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SANTIAGO WOLNEI FERREIRA GUIMARÃES
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Início do Gênero Homo: O Problema do Hipodigma sob Novas Abordagens
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Data: 04/12/2018
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Esta tese retoma a questão da diversidade de espécies no início do gênero Homo. O problema é primordial dentro da paleoantropologia e apresenta basicamente duas possibilidades explanatórias: ou se está diante uma única espécie altamente variável, ou então a amostra de fósseis correspondente ao início do gênero Homo é um reflexo de diversidade de mais de uma espécie.
Uma das formas para se responder esta questão parte do ordenamento do registro fóssil segundo uma matriz comparativa, empírica, derivada dos organismos vivos ou que tenham sido extintos recentemente. Depreende-se, pois, que as espécies com proximidade filogenética mais recente são as que apresentam maiores possibilidades para o presente estudo, pois, em muitos casos, permitem o intercruzamento de informações de âmbito macroscópico (morfológicas), como também microscópico (genéticas). Nesse sentido, consideraremos a hipótese de separação recente, ocorrida entre o Homo sapiens e o Homo neanderthalensis, como o melhor parâmetro para se definir o limiar que considera a especiação e provável divisão de grupos mais antigos dentro do gênero Homo. Neste caso, desde que as distâncias existentes entre os espécimes Homo mais antigos se mostram, por um lado, maiores que as distâncias existentes entre o Homo sapiens e Neandertais, há uma grande probabilidade do início do gênero Homo ser composto de espécies distintas. Por outro lado, se tais distâncias mostram-se menores que aquelas existentes entre o Homo sapiens e Neandertal, há uma grande probabilidade de estarmos diante apenas um grupo.
Diante do exposto, apresentamos como hipótese inicial a indicação de que teria havido uma multiplicidade de espécies dentro do grupo formado pelos fósseis mais antigos do gênero Homo, hipótese esta também baseada em análises que consideram o estudo do dimorfismo sexual dos fósseis KNM-ER 1470 e KNM-ER 1813, bem como a discussão que indica a variação do volume craniano um indicativo de múltiplas espécies.
A pesquisa foi realizada a partir de dados secundários craniométricos relativos aos fósseis do início do gênero Homo que poderiam ser minimamente comparados ao Homo sapiens e Neandertal. Os fósseis utilizados apresentam cronologia entre 2.0 a 1.5 milhões de anos e provém da África – KNM-ER 1813, 1470, 3883, 3733, OH 24, KNM-WT 15000 – bem como da região do Cáucaso, República da Geórgia – D 2700 e D 3444. As informações referentes às populações de Homo sapiens provém do banco de dados Howells, enquanto as informações relativas aos Neandertais foram obtidas de teses e artigos orientados ao seu estudo.
Iniciou-se o trabalho a partir da análise exploratória das variáveis, passando então à análise multivariada. Utilizou-se, neste caso, a Análise de Compoentes Principais – PCA e Análise de Cluster como meios de proporcionar uma melhor visualização geral do que ocorre na interrelação entre os grupos e as variáveis. A utilização do Escalonamento Multidimensional e a reamostragem de Distâncias Mahalanobis ampliadas por meio do bootstrap proporcionaram a resposta para a hipótese apresentada nesta tese.
Os resultados reiteram a hipótese que justifica a diversidade morfológica encontrada no início do gênero Homo como sendo reflexo da multiplicidade de espécies dentro do mesmo gênero. Desta forma, estaríamos diante varias espécies, e não apenas uma que mostrasse grande diversidade fenotípica no início de nossa linhagem, para o período indicado entre 2.0 e 1.5 milhões de anos.
Urge ressaltar que os resultados indicados nesta tese não permitem concluir acerca do problema da multiplicidade de espécies no início do gênero Homo, o que se deve, em grande parte, à reduzida quantidade de fósseis bem como dos dados craniométricos deles provenientes. Entendemos, porém, que o emprego dos métodos estatísticos de análise empreendidos concorre para tornar os resultados mais robustos, colaborando, assim, para que outros estudos relativos à origem do gênero Homo possam utilizar-se da hipótese aqui apresentada, seja para refutá-la ou confirmá-la.
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EDIMAR ANTONIO FERNANDES
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Políticas Afirmativas para Povos Indígenas – sob o olhar dos protagonistas
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Data: 14/11/2018
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A formação em nível superior é uma das possibilidades pensadas pelos povos indígenas como superação das relações assimétricas e coloniais que se estabeleceram historicamente, a qual vem sendo requerida frequentemente pelas lideranças tradicionais e políticas, que entendem a obtenção da graduação como um dos caminhos para alcançar a autonomia das comunidades, pois os conhecimentos adquiridos, criam condições adequadas ao direcionamento dos projetos comunitários. A demanda crescente por espaços no ensino superior trazem consigo problemas relativos à formação deste novo público, que dizem respeito ao ingresso, permanência e sucesso de povos indígenas. Tenta-se na tese constatar a existência de protagonismo indígena verificando as formas como ele desponta entre os indígenas estudantes que lutam para garantir a formação em nível superior na Universidade Federal do Pará. A proposta demanda a produção de texto alinhado às perspectivas dos povos indígenas e a adequação das Políticas de Ações Afirmativas a partir do que é requerido pelos movimentos indígenas a partir das aldeias e internamente à Instituição que nos acolhe. Assim sendo, os depoimentos indígenas colhidos, em conversas com finalidade e em eventos diversos, é suporte do trabalho, realizado por intermédio da escuta atenta dos indígenas discentes e das lideranças tradicionais e políticas. Ouvir os “parentes” permitiu conhecer a realidade vivida por eles, os problemas existentes, as discriminações sofridas, as (im)possibilidades de continuação dos cursos que os não indígenas chamam de evasão escolar. A escuta favoreceu a compreensão das diferentes estratégias e do protagonismo indígena no enfrentamento das dificuldades, ampliando e relativizando a minha participação no cotidiano acadêmico, na verdade fui um participante observador, com os quais a Antropologia vem lidando nas últimas décadas, afinal estamos em cena.
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EMILLY CRISTINE BARBOSA DOS SANTOS
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Entre pilhagem e repatriação: antigos problemas para a Arqueologia no contemporâneo
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Data: 28/09/2018
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Esta dissertação é composta por dois artigos que foram submetidos para publicação em um periódico científico, com texto integrador, que apresenta o tema do trabalho. A discussão aborda o processo de repatriamento/restituição de coleções arqueológicas. Nesse sentido, no primeiro artigo é discutido sobre o processo de pilhagem na Amazônia, região do Pará, que se intensificou principalmente entre os séculos XIX e XX com o aumento de expedições científicas. Em seguida é descrito coleções arqueológicas amazônicas relevantes presentes nos museus nacionais e estrangeiros. E por fim é realizado uma reflexão sobre a importância do processo de repatriação para a mudança das abordagens antropológicas, arqueológicas e museológicas com os materiais arqueológicos presentes nas reservas técnicas. O segundo artigo trata da repatriação de remanescentes humanos enquanto um processo de soberania de coletivos sobre os vestígios de seus antepassados. Assim, a discussão aborda questões sobre legislação de repatriamento e códigos voltados para profissionais que lidam com este tipo de material. Este trabalho está inserido na vertente da arqueologia pública, no sentido de que desenvolve reflexões sobre processos de negociações entorno do patrimônio arqueológico.
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JOSE LUIZ DE MORAES FRANCO
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CORES E DORES DO MOVIMENTO LGBT DE BELÉM DO PARÁ: trajetória, participação e luta
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Data: 28/09/2018
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Esta pesquisa concentrou-se em analisar a memória, trajetória e luta do Movimento LGBT em Belém do Pará. Discutiu-se a respeito da atuação dos movimentos homossexuais e sua história ao longo das décadas, a pesquisa se propôs a compreender as relações homossexuais e a conquista por direitos civis em meio à invisibilidade que ao longo dos tempos essa categoria social foi acometida. Neste sentido, a luta por direitos, focada na questão da homossexualidade, já vem de uma trajetória histórica de muitas décadas, tanto no Pará quanto no Brasil e em outros países. Antes mesmo do surgimento do famoso bar gay chamado Stonewall Inn, já havia uma necessidade de se estudar e se organizar em prol dos direitos humanos, desde a Sociedade Mattachine, nos idos dos anos de 1950, a qual tinha como um de seus objetivos dá assistência e proteção aos homossexuais, minorias discriminadas, entre outras, como: negros e latinos. Reconstruir essa história é adentrar em uma Belém dos idos finais dos anos de 1970 e entender como os homossexuais viviam nessa época, quais os lugares que mais frequentavam e as estratégias utilizadas para ter um diálogo mais próximo com o governo, combater a violência, o HIV/Aids, preconceito e a discriminação. Importante para a pesquisa foi compreender como esse conjunto de fatores compõe uma ação coletiva e como a força de militantes de diversos bairros de Belém, por meio de Associações, Movimentos Sociais diversos, a Comissão de Bairros de Belém, e entidades comprometidas com a questão social foi dando vida ao movimento LGBT do estado, concretizando assim seus objetivos por meio das articulações e vida cultural. Buscou-se por meio deste trabalho realizar pesquisas em meio a documentos de jornais, livros, artigos eletrônicos e entrevistas com interlocutores que fundaram o MHB – Movimento Homossexual de Belém e outros grupos de homossexuais, artistas, professores e demais interlocutores ao longo dos anos em Belém. Ao tratar da história e memória destes militantes gays dentro do movimento, a partir de suas realidades e seus envolvimentos com a causa LGBT percebeu-se o quanto eles foram invisibilizados e tiveram seus direitos negados ao longo dos tempos. Para perceber essa realidade, foi necessário adentrar no contexto histórico do país e do Estado do Pará, levando em consideração a questão política e cultural com suas reflexões e práxis de inserção no meio do povo. Com essa pesquisa buscou-se contribuir e pensar a respeito da exigência e a implementação de Políticas Públicas contra a homofobia, não discriminação e preconceito, fazendo deste trabalho uma fonte etno-historiográfica que retrate os fatos ocorridos naquele e nesse momento e seja capaz de tirar esses militantes gays da invisibilidade a qual sofreram e sofrem até hoje.
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ELIENE DOS SANTOS RODRIGUES
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SAÚDE DA INDÍGENA MULHER: Antropologia e Câncer do Colo de Útero nas etnias Xikrin do Cateté, Asurini do Trocará no Pará, Amazônia, Brasil.
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Data: 21/09/2018
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A experiência de vida na saúde indígena nas comunidades indígenas no médio Rio Negro – Amazonas trouxe a problematização da indígena mulher e sua saúde diante da mudança do perfil epidemiológico dos povos indígenas. No Brasil, estudos apontam que a morbimortalidade nas populações indígenas é de 3 a 4 vezes maior do que na população brasileira em geral. O quadro de saúde indígena está diretamente relacionado aos processos históricos de mudanças sociais, econômicas e ambientais e no estilo de vida, que resultaram em importantes transformações no padrão de morbimortalidade, com redução das doenças infecciosas e parasitárias (DIP) e aumento crescente das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), tais como obesidade, diabetes mellitus do tipo 2 (DM2), hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diversos tipos de câncer. Entre os tipos de câncer encontra-se o de colo de útero, que representa segunda principal causa de óbito por neoplasias malignas na população feminina na idade de 15 anos ou mais, no Brasil. Os maiores números de casos são registrados nas regiões norte e nordeste, o que constitui um problema prioritário de saúde pública, principalmente em áreas de pouco acesso como é o caso das comunidades indígenas localizadas no Estado do Pará. Início precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros, além da presença de IST, estão entre os principais fatores de risco, principalmente levando em consideração a transição cultural desses povos. Diante desse cenário, o presente estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência de câncer de colo do útero em mulheres indígenas, visando instituir um programa de prevenção nessa população. O estudo é do tipo transversal, incluindo mulheres indígenas de três etnias do Estado do Pará, que tinham ou haviam tido vida sexual, e compareceram espontaneamente, preencheram um questionário. A obtenção de material para a realização de esfregaço cervico vaginal foi padronizada de forma a discriminar três regiões especificas: fundo de saco vaginal, junção escamo-colunar e canal endocervical. As laminas foram identificadas e coradas pelo método Papanicolau e o exame citopatológico foi realizado em laboratório do ICB/UFPA. Analise estatística foi realizada pelo programa SPSS 14.0. Das mulheres que participaram do estudo, todas receberam diagnóstico, e os casos que apresentaram alterações as mesmas foram encaminhadas e acompanhadas pelos profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins. O acompanhamento antropológico das indígenas mulheres ao tratamento teve um diferencial, pois existe uma necessidade de atendimento diferenciado a essas mulheres. O estudo ajudará a fomentar medidas realmente eficazes nas políticas públicas de atenção à saúde da indígena mulher com prevenção, detecção e tratamento precoce do câncer de colo de útero nas comunidades indígenas na Amazônia, Brasil.
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VIVIANNE NUNES DA SILVA CAETANO
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“Sem o Bolsa fica escasso, com o Bolsa é mais avortado!”: as influências do Programa Bolsa Família nas estratégias alimentares de uma comunidade ribeirinha da Amazônia marajoara
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Data: 21/09/2018
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A Antropologia, na contemporaneidade, tem sido um importante meio de valorização dos sujeitos no contexto de suas lutas sociais, na busca pela emancipação e reconhecimento de suas tradições e costumes. Este estudo, resultado de uma pesquisa de doutorado, analisa acontecimentos que já estão, de certa forma, naturalizados na atual sociedade, como o recebimento de benefícios oriundos do Programa Bolsa Família, que pode estar sendo responsável por transformações no modo de vida de moradores ribeirinhos da Amazônia marajoara. Dentre essas modificações, as ocorridas nas estratégias que as famílias beneficiárias utilizam para a aquisição de alimentos – atividades de roça, produção de farinha, caça, pesca e extrativismo – e, consequentemente, nos hábitos alimentares – tipos de produtos/itens que compõem a dieta, a frequência de ingestão de alimentos e, bem como o modo como são preparados – uso de gás, lenha, carvão e outros. Desta feita, o objetivo central desta investigação buscou identificar as mudanças e continuidades ocorridas nas formas de aquisição de alimentos e nos hábitos alimentares de ribeirinhos após o acesso ao Programa Bolsa Família na comunidade Santa Luzia, meio rural de Breves/Pará. Como fonte metodológica, fez-se imprescindível a utilização da abordagem etnográfica, qualitativa, com pesquisa bibliográfica, cujos instrumentos de coleta de dados foram a observação participante, oficinas, conversas informais com os moradores, entrevistas semiestruturadas com 10 interlocutores e seus familiares, 01 Coordenadora do Sistema Presença em Breves, 01 Agente Comunitário de Saúde, 03 Professoras e 01 Barqueira. Os resultados demonstraram mudanças consideráveis sucedidas nas estratégias alimentares utilizadas por ribeirinhos, decorrentes principalmente do maior acesso a produtos industrializados, fato que se intensificou após a inserção na renda mensal dos valores repassados pelo referido benefício. Entretanto, a investigação comprovou que esses acontecimentos ainda não modificaram por completo muitos dos costumes e tradições desenvolvidas por essas populações, como os trabalhos na roça, a produção e venda da farinha, a caça, a pesca e o extrativismo, atividades estas que envolvem crenças e transmissões de saberes entre as gerações e que persistem no modo de vida marajoara. Contudo, ficou evidente que apesar de ainda utilizarem essas estratégias alimentares, elas já não são tão frequentes como antes e estão sendo deixadas, paulatinamente, à margem, substituídas pela compra e consumo de produtos pouco acessíveis antes do recebimento dos valores repassados pelo Bolsa Família.
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DIONE DO SOCORRO DE SOUZA LEÃO
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Trajetórias de “Migrantes”: contatos, interações e conflitos em práticas interculturais - Breves-Marajó-PA.
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Data: 18/09/2018
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O objeto da presente tese são as experiências de contatos ocorridas nas trajetórias de “nordestinos”, “portugueses”, “judeus” e “americanos” em Breves no Marajó, Pará, visibilizadas em práticas interculturais, construídas por meio da presença comum entre os grupos e os moradores naturais da região. Porém, dentro de relações assimétricas de poder apreendidas através das narrativas orais dos interlocutores, arquivos documentais do cartório Civil Matos (registros de óbitos e casamentos) e de Imóveis Dário Furtado (registros de compra e venda de propriedades), imagens fotográficas e pinturas em tela. Sob um recorte temporal que alcançou os finais do século XIX até a atualidade, sendo esse recorte representativo das memórias dos interlocutores sobre suas trajetórias na região de Breves em diálogos com os dados retirados das documentações cartoriais (1891 até 1979) referentes aos lugares pertencentes aos furos do Ituquara e Tajapuru, os rios Parauaú, Mapuá, Macacos, Curumu, Jaburu e cidade de Breves. Nesse contexto da pesquisa, os objetivos concentram-se em analisar como as experiências de contatos produziram identificações e formas de pertencimento dos “migrantes” e descendentes interlocutores da pesquisa. E ainda rever o sentido do global no local através dos fluxos de “estrangeiros” trazidos pelos navios, barcos, rádio, cinema, televisão, celular, internet e outras tecnologias, importantes na constituição das relações sociais e dos ambientes nos espaços de pesquisa. Além de analisar as formas de integração social desses “migrantes” na região de Breves, as sociabilidades, os desafios enfrentados relacionados a conflitos, estigmas, exploração, alimentação e doenças que assolaram o cotidiano dos grupos em diferentes tempos e espaços. Para tal, foram seguidas as orientações metodológicas da etnografia da entrevista no cruzamento com a história oral, da análise dos documentos com a etnografia do arquivo e da fotoetnografia e outros usos da imagem, à luz das perspectivas microanalítica e multisituada. E a partir desse percurso investigativo, este estudo permitiu descortinar sentidos das experiências dos contatos de “migrantes” e descendentes, sujeitos aparentemente atomizados, mas que conseguiram constituir um universo estreito de relações sociais, políticas, econômicas e culturais, de movimentos, ações e interações que os tornam centrais na história recente da formação social da região de Breves.
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JAQUELINE PEREIRA DE SOUSA
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A lida com a morte e o evocar dos mortos: experiências fúnebres no Norte do Piauí, Brasil
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Data: 10/09/2018
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Essa tese analisa as formas de lidar com a morte e o morrer, evocada ou personificada nos mortos de comunidades rurais de forte tradição católica situadas no Norte do Estado do Piauí, Brasil. As análises foram construídas a partir de dados coletados em pesquisa etnográfica realizada em duas comunidades, Laranjeira e em Água Viva, entre os anos de 2009 e 2018, com uso de uma abordagem metodológica qualitativa. O objetivo principal na tese é mostrar que a presença dos mortos emerge não só durante os rituais fúnebres, mas também nas práticas cotidianas de manutenção dos vínculos sociais familiares dos [que permanecem] vivos. Durante a pesquisa observei que as atitudes dos interlocutores em relação a morte revelavam uma forte tendência de renovação dos laços familiares e apaziguadora dos conflitos porventura existentes. As narrativas sobre os antepassados indicam a existência de uma fronteira estabelecida entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, instituída pelas ações rituais com o intuito de afastar a morte e reaproximar o morto. Nesta tese considero os objetos associados à morte imprescindíveis na realização dos rituais fúnebres, através do seu poder de agência, como o caixão, a cruz, o terço, as velas, a coroa de flores. Por sua vez, os objetos deixados pelos mortos adquirem sua agencia através de um processo de transvaloração ao serem distribuídos entre os familiares dado o grau de importância de cada um. Os cemitérios são tomados como lugares relevantes para demarcar os lugares dos mortos, em contraponto com a descrição da demarcação também do lugar da morte, como no caso de óbito por acidente no trânsito, quando as cruzes e miniaturas de túmulos são vistos à beira da estrada, permitindo elaborar uma reflexão sobre o modo como os enlutados constroem essas duas categorias: morto e morte. Conclui-se, nesse sentido, que as maneiras particulares de lidar com a morte nessas comunidades incluem especialmente as práticas de presentificação dos mortos como antepassados, no contexto das quais as memórias sobre os mortos são construídas como um recurso de produção da honra familiar.
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LUCIANA MARINHO DE MELO
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Povos Indígenas na cidade de Boa Vista: Estratégias identitárias e demandas políticas em contexto urbano
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Data: 06/09/2018
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Nesta pesquisa trato das estratégias de luta pelo reconhecimento étnico dos povos indígenas residentes no contexto urbano de Boa Vista, Roraima. Esta luta é decorrente da recusa do Estado em reconhecer os seus pertencimentos étnicos, impedindo-os de ter acesso às políticas indigenistas. Tal situação motivou a criação de três organizações presididas por lideranças Macuxi e Wapichana, sendo elas a Organização dos Indígenas da Cidade, Associação Indígena Kapói e Kuaikrî Associação Indígena as quais apresentam diferentes estratégias como forma de pressionar o Estado pelo reconhecimento do pertencimento étnico. A intenção desta pesquisa foi tomar os Macuxi e Wapichana como sujeitos de estudo para, a partir deles, identificar como os povos indígenas que residem na cidade de Boa Vista elaboram estratégias para a participação nos direitos constitucionais direcionados aos povos originários. Dentre essas estratégias destaco as ações coletivas desenvolvidas por meio do movimento indígena. Por estratégias me refiro aos recursos discursivos e simbólicos acionados na construção de pautas reivindicatórias que são elaboradas no âmbito das organizações e associações. A primeira hipótese que proponho para discutir acerca do problema de pesquisa é que os critérios adotados pelos agentes do Estado e direcionados aos indígenas em contexto urbano se tornam mais restritivos e excludentes na medida em que estes são apropriados pelo movimento indígena em Boa Vista. A segunda hipótese é que a recusa em reconhecer o pertencimento étnico por parte do Estado expressa uma política estrategicamente elaborada. Para responder a estas questões foi realizada pesquisa etnográfica que elegeu como locus de observação as reuniões e assembleias promovidas pelas organizações e associações, possibilitando a coleta de dados sobre processos de construção política das identidades étnicas, a apropriação da cidade como lugar de ancestralidades, lutas, resistências, negociações e diálogos conduzidos por lideranças Macuxi e Wapichana. Os resultados da pesquisa demonstram que a relação das organizações com o Estado é marcada por negociações e conflitos, tendo como consequência o fortalecimento do movimento indígena em contexto urbano e o surgimento de novas lideranças que intencionam não apenas a reversão da situação de invisibilidade étnica em uma cidade que possui aproximadamente 31.000 pessoas autodeclaradas indígenas, mas também a participação política partidária. Neste estudo, as teorias sobre Etnicidade e Identidade Étnica foram privilegiadas de modo a refletir sobre as relações políticas entre diferentes grupos, bem como os estudos que consideram a objetificação cultural.
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SONIA MARIA PEREIRA DO AMARAL
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Narrativas Interculturais na Sala de Aula: Antropologia e Educação no Marajó (Breves-PA)
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Data: 30/08/2018
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Na presente tese apresento os resultados da experiência de pesquisa realizada na interface Antropologia e Educação, onde as salas de aula do ensino médio e superior foram meus campos de pesquisa. O objetivo deste trabalho foi cartografar narrativas construídas por alunos do ensino médio e superior acerca de suas trajetórias de vida compartilhadas em ambientes de sala de aula. Como objetivos específicos, identifico temáticas emergentes em narrativas socializadas por esses(as) alunos(as) e mapeio marcadores de identidade/etnicidade, gênero/sexo e religião em narrativas desses agentes no campo educacional, bem como sentidos e significados construídos nesses processos de identificação das experiências socioculturais. Para a coleta de dados realizei oficinas pedagógicas com os(as) alunos(as) do ensino médio, assim como, acompanhei e participei com e na turma das aulas de Sociologia e Filosofia. No ensino superior, acompanhei e participei das aulas de Teoria do Currículo, junto com a turma da pesquisa, além de realizar pesquisa-ação - na disciplina Antropologia Educacional, com atividades que auxiliaram na construção da cartografia. Além desses instrumentos, utilizei entrevista com as interlocutoras que na sala de aula, iniciavam um tema dentro dos marcadores que estávamos mapeando e que não concluíam suas narrativas por falta de tempo nas aulas. Os resultados dos estudos nos campos em destaque, mostraram que os(as) estudantes, sejam do ensino médio ou superior, chegam às salas de aulas trazendo histórias de vida diferenciadas e num processo intercultural, constroem teias de relações de solidariedade, conflitos, afetos. Demonstraram que sentem necessidade de falar de si, embora suas memórias, em algumas vezes, chegassem encharcadas de emoções, algumas pela felicidade estampada no sorriso e no olhar, ao falar das brincadeiras de infância, dos banhos de rios, dos cuidados das avós; mas também na voz embargada na memória das perdas, traições, racismos sofridos em suas experiências de vida. A interpretação que fiz, foi que, quando encontram a oportunidade de narrar suas vivências e experiências socioculturais, somadas as histórias de vida a dos(as) demais colegas, entram num processo de reconstrução de si e marcam suas novas identidades. Também como resultados, compreendi que Antropologia e Educação, tanto no ensino médio, quanto no ensino superior, ainda são campos de conhecimentos vistos de formas distintas. Por essa razão, temáticas voltadas a estes dois campos e que fazem parte das práticas culturais dos(as) alunos(as), que poderiam ser exploradas de maneira interdisciplinar, a partir das ricas narrativas que chegam às salas de aulas, são silenciadas, predominando de forma técnica, os conhecimentos obrigatórios dos currículos.
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LAIRISSE DANIELE DE ARAUJO COSTA
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Arqueologia e Etnicidade: o estudo de cachimbos de barro na Amazônia Colonial (Séc. XVIII e XIX)
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Data: 29/08/2018
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Este trabalho apresenta um estudo arqueológico da escravidão nos Engenhos de Açúcar da Amazônia Colonial, que subsistiram entre os séculos XVIII e XIX, a partir da análise de cachimbos de barro buscando compreender a relação desses artefatos no contexto e principalmente compreender as influências dos sujeitos na produção destes artefatos em um espaço em que se desenvolveram diversas relações sociais e interétnicas. Partindo da base teórica e metodológica da Arqueologia da Escravidão, caracterizamos a região estudada através do uso de fontes históricas e dados arqueológicos. A partir disso, os cachimbos foram analisados através de atributos que permitissem inferir acerca da produção destes objetos no contexto estudado, tendo como principais elementos de análise os elementos decorativos em comparação com exemplares de outros contextos escravistas e locais. Por fim, buscamos compreender a correlação existente entre práticas sociais de determinados grupos e a construção de diferentes redes de sociabilidade em que o uso de cachimbos pode ter se desenvolvido.
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ELIANE MIRANDA COSTA
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Memórias em escavações: Narrativas de Moradores do rio Mapuá sobre os Modos de Vida, Cultura Material e a Preservação do Patrimônio Arqueológico (Marajó, PA, Brasil)
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Data: 14/08/2018
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Este estudo trata da história, da memória, da cultura material, do patrimônio arqueológico de povos tradicionais no arquipélago de Marajó, especificamente dos moradores do rio Mapuá, no município de Breves, Estado do Pará, Brasil. Um grupo social que por meio da oralidade detém saberes locais, em simbiose com conhecimentos científicos da racionalidade moderna ocidental. O objetivo central volta-se para entender e analisar os sentidos e significados atribuídos por esses agentes à cultura material do passado no presente. A composição teórico-metodológica da pesquisa compreende um conjunto de passos e procedimentos à luz da Arqueologia Etnográfica e da História Oral. As fontes resultam de um levantamento arqueológico não interventivo na região de acordo com as informações dos moradores; da coleta de narrativas orais com diferentes interlocutores envolvidos com o objeto em estudo; do registro das observações etnográficas e do registro iconográfico, incluindo o estudo do corpus bibliográfico sobre a pesquisa arqueológica no Marajó. O levantamento mapeou treze ocorrências arqueológicas, as quais nos indicam traços significativos do histórico processo de ocupação e exploração do território, bem como colocam em evidência uma história local e diferentes costumes, saberes e práticas tradicionais cotidianamente reinventadas. Além das ocorrências, foram também mapeados diferentes objetos produzidos pelos moradores com produtos retirados da floresta e utilizados de várias formas na vida cotidiana. São objetos que integram o patrimônio material desse coletivo e caracterizam-se como estratégias do saber-fazer e das relações estabelecidas com o meio ambiente amazônico. Combinando em uma análise interpretativa as fontes etnográficas, arqueológicas e histórica os resultados demonstraram que o patrimônio arqueológico do Mapuá compreende um conjunto de materialidades de diferentes temporalidades e espacialidades entrelaçados em uma dimensão de longa duração. É um patrimônio que não se restringe às tradicionais cerâmicas e tampouco às coisas do passado. Inclui o território, os espaços praticados, os saberes e as práticas transmitidas pela tradição oral, assim como memórias, histórias e produção material no/do presente. Nessa dinâmica, a cultura material assume diferentes formas e usos, incorpora aspectos simbólicos, cosmológicos e cognitivos de suma importância para a preservação do território/patrimônio. No que tange à materialidade do passado identifica-se que os sítios arqueológicos e as coisas estão atravessadas ao modo de vida dos moradores e desempenham a função de suportes e lugar da memória, ao mesmo tempo em que também possuem uma memória. Passado e presente são fenômenos inter-relacionados. O primeiro é elemento do segundo e se manifesta conectado nas histórias e memórias do lugar e das pessoas e seus respectivos jogos de interesses e necessidades. Vê-se que o passado não é estático, mas operado dentro de um processo dialético de conflito, contradição e resistência forjado pelo acesso e uso do território. Nesse aspecto se observa que as pessoas não só convivem com as coisas, mas delas guardam histórias, memórias, sentidos e significados de seus usos e existência. Preservar representa desse modo condição para que esses agentes possam interpretar o passado e, principalmente gerir o próprio patrimônio.
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LEONILDO NAZARENO DO AMARAL GUEDES
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Prostituição em balsas que navegam nos Rios do Arquipélago do Marajó-Pará: entre reciprocidade e moralidade
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Data: 19/06/2018
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Este trabalho, intitulado “A prostituição em balsas que navegam nos rios do arquipélago de Marajó-Pará: entre reciprocidade e moralidade”, objetivou analisar as construções morais de mulheres ribeirinhas acerca da prostituição nos rios do Arquipélago de Marajó, considerando que há “vida” (família, trabalho, lutas, histórias e expectativas) além da prostituição. Os procedimentos teórico-metodológicos ancoraram-se na análise situacional como método, e com a realização de entrevistas semiestruturadas, conversas informais e formais na cidade e em uma escola do campo do município de Breves-PA, incluindo análise do corpus bibliográfico disponível sobre os temas relacionados ao contexto da prostituição no Marajó. Essa escolha metodológica justificou-se na medida em que foi o método e as técnicas que mais se ajustaram ao problema de pesquisa e à especificidade da coleta de dados em campo. No tocante ao método de investigação, foi necessário discorrer sobre algumas questões éticas relacionadas à escrita do trabalho e à preocupação com as implicações da pesquisa para os(as) interlocutores(as). Os resultados evidenciaram a existência de sociabilidades entre tripulantes de balsas e muitos ribeirinhos (homens, mulheres, jovens e adolescentes) ao longo de algumas décadas, especialmente a partir de 1970, com a criação da Zona Franca de Manaus, ocorrendo a intensificação desses relacionamentos a partir de 1990, motivada por fatores conjunturais que implicaram em mudanças na economia brasileira e na cultura ribeirinha marajoara. Em relação aos relacionamentos de mulheres ribeirinhas e tripulantes das balsas, essas sociabilidades não se fundaram apenas em prostituição ou sexo transacional, mas em um sistema de dádivas constituídas por bens materiais e simbólicos, dentre os quais o óleo diesel, alimentos frescos, cerveja, cigarros, dinheiro, presentes, apoio financeiro, projetos de melhoria de vida, ampliação dos laços familiares para o interior das balsas, de forma prática ou discursiva/simbólica. As construções discursivas de mulheres ribeirinhas pautaram-se por um forte compromisso com a moral, sobretudo da família tradicional, ao lançar mão de valores como casamento, fidelidade, confiança, reciprocidade, para dar sentido a seu trabalho fora do lar, aos seus relacionamentos afetivos e a sua inserção na prostituição em balsas. No entanto, o que se tem verificado nos rios do Marajó é apenas a perseguição ou as tentativas de punir adolescentes e suas famílias, negligenciando os processos mais amplos de constituição de uma realidade social transformada pela expansão do capital financeiro através do comércio global.
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HELENA PALMQUIST
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Questões sobre genocídio e etnocídio indígena: a persistência da destruição
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Data: 16/05/2018
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No ano de 2013 foi redescoberto no Rio de Janeiro, o Relatório apresentado em 1967 pelo Procurador Jader de Figueiredo Correia no qual foram compulsados consistentes registros de violência contra povos indígenas brasileiros cometidos por agentes estatais em conluio com forças de segurança e fazendeiros, sob a égide do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), responsável por processos continuados de etnocídio e violência contra os povos que deveria proteger. Ao mesmo tempo, em 2013, povos indígenas em vários pontos do país eram continuamente atingidos por violências e processos de etnocídio e genocídio na esteira de empreendimentos econômicos e projetos de desenvolvimento estatais e privados. Porque mecanismos o etnocídio e o genocídio seguem presentes nas ações de agentes do estatais ou privados no Brasil, atravessando gerações, períodos históricos, mudanças políticas e jurídicas? Para essas questões, o presente trabalho busca respostas, examinando, na literatura antropológica, em estudos jurídicos e em estudos de genocídio, os autores que se debruçaram sobre o tema do genocídio e do etnocídio contra povos indígenas. Ao lado dos debates conceituais que se desdobraram a partir da criação dos termos genocídio (em 1943) e etnocídio (em 1970), o trabalho examina documentos que registram a persistência de processos genocidas e etnocidas contra povos indígenas de 1910 aos dias atuais: os documentos produzidos por Roger Casement sobre o terror no Putumayo; a investigação do procurador Jader Figueiredo sobre os crimes do SPI; as denúncias produzidas por Shelton Davis, por um grupo de antropólogos anônimos e pela Comissão Nacional da Verdade sobre as violências desencadeadas pela política de desenvolvimento da ditadura militar brasileira; o filme Martírio, de Vincent Carelli, Tita e Ernesto de Carvalho, sobre o longo genocídio dos Guarani e Kaiowá; e por fim, as ações judiciais do MPF que tratam da ação etnocida contra os povos indígenas atingidos pela UHE Belo Monte.
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NILSON OLIVEIRA SANTA BRIGIDA
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Entre memórias e esquecimentos: a Colônia do Prata como patrimônio olvidado
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Data: 14/05/2018
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A Colônia do Prata é uma Vila de moradores que apresenta realidade culturalmente diferenciada, marcada pela experimentação dos efeitos sociais do sofrimento decorrentes de políticas coloniais na Amazônia. Objetivo averiguar a existência de uma teoria local de patrimônio em relação ao espaço. Em perspectiva comparada, desenvolvo etnografia polifônica, trabalhando qualitativamente com relatos de memória e esquecimento em relação ao lugar. A partir da eleição de quatro categorias de análise (tempo, distâncias, memórias e esquecimentos), busco responder à indagação sobre a possibilidade do lugar ser considerado patrimônio cultural. Concluo que há sociabilidades próprias surgidas de um contexto de conflito, no qual a disputa entre conceitos sociais de deterioração, conservação e preservação é manifestada a partir da interação, fazendo com que a ideia de patrimônio cultural se apresente em meio a um campo simbólico de representações de identidade e poder.
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ELIZABETE PEREIRA PIRES
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As Condicionantes da UHE de Belo Monte e o Desafio das Políticas Públicas de Saúde no Município de Altamira/PA
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Data: 08/05/2018
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Dentro do cenário atual de busca por fontes de energia a Amazônia se destaca por ter um grande potencial hídrico e com as caraterísticas ideais para a implantação de usinas hidrelétricas para suprir as demandas energéticas do país. As peculiaridades locais com doenças endêmicas e sistema de saúde deficiente, dentro de uma nova realidade com as frentes migratórias, nos fez estimar as prevalências de Malária, Dengue e Leishmaniose tegumentar no período de 2010 a 2017 no município de Altamira/PA e buscar saber se as condicionantes de saúde, compromisso firmado pela Norte Energia e o Governo Federal para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte na região do Xingu, alteraram o perfil epidemiológico dessas doenças. Foram coletados os dados da Malária, Dengue e Leishmaniose tegumentar no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (SIVEP) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), nos bancos de dados da Secretaria de Saúde do município de Altamira. Para análise foi utilizada a distribuição temporal e espacial dessas doenças, utilizando-se como ferramenta a Análise de Séries Temporais. Em 2010 foram registrados 1.849 casos de Malária, em 2017 o número caiu para zero, e esta diminuição foi atribuída ao Plano de Ação para Controle da Malária (PACM). A Dengue teve 1.330 casos confirmados em 2010 e em junho de 2017 decaiu o número de casos para 17. A Leishmaniose tegumentar foi a única doença que se manteve constante, apresentando, em 2010, 62 casos e em maio de 2017, 17 casos. A Dengue e a Leishmaniose tegumentar não tiveram ações de controle e monitoramento específicos como a Malária, que recebeu investimento financeiro para controle, sendo executadas apenas ações preventivas de rotina no município. A Malária é considerada uma doença controlada em Altamira, porém municípios vizinhos a obra como Pacajá está com números de casos crescentes, visto que em 2015 foram notificados 345 casos, em 2016, 460 casos e até 24 de agosto de 2017, já haviam sido notificados 437 casos, logo precisa estender as ações de controle e monitoramento aos municípios vizinhos e dar continuidade por mais alguns anos. Apesar de a Dengue ter redução em número de casos é uma doença considerada negligenciada junto à Leishmaniose, tanto pelas condicionantes de saúde propostas pelo empreendedor, como pela ausência de políticas públicas municipais e estaduais ou pela ineficiência dessas políticas voltadas para o controle dos mosquitos transmissores.
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MARINA RAMOS NEVES DE CASTRO
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Socialidades e sensibilidades no quotidiano da Feira do Guamá: uma etnografia das formas sociais do gosto
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Data: 20/04/2018
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Este trabalho reflete sobre a experiência social do gosto, a partir de uma etnografia realizada na feira do Guamá, em Belém, estado do Pará, na Amazônia brasileira. Procurou-se compreender a construção social dos sentidos e do gosto como vetor de sensibilidades e de socialidades em uma feira. Busca-se fazer uma prospecção das formas do gosto presentes nesse espaço, prospeccionando e compreendendo as sensorialidades partilhadas pelo grupo. O trabalho privilegia uma percepção antropológica do fenômeno social do gosto e dos sentidos, na feira. Nesse percurso, utiliza-se as noções de sociação, socialidade e formas sociais, de G. Simmel (2006), de traço, de J. Derrida (1994); de sensorial, de Merleau-Ponty (1945; 1964) e Ingold (2006). Em termos metodológicos, utilizou-se a perspectiva etnográfica de M. Peirano (1995; 2006); a perspectiva de uma fenomenologia baseada em M. Merleau-Ponty (1945) e em A. Schutz (2012); a etnografia sensorial, baseada em S. Pink (2012); a antropologia dos sentidos baseada em D. Le Breton (2017), em D. Howes (1991, 2013), em C. Classen (1993); a antropologia modal desenvolvida por F. Laplantine (2017); a antropologia urbana de Velho (2003, 2006); e da antropologia interpretativa a partir da perspectiva de C. Geertz (1989); J. Clifford (1991); S. Tyler (1991). Procurou-se, em síntese, uma compreensão das sensorialidades que envolvem a experiência dos sentidos e do gosto nos processos de socialidades e sensibilidades na feira. Os resultados principais alcançados com esta tese consistiram nas constatações de que: a) o fenômeno do gosto não pode ser reduzido à condição de um simples prazer estético, ou enquadrado em categorias pautadas pelos conceitos hegemônicos de beleza, ideal, perfeição e até mesmo, em alguns casos, racionalidade; b) os sentidos e o gosto são constructos sociais produzidos contextualmente pela experiência social sensível; c) essas sensibilidades seriam formas sociais (Simmel, 2006), presentes no universo da feira; d) o gosto consiste numa forma de expressão que evoca a capacidade de entendimento sensível do homem em relação ao seu entorno, à sua experiência e vivência. Assim, o gosto consistiria na capacidade de resposta do indivíduo a essas vivências e experiências que o indivíduo dá-se a si e ao mundo, no seu processo de interação social.
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RODRIGO DE SOUZA WANZELER
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PEIXE-FRITO, SANTOS E BATUQUES: Bruno de Menezes em Experiências Etnográficas
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Data: 06/04/2018
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Nesta tese empreendo um estudo que intenta, primordialmente, apresentar uma outra chave de leitura para a produção intelectual de Bruno de Menezes (1893-1963), o qual obteve destaque no cenário cultural amazônico como um grande literato. Assim, procuro reconstituir importantes aspectos de sua trajetória de vida, destaco representações do cotidiano da cidade de Belém advindas de suas experiências sociopolíticas e focalizo a diversidade e a pluralidade de vozes, provenientes da interculturalidade latente na Belém da primeira metade do século XX. Neste exercício, exploro o viés etnográfico em algumas de suas principais composições, linha interpretativa escolhida para ressignificar os estudos sobre o literato negro. Para alcançar o objetivo central da investigação, em outras palavras, a tese que costura o trabalho, algumas questões fizeram-se norte: Que experiências etnográficas conformam as trajetórias de vida de Bruno de Menezes? Como o intelectual percebia a si e aos outros em suas escrituras? Em que condições e circuitos o literato realizou pesquisas e produziu escritos sobre a dinâmica cultural em cenários paraenses da Amazônia? Por fim, qual a importância de Bruno enquanto um pensador social para o contexto amazônico na primeira metade do século XX? A formulação e compreensão destas questões estão ancoradas no cruzamento teórico-metodológico de um saber-fazer etnográfico que se alinhava nas conexões da Antropologia com a Literatura e o Folclore, os Estudos Culturais, Pós-Coloniais e a História Oral e se verticaliza num campo em que obras literárias, pesquisas de cunho folclórico, fotografias e relatos orais reconstituem evidências de e sobre o escritor em tela. Frente ao exposto, divido o texto acadêmico em duas partes: na primeira, trato dos vários percursos traçados por Bruno ao longo de sua existência e enfatizo as redes estabelecidas, as quais contribuíram para a formação de seu fazer-se e repertório crítico. Na segunda parte, abordo três produções de Bruno de Menezes – Boi Bumba: auto popular; São Benedito da Praia: Folclore do Ver-o-Peso e Batuque. A intenção é reconstituir e analisar a experiência etnográfica dessas composições literárias e ousar incluir o negro jurunense no rol dos grandes pensadores acerca da cultura na Amazônia, indo, dessa forma, para além do aspecto literário, faceta pela qual Bruno é deveras reconhecido. Assim, penso que a partir de todo cabedal epistemológico no qual a tese se ampara, outro Bruno de Menezes é descortinado, o esteta da palavra é também um etnógrafo da Amazônia paraense.
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ALAN SILVA DE AVIZ
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Sexualidade e Religiosidade em Belém do Pará: Uma etnografia junto a fiéis homossexuais de igrejas evangélicas da capital paraense
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Data: 23/03/2018
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A história da crença e das manifestações religiosas na humanidade, tem sido marcadas ao longo do tempo por diversos fenômenos, entre os quais, em específicos na modernidade, alguns vem se apresentando de forma contraditória e paradoxal no âmbito das relações sociais. O trabalho em questões traz consigo, as narrativas e histórias de vida, de personagens homossexuais e suas aproximações e envolvimentos religiosos com espaços, que historicamente se opunham as suas sexualidades, sob regime de uma conduta heteronormativa. Assim, esse trabalho expõe os resultados de uma pesquisa, que teve o propósito de analisar e compreender a trajetória de homossexuais, masculinos e femininos, em igrejas evangélicas (Quadrangular, Assembléia de Deus e Universal do Reino de Deus) na cidade de Belém-PA. Sob desenvolvimento de um trabalho etnográfico durante o ano de 2017, que teve início em 2016, foi possível sinalizar para a resistência por parte destas instituições religiosas para com homossexuais, no qual, muitos são os bloqueios criados a tais sujeitos, no sentido de não aceitarem harmoniosamente orientação sexual que destoa da heteronormativa. Em face da resistência do público evangélico aos homossexuais, foi possível nesta pesquisa, apontar para a conciliação e sociabilidade entre sexualidade e crença, por meio de discursos de ambas as partes, sob perspectiva dos muitos reflexos que os homossexuais manifestam ao longo de suas trajetórias nesses espaços religiosos, e que de certo, reflete em suas vidas cotidianas. Influenciando não somente no seu modo de crer, como também no dialogo e performace que os mesmos estabelecem em seus ciclos sociais. Tais dados foram obtidos também por meio de entrevistas gravadas, com oito interlocutores que se auto afirmam homossexuais, e que persistem em frequentar essas igrejas. Permitindo com isso entender, os paradigmas deste fenômeno, sob recorte de um paradoxo social, que corresponde à tentativa de homossexuais em driblarem as barreiras e sanções morais estabelecidas nessas instituições religiosas.
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LUCIANA CRISTINA DE OLIVEIRA AZULAI
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Percepções sobre Cultura Material e Sítio Histórico Urbano na cidade de Belém-PA: o caso do Museu da UFPA e sua coleção de Arqueologia Urbana
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Data: 23/03/2018
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O trabalho pretende apresentar os resultados e discussões a cerca da pesquisa de mestrado no programa de pós-graduação em Antropologia da UFPA, oriunda do projeto intitulado “Arqueologia Urbana: uma relação do passado e do presente no Acervo Arqueológico do Museu da UFPA”. O foco principal é o estudo que foi desenvolvido sobre o Museu da Universidade Federal do Pará – MUFPA e a coleção de arqueologia urbana que se encontra sob a guarda desta instituição. O Museu está situado no centro da cidade de Belém – PA, instalado no Palacete Augusto Montenegro, um casarão histórico, construído no início do século XX para servir de residência ao ex-governador do Estado do Pará, Augusto Montenegro. A coleção de arqueologia urbana foi formada através de um conjunto de vestígios arqueológicos encontrados no museu durante as reformas realizadas no local, esta pesquisa se concentrou nos materiais encontrados na área do jardim. Dentre os objetos encontrados há uma diversidade de fragmentos de louças, vidros, cerâmicas, metais, entre outros. Parte-se da ideia de que esses objetos apesar de não terem sido encontrados de forma convencional como é realizado em escavações arqueológicas, apresentam uma considerável significância por se tratarem de vestígios do passado que recebem atribuição de valor histórico-cultural no presente. Neste sentido, o objetivo geral da pesquisa é a investigação baseada na cultura material que compõe a coleção arqueológica, bem como busca entender sua trajetória até a formação da coleção dentro do Museu. O intuito da pesquisa também foi compreender as mudanças ocorridas na paisagem do local onde os objetos arqueológicos foram encontrados, procurando estabelecer possíveis relações existentes no espaço do Museu e a importância para o Patrimônio Cultural da cidade. Por fim, conclui-se que esses vestígios e o próprio Palacete/ Museu integram um sítio urbano e histórico de Belém.
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CAMILLE GOUVEIA CASTELO BRANCO BARATA
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Mulheres da montanha: corporeidade, dor e resistência entre indígenas
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Data: 19/03/2018
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O trabalho problematiza as práticas de cuidado e proteção do corpo frente a situações de violência entre mulhereres indígenas, nomeadas, em prol da proteção de suas identidades, como mulheres da montanha. A dissetação consiste no diálogo bibliográfico empreendido sobre as questões da pesquisa, bem como na reflexão sobre narrativas consideradas reveladoras para o entendimento do tema. Os objetivos são: (1) dialogar com o repertório bibliográfico investigado a partir dos atos e falas das interlocutoras, considerando as interpretações antropológicas e as das interlocutoras igualmente válidas; (2) refletir sobre as formas de agência, cuidado e resistência das interlocutoras frente a situações de violência e brutalização dos corpos e trajetórias. Categorias como dor e terror, bem como o entendimento de marcadores sociais da diferença sob um ponto de vista interseccional estruturam o olhar sobre a pesquisa.
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ARIANA KELLY LEANDRA SILVA DA SILVA
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A Doença Falciforme na Amazônia: As Intersecções entre Identidade de Cor e Ancestralidade Genômica no Contexto Paraense
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Data: 13/03/2018
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A Doença Falciforme (DF) é a doença genética mais prevalente em todo o mundo. Na Amazônia, as pessoas com a hemoglobina mutante chamada Hb S (grupo homozigoto Hb SS) representam cerca de 1% da população, que convivem com desafios cotidianos em relação ao acesso aos serviços de saúde pública, à vulnerabilidade biossocial da síndrome, aos estigmas relacionados à “Raça/Cor” dos indivíduos e às manifestações clínicas severas e de difícil tratamento. Esta pesquisa investigou categorias biológicas (genética) e culturais (raça/cor) dos pacientes diagnosticados com a doença, confrontando as intersecções (conexões) entre a Identidade Social de Raça/Cor e a Ancestralidade Genômica (AG) considerando a sua condição biocultural, com histórias de vida e particularidades que englobam a questão genética e o racismo em torno da doença. A pesquisa investigou um grupo de 60 pessoas com Hb SS no Estado do Pará. Foram coletadas amostras de sangue na Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Pará (Hemopa/Belém) e realizados testes de ancestralidade genômica autossômica dos indivíduos no Laboratório de Genética Humana e Médica (LGHM) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Simultaneamente, foi realizada pesquisa etnográfica com entrevistas semiestruturadas com os mesmos indivíduos, após a entrega do resultado do teste de AG. O estudo tem sua relevância embasada na identificação do processo de racialização da DF como um Determinante Social da Saúde (DSS), especialmente considerando que esta comporta elementos biológicos e socioculturais, sendo ainda concebida como uma “doença que vem do negro” na Amazônia, e o fato de haver ainda poucas pesquisas sobre doenças genéticas na Amazônia. A tese foi desenvolvida na forma de artigos científicos, alguns dos quais já foram publicados e outros encontram-se em processo de submissão, eles são apresentados como uma sequência para facilitar o entendimento dos aspectos gerais e dos principais resultados do projeto.
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MILENE RAIOL DE MORAES
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Contribuição dos Fatores Moleculares e Ambientais na Incidência de Hipertensão Arterial em Populações Vulnerabilizadas
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Data: 06/02/2018
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Atualmente, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) é considerada caso de saúde pública e por este motivo deve ser prioridade na atenção básica. Suas causas primárias são desconhecidas, porém sabe-se que ela é multifatorial e multigênica. Na literatura vários autores propõe que a HAS é mais freqüente em indivíduos afrodescendentes que em europeus, e de igual forma, as complicações da hipertensão arterial também podem ocorrer mais freqüentemente em afrodescendentes do que na população em geral, acarretando maior morbimortalidade em indivíduos deste grupo étnico. O estudo realizado foi quantitavivo e qualitativo, com 1000 individuos, em vinte e seis comunidades quilombolas, em oito municipios do estado do Pará. Desta forma, investigamos a influência dos fatores ambientais e genéticos, no mecanismo de equilíbrio da pressão arterial, assim como o estilo de vida de amostras da população do estado do Pará e suas interferências no aumento e agravamento da HAS. Os resultados demonstraram como é a saúde dos quilombolas moradores destas comunidades. Os hábitos ocidentais chegaram nessas localidades, como os alimentos enlatados e embutidos. O excesso de peso, aumento da circunferência abdominal, predominância no consumo de frituras, gorduras, massas, bebidas açucaradas, diminuição na ingesta de frutas, verduras e legumes, etilismo, falta de conhecimento sobre a pressão arterial associadas ao desmazelo da assistência à saúde, por parte dos governantes, os tornam vulneráveis a hipertensão arterial, a importância da implementação de políticas públicas de saúde para que essas comunidades sejam melhor assistidas em toda a sua integralidade.
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MONIQUE MALCHER DE CARVALHO
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SEM LINHAS RETAS Gênero e sexualidade nas Graphic Novels
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Data: 06/02/2018
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As histórias em Quadrinhos tem grande parte de sua trajetória marcada pela abordagem de temas controversos e desafiadores, que ajudam os leitores a rever a forma como entendem e se relacionam com as imagens e representações cotidianas. Historicamente elas se restringiam a episódios de curta duração, as editoras não estimulavam e nem apoiavam histórias maiores ou mais detalhadas, pois a arte sequencial não era pensada para leitores adultos. Porém, em anos recentes surgiu a graphic novel, um formato de história em quadrinhos que trouxe temas importantes como: questões de representação de gênero e sexualidade. A pesquisa busca compreender como se dão performance de gênero e práticas sexuais não normativas nos quadrinhos e de que forma se tornam ferramentas ou táticas para (re)pensar questões de sexualidade com um olhar pós identitário. A escolha de quadrinhos no formato de graphic novel se deu pelo caráter político, literário e representativo desse tipo de publicação. Os objetos escolhidos foram "Azul é a cor mais quente", de Julie Maroh, publicado em 2010 e "Fun Home: Uma tragicomédia em família" de Alison Bechdel, publicada em 2006. Através destes quadrinhos buscou-se entender: a negociação das identidades dos personagens dentro dos constrangimentos discursivos da heteronormatividade, tanto ao repeti-la quanto ao desafiá-la em suas performances de gênero; a heterossexualidade como prática compulsória tanto nas relações homossexuais assumidas quanto escondidas; a presença de normas de gênero corporificando certos ideias de feminilidade e masculinidade, e além disso, trazer o debate sobre a narrativa literária das graphic novels como ferramenta para dar conta de debater a sexualidade e questões queers , compreendendo o fazer antropológico como experimental e para além das fronteiras entre o acadêmico e o literário.
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