreendidos concorre para tornar os resultados mais robustos, colaborando, assim, para que outros estudos relativos à origem do gênero Homo possam utilizar-se da hipótese aqui apresentada, seja para refutá-la ou confirmá-la.

  • EDIMAR ANTONIO FERNANDES
  • Políticas Afirmativas para Povos Indígenas – sob o olhar dos protagonistas

  • Data: 14/11/2018
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  • A formação em nível superior é uma das possibilidades pensadas pelos povos indígenas como superação das relações assimétricas e coloniais que se estabeleceram historicamente, a qual vem sendo requerida frequentemente pelas lideranças tradicionais e políticas, que entendem a obtenção da graduação como um dos caminhos para alcançar a autonomia das comunidades, pois os conhecimentos adquiridos, criam condições adequadas ao direcionamento dos projetos comunitários. A demanda crescente por espaços no ensino superior trazem consigo problemas relativos à formação deste novo público, que dizem respeito ao ingresso, permanência e sucesso de povos indígenas. Tenta-se na tese constatar a existência de protagonismo indígena verificando as formas como ele desponta entre os indígenas estudantes que lutam para garantir a formação em nível superior na Universidade Federal do Pará. A proposta demanda a produção de texto alinhado às perspectivas dos povos indígenas e a adequação das Políticas de Ações Afirmativas a partir do que é requerido pelos movimentos indígenas a partir das aldeias e internamente à Instituição que nos acolhe. Assim sendo, os depoimentos indígenas colhidos, em conversas com finalidade e em eventos diversos, é suporte do trabalho, realizado por intermédio da escuta atenta dos indígenas discentes e das lideranças tradicionais e políticas. Ouvir os “parentes” permitiu conhecer a realidade vivida por eles, os problemas existentes, as discriminações sofridas, as (im)possibilidades de continuação dos cursos que os não indígenas chamam de evasão escolar. A escuta favoreceu a compreensão das diferentes estratégias e do protagonismo indígena no enfrentamento das dificuldades, ampliando e relativizando a minha participação no cotidiano acadêmico, na verdade fui um participante observador, com os quais a Antropologia vem lidando nas últimas décadas, afinal estamos em cena.

  • EMILLY CRISTINE BARBOSA DOS SANTOS
  • Entre pilhagem e repatriação: antigos problemas para a Arqueologia no contemporâneo

  • Data: 28/09/2018
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  • Esta dissertação é composta por dois artigos que foram submetidos para publicação em um periódico científico, com texto integrador, que apresenta o tema do trabalho. A discussão aborda o processo de repatriamento/restituição de coleções arqueológicas. Nesse sentido, no primeiro artigo é discutido sobre o processo de pilhagem na Amazônia, região do Pará, que se intensificou principalmente entre os séculos XIX e XX com o aumento de expedições científicas. Em seguida é descrito coleções arqueológicas amazônicas relevantes presentes nos museus nacionais e estrangeiros. E por fim é realizado uma reflexão sobre a importância do processo de repatriação para a mudança das abordagens antropológicas, arqueológicas e museológicas com os materiais arqueológicos presentes nas reservas técnicas. O segundo artigo trata da repatriação de remanescentes humanos enquanto um processo de soberania de coletivos sobre os vestígios de seus antepassados. Assim, a discussão aborda questões sobre legislação de repatriamento e códigos voltados para profissionais que lidam com este tipo de material. Este trabalho está inserido na vertente da arqueologia pública, no sentido de que desenvolve reflexões sobre processos de negociações entorno do patrimônio arqueológico.

  • JOSE LUIZ DE MORAES FRANCO
  • CORES E DORES DO MOVIMENTO LGBT DE BELÉM DO PARÁ: trajetória,  participação e luta

     

     

  • Data: 28/09/2018
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  • Esta pesquisa concentrou-se em analisar a memória, trajetória e luta do Movimento LGBT em Belém do Pará. Discutiu-se a respeito da atuação dos movimentos homossexuais e sua história ao longo das décadas, a pesquisa se propôs a compreender as relações homossexuais e a conquista por direitos civis em meio à invisibilidade que ao longo dos tempos essa categoria social foi acometida. Neste sentido, a luta por direitos, focada na questão da homossexualidade, já vem de uma trajetória histórica de muitas décadas, tanto no Pará quanto no Brasil e em outros países. Antes mesmo do surgimento do famoso bar gay chamado Stonewall Inn, já havia uma necessidade de se estudar e se organizar em prol dos direitos humanos, desde a Sociedade Mattachine, nos idos dos anos de 1950, a qual tinha como um de seus objetivos dá assistência e proteção aos homossexuais, minorias discriminadas, entre outras, como: negros e latinos. Reconstruir essa história é adentrar em uma Belém dos idos finais dos anos de 1970 e entender como os homossexuais viviam nessa época, quais os lugares que mais frequentavam e as estratégias utilizadas para ter um diálogo mais próximo com o governo, combater a violência, o HIV/Aids, preconceito e a discriminação. Importante para a pesquisa foi compreender como esse conjunto de fatores compõe uma ação coletiva e como a força de militantes de diversos bairros de Belém, por meio de Associações, Movimentos Sociais diversos, a Comissão de Bairros de Belém, e entidades comprometidas com a questão social foi dando vida ao movimento LGBT do estado, concretizando assim seus objetivos por meio das articulações e vida cultural. Buscou-se por meio deste trabalho realizar pesquisas em meio a documentos de jornais, livros, artigos eletrônicos e entrevistas com interlocutores que fundaram o MHB – Movimento Homossexual de Belém e outros grupos de homossexuais, artistas, professores e demais interlocutores ao longo dos anos em Belém. Ao tratar da história e memória destes militantes gays dentro do movimento, a partir de suas realidades e seus envolvimentos com a causa LGBT percebeu-se o quanto eles foram invisibilizados e tiveram seus direitos negados ao longo dos tempos. Para perceber essa realidade, foi necessário adentrar no contexto histórico do país e do Estado do Pará, levando em consideração a questão política e cultural com suas reflexões e práxis de inserção no meio do povo. Com essa pesquisa buscou-se contribuir e pensar a respeito da exigência e a implementação de Políticas Públicas contra a homofobia, não discriminação e preconceito, fazendo deste trabalho uma fonte etno-historiográfica que retrate os fatos ocorridos naquele e nesse momento e seja capaz de tirar esses militantes gays da invisibilidade a qual sofreram e sofrem até hoje. 

  • ELIENE DOS SANTOS RODRIGUES
  • SAÚDE DA INDÍGENA MULHER: Antropologia e Câncer do Colo de Útero nas etnias Xikrin do Cateté, Asurini do Trocará no Pará, Amazônia, Brasil.

  • Data: 21/09/2018
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  • A experiência de vida na saúde indígena nas comunidades indígenas no médio Rio Negro – Amazonas trouxe a problematização da indígena mulher e sua saúde diante da mudança do perfil epidemiológico dos povos indígenas. No Brasil, estudos apontam que a morbimortalidade nas populações indígenas é de 3 a 4 vezes maior do que na população brasileira em geral. O quadro de saúde indígena está diretamente relacionado aos processos históricos de mudanças sociais, econômicas e ambientais e no estilo de vida, que resultaram em importantes transformações no padrão de morbimortalidade, com redução das doenças infecciosas e parasitárias (DIP) e aumento crescente das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), tais como obesidade, diabetes mellitus do tipo 2 (DM2), hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diversos tipos de câncer. Entre os tipos de câncer encontra-se o de colo de útero, que representa segunda principal causa de óbito por neoplasias malignas na população feminina na idade de 15 anos ou mais, no Brasil. Os maiores números de casos são registrados nas regiões norte e nordeste, o que constitui um problema prioritário de saúde pública, principalmente em áreas de pouco acesso como é o caso das comunidades indígenas localizadas no Estado do Pará. Início precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros, além da presença de IST, estão entre os principais fatores de risco, principalmente levando em consideração a transição cultural desses povos. Diante desse cenário, o presente estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência de câncer de colo do útero em mulheres indígenas, visando instituir um programa de prevenção nessa população. O estudo é do tipo transversal, incluindo mulheres indígenas de três etnias do Estado do Pará, que tinham ou haviam tido vida sexual, e compareceram espontaneamente, preencheram um questionário. A obtenção de material para a realização de esfregaço cervico vaginal foi padronizada de forma a discriminar três regiões especificas: fundo de saco vaginal, junção escamo-colunar e canal endocervical. As laminas foram identificadas e coradas pelo método Papanicolau e o exame citopatológico foi realizado em laboratório do ICB/UFPA. Analise estatística foi realizada pelo programa SPSS 14.0. Das mulheres que participaram do estudo, todas receberam diagnóstico, e os casos que apresentaram alterações as mesmas foram encaminhadas e acompanhadas pelos profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins. O acompanhamento antropológico das indígenas mulheres ao tratamento teve um diferencial, pois existe uma necessidade de atendimento diferenciado a essas mulheres. O estudo ajudará a fomentar medidas realmente eficazes nas políticas públicas de atenção à saúde da indígena mulher com prevenção, detecção e tratamento precoce do câncer de colo de útero nas comunidades indígenas na Amazônia, Brasil.

  • VIVIANNE NUNES DA SILVA CAETANO
  •  “Sem o Bolsa fica escasso, com o Bolsa é mais avortado!”: as influências do Programa Bolsa Família nas estratégias alimentares de uma comunidade ribeirinha da Amazônia marajoara

  • Data: 21/09/2018
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  • A Antropologia, na contemporaneidade, tem sido um importante meio de valorização dos sujeitos no contexto de suas lutas sociais, na busca pela emancipação e reconhecimento de suas tradições e costumes. Este estudo, resultado de uma pesquisa de doutorado, analisa acontecimentos que já estão, de certa forma, naturalizados na atual sociedade, como o recebimento de benefícios oriundos do Programa Bolsa Família, que pode estar sendo responsável por transformações no modo de vida de moradores ribeirinhos da Amazônia marajoara. Dentre essas modificações, as ocorridas nas estratégias que as famílias beneficiárias utilizam para a aquisição de alimentos – atividades de roça, produção de farinha, caça, pesca e extrativismo – e, consequentemente, nos hábitos alimentares – tipos de produtos/itens que compõem a dieta, a frequência de ingestão de alimentos e, bem como o modo como são preparados – uso de gás, lenha, carvão e outros. Desta feita, o objetivo central desta investigação buscou identificar as mudanças e continuidades ocorridas nas formas de aquisição de alimentos e nos hábitos alimentares de ribeirinhos após o acesso ao Programa Bolsa Família na comunidade Santa Luzia, meio rural de Breves/Pará. Como fonte metodológica, fez-se imprescindível a utilização da abordagem etnográfica, qualitativa, com pesquisa bibliográfica, cujos instrumentos de coleta de dados foram a observação participante, oficinas, conversas informais com os moradores, entrevistas semiestruturadas com 10 interlocutores e seus familiares, 01 Coordenadora do Sistema Presença em Breves, 01 Agente Comunitário de Saúde, 03 Professoras e 01 Barqueira. Os resultados demonstraram mudanças consideráveis sucedidas nas estratégias alimentares utilizadas por ribeirinhos, decorrentes principalmente do maior acesso a produtos industrializados, fato que se intensificou após a inserção na renda mensal dos valores repassados pelo referido benefício. Entretanto, a investigação comprovou que esses acontecimentos ainda não modificaram por completo muitos dos costumes e tradições desenvolvidas por essas populações, como os trabalhos na roça, a produção e venda da farinha, a caça, a pesca e o extrativismo, atividades estas que envolvem crenças e transmissões de saberes entre as gerações e que persistem no modo de vida marajoara. Contudo, ficou evidente que apesar de ainda utilizarem essas estratégias alimentares, elas já não são tão frequentes como antes e estão sendo deixadas, paulatinamente, à margem, substituídas pela compra e consumo de produtos pouco acessíveis antes do recebimento dos valores repassados pelo Bolsa Família.

  • DIONE DO SOCORRO DE SOUZA LEÃO
  • Trajetórias de “Migrantes”: contatos, interações e conflitos em práticas interculturais - Breves-Marajó-PA.

  • Data: 18/09/2018
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  • O objeto da presente tese são as experiências de contatos ocorridas nas trajetórias de “nordestinos”, “portugueses”, “judeus” e “americanos” em Breves no Marajó, Pará, visibilizadas em práticas interculturais, construídas por meio da presença comum entre os grupos e os moradores naturais da região. Porém, dentro de relações assimétricas de poder apreendidas através das narrativas orais dos interlocutores, arquivos documentais do cartório Civil Matos (registros de óbitos e casamentos) e de Imóveis Dário Furtado (registros de compra e venda de propriedades), imagens fotográficas e pinturas em tela. Sob um recorte temporal que alcançou os finais do século XIX até a atualidade, sendo esse recorte representativo das memórias dos interlocutores sobre suas trajetórias na região de Breves em diálogos com os dados retirados das documentações cartoriais (1891 até 1979) referentes aos lugares pertencentes aos furos do Ituquara e Tajapuru, os rios Parauaú, Mapuá, Macacos, Curumu, Jaburu e cidade de Breves. Nesse contexto da pesquisa, os objetivos concentram-se em analisar como as experiências de contatos produziram identificações e formas de pertencimento dos “migrantes” e descendentes interlocutores da pesquisa. E ainda rever o sentido do global no local através dos fluxos de “estrangeiros” trazidos pelos navios, barcos, rádio, cinema, televisão, celular, internet e outras tecnologias, importantes na constituição das relações sociais e dos ambientes nos espaços de pesquisa. Além de analisar as formas de integração social desses “migrantes” na região de Breves, as sociabilidades, os desafios enfrentados relacionados a conflitos, estigmas, exploração, alimentação e doenças que assolaram o cotidiano dos grupos em diferentes tempos e espaços. Para tal, foram seguidas as orientações metodológicas da etnografia da entrevista no cruzamento com a história oral, da análise dos documentos com a etnografia do arquivo e da fotoetnografia e outros usos da imagem, à luz das perspectivas microanalítica e multisituada. E a partir desse percurso investigativo, este estudo permitiu descortinar sentidos das experiências dos contatos de “migrantes” e descendentes,  sujeitos aparentemente atomizados, mas que conseguiram  constituir  um universo  estreito de relações sociais, políticas, econômicas  e culturais,  de movimentos,  ações e interações   que os tornam centrais na história recente  da  formação social da região de Breves.

  • JAQUELINE PEREIRA DE SOUSA
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    A lida com a morte e o evocar dos mortos: experiências fúnebres no Norte do Piauí, Brasil

  • Data: 10/09/2018
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  • Essa tese analisa as formas de lidar com a morte e o morrer, evocada ou personificada nos mortos de comunidades rurais de forte tradição católica situadas no Norte do Estado do Piauí, Brasil. As análises foram construídas a partir de dados coletados em pesquisa etnográfica realizada em duas comunidades, Laranjeira e em Água Viva, entre os anos de 2009 e 2018, com uso de uma abordagem metodológica qualitativa. O objetivo principal na tese é mostrar que a presença dos mortos emerge não só durante os rituais fúnebres, mas também nas práticas cotidianas de manutenção dos vínculos sociais familiares dos [que permanecem] vivos. Durante a pesquisa observei que as atitudes dos interlocutores em relação a morte revelavam uma forte tendência de renovação dos laços familiares e apaziguadora dos conflitos porventura existentes. As narrativas sobre os antepassados indicam a existência de uma fronteira estabelecida entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, instituída pelas ações rituais com o intuito de afastar a morte e reaproximar o morto. Nesta tese considero os objetos associados à morte imprescindíveis na realização dos rituais fúnebres, através do seu poder de agência, como o caixão, a cruz, o terço, as velas, a coroa de flores. Por sua vez, os objetos deixados pelos mortos adquirem sua agencia através de um processo de transvaloração ao serem distribuídos entre os familiares dado o grau de importância de cada um. Os cemitérios são tomados como lugares relevantes para demarcar os lugares dos mortos, em contraponto com a descrição da demarcação também do lugar da morte, como no caso de óbito por acidente no trânsito, quando as cruzes e miniaturas de túmulos são vistos à beira da estrada, permitindo elaborar uma reflexão sobre o modo como os enlutados constroem essas duas categorias: morto e morte. Conclui-se, nesse sentido, que as maneiras particulares de lidar com a morte nessas comunidades incluem especialmente as práticas de presentificação dos mortos como antepassados, no contexto das quais as memórias sobre os mortos são construídas como um recurso de produção da honra familiar.

  • LUCIANA MARINHO DE MELO
  • Povos Indígenas na cidade de Boa Vista: Estratégias identitárias e demandas políticas em contexto urbano

  • Data: 06/09/2018
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  • Nesta pesquisa trato das estratégias de luta pelo reconhecimento étnico dos povos indígenas residentes no contexto urbano de Boa Vista, Roraima. Esta luta é decorrente da recusa do Estado em reconhecer os seus pertencimentos étnicos, impedindo-os de ter acesso às políticas indigenistas. Tal situação motivou a criação de três organizações presididas por lideranças Macuxi e Wapichana, sendo elas a Organização dos Indígenas da Cidade, Associação Indígena Kapói e Kuaikrî Associação Indígena as quais apresentam diferentes estratégias como forma de pressionar o Estado pelo reconhecimento do pertencimento étnico. A intenção desta pesquisa foi tomar os Macuxi e Wapichana como sujeitos de estudo para, a partir deles, identificar como os povos indígenas que residem na cidade de Boa Vista elaboram estratégias para a participação nos direitos constitucionais direcionados aos povos originários. Dentre essas estratégias destaco as ações coletivas desenvolvidas por meio do movimento indígena. Por estratégias me refiro aos recursos discursivos e simbólicos acionados na construção de pautas reivindicatórias que são elaboradas no âmbito das organizações e associações. A primeira hipótese que proponho para discutir acerca do problema de pesquisa é que os critérios adotados pelos agentes do Estado e direcionados aos indígenas em contexto urbano se tornam mais restritivos e excludentes na medida em que estes são apropriados pelo movimento indígena em Boa Vista. A segunda hipótese é que a recusa em reconhecer o pertencimento étnico por parte do Estado expressa uma política estrategicamente elaborada. Para responder a estas questões foi realizada pesquisa etnográfica que elegeu como locus de observação as reuniões e assembleias promovidas pelas organizações e associações, possibilitando a coleta de dados sobre processos de construção política das identidades étnicas, a apropriação da cidade como lugar de ancestralidades, lutas, resistências, negociações e diálogos conduzidos por lideranças Macuxi e Wapichana. Os resultados da pesquisa demonstram que a relação das organizações com o Estado é marcada por negociações e conflitos, tendo como consequência o fortalecimento do movimento indígena em contexto urbano e o surgimento de novas lideranças que intencionam não apenas a reversão da situação de invisibilidade étnica em uma cidade que possui aproximadamente 31.000 pessoas autodeclaradas indígenas, mas também a participação política partidária. Neste estudo, as teorias sobre Etnicidade e Identidade Étnica foram privilegiadas de modo a refletir sobre as relações políticas entre diferentes grupos, bem como os estudos que consideram a objetificação cultural.

  • SONIA MARIA PEREIRA DO AMARAL
  • Narrativas Interculturais na Sala de Aula: Antropologia e Educação no Marajó (Breves-PA)

  • Data: 30/08/2018
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  • Na presente tese apresento os resultados da experiência de pesquisa realizada na interface Antropologia e Educação, onde as salas de aula do ensino médio e superior foram meus campos de pesquisa. O objetivo deste trabalho foi cartografar narrativas construídas por alunos do ensino médio e superior acerca de suas trajetórias de vida compartilhadas em ambientes de sala de aula. Como objetivos específicos, identifico temáticas emergentes em narrativas socializadas por esses(as) alunos(as) e mapeio marcadores de identidade/etnicidade, gênero/sexo e religião em narrativas desses agentes no campo educacional, bem como sentidos e significados construídos nesses processos de identificação das experiências socioculturais. Para a coleta de dados realizei oficinas pedagógicas com os(as) alunos(as) do ensino médio, assim como, acompanhei e participei com e na turma das aulas de Sociologia e Filosofia. No ensino superior, acompanhei e participei das aulas de Teoria do Currículo, junto com a turma da pesquisa, além de realizar pesquisa-ação - na disciplina Antropologia Educacional, com atividades que auxiliaram na construção da cartografia. Além desses instrumentos, utilizei entrevista com as interlocutoras que na sala de aula, iniciavam um tema dentro dos marcadores que estávamos mapeando e que não concluíam suas narrativas por falta de tempo nas aulas.  Os resultados dos estudos nos campos em destaque, mostraram que os(as) estudantes, sejam do ensino médio ou superior, chegam às salas de aulas trazendo histórias de vida diferenciadas e num processo intercultural, constroem teias de relações de solidariedade, conflitos, afetos. Demonstraram que sentem necessidade de falar de si, embora suas memórias, em algumas vezes, chegassem encharcadas de emoções, algumas pela felicidade estampada no sorriso e no olhar, ao falar das brincadeiras de infância, dos banhos de rios, dos cuidados das avós; mas também na voz embargada na memória das perdas, traições, racismos sofridos em suas experiências de vida. A interpretação que fiz, foi que, quando encontram a oportunidade de narrar suas vivências e experiências socioculturais, somadas as histórias de vida a dos(as) demais colegas, entram num processo de reconstrução de si e marcam suas novas identidades. Também como resultados, compreendi que Antropologia e Educação, tanto no ensino médio, quanto no ensino superior, ainda são campos de conhecimentos vistos de formas distintas. Por essa razão, temáticas voltadas a estes dois campos e que fazem parte das práticas culturais dos(as) alunos(as), que poderiam ser exploradas de maneira interdisciplinar, a partir das ricas narrativas que chegam às salas de aulas, são silenciadas, predominando de forma técnica, os conhecimentos obrigatórios dos currículos.

  • LAIRISSE DANIELE DE ARAUJO COSTA

  • Arqueologia e Etnicidade: o estudo de cachimbos de barro na Amazônia Colonial (Séc. XVIII e XIX)

  • Data: 29/08/2018
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  • Este trabalho apresenta um estudo arqueológico da escravidão nos Engenhos de Açúcar da Amazônia Colonial, que subsistiram entre os séculos XVIII e XIX, a partir da análise de cachimbos de barro buscando compreender a relação desses artefatos no contexto e principalmente compreender as influências dos sujeitos na produção destes artefatos em um espaço em que se desenvolveram diversas relações sociais e interétnicas. Partindo da base teórica e metodológica da Arqueologia da Escravidão, caracterizamos a região estudada através do uso de fontes históricas e dados arqueológicos. A partir disso, os cachimbos foram analisados através de atributos que permitissem inferir acerca da produção destes objetos no contexto estudado, tendo como principais elementos de análise os elementos decorativos em comparação com exemplares de outros contextos escravistas e locais. Por fim, buscamos compreender a correlação existente entre práticas sociais de determinados grupos e a construção de diferentes redes de sociabilidade em que o uso de cachimbos pode ter se desenvolvido.

  • ELIANE MIRANDA COSTA
  • Memórias em escavações: Narrativas de Moradores do rio Mapuá sobre os Modos de Vida, Cultura Material e a Preservação do Patrimônio Arqueológico (Marajó, PA, Brasil)

  • Data: 14/08/2018
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  • Este estudo trata da história, da memória, da cultura material, do patrimônio arqueológico de povos tradicionais no arquipélago de Marajó, especificamente dos moradores do rio Mapuá, no município de Breves, Estado do Pará, Brasil. Um grupo social que por meio da oralidade detém saberes locais, em simbiose com conhecimentos científicos da racionalidade moderna ocidental. O objetivo central volta-se para entender e analisar os sentidos e significados atribuídos por esses agentes à cultura material do passado no presente. A composição teórico-metodológica da pesquisa compreende um conjunto de passos e procedimentos à luz da Arqueologia Etnográfica e da História Oral. As fontes resultam de um levantamento arqueológico não interventivo na região de acordo com as informações dos moradores; da coleta de narrativas orais com diferentes interlocutores envolvidos com o objeto em estudo; do registro das observações etnográficas e do registro iconográfico, incluindo o estudo do corpus bibliográfico sobre a pesquisa arqueológica no Marajó. O levantamento mapeou treze ocorrências arqueológicas, as quais nos indicam traços significativos do histórico processo de ocupação e exploração do território, bem como colocam em evidência uma história local e diferentes costumes, saberes e práticas tradicionais cotidianamente reinventadas. Além das ocorrências, foram também mapeados diferentes objetos produzidos pelos moradores com produtos retirados da floresta e utilizados de várias formas na vida cotidiana. São objetos que integram o patrimônio material desse coletivo e caracterizam-se como estratégias do saber-fazer e das relações estabelecidas com o meio ambiente amazônico. Combinando em uma análise interpretativa as fontes etnográficas, arqueológicas e histórica os resultados demonstraram que o patrimônio arqueológico do Mapuá compreende um conjunto de materialidades de diferentes temporalidades e espacialidades entrelaçados em uma dimensão de longa duração. É um patrimônio que não se restringe às tradicionais cerâmicas e tampouco às coisas do passado. Inclui o território, os espaços praticados, os saberes e as práticas transmitidas pela tradição oral, assim como memórias, histórias e produção material no/do presente. Nessa dinâmica, a cultura material assume diferentes formas e usos, incorpora aspectos simbólicos, cosmológicos e cognitivos de suma importância para a preservação do território/patrimônio. No que tange à materialidade do passado identifica-se que os sítios arqueológicos e as coisas estão atravessadas ao modo de vida dos moradores e desempenham a função de suportes e lugar da memória, ao mesmo tempo em que também possuem uma memória. Passado e presente são fenômenos inter-relacionados. O primeiro é elemento do segundo e se manifesta conectado nas histórias e memórias do lugar e das pessoas e seus respectivos jogos de interesses e necessidades. Vê-se que o passado não é estático, mas operado dentro de um processo dialético de conflito, contradição e resistência forjado pelo acesso e uso do território. Nesse aspecto se observa que as pessoas não só convivem com as coisas, mas delas guardam histórias, memórias, sentidos e significados de seus usos e existência. Preservar representa desse modo condição para que esses agentes possam interpretar o passado e, principalmente gerir o próprio patrimônio.

  • LEONILDO NAZARENO DO AMARAL GUEDES
  • Prostituição em balsas que navegam nos Rios do Arquipélago do Marajó-Pará: entre reciprocidade e moralidade

  • Data: 19/06/2018
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  • Este trabalho, intitulado “A prostituição em balsas que navegam nos rios do arquipélago de Marajó-Pará: entre reciprocidade e moralidade”, objetivou analisar as construções morais de mulheres ribeirinhas acerca da prostituição nos rios do Arquipélago de Marajó, considerando que há “vida” (família, trabalho, lutas, histórias e expectativas) além da prostituição. Os procedimentos teórico-metodológicos ancoraram-se na análise situacional como método, e com a realização de entrevistas semiestruturadas, conversas informais e formais na cidade e em uma escola do campo do município de Breves-PA, incluindo análise do corpus bibliográfico disponível sobre os temas relacionados ao contexto da prostituição no Marajó. Essa escolha metodológica justificou-se na medida em que foi o método e as técnicas que mais se ajustaram ao problema de pesquisa e à especificidade da coleta de dados em campo. No tocante ao método de investigação, foi necessário discorrer sobre algumas questões éticas relacionadas à escrita do trabalho e à preocupação com as implicações da pesquisa para os(as) interlocutores(as). Os resultados evidenciaram a existência de sociabilidades entre tripulantes de balsas e muitos ribeirinhos (homens, mulheres, jovens e adolescentes) ao longo de algumas décadas, especialmente a partir de 1970, com a criação da Zona Franca de Manaus, ocorrendo a intensificação desses relacionamentos a partir de 1990, motivada por fatores conjunturais que implicaram em mudanças na economia brasileira e na cultura ribeirinha marajoara. Em relação aos relacionamentos de mulheres ribeirinhas e tripulantes das balsas, essas sociabilidades não se fundaram apenas em prostituição ou sexo transacional, mas em um sistema de dádivas constituídas por bens materiais e simbólicos, dentre os quais o óleo diesel, alimentos frescos, cerveja, cigarros, dinheiro, presentes, apoio financeiro, projetos de melhoria de vida, ampliação dos laços familiares para o interior das balsas, de forma prática ou discursiva/simbólica. As construções discursivas de mulheres ribeirinhas pautaram-se por um forte compromisso com a moral, sobretudo da família tradicional, ao lançar mão de valores como casamento, fidelidade, confiança, reciprocidade, para dar sentido a seu trabalho fora do lar, aos seus relacionamentos afetivos e a sua inserção na prostituição em balsas. No entanto, o que se tem verificado nos rios do Marajó é apenas a perseguição ou as tentativas de punir adolescentes e suas famílias, negligenciando os processos mais amplos de constituição de uma realidade social transformada pela expansão do capital financeiro através do comércio global.

  • HELENA PALMQUIST
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    Questões sobre genocídio e etnocídio indígena: a persistência da destruição

  • Data: 16/05/2018
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  • No ano de 2013 foi redescoberto no Rio de Janeiro, o Relatório apresentado em 1967 pelo Procurador Jader de Figueiredo Correia no qual foram compulsados consistentes registros de violência contra povos indígenas brasileiros cometidos por agentes estatais em conluio com forças de segurança e fazendeiros, sob a égide do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), responsável por processos continuados de etnocídio e violência contra os povos que deveria proteger. Ao mesmo tempo, em 2013, povos indígenas em vários pontos do país eram continuamente atingidos por violências e processos de etnocídio e genocídio na esteira de empreendimentos econômicos e projetos de desenvolvimento estatais e privados. Porque mecanismos o etnocídio e o genocídio seguem presentes nas ações de agentes do estatais ou privados no Brasil, atravessando gerações, períodos históricos, mudanças políticas e jurídicas? Para essas questões, o presente trabalho busca respostas, examinando, na literatura antropológica, em estudos jurídicos e em estudos de genocídio, os autores que se debruçaram sobre o tema do genocídio e do etnocídio contra povos indígenas. Ao lado dos debates conceituais que se desdobraram a partir da criação dos termos genocídio (em 1943) e etnocídio (em 1970), o trabalho examina documentos que registram a persistência de processos genocidas e etnocidas contra povos indígenas de 1910 aos dias atuais: os documentos produzidos por Roger Casement sobre o terror no Putumayo; a investigação do procurador Jader Figueiredo sobre os crimes do SPI; as denúncias produzidas por Shelton Davis, por um grupo de antropólogos anônimos e pela Comissão Nacional da Verdade sobre as violências desencadeadas pela política de desenvolvimento da ditadura militar brasileira; o filme Martírio, de Vincent Carelli, Tita e Ernesto de Carvalho, sobre o longo genocídio dos Guarani e Kaiowá; e por fim, as ações judiciais do MPF que tratam da ação etnocida contra os povos indígenas atingidos pela UHE Belo Monte.

  • NILSON OLIVEIRA SANTA BRIGIDA
  • Entre memórias e esquecimentos: a Colônia do Prata como patrimônio olvidado

  • Data: 14/05/2018
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  • A Colônia do Prata é uma Vila de moradores que apresenta realidade culturalmente diferenciada, marcada pela experimentação dos efeitos sociais do sofrimento decorrentes de políticas coloniais na Amazônia. Objetivo averiguar a existência de uma teoria local de patrimônio em relação ao espaço. Em perspectiva comparada, desenvolvo etnografia polifônica, trabalhando qualitativamente com relatos de memória e esquecimento em relação ao lugar. A partir da eleição de quatro categorias de análise (tempo, distâncias, memórias e esquecimentos), busco responder à indagação sobre a possibilidade do lugar ser considerado patrimônio cultural. Concluo que há sociabilidades próprias surgidas de um contexto de conflito, no qual a disputa entre conceitos sociais de deterioração, conservação e preservação é manifestada a partir da interação, fazendo com que a ideia de patrimônio cultural se apresente em meio a um campo simbólico de representações de identidade e poder.

  • ELIZABETE PEREIRA PIRES
  • As Condicionantes da UHE de Belo Monte e o Desafio das Políticas Públicas de Saúde no Município de Altamira/PA

  • Data: 08/05/2018
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  • Dentro do cenário atual de busca por fontes de energia a Amazônia se destaca por ter um grande potencial hídrico e com as caraterísticas ideais para a implantação de usinas hidrelétricas para suprir as demandas energéticas do país. As peculiaridades locais com doenças endêmicas e sistema de saúde deficiente, dentro de uma nova realidade com as frentes migratórias, nos fez estimar as prevalências de Malária, Dengue e Leishmaniose tegumentar no período de 2010 a 2017 no município de Altamira/PA e buscar saber se as condicionantes de saúde, compromisso firmado pela Norte Energia e o Governo Federal para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte na região do Xingu, alteraram o perfil epidemiológico dessas doenças. Foram coletados os dados da Malária, Dengue e Leishmaniose tegumentar no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (SIVEP) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), nos bancos de dados da Secretaria de Saúde do município de Altamira. Para análise foi utilizada a distribuição temporal e espacial dessas doenças, utilizando-se como ferramenta a Análise de Séries Temporais. Em 2010 foram registrados 1.849 casos de Malária, em 2017 o número caiu para zero, e esta diminuição foi atribuída ao Plano de Ação para Controle da Malária (PACM). A Dengue teve 1.330 casos confirmados em 2010 e em junho de 2017 decaiu o número de casos para 17. A Leishmaniose tegumentar foi a única doença que se manteve constante, apresentando, em 2010, 62 casos e em maio de 2017, 17 casos. A Dengue e a Leishmaniose tegumentar não tiveram ações de controle e monitoramento específicos como a Malária, que recebeu investimento financeiro para controle, sendo executadas apenas ações preventivas de rotina no município. A Malária é considerada uma doença controlada em Altamira, porém municípios vizinhos a obra como Pacajá está com números de casos crescentes, visto que em 2015 foram notificados 345 casos, em 2016, 460 casos e até 24 de agosto de 2017, já haviam sido notificados 437 casos, logo precisa estender as ações de controle e monitoramento aos municípios vizinhos e dar continuidade por mais alguns anos. Apesar de a Dengue ter redução em número de casos é uma doença considerada negligenciada junto à Leishmaniose, tanto pelas condicionantes de saúde propostas pelo empreendedor, como pela ausência de políticas públicas municipais e estaduais ou pela ineficiência dessas políticas voltadas para o controle dos mosquitos transmissores.

  • MARINA RAMOS NEVES DE CASTRO
  • Socialidades e sensibilidades no quotidiano da Feira do Guamá: uma etnografia das formas sociais do gosto

  • Data: 20/04/2018
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  • Este trabalho reflete sobre a experiência social do gosto, a partir de uma etnografia realizada na feira do Guamá, em Belém, estado do Pará, na Amazônia brasileira. Procurou-se compreender a construção social dos sentidos e do gosto como vetor de sensibilidades e de socialidades em uma feira. Busca-se fazer uma prospecção das formas do gosto presentes nesse espaço, prospeccionando e compreendendo as sensorialidades partilhadas pelo grupo. O trabalho privilegia uma percepção antropológica do fenômeno social do gosto e dos sentidos, na feira. Nesse percurso, utiliza-se as noções de sociação, socialidade e formas sociais, de G. Simmel (2006), de traço, de J. Derrida (1994); de sensorial, de Merleau-Ponty (1945; 1964) e Ingold (2006). Em termos metodológicos, utilizou-se a perspectiva etnográfica de M. Peirano (1995; 2006); a perspectiva de uma fenomenologia baseada em M. Merleau-Ponty (1945) e em A. Schutz (2012); a etnografia sensorial, baseada em S. Pink (2012); a antropologia dos sentidos baseada em D. Le Breton (2017), em D. Howes (1991, 2013), em C. Classen (1993); a antropologia modal desenvolvida por F. Laplantine (2017); a antropologia urbana de Velho (2003, 2006); e da antropologia interpretativa a partir da perspectiva de C. Geertz (1989); J. Clifford (1991); S. Tyler (1991). Procurou-se, em síntese, uma compreensão das sensorialidades que envolvem a experiência dos sentidos e do gosto nos processos de socialidades e sensibilidades na feira. Os resultados principais alcançados com esta tese consistiram nas constatações de que: a) o fenômeno do gosto não pode ser reduzido à condição de um simples prazer estético, ou enquadrado em categorias pautadas pelos conceitos hegemônicos de beleza, ideal, perfeição e até mesmo, em alguns casos, racionalidade; b) os sentidos e o gosto são constructos sociais produzidos contextualmente pela experiência social sensível; c) essas sensibilidades seriam formas sociais (Simmel, 2006), presentes no universo da feira; d) o gosto consiste numa forma de expressão que evoca a capacidade de entendimento sensível do homem em relação ao seu entorno, à sua experiência e vivência. Assim, o gosto consistiria na capacidade de resposta do indivíduo a essas vivências e experiências que o indivíduo dá-se a si e ao mundo, no seu processo de interação social.

  • RODRIGO DE SOUZA WANZELER
  • PEIXE-FRITO, SANTOS E BATUQUES: Bruno de Menezes em Experiências Etnográficas

  • Data: 06/04/2018
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  • Nesta tese empreendo um estudo que intenta, primordialmente, apresentar uma outra chave de leitura para a produção intelectual de Bruno de Menezes (1893-1963), o qual obteve destaque no cenário cultural amazônico como um grande literato. Assim, procuro reconstituir importantes aspectos de sua trajetória de vida, destaco representações do cotidiano da cidade de Belém advindas de suas experiências sociopolíticas e focalizo a diversidade e a pluralidade de vozes, provenientes da interculturalidade latente na Belém da primeira metade do século XX. Neste exercício, exploro o viés etnográfico em algumas de suas principais composições, linha interpretativa escolhida para ressignificar os estudos sobre o literato negro. Para alcançar o objetivo central da investigação, em outras palavras, a tese que costura o trabalho, algumas questões fizeram-se norte: Que experiências etnográficas conformam as trajetórias de vida de Bruno de Menezes? Como o intelectual percebia a si e aos outros em suas escrituras? Em que condições e circuitos o literato realizou pesquisas e produziu escritos sobre a dinâmica cultural em cenários paraenses da Amazônia? Por fim, qual a importância de Bruno enquanto um pensador social para o contexto amazônico na primeira metade do século XX? A formulação e compreensão destas questões estão ancoradas no cruzamento teórico-metodológico de um saber-fazer etnográfico que se alinhava nas conexões da Antropologia com a Literatura e o Folclore, os Estudos Culturais, Pós-Coloniais e a História Oral e se verticaliza num campo em que obras literárias, pesquisas de cunho folclórico, fotografias e relatos orais reconstituem evidências de e sobre o escritor em tela. Frente ao exposto, divido o texto acadêmico em duas partes: na primeira, trato dos vários percursos traçados por Bruno ao longo de sua existência e enfatizo as redes estabelecidas, as quais contribuíram para a formação de seu fazer-se e repertório crítico. Na segunda parte, abordo três produções de Bruno de Menezes – Boi Bumba: auto popular; São Benedito da Praia: Folclore do Ver-o-Peso e Batuque. A intenção é reconstituir e analisar a experiência etnográfica dessas composições literárias e ousar incluir o negro jurunense no rol dos grandes pensadores acerca da cultura na Amazônia, indo, dessa forma, para além do aspecto literário, faceta pela qual Bruno é deveras reconhecido. Assim, penso que a partir de todo cabedal epistemológico no qual a tese se ampara, outro Bruno de Menezes é descortinado, o esteta da palavra é também um etnógrafo da Amazônia paraense.

  • ALAN SILVA DE AVIZ
  • Sexualidade e Religiosidade em Belém do Pará: Uma etnografia junto a fiéis homossexuais de igrejas evangélicas da capital paraense

  • Data: 23/03/2018
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  • A história da crença e das manifestações religiosas na humanidade, tem sido marcadas ao longo do tempo por diversos fenômenos, entre os quais, em específicos na modernidade, alguns vem se apresentando de forma contraditória e paradoxal no âmbito das relações sociais. O trabalho em questões traz consigo, as narrativas e histórias de vida, de personagens homossexuais e suas aproximações e envolvimentos religiosos com espaços, que historicamente se opunham as suas sexualidades, sob regime de uma conduta heteronormativa.  Assim, esse trabalho expõe os resultados de uma pesquisa, que teve o propósito de analisar e compreender a trajetória de homossexuais, masculinos e femininos, em igrejas evangélicas (Quadrangular, Assembléia de Deus e Universal do Reino de Deus) na cidade de Belém-PA. Sob desenvolvimento de um trabalho etnográfico durante o ano de 2017, que teve início em 2016, foi possível sinalizar para a resistência por parte destas instituições religiosas para com homossexuais, no qual, muitos são os bloqueios criados a tais sujeitos, no sentido de não aceitarem harmoniosamente orientação sexual que destoa da heteronormativa. Em face da resistência do público evangélico aos homossexuais, foi possível nesta pesquisa, apontar para a conciliação e sociabilidade entre sexualidade e crença, por meio de discursos de ambas as partes,  sob perspectiva dos muitos reflexos que os homossexuais manifestam ao longo de suas trajetórias nesses espaços religiosos, e que de certo, reflete em suas vidas cotidianas. Influenciando não somente no seu modo de crer, como também no dialogo e performace que os mesmos estabelecem em seus ciclos sociais. Tais dados foram obtidos também por meio de entrevistas gravadas, com oito interlocutores que se auto afirmam homossexuais, e que persistem em frequentar essas igrejas. Permitindo com isso entender, os paradigmas deste fenômeno, sob recorte de um paradoxo social, que corresponde à tentativa de homossexuais em driblarem as barreiras e sanções morais estabelecidas nessas instituições religiosas.

  • LUCIANA CRISTINA DE OLIVEIRA AZULAI
  • Percepções sobre Cultura Material e Sítio Histórico Urbano na cidade de Belém-PA: o caso do Museu da UFPA e sua coleção de Arqueologia Urbana

  • Data: 23/03/2018
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  • O trabalho pretende apresentar os resultados e discussões a cerca da pesquisa de mestrado no programa de pós-graduação em Antropologia da UFPA, oriunda do projeto intitulado “Arqueologia Urbana: uma relação do passado e do presente no Acervo Arqueológico do Museu da UFPA”. O foco principal é o estudo que foi desenvolvido sobre o Museu da Universidade Federal do Pará – MUFPA e a coleção de arqueologia urbana que se encontra sob a guarda desta instituição. O Museu está situado no centro da cidade de Belém – PA, instalado no Palacete Augusto Montenegro, um casarão histórico, construído no início do século XX para servir de residência ao ex-governador do Estado do Pará, Augusto Montenegro. A coleção de arqueologia urbana foi formada através de um conjunto de vestígios arqueológicos encontrados no museu durante as reformas realizadas no local, esta pesquisa se concentrou nos materiais encontrados na área do jardim.  Dentre os objetos encontrados há uma diversidade de fragmentos de louças, vidros, cerâmicas, metais, entre outros. Parte-se da ideia de que esses objetos apesar de não terem sido encontrados de forma convencional como é realizado em escavações arqueológicas, apresentam uma considerável significância por se tratarem de vestígios do passado que recebem atribuição de valor histórico-cultural no presente. Neste sentido, o objetivo geral da pesquisa é a investigação baseada na cultura material que compõe a coleção arqueológica, bem como busca entender sua trajetória até a formação da coleção dentro do Museu. O intuito da pesquisa também foi compreender as mudanças ocorridas na paisagem do local onde os objetos arqueológicos foram encontrados, procurando estabelecer possíveis relações existentes no espaço do Museu e a importância para o Patrimônio Cultural da cidade. Por fim, conclui-se que esses vestígios e o próprio Palacete/ Museu integram um sítio urbano e histórico de Belém.

  • CAMILLE GOUVEIA CASTELO BRANCO BARATA
  • Mulheres da montanha: corporeidade, dor e resistência entre indígenas

  • Data: 19/03/2018
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  • O trabalho problematiza as práticas de cuidado e proteção do corpo frente a situações de violência entre mulhereres indígenas, nomeadas, em prol da proteção de suas identidades, como mulheres da montanha. A dissetação consiste no diálogo bibliográfico empreendido sobre as questões da pesquisa, bem como na reflexão sobre narrativas consideradas reveladoras para o entendimento do tema. Os objetivos são: (1) dialogar com o repertório bibliográfico investigado a partir dos atos e falas das interlocutoras, considerando as interpretações antropológicas e as das interlocutoras igualmente válidas; (2) refletir sobre as formas de agência, cuidado e resistência das interlocutoras frente a situações de violência e brutalização dos corpos e trajetórias. Categorias como dor e terror, bem como o entendimento de marcadores sociais da diferença sob um ponto de vista interseccional estruturam o olhar sobre a pesquisa.

  • ARIANA KELLY LEANDRA SILVA DA SILVA
  • Sickle Cell Disease in the Amazon: The Intersections between Color Identity and Genomic Ancestry in the Paraense Context.

  • Data: 13/03/2018
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  • The Sickle Cell Disease (SCD) is the most common genetic disease throughout the world. In the Amazon, the Hb S (homozygous group Hb SS) occurs in about 1% of the population, which live with daily challenges with regard to access to health services, and the bio-social vulnerability and stigma related to "race/color" of the individuals affected by the syndrome and severe and difficult to treat clinical manifestations. This thesis aims to investigate the biological categories (Genetic) and cultural (Race/color) among patients diagnosed with the disease, confront the intersections (connections) between the Social Identity (SI) Race/color and Genomic Ancestry (GA) of the participants. The research investigates a group of 60 people with Hb SS in Para State. Blood samples were collected at the Regional Blood Center (Hemopa/Belém) and autosomal Genetic Ancestry tests (GA) were performed in the Human Genetics Laboratory (LGHM) of the Federal University of Pará (UFPA). Simultaneously, an ethnographic research was conducted with semi-structured interviews with the same individuals, after delivery of the result of the AG test. The study has its relevance in identifying in the DF patients the process of racialization as a Social Determinant of Health (DSS), especially considering that this involves biological and socio-cultural elements, as this is still conceived as a "disease that comes from the black" in the Amazon. In Amazonia, there is still a lack of a biocultural analysis of SCD and genetic ancestry as there are limited studies of genetic disorders. The thesys was developed in the form of articles, some of which are already published and others have been submitted, these are presented as a sequence in order to facilitate the understanding of the overall purpose and results of the project.

  • MILENE RAIOL DE MORAES
  • Contribuição dos Fatores Moleculares e Ambientais na Incidência de Hipertensão Arterial em Populações Vulnerabilizadas

  • Data: 06/02/2018
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  • Atualmente, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) é considerada caso de saúde pública e por este motivo deve ser prioridade na atenção básica. Suas causas primárias são desconhecidas, porém sabe-se que ela é multifatorial e multigênica. Na literatura vários autores propõe que a HAS é mais freqüente em indivíduos afrodescendentes que em europeus, e de igual forma, as complicações da hipertensão arterial também podem ocorrer mais freqüentemente em afrodescendentes do que na população em geral, acarretando maior morbimortalidade em indivíduos deste grupo étnico. O estudo realizado foi quantitavivo e qualitativo, com 1000 individuos, em vinte e seis comunidades quilombolas, em oito municipios do estado do Pará. Desta forma, investigamos a influência dos fatores ambientais e genéticos, no mecanismo de equilíbrio da pressão arterial, assim como o estilo de vida de amostras da população do estado do Pará e suas interferências no aumento e agravamento da HAS. Os resultados demonstraram como é a saúde dos quilombolas moradores destas comunidades. Os hábitos ocidentais chegaram nessas localidades, como os alimentos enlatados e embutidos. O excesso de peso, aumento da circunferência abdominal, predominância no consumo de frituras, gorduras, massas, bebidas açucaradas, diminuição na ingesta de frutas, verduras e legumes, etilismo, falta de conhecimento sobre a pressão arterial associadas ao desmazelo da assistência à saúde, por parte dos governantes, os tornam vulneráveis a hipertensão arterial, a importância da implementação de políticas públicas de saúde para que essas comunidades sejam melhor assistidas em toda a sua integralidade.

  • MONIQUE MALCHER DE CARVALHO
  • SEM LINHAS RETAS Gênero e sexualidade nas Graphic Novels

  • Data: 06/02/2018
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  • As histórias em Quadrinhos tem grande parte de sua trajetória marcada pela abordagem de temas controversos e desafiadores, que ajudam os leitores a rever a forma como entendem  e  se relacionam com as imagens e representações cotidianas. Historicamente elas se restringiam a episódios de curta duração, as editoras não estimulavam e nem apoiavam histórias maiores ou mais detalhadas, pois a arte sequencial não era pensada para leitores adultos. Porém, em  anos recentes surgiu a graphic novel, um formato de história em quadrinhos que trouxe temas importantes como: questões de representação de gênero e sexualidade. A pesquisa busca compreender como se dão performance de gênero e práticas sexuais não normativas nos quadrinhos e de que forma se tornam ferramentas ou táticas para (re)pensar  questões de sexualidade com um olhar pós identitário. A escolha de quadrinhos no formato de graphic novel se deu pelo caráter político, literário e representativo desse tipo de publicação. Os objetos escolhidos foram "Azul é a cor mais quente", de Julie Maroh, publicado em 2010 e "Fun Home: Uma tragicomédia em família" de Alison Bechdel, publicada em 2006. Através destes quadrinhos buscou-se entender: a negociação das identidades dos personagens dentro dos constrangimentos discursivos da heteronormatividade, tanto ao repeti-la quanto ao desafiá-la em suas  performances de gênero; a heterossexualidade como prática compulsória tanto nas relações homossexuais assumidas quanto escondidas; a presença de normas de gênero corporificando certos ideias de feminilidade e masculinidade, e além disso, trazer o debate sobre a narrativa literária das graphic novels  como ferramenta para dar conta de debater a sexualidade e questões queers , compreendendo o fazer antropológico como experimental e para além das fronteiras entre o acadêmico e o literário. 

2017
Descrição
  • VONÍNIO BRITO DE CASTRO
  • A chegada das barragens e as transições nos modos de vida de “vazanteiros-pescadores” do Médio rio Tocantins

  • Data: 18/12/2017
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  • O escopo da pesquisa foi analisar as transições nos modos de vida dos “vazanteiros-pescadores” do médio Tocantins causadas pelas barragens “Luiz Eduardo Magalhães (TO)” e “Estreito (TO/MA)”. Os estudos que dão corpo aos capítulos foram realizados sob a égide das abordagens metodológicas, a saber, a observação participante, entrevistas semiestruturadas e não estruturadas, etnografia de arquivos e a ecologia política. Tais abordagens foram cruciais na anotação do contexto geopolítico e especificidades locais alicerçadas na pesca tradicional e na “agricultura de vazante”. Também foram indispensáveis na análise dos conflitos socioambientais, compensações e programas de mitigações. A expressão nominal, “as transições nos modos de vida”, foi usada para explicar os processos de mudanças nos modos de vida local a partir da chegada da barragem. Nossas análises propagam que a implantação de hidrelétricas gera, inerentemente, transições que se perpetuam nas dimensões econômica e sociocultural dos povos situados nas áreas de influência do reservatório. Devido as alterações no curso do rio e na qualidade da água, a agricultura de vazante foi suprimida e a prática da pesca artesanal ficou comprometida.  A barragem, portanto, interveio nas representações socioculturais, sob as quais, os vazanteiros-pescadores e seus antepassados têm se autossustentado e autoidentificado como categoria e como povos tradicionais. Isto serviu de palco para práticas de injustiças demonstrando a incapacidade da concessionária em lidar com questões sociais atreladas ao barramento. As transições figuradas nos conflitos e resistências se prolongam e se multiplicam à medida que as diferenças sociais não são consideradas e direitos da participação local nas decisões tomadas e direitos ambientais e sociais não são respeitados. Por um lado, as injustiças justificam a rejeição local à barragem e o inconformismo com o poder público. Por outro, os conflitos gerados desse inconformismo com ambas entidades serviram como instrumento de unidade, (re)integração política local e articulação com outras categorias em defesa de seus direitos e reivindicações, o que evidencia o múltiplo papel dos conflitos. A adaptação, criatividade e a continuidade de atributos culturais remotos só reforça a capacidade de resiliência e superação dos povos tradicionais, sustentados no conjunto de experiências e de conhecimentos etnoecológicos acumulados. Isto, portanto, é um exemplo concreto de capacidade de absorção e adequação de novos atributos culturais e de desenvolvimento de novas fontes de subsistência e de reprodução de costumes e práticas tradicionais.

  • EMANOEL FERNANDES DE OLIVEIRA JUNIOR
  • Sumitsubo: um estudo acerca das moradias construídas por imigrantes japoneses em Tomé Açú, Pará

  • Data: 04/09/2017
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  • O excedente gerado pela exploração da pimenta-do-reino na área do atual município de Tomé-Açú, região nordeste do estado do Pará, durante a década de 1950, submeteu os imigrantes japoneses ali fixados desde 1929, a uma transformação radical em seu universo material refletida, dentre outros, nas habitações até então ocupadas por esta comunidade. Construídas para substituir as rústicas casas de colono, as novas moradias passaram a adotar o estilo próprio da arquitetura tradicional japonesa como espécie de marco temporal para a nova fase na vida da colônia, espécies de mediadoras entre aquele mundo novo e a terra ancestral de pais e avós, ao mesmo tempo em que, pela ótica da cultura material, passariam a participar ativamente na formação das gerações posteriores de japoneses nascidos fora do Japão, motivo pelo qual se desenhou esta pesquisa.

  • MAIRA FERNANDA TAVARES DE MELO
  • As apreensões do universo da caça: Uma etnografia entre os quilombolas do Bairro Alto, Ilha do Marajó/PA

  • Data: 25/08/2017
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  • Este trabalho é produto de uma etnografia realizada entre os quilombolas da comunidade de

    Bairro Alto, Ilha do Marajó/PA. Teve como objetivo principal compreender as relações

    estabelecidas entre homem e natureza, principalmente as relações entre humano e animal, e

    para isso, adotou a temática caça para aprofundar suas análises. A partir de uma abordagem

    etnoecológica investiguei aspectos sociais, saberes ecológicos tradicionais e cosmologias

    regionais que se integrassem à atividade de caça e constituíssem a realidade local. Descobri

    que os saberes ecológicos tradicionais dos caçadores são minuciosos, profundos e garantem a

    sobrevivência e a dinâmica de vida da população local, mas que também se configuram como

    apenas uma face da relação entre humano e animal, já que esta ultrapassa a barreira do

    objetivo e do visível, tendo também representações no campo simbólico e ritual que são

    importantes marcadores no entendimento integral das relações que podem protagonizar. Desse modo, defendo que a integração de conhecimentos tradicionais e conhecimentos simbólicos medeiam as interações entre homem e natureza e formam um conjunto de práticas locais que além de ser própria do lugar, também podem ser consideradas sustentáveis.

     

  • EDYR BATISTA DE OLIVEIRA JUNIOR
  •  

    “Cada um sabe do seu próprio corpo”: masculinidades, projetos corporais e treinos

  • Data: 25/08/2017
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  • Pessoas que praticam exercícios físicos elaboram para si determinadas metas corporais, as quais incidem em suas relações nos espaços de transmudação da compleição física, na ingestão de alimentos, no consumo ou não de suplementação e de anabolizantes, dentre outros comportamentos. Em vista disso, esta tese procura analisar as práticas de remodelamento corporal de homens jovens que frequentam academias de musculação e/ou aulas de natação, tanto em Belém do Pará quanto em Lisboa, buscando conhecer e compreender o processo de excorporação realizado pelos agentes sociais juvenis na concretude de seus objetivos. Para esse empreendimento tomo como base as minhas experiências sensoriais enquanto aluno nos espaços de transmutação corpórea outrora citados e, também, as conversas formais que, a partir de um guião de entrevista semiestruturado, realizei com um total de vinte e duas pessoas, sendo treze alunos e nove professores/as. Considerando, igualmente, as observações, as escutas e as conversas em campo e, do mesmo modo, as metas planeadas pelos jovens ao praticarem a musculação e/ou a natação, é possível dizer que diferentes projetos corporais são formulados os quais, aliados à subjetividade, à intersubjetividade, à noção de masculinidade e de saúde, aos limites da compleição física, dentre outros pontos, atuam sobre o processo de modificação do corpo dos indivíduos desta pesquisa. 

  • LUCAS MONTEIRO DE ARAUJO
  • REPRESENTAÇÕES MARAJOARAS EM RELATOS DE VIAJANTES: Natureza, Etnicidade e Modos de Vida no Século XIX

  • Data: 25/05/2017
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  • Durante o século XIX, o arquipélago de Marajó foi constantemente visitado por diversos viajantes brasileiros e, especialmente, estrangeiros que narraram suas aventuras em livros, diários, revistas e periódicos de circulação nacional e internacional. Vários aspectos da vida física, humana e cultural da região foram relatados nessa produção literária. Neste trabalho, analisamos representações forjadas pelos viajantes sobre rios, flora, fauna, vilas, moradias, habitantes e modos de vida locais, com destaque para as experiências de trabalho vivenciadas por indígenas, negros e mestiços. Nesse percurso antropológico e histórico, questionamos: que representações os viajantes do século XIX produziram sobre as populações marajoaras? Como o contato com a natureza e os habitantes foram descritos e, em que medida, essas relações afetaram estes encontros? Ainda, de que maneira os modos de vida foram vistos e registrados por homens e mulheres das letras? Quais aspectos são revelados e silenciados sobre a relação natureza e cultura na pena desses excursionistas? Á luz dos questionamentos, delimitamos dois grandes objetivos: a) analisar como foram representadas por homens e mulheres das letras as áreas de campos, florestas e vilas, bem como os habitantes locais, seus modos de vida e trabalho e b) desvelar aspectos centrais das narrativas que demonstrem os mecanismos utilizados na representação da realidade vivenciada pelos viajantes. Para alcançarmos tais intentos, buscamos suporte em autores que trabalham com literatura de viagem e o uso dos arquivos como fonte para a Antropologia. A fundamentação teórica tomou norte em premissas da Antropologia Pós-Moderna em diálogo com os campos dos Estudos Pós-Coloniais e Decoloniais. Como resultado, constatamos nestas narrativas uma diversidade de formas de ver e narrar a região marajoara. Os relatos revelaram-se multifacetados em expressões de encantamentos, conflitos e ambivalências. Com isso, intercalaram a exaltação das belezas naturais da região em descrições romantizadas ou em narrativas científicas pautada na razão ocidental, característica comum às incursões oitocentistas, com a exposição das mazelas sociais fruto de choques de concepções sobre vida e trabalho. Por fim, mergulhar nas narrativas dos excursionistas possibilitaram apreender diferentes concepções de mundo que se chocaram, estranharam-se e, em boa medida, contaminaram-se na região marajoara. O resultado foram relatos atravessados pela lógica capitalista, racional, romântica, iluminista e eurocêntrica dos viajantes e pelas narrativas moldadas à luz das relações estabelecidas nas zonas de encontro com indígenas, africanos e mestiços. Entre estranhamentos, assimétricas e trocas culturais compartilhados por viajantes e marajoaras, a literatura de viagem como produção coletiva revela-se campo etnográfico de muitas incursões, aqui tentamos construir e socializar uma delas.

  • ANTONIO ANDRE CONDE MODESTO
  • Caracterização do Perfil de Expressão de miRNAs em Populações Vulneráveis da Amazônia

  • Data: 25/04/2017
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  • Devido a colonização do continente americano pelos diversos povos, de diversas etnias, a formação do povo brasileiro ocorreu de forma miscigenada. Um dos povos tradicionais explorados no Brasil pelos conquistadores foram os de etnia africana, sendo utilizados em sua maioria como mão-de-obra escrava. Houve o surgimento dos quilombos, locais que abrigavam grupos populacionais formados pelos africanos escravizados e pelos seus descendentes. Os marcadores biológicos (miRNA) do câncer são utilizados com a finalidade de análise da expressão dos miRNAs. A pesquisa trata-se de estudo descritivo/quantitativo/qualitativo. A amostra foi constituída de 133 indivíduos remanescentes quilombolas e miscigenados residentes nas Comunidades Santana do Baixo, África, Conceição de Mirindeua, Moju-miri e Belém do Estado do Pará. A técnica de expressão foi realizada com um Real-Time System 7500 e ensaios usando sonda TaqMan miRNA (hsa-mir-375 e endógeno RNU6B) com o objetivo de buscar os níveis de expressão dos marcadores biológicos nas comunidades e associar com os fatores ambientais que podem influenciar nos níveis de expressão, além da análise da perspectiva antropológica dos povos quilombolas com o câncer, haja vista a necessidade informativa de como estes grupos étnicos enxergam e lidam com esta patologia. Os níveis do miRNA hsa-miR-375 apresentaram-se hiper-expressos em remanescentes quilombolas de ancestralidade africana com p=0,02 (IC de 95% 1,21-10,36), logo os resultados da pesquisa demonstraram que os fatores ambientais das comunidades remanescentes quilombolas quando associados aos fatores genéticos aumentam significativamente o risco de desenvolver a patologia do câncer. Portanto, as comunidades vulneráveis necessitam de um olhar mais específico voltado para a saúde com objetivo de prevenir diversos tipos de patologias que estão relacionadas ao modo de vida e a genética destes povos.

  • CRISTINA MARIA DUARTE VALENTE
  • Expressão de MicroRNAs em Tecidos Bucais sem Câncer e suas Implicações na Saúde

  • Data: 24/04/2017
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  • Os casos de câncer têm aumentado de maneira significativa em todo o mundo, configurando-se, na atualidade, como um dos mais importantes problemas de saúde pública mundial. No ano de 2016, espera-se que o Brasil registre 596.070 novos casos de câncer, dos quais 295.200 em homens, e 300.870 em mulheres. O câncer de cabeça e pescoço engloba um grupo heterogêneo de doenças que acometem o epitélio do trato digestivo superior dentre os quais, destaca-se o carcinoma de células escamosas oral (CCEO) ou câncer oral, que envolve lesões nos lábios, mucosa jugal, palato duro, assoalho bucal, língua, gengiva, região retromolar, e rebordo alveolar. O câncer oral atinge cerca de 90% das pessoas que fazem uso do tabaco e de igual forma os que ingerem bebidas alcoólicas, em torno de 75% a 80%. Indivíduos expostos aos raios solares por longos períodos de tempo, apresentam cerca de 30% mais chances de desenvolverem câncer nos lábios. Portanto, a identificação de fatores ou métodos de prevenção (como as moléculas de microRNAs), que auxiliem a observação dos riscos à carcinogênese, diagnóstico, e prognóstico são fundamentais. Os microRNAs são elementos envolvidos em processos cruciais dentro da célula, tais como diferenciação celular, proliferação, apoptose e contribuem nos mecanismos de oncogênese.

    O presente trabalho mensurou a associação do nível de expressão de microRNAs da família Let-7 (miR-Let-7c) com fatores ambientais e socioeconômicos de indivíduos residentes no município de Belém no Estado do Pará, em relação a susceptibilidade ao câncer. Um total de 100 indivíduos sem câncer foram caracterizados em relação a expressão do miR-Let-7c e comparados com um grupo de indivíduos com câncer oral analisados anteriormente pelo nosso grupo. Os resultados desta análise não demonstraram diferenças estatísticas significativas entre os grupos estudados, sendo as médias obtidas para os usuários oriundos do setor particular de 1,3113555 de do serviço público de 1,02328733 (N=100; p=0,3897). Existe ainda uma infinidade de biomarcadores que podem ser explorados pela ciência, sempre na intenção de se encontrar meios que possam resultar em diagnósticos precoces, evitando com isso as consequências severas que o câncer provoca na vida das pessoas.

  • ELANE DE FARIAS PANTOJA
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    Transgressões do Feminino: entrelaçando emoções, desejos e escolhas

  • Data: 29/03/2017
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  • A presente dissertação de mestrado versa sobre relações afetivo-sexual entre mulheres. A pesquisa de campo foi realizada com oitos mulheres que moram na cidade de Belém-PA. O estudo insere-se nas áreas de sexualidade e gênero com a análise feita a luz da antropologia. Na pesquisa utilizou-se trajetórias de vida afetivo-sexual de mulheres que se relacionam com mulheres, em que seis das oitos mulheres não se autoidentificam como lésbicas, foi possível acompanhar etnograficamente com observação participante as narrativas que demostram possibilidades diversas de relacionar-se afetivo-sexualmente com mulheres, e como negociam a visibilização ou não das suas emoções, dos seus desejos e de suas escolhas ao vivenciarem relações homoerótica e assim viverem a sexualidade de forma plena. O campo da pesquisa aconteceu com pesquisas feitas em espaços públicos (bares), bem como no que reconhecemos como âmbito privado (residências). Respeitou-se autodefinição das entrevistadas no que se refere as identidades. Os capítulos deste trabalho apresentam as pesquisas de relevância e reconhecimento nacional; o campo e as interlocutoras, bem como, as experiências afetivo-sexual vivenciadas pelas entrevistadas e que foram conhecidas através das narrativas feitas pelas interlocutoras. É feita reflexão sobre as formas com que as entrevistadas se relacionam com homens e com mulheres. E ao final percebeu-se que para estas mulheres relacionar-se com mulheres não representa um comportamento abjeto, mas apenas uma possibilidade de relacionamento dentro de um contexto da diversidade sexual. Para além da produção de uma dissertação como requisito para obtenção do título de mestre, a pesquisa e conclusão deste trabalho permite que se faça uma revisão nas possibilidades e expectativas que são criadas a partir de normas sociais construídas apoiando-se em ideias binárias alicerçadas na heteronorma. 

  • WILLIAM CESAR LOPES DOMINGUES
  • Cachaça, Concreto e Sangue! Saúde, Alcoolismo e Violência: Povos Indígenas no Contexto da Hidrelétrica de Belo Monte

  • Data: 28/03/2017
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  • O objetivo da dissertação é discorrer desde a perspectiva dos povos indígenas – sociedades indígenas do Médio Xingu –  acerca da construção da Hidrelétrica de Belo Monte  analisando os efeitos sociais que implicaram em agravos à saúde das pessoas indígenas, pelo barramento do rio sagrado da cosmologia xinguense, dado o uso abusivo de álcool e de um “renovado” processo de múltiplas violências contra os povos indígenas inaugurado pelo depósito do concreto que encerra o sangue dos parentes gerado pelas violações, suicídio e intensificação do racismo capturados nas malhas da hidrelétrica que desrespeitou os direitos étnicos resguardados pela legislação nacional e internacional.

  • CAYO CEZAR DE FARIAS CRUZ
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    Bares, ruas e cadeias: uma etnografia da violência em Caxias, Maranhão

  • Data: 28/03/2017
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  • Esse trabalho trata-se de uma etnografia sobre práticas de violência, construído na cidade de Caxias, no estado do Maranhão. Divida em quatro partes, essa dissertação ocupa-se, primeiramente, em situar o leitor na metodologia construída durante essa pesquisa; a isso coube a parte da introdução, seguida de uma apresentação da cidade sobre a qual esse trabalho foi escrito, bem como seu bairro, Maioba, que ocupa uma posição privilegiada e imprescindível nas discussões e análises que permeiam todo o texto, entrementes, bares, jogos e conversas de esquina são constituídas como importantes campos de significados sobre o bairro, o estado, a violência e duas categorias amalgamadas e estruturantes de todo o esforço intelectual desse capítulo e frequentemente acionada nas formas nativas de se ―viver a cidadania‖: trabalhador e vagabundo. Na terceira parte, são apresentados os interlocutores dessa pesquisa, a cadeia e duas categorias estruturantes da vida carcerária e do capítulo em questão: sujeito-homem e comédia. A forma como o crime é considerado um importante atributo do gênero masculino, como o crime se relaciona com formas diferentes de se viver a vida carcerária, os limites e o risco de não ser considerado sujeito-homem pela maioria. Na quarta e última parte, são delineados os elementos principais para uma interação sem risco no convívio, a forma como o espaço das celas participa da interação como importante marcador de tempo e prestígio, além de serem discutidas as categorias nativas utilizadas para representar tais espaços, como o boi, o café e a praia. E por último, será analisada a forma como as conversas, as coisas e o olhar têm parte importante nas interações construídas na vida carcerária. 

  • CRISTINA MARIA AREDA OSHAI
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    “Não é só médico que cura, não é só a Medicina que cura”: perspectivas sobre saúde entre Coletivos Quilombolas no Marajó – Pará/Brasil

     

  • Data: 27/03/2017
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  • A tese apresenta os resultados de um estudo realizado com coletivos quilombolas de Salvaterra, Ilha de Marajó, cujo objetivo foi compreender como sujeitos quilombolas têm cuidado da saúde. Publicações sobre saúde da população negra e, em número mais escasso, sobre quilombolas, indicam inúmeras dificuldades de acesso ao Sistema Único de Saúde, oficial no país. Experiências empíricas junto a esses coletivos permitiram a constatação de dificuldades de acesso, mas também a identificação de práticas terapêuticas locais, como o uso de plantas e produtos de origem animal, práticas de benzeção e técnicas de manipulação corporal, desenvolvidas por benzedeiras, parteiras, curandeiros (pajés), entre outros(as) especialistas. Por esta razão foi elaborada a tese: o Sistema de Saúde Local tem primazia sobre o Sistema de Saúde Oficial, não apenas pelas facilidades de acesso, mas acima de tudo pelas afinidades socioculturais entre os sujeitos envolvidos e identificação com as práticas terapêuticas. O método comparativo propiciou o movimento entre sete comunidades quilombolas e favoreceu a construção de um conjunto de conhecimentos que integram não apenas semelhanças, mas também variedade. Semelhanças foram identificadas nas noções de saúde que combinam dimensões espiritual, psicossocial, socioambiental e biológica, geralmente, não consideradas no Sistema de Saúde Oficial, que se orienta em torno da dimensão biológica. Na percepção dos sujeitos quilombolas, para ter saúde é preciso ter alimentação saudável e direito ao território, se prevenir “das coisas ruins” e assim cuidar do espírito, respeitar os seres vivos em roupagens humanas ou não, e cuidar do ambiente. A semelhança entre as noções de saúde, no entanto, não geram padrão comportamental idêntico nos itinerários terapêuticos. Estes são influenciados também por experiências de vida, vínculos religiosos ou denominacionais e pelas percepções sobre a resolutividade dos sistemas de saúde, avaliada com base no poder dos conhecimentos, local e científico, que subsidiam os sistemas. Foram identificadas seis tendências comportamentais distintas, mas em todas elas o itinerário terapêutico se inicia no âmbito do Sistema de Saúde Local, sendo o Sistema Oficial procurado em caráter complementar. Em todas as circunstâncias foram mantidos os vínculos com o Sistema Local, independente de se ter acesso ou não ao sistema oficial, confirmando assim a tese elaborada. Contudo a questão do acesso não pode ser desprezada, pois ao contrário do Sistema de Saúde Local, no qual os recursos terapêuticos estão à porta de casa, para buscar o Sistema de Saúde Oficial, quando se faz necessário, “tem que ter muito estômago”. 

  • ESTER PAIXAO CORREA
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    Pérolas do Caeté: a dança das Marujas de São Benedito de Bragança-Pa

  • Data: 20/03/2017
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  • O presente trabalho é resultado de uma pesquisa sobre Marujada de Bragança, uma manifestação cultural e religiosa que é parte importante da Festa de São Benedito, que ocorre em Bragança-Pará. Através da análise dos rituais que compõem essa extraordinária festa, que se configura culturalmente como um universo de significados como pensando por Geertz (2008), realizo um recorte do ritual da Marujada, um dos mais importantes da festa, para pensar a identidade das mulheres marujas de São Benedito. O objetivo  foi analisar as concepções dessas mulheres, identificar as hierarquias e a dimensão política de sua participação neste ritual, refletindo sobre o lugar que as mulheres ocupam na festa de São Benedito. A análise está baseada na noção de ritual como abordado por Edmund Leach (1996) e Victor Turner (2005), em teorias sobre a questão das identidades, considerando-as como fluídas e construídas historicamente, situando ainda nesse diálogo o lugar que a festa ocupa na sociedade e o lugar que as mulheres ocupam nessas festas, especialmente na Marujada. A pesquisa concluiu que as marujas estiveram historicamente envolvidas com a organização e produção da Marujada, participando politicamente e também no ritual, no qual “não falham” com São Benedito.

  • EVERALDO DOS SANTOS JUNIOR
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    Objetos sobre vidro lascado em contexto de Senzala na Amazônia Oriental Brasileira: uma proposta metodológica de macro e microanálise

  • Data: 14/03/2017
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  • Esta pesquisa trata da análise de trinta objetos sobre vidro lascado recuperados em escavações feitas no sítio arqueológico histórico Engenho do Murutucu, localizado no bairro do Curió-Utinga, município de Belém, Pará. Esse sítio segundo a documentação foi erguido no início do século XVIII e está ligado ao contexto da escravidão africana na Amazônia. A análise baseou nos preceitos da abordagem tecnofuncional, entendo os objetos lascados como entidades mistas e decorrentes de um saber-fazer tradicional. Como complemento foi desenvolvido um trabalho experimental com garrafas de vidro perpassando três etapas, tais como, fragmentação aleatória, pisoteio, confecção de exemplares de objetos sobre vidro lascado e uso. A união dessas duas metodologias foi escolhida diante da problemática de identificação desses objetos no registro arqueológico de sítios históricos, quando o investimento técnico dispensado por um artesão durante a confecção de objetos lascados é, às vezes, interpretado com causalidades de fatores não humano.  O objetivo dessa pesquisa consistiu dessa forma na construção de um quadro metodológico, capaz de oferecer suporte na identificação de objetos sobre vidro lascado no registro arqueológico de outros sítios históricos no Brasil.

  • THAYANNE TAVARES FREITAS

  • Pintando com elas: uma etnografia a partir do coletivo de graffiti Freedas Crew

  • Data: 09/03/2017
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    Esta dissertação é uma etnografia realizada a partir de um coletivo de graffiti chamado Freedas Crew. Esta crew é formada por quatro mulheres e um homem trans que, após frequentarem uma oficina de graffiti só para mulheres, idealizada por Michelle Cunha (artista visual e grafiteira), resolveram criar um coletivo capaz de fazer intervenções artísticas na Grande Belém. O objetivo deste estudo é apresentar como um coletivo de mulheres e pessoa trans se organiza e se relaciona em um cenário que privilegia a presença masculina, assim como externar quais aprendizados circundam esta prática coletiva.  O campo de pesquisa, logo nas primeiras aproximações, se revelou fértil e generoso. Por meio da oficina, me foi possível adentrar neste universo do graffiti não só como pesquisadora, mas também como aprendiz dessa arte. Sendo assim, me apropriei da experimentação como caminho a ser traçado nesta investigação, atrelando conhecimento teórico simultaneamente ao aprendizado das inúmeras técnicas e moralidades que envolvem o graffiti. Esta arte, como os demais elementos do movimento hip hop, também protagoniza a presença masculina em detrimento da feminina. Diante disso, não só a experimentação foi direcionada pelo campo, mas a questão de gênero também se mostrou latente. Além da experimentação vivenciada com as integrantes do coletivo e a cena de graffiti, foram realizadas algumas entrevistas que trouxeram novos elementos de análise. 

  • HAIENY NAZARE REIS SANTOS
  • Modos de perceber e representar o ambiente e o espaço no ensino de Geografia realizado por Professores Indígenas Tembé da Aldeia Cajueiro - Paragominas - PA

  • Data: 06/03/2017
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  • O trabalho analisa as práticas educativas dos professores indígenas Tembé da aldeia Cajueiro, localizada na Terra indígena Alto Rio Guamá, município de Paragominas, no ensino da disciplina Geografia, no contexto da Escola Municipal Maria Francisca Tembé . A pesquisa buscou compreender como se dá a articulação entre a educação escolar indígena e as práticas educativas presentes nos processos de transferência de saberes, que caracterizam a educação indígena que é realizada pelos moradores da aldeia. Para isso, buscou-se compreender como os moradores percebem o espaço geográfico, a concepção sobre o território e os vários sentidos que estes possuem; sua cosmografia que inclui o mundo material, seres da natureza e também o mundo espiritual, onde a agência de seres extra-humanos é considerada na delimitação das fronteiras do território e dos espaços de atuação. O conhecimento desses diferentes espaços, e da agencia desses diferentes seres alterando e delimitando fronteiras, foi importante para compreender as percepções sobre o ambientes e formas de interação com a natureza, e como tudo isso é representado e adaptado no ensino da Geografia realizada em sala de aula. A pesquisa foi realizada com utilização de vários métodos para a coleta dos dados, que inclui a observação participante, realização de entrevistas e metodologias participativas, como a elaboração de mapas, e observação das práticas educativas dos professores dentro e fora da escola. A pesquisa permite concluir que a educação escolar indígena não pode ocorrer sem a participação de todos os membros da comunidade, e sem levar em consideração o conhecimento e respeito às categorias e conceitos locais. Ou seja, é necessário compreender categorias e conceitos Tembé que configuram sua geografia, para perceber como são utilizados no processo educativo que ocorre no espaço da escola, que é realizado pelos professores indígenas. 

  • ROSANI DE FATIMA FERNANDES
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    Na educação continua do mesmo jeito: retomando os fios da história Tembé Tenetehara de Santa Maria do Pará

  • Data: 03/03/2017
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  • O trabalho discute a saga dos Tembé Tenetehara das aldeias Jeju e Areal que se autodeterminam “de Santa Maria do Pará”, submetidos à catequese e civilização pelos Freis Capuchinhos Lombardos da Missão do Norte, em parceira com o Governo do Pará no final do século XIX. O cerco empreendido aos Tembé por meio do Programa de Civilização mascarava a prática do etnocídio pelo sequestro e enclausuramento das crianças para fins de cristianização, pelo estímulo aos casamentos interétnicos e entrega do território ancestral aos imigrantes nordestinos e europeus que atraiam para o desenvolvimento à região nordeste paraense. As relações estabelecidas foram caracterizadas pelos conflitos – abertos e velados – e pela resistência indígena, que compreendia o silenciamento proposital para continuar existindo. Depois de um século “em suspenso”, os Tembé ressurgem etnicamente como povo, se organizam social e politicamente em torno da Associação Indígena Tembé de Santa Maria do Pará (AITESAMPA) e passam a reivindicar o reconhecimento étnico, a demarcação da terra tradicional e o acesso às políticas específicas de saúde, educação e sustentabilidade. Por meio de memórias e narrativas fazem o “caminho da volta”, escrevem a própria história e contestam os documentos oficiais que produziram apagamentos étnicos. Como desafio, a superação das negativas do Estado, o preconceito e a discriminação que marcam historicamente a relação com os regionais e com as instituições, com destaque para a escola que continua produzindo apagamentos que levam à exclusão. Como nas histórias repassadas de geração a geração sobre os animais que buscam seus pais e avós, os Tembé prosseguem na saga, buscando não mais os pais ou as mães desaparecidas na disputa, mas parecerias para fortalecer a luta e requerer direitos sistematicamente negados.

  • RHUAN CARLOS DOS SANTOS LOPES
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    Tempos, Espaços e Cultura Material na Vila Santo Antônio do Prata, Pará – Arqueologia em uma Instituição Total Amazônica

  • Data: 02/03/2017
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  • A atual Vila Santo Antônio do Prata foi erguida sobre o território tradicional dos Tembé/Tenetehara, no nordeste do estado do Pará. Com fins civilizacionais, criou-se um Núcleo Colonial, associado a dois Educandários, com foco nas crianças indígenas. Anos depois, estas instituições foram substituídas por um Centro Correcional e, em seguida, por um Leprosário. Esta tese analisa a conformação da paisagem da Vila do Prata, a partir dos seus remanescentes materiais (edificações e objetos), das narrativas Tembé/Tenetehara e de ex-internos hansenianos, tendo em vista os diversos períodos de sua constituição histórica. Considerando a sua instalação, as diferentes apropriações das edificações, usos do local no último século e com base na cultura material, busco compreender como a paisagem construída incorporava ao longo do tempo as estratégias de controle aos quais seus moradores foram submetidos. Além disso, analiso as formas de reapropriação da paisagem pelos agentes alvos dessas estratégias de controle.

2016
Descrição
  • SILVIA MARGARITA REYES COREA
  • A Serviço da Santa: Uma Etnografia dos Guardas de Nossa Senhora de Nazaré

  • Data: 20/12/2016
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  • Este trabalho analisa a devoção manifestada pelos Guardas de Nossa Senhora de Nazaré, grupo de homens brasileiros católicos que de forma voluntaria se sentem consagrados a esse trabalho santo. Ao mesmo tempo se analisa a devoção como geradora de capital de prestígio, pois é a partir dela que se revela a competição passiva entre os atores envolvidos nas celebrações em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré. As análises estão baseadas nas premissas de Georg Simmel e Pierre Bourdieu, que além de serem subsídios teóricos para a pesquisa, fornecem possibilidades teórico-metodológicas para a aplicação de procedimentos convencionais da prática etnográfica, no sentido de construir junto com os sujeitos pesquisados dados qualitativos que permitam conhecer as formas de interação social nas ações microscópicas devocionais.

  • ELIANE DA SILVA SOUSA FARIA
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    VIAGEM ETNO-HISTÓRICA E ARQUEOLÓGICA AO MÉDIO XINGU: Memória e História Indígena na Amazônia"

  • Data: 28/11/2016
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  • Os povos indígenas do médio rio Xingu já se encontravam em processo de mudanças culturais em decorrência dos contatos multiétnicos antes mesmo da invasão portuguesa da Amazônia. Com base nessa ideia, e tendo por estudo de caso a ocupação do sítio arqueológico Praia do Pepino, localizado na cidade de Altamira-PA, o trabalho analisa, em uma perspectiva comparativa de longa duração, as transformações sociais e culturais ocorridas no período colonial e pós-colonial com os povos indígenas e como esses povos responderam ao contato com europeus, missionários e diversos outros projetos de exploração da região ao longo dos séculos. Além desses aspectos, a partir de um diálogo com a etnografia, são analisadas as narrativas dos indígenas das etnias Xipaya e Kuruaya que vivem na cidade, assim como os relatos de cronistas e viajantes, dos séculos XVIII e XIX, sobre o local onde hoje é sítio arqueológico “Praia do Pepino”, os quais indicam que, no período pré-colonial, o local era uma aldeia indígena e, durante a colonização portuguesa da Amazônia, tornou-se uma missão de padres da Companhia de Jesus chamada “Tavaquara”, para onde foram descidos indígenas das etnias Xipaya, Kuruaya e Juruna, embora não seja possível indicar com precisão a extensão da Missão. A partir das narrativas, são discutidos os significados atribuídos pelos Xipaya e Kuruaya ao sítio arqueológico no processo de afirmação da identidade étnica e luta por território


  • LILIAN CASTELO BRANCO DE LIMA
  • Maricota Apinajé: Uma Mulher-Patrimônio em Tramas de Saberes 

  • Data: 16/11/2016
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  • Este trabalho envereda-se pelos caminhos apinajé. Etnia que pertence ao tronco linguístico Macro-Jê e habita o norte do estado do Tocantins. Esse grupo indígena se organiza em 35 aldeias que formam a Terra Indígena Apinajé, demarcada e homologada pelo governo brasileiro. Por esse mundo, que antropólogos como Roberto DaMatta (1976) denominam como dividido, busco analisar seus patrimônios culturais (Gallois 2006; UNESCO 2006), com base nas histórias auscultadas e nas sensibilidades ouvidas/sentidas/vivenciadas. Vozes que apontam Maricota como um patrimônio apinajé, por isso, o foco é direcionado para essa importante representante da tradição de seu povo. Para tal, sigo os caminhos da História Oral, observando as pistas de Alessandro Portelli (1997a; 1997b; 2010), conduzida pelas ideias dos intelectuais da Memória Social, para a construção de uma etnobiografia (Gonçalves; Marques; Cardoso 2012) de Maricota. Observo neste trabalho a interrelação entre memória, práticas culturais e patrimônio, em um exercício conduzido pelas orientações de Bronislaw Malinowski (1976) para uma etnografia do sensível, atenta para a simultaneidade das dimensões do material, da organização social, da linguagem e do simbolismo para analisar as práticas culturais desse povo. E as trilhas que percorri me levam a considerar que entre os Apinajé existem pessoas que materializam a tradição em seus corpos e assim são reconhecidas pelos demais indígenas da aldeia como um patrimônio, entre eles: Maricota se destaca pela participação efetiva na vida da comunidade e pelos saberes que detém e transmite. Dessa forma, com base neste trabalho, que parte do indivíduo para conhecer a sociedade, pude compreender aspectos relevantes do patrimônio cultural apinajé

  • MARIA ADELINA RODRIGUES DE FARIAS
  • ANTROPOLOGIA LINGUÍSTICA & ETNOGRAFIA TOPONÍMICA: Vivências e Narrativas em Territórios Socioculturais de Murinin-Benevides-Pará

  • Data: 06/10/2016
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  • A presente experiência trata da problematização acerca do significado dos nomes de lugares de circulação de pessoas, os topônimos, no município de Benevides, mais precisamente no bairro de Murinin. Os estudos toponímicos têm por escopo a depreensão do léxico de determinados territórios, tendo em vista a formação histórica e sociocultural do povo que aí habita, especificamente por intermédio dos nomes dados aos locais de circulação social, tais como ruas, hidrovias, bairros, cidades, etc., evidenciando tanto aspectos sincrônicos quanto diacrônicos dos falares. O estudo trava uma discussão sobre a construção da memória e da identidade toponímica desta localidade, demonstrando os valores atribuídos pelos interlocutores aos seus locais de nascimento e/ou moradia. A problematização está baseada na seguinte questão norteadora: Que relações de poder estão presentes na constituição dessa nominalização? Por esse motivo, considerei, para esta pesquisa, trabalhar com os pressupostos teóricos da Antropologia Pós-Colonial e dos estudos sobre Narrativas Orais. Assim, faço, em princípio, um levantamento formal, não fugindo em demasia da metodologia tradicional da pesquisa toponímica, mas considerando, nas entrevistas, também a toponímia alternativa, isto é, não oficial, vernacular, tentando motivar o interlocutor a buscar, em sua memória, a identidade de tal nome e sua relação com a vida dos que ali habitam/habitavam, seja do ponto de vista social, político, econômico, seja do religioso e familiar.

  • AMANDA GATINHO TEIXEIRA
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    CARTOGRAFIA DE JOIAS PARAENSES: Trajetórias, Saberes e Fazeres de Designers-Artistas do Polo Joalheiro em Belém do Pará

  • Data: 30/09/2016
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  • Nesta pesquisa abordo aspectos da joalheria paraense produzida, exposta e comercializada no Polo Joalheiro no município de Belém-PA, instalado no Espaço São José Liberto. Para mergulhar na produção dessas artes do corpo, carregadas de múltiplas significações ao longo de sua história, procuro acompanhar trajetórias, saberes e fazeres das designers-artistas Rosângela Gouvêa, Selma Montenegro, Barbara Müller, Lídia Abrahim e Clarisse Fonseca. Esforço-me por investigar produções em joias, por meio das histórias, cursos de formação, experiências de vida, influências diversas, exposições e premiações, bem como a construção das identidades dessas mulheres. O repertório criativo e compositivo das designers-artistas revela os mais variados temas, do regional amazônico ao tradicional universal, os quais são elaborados pelo uso de elementos simbólicos, materializados em suas produções. Para o alcance desse entendimento, exercito a experiência cartográfica em observações participantes, assim como a coleta de informações por meio dos processos de afloramento de memórias pessoais, profissionais e sociais. A fundamentação teórica versa sobre as premissas da Antropologia Pós-Moderna e da História Oral em diálogo com os Estudos Pós-coloniais. Dessa forma, ressalto que estas mulheres elegeram o universo das joias como linguagem para expressar a afetação social e suas próprias histórias de vida. Com isso, tornaram suas produções artísticas em verdadeiros exercícios autobiográficos os quais geram outras narrativas e alegorias.

  • MAIRA SANTANA AIROZA
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    Sítio arqueológico, turismo e comunidade local: reflexões a partir do olhar dos moradores da vila de Joanes – Ilha do Marajó/Amazônia.

  • Data: 30/09/2016
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  •  A expansão do setor turístico, assim como a comercialização do passado, traz novos desafios para a Arqueologia. Esta dissertação permite o olhar sobre algo que está presente e influenciando as formas como a comunidade e o sítio se relacionam através do turismo. A vila de Joanes é um destino turístico muito frequentado por turistas brasileiros e estrangeiros, e durante as férias e os feriados prolongados os moradores ainda recebem familiares e amigos em suas casas, chegando a quadruplicar o número de pessoas na vila. O Sítio de Joanes (PA-JO-46) compõe a paisagem cultural desta pequena comunidade. No local há as ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, além de fragmentos de metais, louças, ossos e cerâmicas, que indicam ocupação pré-colonial existente antes do estabelecimento de uma missão religiosa em Joanes. A partir de um diálogo interdisciplinar entre Antropologia, Arqueologia e Turismo, esta pesquisa busca compreender a dinâmica do turismo na vila de Joanes; identificar as influências do turismo na vila, na compreensão dos joanenses e entender como o sítio é incorporado pelo turismo local. Com base nas narrativas dos joanenses foi possível refletir sobre as relações estabelecidas entre os moradores, o sítio de Joanes e as práticas turísticas, assim como os usos que os sítios arqueológicos assumem em contextos turísticos.

  • LIGIA AMARAL FILGUEIRAS
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    CRIANÇAS RIBEIRINHAS E QUILOMBOLAS DA AMAZÔNIA: Crescimento, Determinantes Sociais de Saúde e Políticas Públicas. 

  • Data: 29/09/2016
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  • A Amazônia representa mais da metade das florestas tropicais do planeta e tem a maior biodiversidade do mundo, porém continua sofrendo graves problemas ambientais devido à exploração ilegal de seus recursos. As populações humanas que vivem nessas áreas são grupos indígenas e não-indígenas, em grande parte camponesas, com intensa miscigenação entre brancos colonizadores, a população nativa indígena e os africanos que vieram como escravizados. São pequenos produtores, que dependem e conhecem profundamente a natureza e seus ciclos e utilizam tecnologia relativamente simples, impactando pouco o ambiente. Essas populações que vivem nas áreas rurais são consideradas vulnerabilizadas, especialmente as crianças. Este estudo teve como objetivo conhecer a situação da saúde das crianças de três grupos populacionais da Amazônia: Floresta Nacional de Caxiuanã (PA), na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM) e de sete comunidades Quilombolas do Estado do Pará (África/Laranjituba, Santo Antônio, Mangueiras, Mola, Oriximiná, Trombetas e Abacatal). Foram analisadas 990 crianças de 0 a 9 anos de idade em comparação com os parâmetros da OMS de 008 a 2015. Constatou-se que as crianças de Caxiuanã estão em déficit de altura/idade (26,15%), bem como as crianças de Mamirauá (17,9%), enquanto entre as quilombolas a situação mais grave foi na comunidade do Mola (35,72%). A diferença entre elas foi significativa (p = 0,018) e o Teste de Tukey indica que as crianças de Caxiuanã estão em pior situação com relação a peso/idade. Em geral, todas as comunidades carecem de saneamento ambiental, água encanada vivem em habitações precárias, sem banheiro ou sanitário interno, o que influencia nos altos níveis de parasitismo intestinal, infecções de pele e outras doenças. O acesso à serviços de saúde geralmente é difícil devido às distâncias entre as casas e os centros de saúde, já que na maioria das vezes o transporte é precário. A região Amazônica é vasta e de difícil gerenciamento, porém se não houver sérias melhorias em políticas públicas, em todos os setores, as crianças das áreas rurais ainda permanecerão distantes dos parâmetros de crescimento internacionais em pleno século 21. Portanto, torna-se necessário que sejam desenvolvidos melhores programas de saúde pública para a região Amazônia, que se reflitam em melhor qualidade de crescimento e saúde da população.

  • EDMIR AMANJÁS CELESTINO
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    ETNOGRAFIA DO CONFLITO FALADO: O DISCURSO DE AGENTES SOCIAIS SOBRE O CONFLITO VIVIDO E FALADO EM CACHOEIRA DO ARARI, ARQUIPÉLAGO DO MARAJÓ, PA.

  • Data: 26/09/2016
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  • O trabalho aqui apresentado é resultado de uma pesquisa para obtenção do grau de mestre em Antropologia – PPGA/UFPA, elaborado a partir de pesquisas documentais, orientações e do trabalho de campo. Objetivou-se nesta investigação a compreensão das estruturas de dominação, relações de poder e resistência, visibilizadas em situações de conflitos entre sujeitos de uma categoria dominante (fazendeiros) e grupos subordinados (quilombolas), em torno de conflitos quanto ao uso e ocupação de terras, nos quais se manifestam questões e posições divergentes em torno da concepção do território, destacando-se os sistemas de uso comum, envolvendo principalmente o extrativismo de espécies vegetais (açaizais e florestas) e a exploração de recursos pesqueiros da várzea, mas também a livre passagem pelos atalhos, rios, igarapés, lagos ou por áreas alagadas; a existência de cercamentos com uso de eletricidade inclusive, limitando o acesso a cemitérios e campos de futebol; questões de conflito provocadas pela implementação de lavoura de arroz, vizinha ao território tradicionalmente ocupado e o estabelecimento uma área portuária dentro dos limites da comunidade, que está produzindo a contaminação de rios e igarapés pela utilização de agrotóxicos; e também pelos efeitos da criação bubalina, que provoca a destruição de plantações pelo gado dentro das roças dos quilombolas. Neste contexto, realizou-se uma etnografia do conflito falado e vivido, supondo que estes discursos se apresentam como eventos, reunindo um universo de significações culturais distintas quanto às formas e normas do uso do território, tradicionalmente ocupado pelos quilombolas, e de seus recursos naturais. Os eventos aqui considerados podem ser tomados como o espaço de um discurso público na acepção de James Scott (2004), que no livro “Los dominados y el arte de la resistencia" expõe que os dominados exercem uma dissidência marginal ao discurso oficial da relação de poder e elaboram formas de resistência silenciosa do discurso oculto, o qual é manifestação de sua insubordinação à dominação. Nos eventos examinados materializou-se o discurso público, que tem como base a apreensão e apropriação de direitos étnicos e territoriais. Legalmente os povos indígenas e tradicionais no Brasil têm feito uso de dispositivos como o artigo 231 da Constituição Federal, o Artigo 68 das ADCT e dos Decretos 4887 de 2003 e Decreto 6040 de fevereiro de 2007 e acima de tudo a Convenção 169 da OIT como instrumentos de luta.

  • PÉROLA NEGRA GUIMARÃES DOS SANTOS
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    O Dilema Obstétrico: Aspectosevolutivos e Assistenciais

  • Data: 23/09/2016
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  • Em diversos países encontramos anualmente uma elevação nas taxas de cirurgias cesarianas com as mais variadas justificativas que podem ser associadas a esse aumento como fatores sociais, demográficos, culturais e econômicos das gestantes, associados à solicitação materna pelo tipo de parto e fatores relacionados ao modelo assistencial desenvolvido nesses países, o trabalho médico, suas preferências e de outros profissionais, interesses econômicos de todos os atores desse processo. Este estudo teve como objetivo analisar indicadores biológicos, anatomopatológicos e culturais relacionados à fatores de interrupção da gestação por cesárea, para a compreensão dos motivos da prevalência deste procedimento em um grupo de mulheres de Belém-PA. Os objetivos específicos foram revisar a literatura histórica da parturição e origem da Obstetrícia, analisar aspectos relacionados aos vários dilemas obstétricos existentes como fatores biomecânicos desde nossa ancestralidade, dilemas assistenciais na contemporaneidade e dilemas culturais do parto e analisar variáveis biológicas do feto e da mãe, as variáveis socioeconômicas e análise de correlação para indicação de nascimento cirúrgico. Este estudo foi retrospectivo com abordagem quantitativa e qualitativa, além de uma revisão da literatura nacional e internacional. O estudo foi feito de Agosto de 2015 a Agosto de 2016 na cidade de Belém no Estado do Pará, Brasil. Participaram 117 mulheres que frequentaram uma academia para gestantes e puérperas. Foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas e foram analisados os prontuários das pacientes, foi feita uma divisão dentre variáveis: sócio econômicas (renda familiar, profissão, credenciamento em plano de saúde privado), preferência por tipo de parto no período gestacional e análise do tipo de parto com suas justificativas declaradas pela mulher ou somadas à indicação de cesárea observada pela pesquisadora no momento do parto. O dilema evolutivo não pôde ser evidenciado nesse estudo, porém existem vários dilemas assistenciais relacionados à justificativas diversas para a realização do nascimento por cesariana.

  • DEYSE ELISA FRANÇA DA SILVA
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    Sobre as "pedras famosas de Calçoene": reflexões a partir da arqueologia etnográfica na Amazônia.

     

  • Data: 16/09/2016
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  • O objetivo do presente trabalho é discutir, na relação entre antropologia e arqueologia, sobre as representações que os grupos locais na Amazônia fazem de sítios arqueológicos. O objetivo é refletir a percepção e atitude que essas pessoas têm com os sítios arqueológicos em sua vida diária. O trabalho de campo foi feito em Calçoene, uma pequena cidade no estado do Amapá, mais especificamente com as pessoas que moram próximo a sítios arqueológicos. A aproximação entre Arqueologia e Etnografia abriu acesso a diferentes entendimentos sobre o passado e as representações contemporâneas acerca dos vestígios arqueológicos. Para isso, as narrativas e a história local foram recuperadas e analisadas para compreender os significados que os moradores locais dão para os sítios arqueológicos. Se concluiu que as narrativas têm diferentes concepções daquelas feitas pelo arqueólogo, entretanto, as perspectivas nativas contribuem para discutir a noção de patrimônio arqueológico.

  • FABRÍCIO COSTA FERREIRA
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    Desde que me entendi”. Tecendo saberes e fazeres relativos à louçada Comunidade quilombola do Maruanum, Amapá/AP 

     

  • Data: 08/09/2016
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  • A pesquisa procurou acompanhar os processos envolvidos na fabricação das louças de cerâmica características da comunidade do Maruanum no Amapá, uma comunidade de remanescentes de quilombos que se tornou conhecida pela produção de cerâmica. A proposta do trabalho foi acompanhar o dia-a-dia das louceiras não somente no processo de “tecer” a cerâmica, mas em seus afazeres cotidianos, entendendo que a louça cumpre o papel de marcador indentitário para elas e para a comunidade em geral. As regras do tecer a louça e as interdições relativas a esses fazeres foram analisadas tendo como base ontologias relacionais estabelecidas pelas louceiras com outros seres não humanos que habitam o mundo. Buscou-se, além da etnografia, uma aproximação arqueológica do presente, encarando as louças como faria um arqueólogo que se dedica a estudar a cultura material. Dada a escassez de trabalhos arqueológicos na Amazônia com populações afrodescendentes acredita-se que essa pesquisa venha a contribuir também para entender o registro arqueológico referente a essas comunidades.

     

  • JOHN FLETCHER COUSTON JUNIOR
  • “Arte Pará: uma Interpretação Antropológica e Visual”

  • Data: 31/08/2016
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  • Esta Tese de Doutorado apresenta uma leitura antropológica interpretativista e visual de 34 edições do Salão Arte Pará (1982-2015), evento competitivo de artes visuais o qual ocorre na cidade de Belém, Pará. Para tanto, foi analisada a base conceitual inicial do mesmo, como se deu o desenvolvimento, maturação e desconstrução desta base conceitual, para, então, entender em que medida a trajetória do Arte Pará reiterou, apenas em parte, um caráter político/ mosaico coerente de representatividades artísticas equitativas para a Região Amazônica. Além de fornecer alternativas de compreensão sobre regimes de historicidades próprios, com seu fluxo de visibilização de culturas, de suas autenticidades e vitalidades, este estudo fez uso, igualmente, de investigações etnográficas, ocorridas durante a montagem do Salão nos anos de 2012 a 2015, para coletivizar autorias, memórias, aproximar interlocutores, dilemas, modificações, todos presentes nos processos do Being There etnográfico. O aporte teórico buscou conversar diretamente com escritos de Clifford Geertz, fortalecido por focos de pensamentos advindos da antropologia clássica, da orientação Pós-Colonial/ Decolonial, da filosofia da arte e da antropologia Pós-Moderna, com ênfase em autores como Walter Mignolo, Inge Valencia, Adolfo Albán, Nestor Garcia Canclini, João de Jesus Paes Loureiro, Osmar Pinheiro Jr., Franz Boas, Claude Lévi-Strauss, Hal Foster, Roland Barthes, Jacques Rancière, Georges Didi-Huberman, José Guilherme Cantor Magnani, Raymond Williams, Pierre Bourdieu, Ernesto Laclau, Chantal Mouffe, James Clifford e Vincent Crapanzano. Com o intuito de expor um olhar mais crítico sobre nosso presente assimétrico, permeado por colonialismos internos e externos, transformações irregulares e velozes vivenciadas pelas sociedades, esta pesquisa visa a se alocar no entremeio de estruturas de sentimentos ambíguas para ensejar significações e energias específicas que confiram uma dimensão mais extensa à dinâmica geral da experiência humana.

  • CARLOS LOURENÇO DE ALMEIDA FILHO
  • O confronto entre conhecimentos Canela e ocidentais no âmbito do corpo forte

  • Data: 12/08/2016
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  • Esta dissertação analisa a construção da noção de saúde e doença pelos Canela. Este povo falante de língua classificada no tronco linguístico jê, vive, atualmente, na aldeia Escalvado. A partir do estabelecimento do contato com o mundo não indígena o surgimento de problemas que afetam diretamente a construção do que denominam de corpo forte (Amorim Oliveira 2008), implicou na necessidade da introdução de serviços biomédicos por meio de políticas governamentais elaboradas para atender os povos indígenas. Essas políticas indigenistas de saúde foram sendo reformuladas ao longo do tempo, contudo ainda não atendem as necessidades dos povos indígenas. A análise está baseada em pesquisa empírica junto a Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) que atua no Polo-Base de Barra do Corda, observando a forma de transmissão, assimilação e a significação de conceitos e práticas do sistema ocidental de saúde e qual os resultados deste processo. Este Polo, situado na cidade de Barra do Corda - MA, atua como referência ao atendimento de média e alta complexidade do povo Canela, uma zona de contato onde ocorrem confrontos, oposições e conflitos entre dois modelos distintos de se pensar a questão da saúde que ocorre por meio da intermedicalidade. Os atendimentos efetuados no Pólo-Base só levam em consideração os saberes biomédicos, pois o conhecimento adquirido sobre as práticas de cura Canela não é suficiente para possibilitar a utilização destas práticas de forma segura e responsável.

  • MARILUZIO ARAUJO MOREIRA DA SILVA
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    Ossos do ofício: Estudo acerca da Antropologia Forense no Estado do Pará entre 1999 e 2015

  • Data: 16/06/2016
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    Trata-se de um estudo acerca da Antropologia Forense no Estado do Pará no período de 1999 a 2015. A pesquisa foi realizada na Coordenação de Odontologia Legal e Antropologia Forense do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves no Estado do Pará. Foram analisados 124 laudos de pericias antropológicas de corpos completamente esqueletizado buscando identificar, a partir desses laudos, o percurso histórico e metodológico dessa área de atuação, identificando metodologias praticadas e o perfil bioantropológico do material periciado. Para contextualizar a Antropologia Forense Paraense no cenário nacional foi realizado um diagnóstico da situação da antropologia forense no Brasil através de aplicação de questionários enviados a todos as instituições periciais brasileiras. A Antropologia Forense no mundo todo tem sua história de desenvolvimento fortemente marcada por uma origem diretamente relacionada à Medicina Legal, ou a anatomistas, tendo os Estados Unidos como o principal Centro de pesquisas, seguido por alguns países da Europa e da América do Sul como, por exemplo, a Argentina. No Brasil a prática da Antropologia Forense, também remonta seu início à Medicina Legal e desenvolveu-se a partir do século XX, a propósito, vários autores consideram que a Antropologia Forense é na realidade uma das várias especialidades da Medicina Legal, todavia, nos Estados Unidos e na Europa a literatura tem demonstrado que a respectiva área na realidade tem se constituído como um campo de atuação extremamente interdisciplinar. Tal estudo torna-se relevante, na medida em que entender o percurso da Antropologia Forenses realizada no Pará, permite que se crie um ambiente de reflexões acerca das reais contribuições que esse campo de atuação tem proporcionado no esclarecimento de atos criminosos e dessa forma repensar políticas de fortalecimento, estratégias metodológicas, desenvolvimento de novas tecnologias com vistas a um maior desenvolvimento dessa área pericial.

  • ANNA BARBARA CARDOSO DA SILVA
  • Do luxo ao lixo: Um estudo arqueológico do material cerâmico dos bolsões do sítio Porto de Santarém, Baixo Amazonas.

  • Data: 10/05/2016
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  • O baixo Amazonas, e especialmente o município de Santarém-PA, vem sendo lócus de estudo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros há algumas décadas. Estes pesquisadores se debruçam sobre a arqueologia da região que é conhecida por suas peças feitas em cerâmica ou lítico com riquezas em detalhes decorativos. Segundo a etnohistória, o grupo indígena que ocupava a região entre os séculos XVI e XVII, eram os Tapajó, conhecido por sua característica guerreira, este grupo vivia na confluência dos rios Tapajós e Amazonas. As informações da etnohistória e os contextos arqueológicos têm possibilitado o entendimento da complexa organização social indígena na região, sugerindo a existência de um grande domínio Tapajó. Assim, este trabalho, tem como objetivo contribuir com esses estudos, tendo como lócus o sítio arqueológico Porto de Santarém, localizado na área urbana de Santarém, a pesquisa buscou interpretar uma feição peculiar encontrada nos sítios tapajônicos, os bolsõesBolsões são buracos no formato de sino invertido onde diversas vasilhas e objetos de cerâmica decorados, assim como líticos, carvão e outros vestígios são encontrados. Os estudiosos têm interpretado essas feições culturais como cerimoniais. Para discutir as hipóteses atuais sobre o significado dos bolsões, busquei investigar a cerâmica encontrada em três bolsões escavados no sítio arqueológico Porto de Santarém. As análises em laboratório dos fragmentos cerâmicos foi associada com as informações de campo, além das fontes etnohistóricas e etnográficas.

  • MONICA DO CORRAL VIEIRA
  • "Histórias Tembé: sobre narrativas e auto identificação"

  • Data: 09/05/2016
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  • RESUMO: 

    Este trabalho visa estudar as histórias presentes entre os Tembé de Santa Maria do Pará (mais especificamente das aldeias de Jeju e Areal), através da Antropologia e da Literatura, com o intuito de tentar compreendê-las como construção da Ciência do Concreto e também como ferramenta fortalecedora dos direitos indígenas. Os Tembé tem sido obrigados a conviver com centenas de famílias de posseiros em suas terras e sofrem os efeitos da atuação irregular de madeireiros, fazendeiros e empresários, entretanto, longe de conformarem-se com essa situação, o povo Tembé tem lutado pela desocupação de seu território e reivindicado seus direitos junto aos órgãos públicos e poderes locais. Justifico minha escolha nesta pesquisa, portanto, com o intuito de agregar conhecimento a esta área, a qual visa aprofundar conhecimento no que tange às narrativas orais, ao simbólico, mas também à Ciência do Concreto e aos direitos indígenas.

  • FRANCILENE DE AGUIAR PARENTE
  • "Eles são indígenas e nós também": pertenças e identidades étnicas entre Xypaia e Kuruaya em Altamira/PA

  • Data: 29/03/2016
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  • Considerando que a identidade é auto-atribuída e hoje politicamente é reconhecida pela Carta Constitucional de 1988 e pela Convenção 169 da OIT, além de poder ser compreendida no campo relacional dentro da homogeneidade vivida e experimentada por povos indígena que há muito vivem “desaldeados” em cidades “indianizadas” como no caso de Altamira no Pará. A proposta busca compreender as diferenças e a contrastividade das pertenças e identidades étnicas de povos indígenas, que são chamados, considerados e/ou reconhecidos (embora sob forma de negar a condição de ser indígena) como “ressurgidos”, “resistentes” ou mesmo não-indígenas, na cidade de Altamira/PA, buscando apropriar-se da construção das identidades étnicas em relação às demais etnias, que permanecem nas aldeias ou não; e ainda em relação aos não-indígenas. A discussão e investigação do tema torna-se importante na calha do Rio Xingu por conta das movimentações políticas em face da implementação das obras de Belo Monte e pelo fato de indígenas dos povos xypaia e kuruaya estarem realizando formação escolar em nível superior a partir das políticas afirmativas, fato que produz marcas indeléveis nas histórias de luta e legitimação identitária dos povos indígenas, que se organizaram em torno do sangue e da memória dos mais velhos para elaboração das histórias indígenas e reafirmação das pertenças e identidades étnicas, marcando o processo de etnogêneses destes grupos étnicos na Amazônia brasileira.  

  • DIEGO ANDRÉS LÉON BLANCO
  • Relações coloniais e programas educativos como projetos políticos no contexto da comunidade Tikuna de Arara na Colômbia

  • Data: 28/03/2016
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  • Este estudo está dividido em três partes que se enlaçam entre si. A primeira pensa no contexto histórico do povo Tikuna na Alta Amazônia colombiana e suas fronteiras difusas com Brasil e Peru. Esta caracterização está delimitada ao redor das relações coloniais desiguais do poder, onde os Tikuna, sob sistema de exploração de recursos naturais e nos centros educativos como Escolas e internatos, ficam marginalizados diante das demandas de um projeto social hegemônico. Na segunda parte descreve-se, a partir de elementos etnográficos, a intervenção comercial e os programas de Governo que reproduzem o projeto hegemônico. Assim como os projetos educativos comunitários que resistem à hegemonia. Na terceira parte, estes marcos de análise dialogam com algumas das noções centrais da teoria crítica latino-americana como as de colonialidade do poder, do saber e a interculturalidade. Noções que, por um lado caracterizam um projeto eurocêntrico e, por outro, permitem pensar em alternativas para dialogar com outros projetos sociais, nos quais as organizações sociais são protagonistas.  

  • CAMILA DE FÁTIMA SIMÃO DE MOURA ALCANTARA

  • Ponto de Memória: experiências etnográficas no museu diferente de Terra Firme, Belém-Pa

  • Data: 04/03/2016
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  •  Essa pesquisa é uma etnografia sobre o processo de construção coletiva de um Museu Comunitário no bairro da Terra Firme, Belém-Pa. O bairro localizado na chamada “periferia” de Belém, começou a ser formado no fim dos anos de 1960, através de um processo de urbanização em terras da União destinadas à Universidade Federal do Pará. Devido o descaso do poder público, os moradores são motivados pelas suas necessidades a traçarem estratégias políticas a fim de garantirem direitos básicos, como saúde, educação e moradia digna. Em meio a esse processo, surge, em 2009, a iniciativa comunitária Ponto de Memória da Terra Firme que adota a museologia social como principal ação transformadora no bairro. Desse modo, procura-se compreender porque e para que serve um museu no bairro e qual a representação de museu proposta pelo Ponto de Memória da Terra Firme e, ainda, se o Ponto de Memória é um espaço de representação do morador. Por meio da teoria antropológica e do fazer etnográfico narro minhas vivências, percepções, impressões durante o convívio com os sujeitos do Ponto de Memória da Terra Firme, bem como recordando experiências vividas por mim em outros momentos com o grupo estudado do qual fiz parte como agente/sujeito. O Museu Comunitário nesse trabalho é um processo em construção de mobilização, identificação, ação e cidadania, na qual a comunidade se faz sujeito no ato de formular, executar e manter o museu, emanados a partir das perspectivas da museologia social partem de construções coletivas que utilizam de ações e atividades para a aproximação entre o museu e a comunidade representada.

2015
Descrição
  • PAULA FRANCINETE RAMOS
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    Cosplayers, Otakus e Lolitas: Etnografia de Corpo, Gênero e Performance no Universo da Cultura Pop Japonesa em Belém do Pará.”

  • Data: 26/11/2015
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    A proposta deste trabalho teve como conjectura fazer uma investigação etnográfica e bibliográfica sobre jovens mulheres que fazem parte de grupos vigentes á cultura pop japonesa, otakus, cosplayers e Lolitas, existentes na cidade de Belém do Pará. Trata-se de uma pesquisa feita com jovens que frequentam os eventos realizados na mesma cidade. O trabalho foi feito não somente com moças que frequentam, mas também com usuárias de cosplays, além daquelas que contribuem de forma administrativa para a realização dos eventos. E Teve como intuito analisar relações de corpo, gênero, sexualidade e performance a partir da perspectiva de uma micro sociedade urbana. 

  • ALMIRES MARTINS MACHADO
  • “De Sonhos ao Oguatá Guassu em busca da(s) Terra(s) Insenta(s) de Mal”

  • Data: 20/11/2015
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  • O presente estudo procura analisar sob as lentes da antropologia, a forma como as lideranças religiosas Mbya, cumprem os sonhos recebidos de Nhanderú Ete, iniciando a caminhada em direção a terra sem mal, a yvy marãe‟y; retornam ao local de ocupação antiga ou a indicada por Nhanderú, terra com a qual mantém laços históricos de luta. Os conflitos se intensificam com a demarcação/ampliação dos territórios ou de terra para o Guarani Mbya, como no caso do Pará, que andaram por cerca de cem anos até encontrar a terra onde exercitar o modo correto de se viver; o dissenso potencializa o etnocentrismo, a discriminação, o racismo, o estigma de ser índio, bugre, preguiçoso, alcoólatra, “raça inferior”. A pesquisa versa sobre o modo como "escolhem”, “adotam,” “retomam,” ressignificam, reterritorializam, guaranizam a terra onde pausaram a caminhada.

  • TELMA ELIANE GARCIA


  • Prazer e Padecer: alcoolização entre os Tembé-Tenetehara de Santa Maria

  • Data: 22/10/2015
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  • O consumo de bebidas alcoólicas adquire relevância crescente por tornar-se uma das principais causas de mortalidade entre os indígenas no Brasil. A produção científica sobre os modos de consumo de álcool entre os indígenas é insipiente, configurando-se insuficiente para dar sustentabilidade a políticas que privilegiem a diversidade cultural. Este estudo levantou esta questão emergente da ordenação social entre os Tembé Tentehara de Santa Maria do Pará, em uma perspectiva de interdisciplinaridade, conjugando as concepções da Teoria Compreensiva em abordagem hermenêutica e dialética com procedimentos metodológicos da Teoria da Comunicação. As várias situações e discursos analisados configuram uma polissemia de vozes e de sentires em ambiguidade que percorrem do encontro com o prazer, a resultância do sofrer. Um cruzamento interdisciplinar que triangulou os discursos elencados, os dados de um mapeamento em saúde e as observações dos efeitos biológicos, sociais e culturais dos regimes etílicos agenciados neste grupo, compôs a analise final. Apesar dos efeitos desastrosos resultantes do apagamento que o contato interético impôs aos Tembé Tenetehara de Santa Maria, a possibilidade de uma ‘resistência’ desenha atualmente, uma modalidade característica no processo de alcoolização neste grupo étnico, que de maneira geral,  convive com um relativo equilíbrio em suas formas de beber, não se referindo ao uso de bebidas alcoólicas como problemático para a comunidade, exceto para alguns indivíduos mais idosos e eventualmente para os jovens. Os padrões e carreiras alcoólicas criados em cada grupo étnico, induz a compreensão da cultura como algo que tanto condiciona, compele e constrange, quanto algo que se inventa, cria e se improvisa e que imprime a diversidade, caracterizando ‘o beber’ em cada grupo, única e diversa de qualquer outro.

  • LUIZA DE NAZARE MASTOP DE LIMA
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    Povos indígenas e agricultores familiares: a luta pela construção da identidade e da diversidade no Território Sudeste Paraense

  • Data: 16/10/2015
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  • Trata-se do estudo de processos de construção de identidade de povos indígenas e agricultores familiares, em particular do povo indígena Aikewára e dos agricultores do Projeto de Assentamento Belo Horizonte, que visam à garantia do lugar da diversidade em um território construído via políticas públicas universalizantes, e a partir do qual precisam interagir com agentes e agências governamentais e não-governamentais, para a garantia do direito à diferença. Discute-se: (1) as estratégias adotadas por esses grupos para manterem suas fronteiras enquanto grupos socialmente diferenciados; (2) as influências que o Estado e agentes de desenvolvimento exercem sobre esses grupos para a construção de suas identidades; (3) as possibilidades e os limites que ações públicas e privadas voltadas para o desenvolvimento dos grupos sociais pesquisados apresentam quanto à contemplação da diversidade na região. A perspectiva do etnodesenvolvimento é tomada no estudo como importante ferramenta para conhecimento e análise desses processos, uma vez que a diversidade no Território Sudeste Paraense é resultado da luta desses povos e comunidades, é feita por eles e para eles.

  • DIEGO BARROS FONSECA
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     Estudos de Práticas Funerárias no contexto Amazônico

  • Data: 09/10/2015
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  • Esta dissertação tem como intenção estudar as práticas mortuárias em contextos Amazônicos, levando em conta os aspectos referentes às práticas relacionadas à morte e ações mágico-religiosas das comunidades indígenas pretéritas da Amazônia, descrevendo dados referentes às escavações já realizadas para a área, assim como contribuindo para os debates sobre essas práticas na região de Itaituba, no Pará. Desta forma, pretende-se que os estudos sobre práticas funerárias na Amazônia tenham a mesma valorização que tem tido estudos sobre lítico e cerâmica, ou seja, deixar de ser um sub-ramo dos estudos arqueológicos e que passe a ser equivalente e acima de tudo pensado junto ás demais perspectivas de abordagem para qualquer sítio da Amazônia.

    O trabalho descreve o modo como as práticas funerárias eram percebidas desde a época do contato até o estabelecimento dos estudos direcionados à arqueologia da morte, para então estabelecer um protocolo para escavações em ambientes Amazônicos, em especial no Sítio Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, sendo estudo de caso a partir do qual se levanta uma série de dados sobre as práticas de sepultamentos para região.

  • EDILSON PANTOJA DA SILVA
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    Retratos do Outro.com: conectividade, visibilidade e existência na rede social.

  • Data: 29/09/2015
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  • A tecnologia das redes sociais da web permite que pessoas se conectem virtualmente a outras, que se comuniquem e se mostrem por imagens várias, mensagens textuais e interações diversas com tal intensidade e constância, que o ambiente virtual aí formado se constituiu extensão da vida social e cultural, a plasmar e potencializar novos modos de existência, nos quais a figura mais evidente, ante a qual todo o conjunto se personaliza, é a do indivíduo: centro das redes sociais, a narrar e representar a própria existência e concepção de mundo em primeira pessoa. Simultaneamente ao realce individual, porém, se dá uma fusão geral, tanto pela interconexão que dá corpo a uma comunidade biotecnológica planetária, quanto pela replicação de práticas culturais similares, fundadas em valores também gerais, dos quais a conectividade e a visibilidade estão entre os principais. Tal complexidade de fundo tem sido pouco considerada por críticos que denunciam o aspecto aparentemente supérfluo dessas redes, voltado, segundo tais críticas, apenas à autoexibição a qualquer custo, inclusive, da privacidade. A etnografia aqui desenvolvida considera essa complexidade em sua reticularidade mais ampla, a também contemplar fenômenos exteriores ao âmbito imediato das redes sociais, fenômenos de ordem mercadológica, tecnológica, publicitária e política, que permitiram melhor compreensão do movimento geral. Recorreu ainda a informações diacrônicas sobre a retratística e a busca de visibilidade tanto na tradição ocidental quanto fora dela, a fim de, por critérios comparativos, proporcionar visão ainda mais abrangente do fenômeno nas redes sociais. Tal compreensão, contudo, não se teria dado a contento sem o reconhecimento de um fundo existencial subjacente às práticas de visibilidade, as quais, se é verdade que fomentam uma espetacularização da individualidade, mediante a construção de idealizações, de outro lado denotam trágica relação com o Tempo. Mas, se a etnografia, enquanto texto analítico e interpretativo dessas práticas, tem a pretensão de ser, ela própria, um retrato-relato desse “outro” que aí se mostra, tal pretensão se torna, ela mesma, objeto de autoquestionamento cuja consequência é o reconhecimento de sua própria natureza conflituosa, dividida que se encontra entre motivações de ordem epistemológica, pelas quais tende a tomar o “outro” como objeto de análise, e o constrangimento ético, expressão da consciência de que este “outro” jamais pode ser reduzido a tal condição.

  • IBERÊ FERNANDO DE OLIVEIRA MARTINS
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    Arqueologia e Etnicidade na Amazônia Oriental:O caso do Engenho Murutucu em Belém do Pará. 

     

  • Data: 04/09/2015
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    O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados obtidos a partir da reflexão em torno dos vestígios cerâmicos provenientes do engenho Murutucu, localizado no perímetro urbano da Belém, Pará. O estudo tem início com a apresentação de alguns dados históricos a respeito da trajetória de ocupação oficial do engenho Murutucu e relata as pesquisas arqueológicas que já foram efetuadas no local. Após isso, discorremos os caminhos percorridos pela arqueologia, de seu início em antiquários até algumas abordagens mais recentes da arqueologia pós-processual, dando enfoque à arqueologia da escravidão, apresentamos também teorias que tratam da complexidade em torno dos conceitos de etnicidades e da análise dos vestígios cerâmicos existentes em ambientes de escravidão, refletindo em torno da dificuldade (ou até mesmo a real possibilidade) de identificar os grupos étnicos que a produziram, dentro dessa discussão são traçados os conceitos existentes em torno da colono-indian-ware norte-americana e as definições das duas categorias correlatadas no Brasil, a cerâmica Neobrasileira e a cerâmica de produção Local/Regional. A dissertação segue expondo o processo de análise dos vestígios cerâmicos e quais atributos foram utilizados, discorrendo em seguida os dados obtidos a partir da análise e a descrição dos resultados observados com base nas correlações entre as variáveis encontradas. Findando com a reflexão entre os resultados alcançados e a bibliografia existente, em uma tentativa de compreender o cotidiano dos grupos escravizados no engenho Murutucu.

  • ANA DEBORA DA SILVA LOPES
  • "A Cura que Vem da Natureza: Conhecimentos, Práticas e Apreensões da Biodiversidade por Beiradeiros da Estação Ecológica Terra do Meio, Amazônia Brasileira."

  • Data: 28/08/2015
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  • O resultado das relações entre o ambiente e as experiências vivenciadas pelos seres humanos têm sido associado ao aumento da diversidade biológica, pois para os povos tradicionais essa diversidade também é cultural e social, sendo as espécies objetos de conhecimento, de domesticação, uso e fonte de inspiração para mitos e rituais. Partindo do interesse sobre os conhecimentos, práticas e apreensões da biodiversidade como uma forma de evidenciar o pensamento selvagem, o presente estudo objetivou fazer uma primeira investigação sobre as práticas culturais e cosmologias inerentes as diferentes formas de apreensão dos animais, nos contextos medicinal e mágico-religioso, por beiradeiros que residem na Estação Ecológica Terra do Meio, Pará, Amazônia brasileira. Sendo o mesmo, desenvolvido na perspectiva da Etnoecologia e influenciado por autores como Tim Ingold, Victor Toledo, Naciso Barrera-Bassols, Antonio C. Diegues, Eduardo Viveiros de Castro, Marcel Mauss, Lévi-Strauss, além de outros que desenvolvem estudos enfocando a relação dos seres humanos e os animais. O estudo desenvolveu-se a partir de um enfoque etnográfico, com realização de trabalho de campo assentado no aspecto da etnografia como prática e experiência. Para a coleta de dados foram realizadas também entrevistas abertas com o uso de questionários semi-estruturados. A biodiversidade animal está inserida no cotidiano dos beiradeiros, tanto animais domésticos quanto os animais silvestres são usados no contexto medicinal e mágico-religioso, dos quais várias partes ou produtos podem servir como fonte de zooterápicos, além de fazerem parte do sistema simbólico local. 60 etnoespécies foram citadas na medicina tradicional local, distribuídas nas seguintes categorias taxonômicas: Invertebrados, Peixes, Anfíbios, Répteis, Aves e Mamíferos, as quais foram indicadas para tratar 55 problemas de saúde. São várias as relações que os beiradeiros têm com a fauna e estão imbuídas de simbolismo. Os bichos fazem parte do imaginário local, vão além de ser apenas recurso alimentar e medicinal, muitos são utilizados como indicadores ecológicos, como amuletos - estando relacionados às pessoas e aos objetos (de caça, por exemplo) - ou para dar proteção, sorte nos negócios e na caça, e ainda têm aqueles que são evitados por conta do seu poder de atrair má sorte, todos constituídos de significados indispensáveis na reprodução do modo de vida dos beiradeiros.

  • JOSELINE SIMONE BARRETO TRINDADE
  • “Lavrando a memória, cultivando a terra: o direito de dizer e fazer a roça no Quilombo do Curiaú-AP”

  • Data: 07/08/2015
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  • A tese aborda a temática dos conflitos socioambientais produzidos a partir da sobreposição de unidades de conservação (UCs) com as terras tradicionalmente ocupadas no Brasil, especificamente, as UCs que incidem sobre os territórios quilombolas, tomando-se como estudo de caso o conflito no Território Quilombola do Curiaú (TQC) e a gestão da Área de Proteção Ambiental do rio Curiaú (APA), no estado do Amapá, no período de 2011 a 2014. O objetivo da tese é problematizar como os instrumentos de gestão ambiental, a exemplo dos planos de manejo e das políticas de zoneamento, impactam as dinâmicas territoriais dos quilombolas. Metodologicamente foi realizada uma etnografia dos conflitos socioambientais a fim de explicitar as estratégias dos agentes sociais: agricultores quilombolas, instituições públicas e mediadores, no debate sobre as novas regras de uso do território com o advento da Unidade de Conservação de Uso Sustentável (UCUS), especificamente, para analisar de que forma a UC vem impactando o “fazer a roça” dos agricultores quilombolas do Curiaú, entendido como um “fenômeno social total”, abrangendo um complexo de relações sociais e expressão de diversidade cultural e territorial. As políticas de conservação ambiental não podem prescindir do entendimento das lógicas locais e de suas especificidades. Ao desconsiderar os aspectos dos laços sociais, da organização e dos sistemas simbólicos dos quilombolas, estes poderão ser desestruturados ou enfraquecidos. Ao criminalizar a atividade da roça, a gestão da APA poderá levar a uma desestruturação e impactar um modo de vida como um todo, pois o “fazer a roça” é um fator que agrupa diversas dimensões da vida da comunidade: religioso, econômico, ritual e os vínculos sociais. O conflito entre essas duas lógicas: a da “conservação sem sujeito” e a da prática secular do “fazer a roça” precisa ser visibilizado, para evitar-se que esse sistema desmorone de forma sutil em nome de uma pretensa defesa do “ambiente sem sujeito”.

  • HERMES DE SOUSA VERAS
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    O sacerdote e o aprendiz: etnografia, experiência e ritual em um terreiro de Mina Nagô na Amazônia

  • Data: 12/05/2015
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  • Essa pesquisa é uma etnografia do Terreiro de Mina Deus Esteja Contigo focada em seus rituais públicos e na trajetória do Sacerdote e fundador da casa, Álvaro Pizarro. Inventado em 1988, o terreiro está localizado na periferia da Grande Belém, município de Ananindeua. Procura descrever seus ritos, apre(e)nder com a experiência envolvida nessas manipulações de forças, contaminar o texto com a sabedoria do Sacerdote e atravessar o escrito com a perspectiva ritual dessas pessoas. A religião nesse trabalho é uma experiência e um conhecimento sobre o mundo, passível de ser sentido e fazer sentido. Portanto, as formas como essas pessoas classificam e experimentam o mundo exerce efeito tanto antes quanto depois do trabalho final, sendo este um fio condutor de suas intensidades. A estrutura do escrito foi uma negociação com o campo, escritas sobre eventos etnográficos vivenciados: experiências e rituais dialogam na trajetória de vida de Álvaro, constituem o terreiro, fazem fazer os ritos públicos e orientam a apreensão cosmológica de livros empreendida pelo Sacerdote da casa.    

  • CLARISSE CALLEGARI JACQUES
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    “Aqui já morou muita gente”. Arqueologia e prática de pesquisa na Comunidade Quilombola de Cinco Chagas do Matapi

     

  • Data: 01/04/2015
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  • A arqueologia, como uma ciência que investiga o comportamento humano em sociedade a partir de seus vestígios materiais, tem se deparado com situações em campo que questionam o entendimento desta disciplina como voltada somente para o passado. Enquanto uma prática social e política, em seu processo de produção de conhecimento, deparam-se com reações e situações que envolvem interesses de públicos diversos, que variam conforme o tempo e lugar da pesquisa. A presente pesquisa trata da temática da prática da arqueologia em comunidades locais, em especial a partir da experiência na Comunidade Quilombola de Cinco Chagas do Matapi, Amapá. Na interação com os interlocutores busco estabelecer através da prática etnográfica e de posturas reflexivas e colaborativas, pontos de convergência entre os interesses da comunidade e os meus. A identificação de vestígios na comunidade aponta para uma problematização da diversidade cultural no processo de ocupação da região, assim como traz à tona uma história local repleta de costumes e práticas contemporâneas. Através da materialidade, são objetificadas experiências e saberes que passaram através das gerações de familiares da comunidade e que podem ser percebidos no ambiente da casa de farinha, na história da igaçaba encontrada na roça de mandioca e na festividade de Santa Luzia. Em um exercício de identificação de lugares e vestígios em Cinco Chagas, mapeamos o território da comunidade recentemente reconhecido como território quilombola. Em meio a este processo, os vestígios materiais e a prática da arqueologia se envolvem em um movimento da comunidade pela luta por seus direitos e pelo diferencial enquanto comunidade na região do Rio Matapi.

  • THAMIRYS DI PAULA CASSIANO DE MATOS
  • Narrativas e saberes de curadores da Linha do Fundo 

  • Data: 31/03/2015
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  • Ao longo de sua formação histórica e sociocultural, o Arquipélago do Marajó constitui-se como importante território de crenças em saberes de cura que apresentam relações culturais entre humanos e sobrenaturais. Dentre estas crenças, encontramos da linha do fundo ou “pajelança cabocla”. Nesta dissertação, na linha dos teóricos da Antropologia das Religiões e dos Estudos Pós-Coloniais, orientada pelas vertentes metodológicas da etnografia e da história oral, o objetivo será dialogar sobre algumas das situações encontradas na pesquisa de dissertação desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA” UFPA), envolvendo os três temas- identidades, práticas de cura e cuidados com o corpo- relacionados ao que está sendo narrado nas histórias de vidas e experiências contadas por pajés em Soure e Salvaterra. A pluralidade de identificações para o que nos estudos antropológicos nomeamos como pajés, nas localidades em que percorremos, sofre variações e influências de hierarquias e identidades que constituem o extenso vocabulário da pajelança marajoara. Neste sentido, um pajé pode ser reconhecido por mestre, experiente ou sorijão, dentre outros nomes que variam de acordo com os dons, gênero e as práticas que eles executam. Conforme estudos realizados desde a década de 50 aos dias atuais, a literatura especializada indica que a categoria pajé se subdivide entre “pajés de nascença”, “pajés de agrado”, “pajés sacacas” e “meuans”, estas classificações ora, também, são ouvidas em campo, ora são percebidas de maneira implícita nas narrativas e eventos observados em conversas informais, entrevistas, depoimentos e sessões de cura, contudo, aperecem outras categorias nativas que destoam de outros paradigmas de análise. Para a cosmologia da pajelança marajoara investigada, a natureza é “a origem e o fim de todas as coisas”, a energia fundamental que guia o pajé e fonte de força e equilíbrio para o bem estar dos homens corporal e espiritualmente, é através dela e de suas entidades que os pajés retiram recursos e conhecimentos para o preparo de banhos, chás, defumações, rezas e outros métodos de cura e cuidado com o corpo, tanto dos pajés, quanto das pessoas atendidas por eles, que envolvem tanto conhecimentos tradicionais, como conhecimentos de usos farmacêuticos e termos da medicina erudita. O humano e o sobrenatural- entidades das águas, das matas, do ar e da terra- se comunicam e se manifestam em religiosidade e coletividade de vozes. Com isto, se problematizam questões referentes à sabedoria da pajelança lida pelo viés da “Insurreição dos Saberes”, da “Ecologia dos Saberes”, do tradicional e das tradições. Todos estes saberes geram informações que fomentam os debates a respeito das conexões e relações entre saberes tradicionais e saberes científicos, ligados a narrativas memoriais e experiências cotidianas que expressam modos específicos de como os praticantes da pajelança lidam com encantados, caruanas, espíritos, doenças, malefícios e incorporações, configurando um patrimônio material e imaterial de saberes e fazeres que influencie nas práticas religiosas vivenciadas na Amazônia Marajoara.

  • CLIVERSON GILVAN PESSOA DA SILVA
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    Os contextos arqueológicos e a variabilidade artefatual da ocupação Jatuarana no alto rio Madeira.

  • Data: 26/03/2015
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  • Nesta pesquisa, demonstra-se um panorama da ocupação indígena por povos ceramistas no alto rio Madeira e que tem por objetivo compreender os modos de vida das sociedades que habitaram esta área no período pré-colonial tardio. Uma revisão da arqueologia de Rondônia foi necessária para estabelecer alguns problemas relativos à Subtradição Jatuarana que incluem a variabilidade tecnológica, espacialidade e mudança cultural. A análise de dois contextos distintos, os sítios Ilha de Santo Antônio e Novo Engenho Velho, e a reconstituição de vasilhas cerâmicas da Subtradição Jatuarana, revelaram que o significado da variabilidade dos artefatos está associado a diferentes trajetórias históricas. Informações linguísticas e etnográficas são vantajosas na discussão arqueológica, especialmente relacionada à migração e expansão de grupos etnolinguísticos.

2014
Descrição
  • JERONIMO DA SILVA E SILVA
  • CARTOGRAFIA DE AFETOS NA ENCANTARIA: Narrativas de Mestre da Amazônia Bragantina

  • Data: 22/12/2014
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  • Neste texto objetivo compreender ritos de iniciação, in(corpo)ração e cura em memórias de exorcista, pajés e mães-de-santo na “Amazônia Bragantina”, nordeste do Pará. Com base na perspectiva metodológica da cartografia, ao cruzar vivências etnográficas orientado pela Antropologia Social, com narrativas orais sob o prisma dos Estudos Culturais e Pós-colonialismo, procuro interpretar experiências de trânsitos culturais de cearenses, maranhenses, piauienses e paraenses em “cosmologias de contato” de matrizes africanas e indígenas no interior de “terreiros” de mães de santo e pajés que cronologicamente reconstituem histórias compartilhadas a partir da década de 1950. O processo de “feitura”, “doutrina” e “viração” desses religiosos, além de fazer emergir lembranças que remontam histórias de vida e/ou experiências migratórias de tempos imemoriais e históricos, indicam a capacidade que seus corpos desempenham na arte de comunicação e cura agenciados pela intervenção de encantados do ar, água e floresta. A trajetória desses “guias” ou “lideranças religiosas” desvelam relações de tensa negociação na constituição de autoridade e aceitação social, permitindo, nesse sentido, apreender a matriz afroindígena como uma importante e significativa expressão do modo de viver na Amazônia.

  • MARCELO GOMES DE ALMEIDA
  • A Experiência do Programa Luz para Todos em Curralinho (Marajó-PA)

  • Data: 05/12/2014
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  • O presente trabalho tem como objetivo central analisar as práticas experienciadas pelos moradores da comunidade Antoni, no município de Curralinho, no arquipélago de Marajó, no Pará, com a energia elétrica a partir da implantação do referido programa nesse território marajoara em novembro de 2012. E, paralelo a isso, fazer uma análise dos discursos produzidos pelo Governo Federal acerca do Programa Luz para Todos. Partindo da compreensão de que ter acesso à política da energia elétrica é um direito social para famílias do meio rural que moram em locais afastados do perímetro urbano, a pesquisa ainda pretende identificar a relação dos moradores do Antoni com o Programa e as possíveis transformações socioculturais que podem ocorrer nessas comunidades a partir da implantação do programa. Para captar os discursos, temos rastreado documentos do Programa em sites oficiais, igualmente levantado informações sobre a temática em jornais da grande imprensa paraense. A base teórica que sustenta a interpretação das fontes de pesquisa centra-se nas interfaces de intelectuais dos Estudos Culturais e da Antropologia Social. Tal escolha permite realizar o cruzamento dos discursos governamentais com as práticas populares por meio da metodologia da Análise do Discurso e da experiência etnográfica com observações e entrevistas que começamos a realizar na comunidade.

  • ARENILDO DOS SANTOS SILVA
  • PELAS TRILHAS DOS FILHOS DO SOL E DA LUA: Memórias das Pinturas Rupestres de Monte Alegre, Pará,
    Amazônia, Brasil

  • Data: 14/10/2014
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  • O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre o conjunto de narrativas a cerca das pinturas rupestres da região das serras de Monte Alegre, Pará, na busca de compreender os significados que o patrimônio arqueológico assume no âmbito das relações sociais contemporâneas, em específico, aquelas construídas segundo a lógica de populações tradicionais. O estudo inicia com um diálogo histórico através das primeiras narrativas sobre estas imagens registradas por viajantes e naturalistas desde o século XIX, depois traz para discussão os trabalhos e conhecimentos produzidos pela ciência arqueológica nas últimas décadas, e por último, adiciona também as vozes de moradores da Vila do Ererê e arredores sobre estas iconografias. A dissertação se construiu a partir do interstício entre a Antropologia, Arqueologia e História, pois, as informações que subsidiaram a pesquisa foram obtidas através de relatos de viajantes, dos trabalhos de pesquisa arqueológica, de entrevistas, observação e do convívio com moradores da vila. O resultado é um emaranhado de vozes distintas que se tecem, cruzam e ecoam na formação de um caleidoscópio de narrativas compostas por fragmentos de mundos, pautados nas experiências, na relação com a vida social e o presente vivido. As trilhas percorridas apontam reflexões acerca da política do patrimônio na Amazônia, e mais amplamente ponderações da pesquisa tendo em vista uma práxis descolonial da ciência.

  • WLADIRSON RONNY DA SILVA CARDOSO
  • Para além da juventude – “antropologia da experiência” e do “modo de vida gay” de homossexuais masculinos em processo de envelhecência da cidade de Soure (Marajó/Pará)

  • Data: 25/09/2014
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  • Este trabalho pretende realizar uma etnografia das práticas e do modo de vida gay, objetivando discutir, em particular, os limites e fronteiras entre a temática do envelhecimento e a questão da homossexualidade masculina, em vista do "ethos" sócio-antropológico de homens maduros em idade avançada que fazem ou praticam sexo com outros homens na cidade de Soure (Marajó/Pará).  O entrecruzamento dessas temáticas, a partir da coorte geracional de homens idosos, leva em consideração a paisagem homoerótica e, também, os espaços de sociabilidade gay num contexto não metropolitano e ilhéu (de uma cidade localizada na Amazônia Marajoara), deslocando-se, pois, a análise comumente realizada no eixo das grandes capitais para uma comunidade marcada pelos valores religiosos e morais do cristianismo e do universo normativo da cultura heteropatriarcal. Neste aspecto, é importante salientar que a pesquisa se inscreve, ainda, naquele horizonte que entrecruza as sexualidades divergentes e as masculinidades num sentido hipermoderno e plural, de modo que “para além da juventude”, mas, também, rompendo com os estigmas da “incapacidade” e da “decadência”, apresenta-se a proposta de uma “antropologia da experiência e do modo de vida gay de homossexuais masculinos em processo de envelhecência

  • CLEVER SENA DOS SANTOS
  • Pombo, pato, galinha, bode: bichos em trânsito! Estudo etnográfico sobre as apropriações de animais no Ilé asé Iyá Ogunté - um templo de candomblé na Amazônia

  • Data: 16/09/2014
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  • O presente trabalho objetiva investigar as diversas formas de apropriação social, cultural e mágico-religiosa da biodiversidade faunística no contexto do templo de candomblé Ilé asé Iyá Ogunté, se utilizando, para tanto, de abordagens contempladas em estudos de Etnoecologia, bem como a realização de etnografia do centro religioso. Apesar da relação entre religião e natureza estar na base fundante e na concepção organizadora do candomblé, há um número muito reduzido de estudos sobre a apropriação de animais nos centros religiosos, e, normalmente, os que existem, se concentram na produção de inventários quase sempre desprovidos de contextualização. De modo geral, estudos envolvendo apropriações da natureza se concentram em áreas rurais e pouca atenção vem sendo dirigida às populações urbanas. Assim, contornando este quadro, o presente trabalho se propõe a investigar as formas como grupos humanos se apropriam da diversidade biológica no contexto do candomblé e quais suas contribuições para o enriquecimento cultural.

  • MARIANA PETRY CABRAL
  • No tempo das pedras moles – arqueologia e simetria na floresta

  • Data: 05/09/2014
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  • Nos primeiros contatos que eu tive com os Wajãpi, um povo tupi que vive na região entre os rios Jari e Oiapoque (Amapá e Guiana Francesa), durante oficinas de formação de pesquisadores indígenas, eu percebi que na Terra Indígena Wajãpi – como em outras áreas do Amapá e da Amazônia em geral – havia muitos sítios arqueológicos. Mas eu também percebi que além dos sítios arqueológicos havia muito para se conhecer sobre o que os Wajãpi pensam a respeito dos sítios. Sem falar no tanto que os Wajãpi conhecem sobre outras coisas que nós arqueólogos não consideramos sítios, mas que podem funcionar como sítios nos seus próprios termos. Nesta pesquisa, eu busquei conhecer a maneira como os Wajãpi constroem explicações sobre o passado utilizando vestígios de outros tempos, os traços materiais que seguem disponíveis hoje na sua terra. A partir da ideia de que todos são arqueólogos (a transposição para a arqueologia de uma sugestão do antropólogo Roy Wagner), entendo a arqueologia como um modo de conhecer que pode ser praticado em diferentes grupos. Meu exercício, ao acompanhar e participar do encontro dos Wajãpi com a arqueologia, foi investigar que arqueologia era esta praticada por eles. Os resultados apontam para uma arqueologia fortemente embasada nas percepções sensoriais, em um entrelaçamento entre coisas e pessoas que – diferentemente do conhecimento científico – tem na subjetivação o seu valor intrínseco.

  • LÚCIO FLÁVIO SIQUEIRA COSTA LEITE
  • Pedaços de pote, bonecos de barro e encantados em Laranjal do Maracá (AP): perspectivas da Arqueologia Pública na Amazônia

  • Data: 04/09/2014
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  • A região do Maracá, Município de Mazagão, Amapá, reúne em seu território um enorme potencial arqueológico caracterizado principalmente por enterramentos secundários em urnas antropomorfas e zoomorfas encontradas em áreas fechadas, ambiente de grutas. Este trabalho apresenta resultados sobre as representações que a comunidade de Laranjal de Maracá, localizada no entorno desses sítios, possui para o patrimônio arqueológico da região. As análises dos dados assinalam que esta comunidade mantém relações que transitam entre o pertencimento ou desconhecimento da cultura material da região. Entrevistas e análises bibliográficas fundamentadas na perspectiva da Arqueologia Pública constituem o ponto central deste projeto, que visa à reflexão sobre os discursos em torno do patrimônio arqueológico e suas diferentes formas de impacto.

  • ROSANGELA MARQUES DE BRITTO
  • Os usos do espaço urbano das ruas e do patrimônio cultural musealizado na “esquina” da “José Malcher” com a “Generalíssimo”: itinerários de uma antropóloga com uma rede de interlocutores no Bairro de Nazaré (Belém-PA)
  • Data: 28/08/2014
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  • Esta tese tem como objeto de pesquisa os itinerários urbanos de deslocamentos das pessoas em suas práticas culturais e espaciais cotidianas ao andar, trabalhar, morar e experienciar seus tempos livres e de lazer no espaço urbano das ruas do bairro de Nazaré, na cidade de Belém do Pará. O marco visual da paisagem urbana é o “Palacete Montenegro”, que abriga o Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA) desde 1984. Os loci da pesquisa localizam-se no entorno deste patrimônio histórico musealizado, a partir do qual foi traçado um raio de observação e de interação que delineia os cenários da pesquisa. O objetivo geral da pesquisa consiste em compreender as práticas sociais e culturais que configuram e reconfiguram os sentidos e significados atribuídos aos espaços de vida cotidiana e os transformam em lugares praticados. Pretendo descrever o fenômeno das temporalidades da memória dos lugares, desvelados pelos indivíduos e grupos urbanos em seus itinerários nas ruas do bairro de Nazaré e no MUFPA, buscando entender as mudanças e permanências das paisagens locais, a fim de estudar as dinâmicas sociais dos atores que frequentam o entorno da edificação e as exposições museológicas realizadas naquele museu. Outro objetivo refere-se à materialização das gramáticas nativas de rua, bairro, patrimônio histórico musealizado e dos usos do tempo livre e de lazer. A etnografia realizada durante oito meses mapeou as práticas espaciais e teceu uma rede de conversações sobre as memórias de indivíduos e grupos em suas experiências de usos dos espaços e lugares, a partir dos relatos de quatro moradores, cinco trabalhadores de rua, nove funcionários do museu e trinta e três visitantes agendados a duas exposições temporárias. Os itinerários urbanos foram compreendidos como experiências particulares a partir das “províncias de significados” reconstituídos pelas conversações com os interlocutores sobre as memórias de suas práticas espaciais. Filio-me à tradição das pesquisas em sociedades contemporâneas, baseada na “antropologia de grupos urbanos” e “antropologia na cidade”, e aos métodos da “etnografia de rua” e da “etno(auto)biografia”. As técnicas utilizadas foram a observação participante, nos locais pré-determinados e a “observação flutuante”, nos itinerários das ruas. A pesquisa de campo foi realizada nas ruas e no MUFPA, especificamente no seu jardim e nas salas do palacete que abrigam as exposições temporárias e a exposição permanente, na “Sala da Memória”. Na pesquisa documental constaram a edificação, objetos, imagens e o acervo sob a guarda da Biblioteca e da Coordenação de Acervo e Documentação do museu, além das fontes bibliográficas. Aos dados qualitativos gerados pela pesquisa foi incorporado o levantamento quantitativo do público visitante do museu entre 1986-2013. Os instrumentais aplicados foram entrevistas, questionários, registros fotográficos e da paisagem sonora. Outro instrumental aplicado foi a elaboração de mapas, como “geografias das ações” das lembranças dos “lugares da memória” dos meus familiares e de uma amiga, além de três moradores do bairro, do proprietário da banca de revistas e de dois artistas visuais que tiveram interação com o MUFPA em situações sociais e acontecimentos familiares e artísticos.
  • ANTÔNIA DAMASCENO BARBOSA
  • Análise Espacial dos Sítios Monumentais do Leste da Amazônia Ocidental

  • Data: 19/08/2014
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  • Esse trabalho teve por objetivo analisar os recintos geométricos localizados no leste do estado do Acre, utilizando ferramentas de geoprocessamento e considerando fatores ambientais e culturais que poderiam ter influenciado nas decisões de grupos sociais quanto ao local de construção e forma desses sítios arqueológicos. Foi utilizada a abordagem da arqueologia da paisagem e o geoprocessamento como ferramenta analítica. A partir do levantamento de dados de 419 recintos geométrico no Leste do Estado do Acre, a pesquisa investigou padrões culturais relativos à morfologia e configuração, localização e orientação dos sítios, utilizando métodos estatísticos e de análise espacial. Concluiu-se que técnicas construtivas padronizadas foram utilizadas na construção dos recintos e que sua localização levava em conta proximidade de fontes de água, tipos de solo e altitude. Além disso, características morfológicas estavam associadas à tamanho e localização. A pesquisa também descobriu que a maioria dos recintos foi construída de forma a marcar os solstícios de inverno ou verão. Foram ainda feitas considerações sobre o estado de preservação dos sítios e os desafios à gestão desse patrimônio. Palavras-chave: arqueologia amazônica; arqueologia da paisagem; recintos geométricos; análise espacial; geoprocessamento.

  • MARCUS VINICIUS NASCIMENTO NEGRAO
  • Iluminando os mortos: um estudo sobre o ritual de homenagem aos mortos no Dia de Finados em Salinópolis-Pará

  • Data: 26/06/2014
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  • O ritual da Iluminação é uma manifestação cultural presente no município de Salinópolis (PA) – e em alguns municípios do nordeste do Pará – que consiste na realização de homenagens aos mortos que ocorre por ocasião do Dia de Finados. Em Salinópolis existe uma maneira muito particular de prestar homenagem aos mortos com eventos e celebrações eucarísticas que ocorrem à noite, onde se destaca o ritual – entendido como “um sistema cultural de comunicação simbólica” (Peirano 2003) – de homenagem aos mortos no qual seus túmulos, no período da noite, são iluminados com o acendimento de velas. A Iluminação dos Mortos em Salinópolis possui um aspecto festivo e é reconhecido, em muitos momentos, como “festa” pelos moradores da cidade. Dessa maneira, este ritual promove o restabelecimento de laços emocionais entre os presentes e seus parentes mortos, além de fortalecer vínculos com os parentes e amigos que ainda estão vivos e que participam destas homenagens. Neste sentido, os principais aspectos que desejo problematizar neste trabalho dizem respeito às representações de vida e morte que estão subjacentes ao imaginário dos moradores de Salinópolis e que se expressam por ocasião das celebrações do Dia de Finados, momento que favorece o estabelecimento de sociabilidades em torno do ritual de homenagem aos mortos, que percebo como um dispositivo que aciona sociabilidades em torno da morte. Objetivo fazer uma abordagem da festa percebendo-a como uma celebração à vida na qual o aspecto mais importante é a promoção do reencontro entre as pessoas, ocasionando um grande momento de sociabilidade, reforço de laços afetivos e reencontro com as próprias memórias.

  • ROBSON CARDOSO DE OLIVEIRA
  • ÉGUA”, É A HORA DO INTERVALO NA TV: MARCADORES SOCIAIS DA DIFERENÇA, CONSUMIDORES/AS E PUBLICIDADE PRODUZIDA EM BELÉM DO PARÁ.

  • Data: 16/06/2014
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  • Esta dissertação “nasce” com uma missão: investigar sobre a recepção de marcadores sociais da diferença entre consumidores/as da publicidade produzida na cidade de Belém do Pará, no intuito de observar como são recebidos e (re) significados as categorias de Gênero e Sexualidade no momento em que assistíamos ao horário comercial. Contudo, outros marcadores sociais da diferença como Classe, Cor/Raça e Geração foram acionados pelos/as interlocutores/as, nas conversas, e, consequentemente, problematizados nesta pesquisa. Além disso, discussões em torno de publicidade e consumo também ganharam o devido destaque como uma consequência da própria força dos discursos dos/as consumidores/as. Como resultado, percebi que os marcadores sociais da diferença estavam sendo operados, nas narrativas, de modo interseccionado (ou articulados), dentre essas, as mais ativadas nesse tangenciamento foram às categorias de Gênero, Cor/Raça e Classe, compreendidas por discursos como: homem, negro e pobre; e mulher, branca e rica. O “jogo” entre o real e o “mágico” mundo dos anúncios (Rocha 1990), também fora comentado pelos/as interlocutores/as, visualizando a publicidade muito mais próxima de idealizações do real, ao invés de mostrar realidades na hora do intervalo na TV.

  • GLENDA CONSUELO BITTENCOURT FERNANDES
  • “UM BURACO NO MEIO DA PRAÇA”: MÚLTIPLAS PERCEPÇÕES SOBRE UM SÍTIO ARQUEOLÓGICO EM CONTEXTO URBANO AMAZÔNICO – O CASO DE BELÉM, PARÁ."

  • Data: 16/05/2014
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  • RESUMO

     

    Esta pesquisa trata das múltiplas leituras atribuídas pelas pessoas sobre o sítio arqueológico histórico Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, situado no contexto urbano amazônico da cidade de Belém,Pará, mais especificamente na Praça do Carmo. O sítio foi objeto de uma pesquisa arqueológica cujo objetivo foi, principalmente, expor as estruturas da Igreja ao público, por meio de janelas arqueológicas. Portanto, nesta investigação parto da perspectiva da Arqueologia Pública para demonstrar outras visões sobre o referido sítio que se realizam, principalmente, na dinâmica do cotidiano. Para ter acesso às narrativas, realizei trabalho de campo durante os anos de 2012 e 2013, tempo em que convivi e fiz entrevistas com moradores, trabalhadores e frequentadores do lugar. Além disso, apresento o contexto histórico da Igreja do Rosário, desde informações que atestam sua presença na cidade de Belém até a sua derrubada e arruinamento. Por fim, considero discussões referentes ao potencial de pesquisa no âmbito da Arqueologia História e reflexões sobre políticas patrimoniais em contextos urbanos. 

  • MANOEL CLAUDIO MENDES GONCALVES DA ROCHA
  • “A Memória Coletiva e o Ofício de Sapateiro em Belém-PA: as narrativas de mestres e aprendizes da arte dos calçados”
  • Data: 05/05/2014
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  • O trabalho em questão tem por objetivo refletir a respeito do ofício de sapateiro em Belém-PA. A pesquisa desenvolvida até o momento centrou-se nos bairros de Batista Campos e Campina, período em que foram identificadas oito oficinas onde são realizadas atividades de fabricação e conserto de calçados, algumas das vezes em companhia de outros tipos serviços. As discussões aqui apresentadas consistem em questionamentos acerca de minha experiência etnográfica, problematizando os meandros de uma pesquisa de campo no mundo urbano por meio de caminhadas e deambulações realizadas ao longo dos bairros assinalados, bem com as possibilidades de utilização de estratégias retóricas orientadas para a produção de uma narrativa etnográfica experimental.
  • ELIANA TELES RODRIGUES
  • “A gente faz a varja”: Territorialidade, estratégias de uso de recursos, identidade e conflitos na Ilha de Marajó, Pará
  • Data: 17/01/2014
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  • Essa tese analisa o mundo social da várzea, destaca relações sociais, estratégias de reprodução social e trajetória de quilombolas no noroeste do arquipélago de Marajó. A expressão “fazer a varja” converge para processos históricos que refletem a dinâmica cultural e política dessas unidades domésticas, em especial, a que diz respeito aos seus direitos de reconhecimento de um território etnicamente configurado, objeto de reivindicação e proteção face às ameaças dos pretensos proprietários e o agronegócio que se orienta para a várzea e terra firme. Analisam-se práticas de uso comum dos autoidentificados quilombolas com base em experiências, conhecimento tradicional e cosmovisão do ambiente, em aberta disputa com os seus antagonistas. O ponto de partida é a significação da várzea e seus recursos para os quilombolas, descrita antes e após o deslocamento compulsório da margem do rio Arari para o rio Gurupá. Após esse processo instauram-se conflitos, tensões e pressões continuas, sob formas diferentes o que impulsiona a mobilização e articulação dos quilombolas mediante a organização política na ARQUIG. Nesse contexto, assiste-se a mudanças sucessivas, resultantes de necessidades, projetos, lutas e reivindicações pelo território étnico, ao mesmo tempo em que persistem esquemas de judicialização dos conflitos. A construção de uma visão de direitos territoriais e econômicos, pelos quilombolas, é confrontada diretamente com projetos do agronegócio, com a regularização fundiária e ambiental do Estado e com as políticas sociais que suprimem o fator étnico.
2013
Descrição
  • ÂNGELO PESSOA LIMA
  • “As cavidades, as fontes minerais e as pessoas nos platôs da Serra Norte de Carajás durante o Holoceno”
  • Data: 04/10/2013
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  • O objetivo principal desta pesquisa é investigar a ocupação humana da Serra dos Carajás nos últimos 6.000 anos a partir de estudos realizados na Serra Norte. Seguindo as noções da arqueologia da paisagem, abordei este tema em duas escalas espaciais. A maior delas abrange os diferentes compartimentos topográficos da Serra Norte, focalizando com mais atenção as cavidades do Platô N4E. Dentre as cavidades deste Platô, elegi o Abrigo 1 da Subestação como a menor escala. Este é um sítio importante para se estudar a ocupação humana das cavidades de Carajás no Holoceno Tardio, pois apresenta uma grande quantidade e variedade de vestígios arqueológicos correspondentes a este período. O objetivo que acompanhou a pesquisa desde seu início foi observar se na passagem do Holoceno Médio para o Holoceno Tardio houve na Serra Norte de Carajás ruptura, continuidade ou mudança gradual nas estratégias de ocupação humana; se a introdução de uma indústria cerâmica significou, também, mudança nos outros conjuntos artefatuais e no modo de se ocupar as cavidades e o restante do território da Serra Norte.
  • RAIMUNDO NEY DA CRUZ GOMES
  • Arqueologia e Cultura Material – Uma História contada em cacos de vidros e louças da Vila de Santo Antônio (Porto Velho – RO)
  • Data: 13/09/2013
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  • Este trabalho objetiva, a partir de uma perspectiva arqueológica, e por isso também baseado em um estudo de cultura material, contar uma História sobre a Vila de Santo Antônio, no Alto Madeira. Para contar esta história, recorri a uma revisão historiográfica concernente àquela região, confrontando esta historiografia com os estudos quem têm sido desenvolvidos por alguns arqueólogos em Rondônia. Depois proponho a Arqueologia Histórica na Amazônia como uma forma para contar estas histórias do passado pós-colonial; por fim, apresento as escavações e as análises que conduzi, a partir dos vidros e louças exumados no sítio arqueológico Vila de Santo Antônio, e uma discussão sobre as possibilidades de interpretação ofertadas pela cultura material.
  • ELAINE CRISTINA GUEDES WANDERLEY
  • “É Pote de Parente Antigo! A Relação de Indígenas Apurinã da Terra Indígena Caititu com os Sítios e Objetos Arqueológicos, Lábrea/AM”
  • Data: 30/08/2013
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  • Este trabalho propõe uma reflexão sobre as relações que o povo indígena Apurinã da Terra Indígena Caititu (porção norte), município de Lábrea/AM estabelece com os sítios e objetos arqueológicos presentes em suas terras. Entender os processos históricos que se constituíram nesta região marcada pelo violento sistema extrativista, o próprio envolvimento dos Apurinã nesse sistema e a sua relação com indígenas de outras etnias no passado compõem parte importante do levantamento bibliográfico inicial. O contraste entre aquilo que os documentos históricos falaram sobre este povo e aquilo que pude observar durante os meus trabalhos de campo ajudaram a compor um ensaio etnográfico acerca dos Apurinã sobre os quais apresento aspectos do seu cotidiano e alguns elementos acerca dos seus modos de vida. Discuto ainda, como forma de situar a Arqueologia do rio Purus, alguns aspectos voltados para questões teóricas fundamentais acerca da Arqueologia Amazônica, traçando posteriormente um breve panorama sobre a Arqueologia da Amazônia Ocidental incluindo um histórico de pesquisas na região do Médio e Baixo Purus. Apresento brevemente o cenário de discussões acerca da Arqueologia em terras indígenas apontando a questão do pensamento indígena ser diferente do pensamento ocidental e da necessidade dessa perspectiva ser considerada no fazer arqueológico. Apontados pelos documentos históricos como povos guerreiros os Apurinã empreendiam embates frequentes com outros povos e foram gradativamente ampliando seus domínios territoriais ao longo de toda a calha do rio Purus, entretanto, essa ampliação de espaços continua a ocorrer ainda hoje de outras formas. Assim, procuro demonstrar que estes indígenas se apropriam das cerâmicas arqueológicas existentes em suas terras como uma forma de demarcar territórios conquistados, autenticando a partir dos artefatos a posse desses espaços. Ao mesmo tempo, os artefatos arqueológicos são utilizados como meio de legitimar sua identidade cultural contribuindo para a existência de uma memória coletiva. Discuto a idéia do espírito expansionista, conquistador de territórios atribuído aos Apurinã se projetar para o espaço das aldeias e imprimir uma lógica muito particular de delimitar limites territoriais, (re)afirmar identidades culturais e balizar os conflitos entre eles.
  • KLEBER DE OLIVEIRA SOUZA
  • Até onde vão as cicatrizes deixadas pelo tempo? Análise lítica da ocupação humana do Holoceno Médio e Tardio na bacia do Amapari/AP, Amazônia
  • Data: 19/08/2013
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  • Estudos voltados especificamente para o material lítico têm sido raros na Amazônia. No oeste do Amapá, pesquisas realizadas em uma área de Floresta Equatorial de Terra Firme, com grande densidade de sítios arqueológicos, inseridos em diferentes locais na paisagem, possibilitaram o estudo de dois sítios arqueológicos com contextos multicomponenciais. As ocupações destes sítios remetem ao Holoceno Médio e Holoceno Tardio. A partir do estudo voltado à construção das cadeias operatórias dos artefatos líticos de cada ocupação, a metodologia de análise buscou descrever as etapas de lascamentos que se sucederam na elaboração de instrumentos. O diálogo estabelecido entre a abordagem tecno-tipológica e a tecno-funcional permitiu identificar várias cadeias operatórias relacionadas à cada ocupação. Com isto, foi possível inferir o uso dos espaços e as escolhas que as pessoas tiveram, no passado, na aquisição de matérias-primas, elaboração de ferramentas, produção de refugos e descarte das peças líticas, em contexto com outros vestígios arqueológicos.
  • VERONIQUE ISABELLE
  • “Mergulhar nas águas e trilhar o Porto do Sal - Ensaios de um percurso etnográfico”
  • Data: 23/07/2013
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  • O papel primordial da água nas paisagens do estuário guajarino convida à investigação acerca da memória das comunidades ribeirinhas da cidade de Belém. O interesse pelos habitués do Porto do Sal na sua relação íntima e própria com a baía considera as suas relações sociais dinâmicas e as expressões imaginárias, de forma a reconhecer a sua importância para e nas paisagens da cidade de Belém. A partir da perspectiva da Antropologia Urbana e de acordo com uma abordagem “sensível” desenvolvida por Pierre Sansot (1973), realizada principalmente por meio das artes visuais é possível identificar aspectos do cotidiano de tais pessoas junto ao Porto do Sal e ao Rio Guamá, bem como as formas sociais que unem os sujeitos entre si e ao meio. Neste caso, a zona mestiça de água e de terra que define o lugar. A proposta de construção de uma reflexão considera o ambiente como elemento da experiência estética e ética com o lugar, com destaque ao registro sensorial na forma de habitar o mundo urbano e de senti-lo nos gestos mais cotidianos e no estar-junto em relação (Maffesoli, 1999; 2010), configurando as paisagens ribeirinhas da urbe na Cidade Velha. A descrição etnográfica visa produzir imagens do Porto do Sal enquanto um conjunto de paisagens com a intenção de estimular a reflexão sobre o imaginário no contexto amazônico, especialmente do mundo urbano belemense.
  • RHUAN CARLOS DOS SANTOS LOPES
  • “O MELHOR SÍTIO DA TERRA”: COLÉGIO E IGREJA DOS JESUÍTAS E A PAISAGEM DA BELÉM DO GRÃO-PARÁ - UM ESTUDO DE ARQUEOLOGIA DA ARQUITETURA
  • Data: 29/04/2013
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  • Nesta pesquisa investigo a inserção do Colégio e Igreja dos jesuítas na Belém colonial. Analiso, a partir da perspectiva da arqueologia da arquitetura, a forma como essa edificação se constituiu elemento na paisagem de poder da área mais antiga da cidade. Além disso, estabeleço uma relação analítica desse processo com a criação do Projeto Feliz Lusitânia, no Centro Histórico da capital do Pará. Pautei a investigação na documentação relativa ao período colonial e ao Projeto Feliz Lusitânia. Efetuei a análise dos discursos impressos nessas fontes, no que diz respeito às intenções dos agentes em questão na conformação da paisagem de poder da parte mais antiga de Belém. Utilizei também mapas e imagens que evidenciam a disposição espacial de Belém e a presença do prédio aqui pesquisado. Desse modo, observei as camadas diferenciadas na paisagem local, tendo em vista as manifestações ideológicas impressas na arquitetura.
  • MANUELA DO CORRAL VIEIRA
  • OS JOVENS FLÂNEURS.COM: A construção e a liquidez da identidade no espaço das redes sociais da Internet
  • Data: 26/03/2013
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  • O presente estudo se propõe a analisar, através de um olhar antropológico, a importância que as redes sociais da Internet desempenham no processo de construção das identidades dos jovens. Desta forma, objetiva-se realizar uma leitura das performances sociais adotadas pelos sujeitos em questão, em diversos momentos de suas interações com o outro, consigo e com o social. Estas análises baseiam-se, sobretudo, nas abordagens advindas das leituras das categorias de sociabilidade, performance e gênero. Além disto, busca-se avaliar, tendo como base os estudos de objetificação da cultura material, no campo da cibercultura, de que maneira e em qual nível estas tecnologias são capazes de encantar e de exercer influência á medida que interagem com os sujeitos, influenciando assim em suas subjetividades, interações sociais e, consequentemente, nas experimentações e construções de suas identidades.
2012
Descrição
  • RAFAEL DA SILVA NOLETO
  • “Poderosas, divinas e maravilhosas: o imaginário e a sociabilidade homossexual masculina construídos em torno das cantoras de MPB”,
  • Data: 30/11/2012
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  • Esta pesquisa aborda, sob o ponto de vista da Antropologia, o imaginário e a sociabilidade homossexual que são construídos em torno das cantoras pertencentes à Música Popular Brasileira. Dessa forma, este trabalho se dedica a analisar quais os significados subjacentes às noções de “poder”, “divindade” e “glamour” frequentemente atribuídas por fãs homossexuais às cantoras brasileiras de sua preferência. Este texto etnográfico aborda ainda outros aspectos relativos à construção de processos de performatividade de gênero e às relações de caráter afetivo, sexual e social que estes fãs homossexuais desenvolvem a partir do compartilhamento de um gosto musical em comum por cantoras.
  • DAIANA TRAVASSOS ALVES
  • “Ocupação Indígena na foz do rio Tapajós (3260-960AP): estudo do sítio Porto de Santarém, baixo Amazonas”,
  • Data: 21/11/2012
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  • Na arqueologia Amazônica, o período Formativo (4.000-2.000 AP) é definido pela existência de assentamentos sedentários de povos cuja subsistência baseava-se na agricultura, complementada pela caça, pesca e coleta. Esse período é importante, entre outras razões, porque precede o desenvolvimento de sociedades regionais a partir do início da Era Cristã. Entretanto, é pouco conhecido, seja pela pouca quantidade de sítios identificados, seja pela falta de pesquisas. Esta dissertação apresenta os resultados da investigação de contextos Formativos no sítio Porto de Santarém, no baixo Amazonas, uma região onde a longa sequência de ocupação se inicia no período Paleoíndio. A investigação visou observar essa ocupação no sítio Porto e questionando seu papel na dinâmica de ocupação regional de longo termo. As escavações revelaram evidências de ocupação humana no período pré-histórico tardio (cal. AD 1020 a 1160) conhecido como fase Santarém da Tradição Inciso-Ponteada, possibilitaram o estudo de uma ocupação anterior, localizada na base da camada cultural, que corresponderia cronologicamente ao período Formativo (cal. 3160 a 3090 AP).
  • EDYR BATISTA DE OLIVEIRA JUNIOR
  • Masculinidades em cena: o modo de ser e de pensar o metrossexual a partir das telenovelas
  • Data: 31/10/2012
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  • Procurei analisar as percepções dos sujeitos sobre o modo de ser e de pensar o metrossexual a partir das telenovelas. O uso de personagens desse programa para a investigação foi importante, pois as telenovelas são produções que contribuem para a visualização de comportamentos e divulgação do “novo”, além de possuir grande entrada nos lares brasileiros. Por conta disso, realizei dezesseis entrevistas com cinco mulheres e onze homens, todos residentes em Belém do Pará, universitários ou formados em diferentes cursos, com a finalidade de mostrar como essas pessoas veem os personagens masculinos que são veiculados nos folhetins eletrônicos e se elas percebem personagens metrossexuais ou com características metrossexuais nas telenovelas. Investiguei, ainda, o que pensam alguns operadores da comunicação – escritores, autores, atores e acadêmicos que estudam o tema telenovelas – sobre a relação do público masculino com esse tipo de programação, por meio de entrevistas que eles concederam a algum meio de comunicação e/ou trabalhos acadêmicos dos mesmos. Além disso, discuti a construção do corpo do metrossexual e a corrente associação que se faz desse tipo masculino com a homossexualidade. Destarte, abordei as compreensões dos/as meus/minhas interlocutores/as sobre três personagens que utilizei em minhas entrevistas: Narciso (Vladimir Brichta), de Belíssima (2005), Tomás (Leonardo Miggiorin), de Cobras e Lagartos (2006) e Carlos (Carlos Casagrande), de Viver a Vida (2009), verificando as características que fazem os homens representados nesses papéis serem ou não reconhecidos como vaidosos. Ver-se-á que a ideia de um masculino despreocupado com o que veste, que passa sabonete nos cabelos para não gastar muito tempo na hora do banho com xampus e condicionadores, por exemplo, tem perdido espaço na cena contemporânea, pois os homens, a cada dia, externalizam, mais e mais, sua vaidade, contribuindo para a “fabricação” de corpos belos e desejados.
  • CRISTIANE MARIA PIRES MARTINS
  • Arqueologia do Baixo Tapajós: Ocupação Humana na Periferia do Domínio Tapajônico

  • Data: 17/10/2012
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  • Essa pesquisa investiga um sítio arqueológico localizado em área que seria o limite sul da dispersão da Tradição Inciso-Ponteada no baixo curso do rio Tapajós, e discute os resultados dessa pesquisa à luz dos demais dados e hipóteses que vêm sendo formulados sobre a ocupação indígena pré-colonial da região. Investigações arqueológicas realizadas na região nos últimos anos vêm revelando que a área de dispersão de sítios arqueológicos ligados a essa tradição cerâmica é maior do que se supunha anteriormente. As características estilísticas da cultura material e o modo de ocupação das paisagens parecem indicar contatos culturais entre habitantes do baixo rio Tapajós e os povos que habitavam as bacias dos rios Nhamundá e Trombetas ao final do primeiro milênio da Era Cristã. Sendo assim, esta pesquisa compreende dois exercícios: (1) o primeiro de escala local, com foco no sítio arqueológico Serraria Trombetas, e no estudo detalhado do espaço intra-sítio, entendido como um microcosmo de uma história regional; e (2) o segundo de escala regional, de comparação dos resultados locais com a cronologia e as características dos demais sítios arqueológico da região. Através da caracterização estilística da cerâmica, do estudo do material lítico, da distribuição espacial dos vestígios no sítio e em nível regional, além do exame da cronologia regional, buscou-se investigar a diversidade cultural dos grupos pré-coloniais no segundo milênio da Era Cristã. 

  • LUZIA GOMES FERREIRA
  • O Lugar de Ver Relíquias e contar História: O Museu Presente / Ausente na Vila de Joanes, Ilha do Marajó - Pará

  • Data: 05/10/2012
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  • RESUMO

     

    É notória, em âmbito nacional, a relevância do patrimônio arqueológico do estado do Pará e dos demais estados da Amazônia, visto pelo que contribui para compreensão das ocupações humanas na América do Sul. No entanto, emerge no contexto amazônico a demanda pela gestão desse patrimônio e a criação de museus, por parte dos atuais moradores, que hoje habitam as localidades onde se encontram os sítios arqueológicos. A Vila de Joanes se enquadra nesse contexto e os joanenses demandam a constituição de um museu na Vila. Joanes atualmente é um município de Salvaterra, localiza-se no litoral leste da Ilha e apesar das suas bucólicas praias e igarapés, um dos elementos que se impõe visualmente na paisagem joanense são as ruínas de uma antiga igreja construída de pedra, datada de meados do século XVII. A partir de um diálogo disciplinar entre Antropologia, Arqueologia e Museologia, esta pesquisa buscou compreender: a) o que é museu para os moradores da Vila de Joanes, Ilha do Marajó, Pará; b) quais os fatores que levaram os joanenses demandarem a constituição de um museu e c) qual a relação que os moradores estabelecem com os fragmentos do passado que configuram a paisagem local. Com base nas narrativas dos joanenses foi possível entender que a demanda pela criação do museu está fortemente ligada ao contexto das escavações arqueológicas ocorridas em 1986, 2006 e 2008. A relação entre museu e patrimônio arqueológico é simbiótica, os moradores reivindicam que os vestígios arqueológicos encontrados durante as escavações permaneçam na Vila e que seja construído um museu para abrigá-los. No contexto joanense o museu pode ser compreendido como o lugar do passado. Entretanto, até o presente momento não há nenhum projeto para construção de um espaço museológico, mas, compreendo que a existência de algo ultrapassa os limites estabelecidos pelo concreto no sentido físico de “pedra e cal”, por isso me lancei ao desafio de procurar conhecer o museu ausente/presente na Vila de Joanes a partir das narrativas dos seus moradores.

  • IRISLANE PEREIRA DE MORAES
  • Do tempo dos Pretos d’antes aos Povos do Aproaga: Patrimônio Arqueológico e Territorialidade Quilombola no Vale do Rio Capim (PA)

  • Data: 01/10/2012
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  • Esta dissertação se construiu a partir do diálogo entre a Antropologia e a Arqueologia, na busca de compreender os usos e significados que o patrimônio arqueológico assume no âmbito das relações sociais contemporâneas, em específico, aqueles construídos segundo a lógica de povos e comunidades tradicionais. Entendido como categoria etnográfica, o patrimônio permite vislumbrar significados que os quilombolas pertencentes às comunidades Taperinha, Nova Ipixuna, Sauá- Mirim, Benevides e Alegre Vamos, no município de São Domingos do Capim (PA), elaboram em torno do sítio arqueológico Aproaga. Na luta pela titulação definitiva do seu território os quilombolas se autodefinem Povos do Aproaga, nesse contexto, a consciência cultural possibilita a construção da identidade coletiva. Em torno das ruínas históricas do engenho colonial, a memória social quando os Pretos d’antes foram escravos restitui e fortalece no presente as referências culturais e fronteiras étnicas em consonância ao sentimento de pertencimento ao Aproaga. Assim, a arqueologia pública e etnográfica possibilitam compreender as dinâmicas e relações sociais do presente e suas fruições com o passado, os significados da cultura material, bem como, as dimensões étnicas que o patrimônio pode vir a assumir no contexto de direitos territoriais de comunidades descendentes e/ou de origem. Porquanto, a territorialidade quilombola construída pelos Povos do Aproaga implica pensar de maneira crítica sobre as políticas do patrimônio na Amazônia, e mais amplamente a reflexividade da pesquisa tendo em vista uma práxis descolonial da ciência. 

  • ARIANA KELLY LEANDRA SILVA DA SILVA
  • Doença como Experiência: As Relações entre Vulnerabilidade Social e Corpo Doente Enquanto Fenômeno Biocultural no Estado do Pará.

  • Data: 11/06/2012
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  • O estudo ora apresentado analisa a representação biossocial de pessoas com Anemia Falciforme (AF) no Estado do Pará, agravo entendido como um fenômeno biocultural por envolver aspectos evolutivos,     genéticos,    ambientais,     socioeconômicos       e   culturais   da   vivência    cotidiana    dos indivíduos acometidos pela síndrome. A investigação aborda as sociabilidades de quarenta (40) interlocutores com AF, representando cerca de 10% dos pacientes em tratamento na Fundação Hemopa (Belém), centro de referência em doenças hematológicas do Estado, englobando a sua situação     de   vulnerabilidade     social,   suas   percepções     de  Saúde     e Doença,      os   tratamentos complementares   (folk   medicine ),   diagnóstico,   estigmas,   preconceitos,   tabus   e   dificuldades   de acesso   e   acessibilidade   aos   serviços   do   SUS   com   os  quais   eles   convivem   rotineiramente.   A metodologia       compreensiva      e  a  análise   de  conteúdo     revelam    as  experiências     próximas     dos sujeitos que diariamente convivem com as instabilidades da enfermidade. A vivência da doença, elaborada      através   das  relações    sociais,  conversas,    percepções      e  enredamentos      familiares    e extrafamiliares do grupo em questão, que em seu conjunto organiza sua vida social de modo sui gêneris,     foram    os   principais    dados    revelados,     considerando     a   dor   física   e  psicológica representada   pelo   corpo   adoecido.   O  habitus   em   relação   ao   estilo   de   vida   dos   sujeitos   é   um recorte que engloba a natureza étnico-racial da AF, ainda entendida como “doença que vem do  negro” e que necessita ser desmistificada pelos profissionais de saúde que os assistem no dia-a- dia   em   ambulatórios   de   todo   o   Estado.   Concluo   sugerindo   que   a   AF   é   uma   doença   que   está atrelada   aos   Determinantes   Sociais   em   Saúde,   incorporando   as   diversas   suscetibilidades   dos interlocutores, que necessitam de maior sensibilidade política e dos setores de atenção básica à saúde     para  que   as   pessoas   que   compartilham       as  vicissitudes   da  AF possam  ser  incluídas socialmente.

  • ARIANA KELLY LEANDRA SILVA DA SILVA
  • Doença como Experiência: As Relações entre Vulnerabilidade Social e Corpo Doente Enquanto Fenômeno Biocultural no Estado do Pará.

  • Data: 11/06/2012
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  • O estudo ora apresentado analisa a representação biossocial de pessoas com Anemia Falciforme (AF) no Estado do Pará, agravo entendido como um fenômeno biocultural por envolver aspectos evolutivos,     genéticos,    ambientais,     socioeconômicos       e   culturais   da   vivência    cotidiana    dos indivíduos acometidos pela síndrome. A investigação aborda as sociabilidades de quarenta (40) interlocutores com AF, representando cerca de 10% dos pacientes em tratamento na Fundação Hemopa (Belém), centro de referência em doenças hematológicas do Estado, englobando a sua situação     de   vulnerabilidade     social,   suas   percepções     de  Saúde     e Doença,      os   tratamentos complementares   (folk   medicine ),   diagnóstico,   estigmas,   preconceitos,   tabus   e   dificuldades   de acesso   e   acessibilidade   aos   serviços   do   SUS   com   os  quais   eles   convivem   rotineiramente.   A metodologia       compreensiva      e  a  análise   de  conteúdo     revelam    as  experiências     próximas     dos sujeitos que diariamente convivem com as instabilidades da enfermidade. A vivência da doença, elaborada      através   das  relações    sociais,  conversas,    percepções      e  enredamentos      familiares    e extrafamiliares do grupo em questão, que em seu conjunto organiza sua vida social de modo sui gêneris,     foram    os   principais    dados    revelados,     considerando     a   dor   física   e  psicológica representada   pelo   corpo   adoecido.   O  habitus   em   relação   ao   estilo   de   vida   dos   sujeitos   é   um recorte que engloba a natureza étnico-racial da AF, ainda entendida como “doença que vem do  negro” e que necessita ser desmistificada pelos profissionais de saúde que os assistem no dia-a- dia   em   ambulatórios   de   todo   o   Estado.   Concluo   sugerindo   que   a   AF   é   uma   doença   que   está atrelada   aos   Determinantes   Sociais   em   Saúde,   incorporando   as   diversas   suscetibilidades   dos interlocutores, que necessitam de maior sensibilidade política e dos setores de atenção básica à saúde     para  que   as   pessoas   que   compartilham       as  vicissitudes   da  AF possam  ser  incluídas socialmente.

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