A questão periurbana na Ilha do Mosqueiro, Belém, Pará: o conflito entre as manifestações do urbano-natural e a lógica urbano industrial
Reestruturação Espacial, Expansão Urbana, Espaço Periurbano, Alterações Socioprodutivas, Transformações Espaciais, Ilha de Mosqueiro, Região Metropolitana de Belém
Ao longo de seu processo de ocupação, a região amazônica tem passado por reconfigurações espaciais com o intuito de manter a acumulação do capital no território. As décadas de 1960 e 1970 marcam uma fase decisiva neste sentido, pois com a mobilidade do grande capital para a região, uma nova lógica de ocupação foi difundida. Concebida a partir de um modelo exógeno e desigual de desenvolvimento, essa nova lógica promoveu um padrão de urbanização difuso no território, se sobrepondo a lógica espacial preestabelecida. Na Região Metropolitana de Belém, os ajustes espaciais resultantes da implantação de grandes projetos econômicos na região provocaram uma imensa mobilidade de força de trabalho para a Belém, capital do estado do Pará, resultando em uma reestruturação do espaço metropolitano que conduziu a expansão urbana de forma dispersa e fragmentada. A Ilha de Mosqueiro, que se configura como a maior dentre as 32 ilhas que compõem a capital, tem a sua trajetória histórica de ocupação marcada em um primeiro momento pelas atividades rurais do período colonial e em um segundo momento pelo início da exploração das potencialidades turísticas da ilha pelas classes de poder aquisitivo do período da borracha. A integração terrestre da ilha com o continente nesse período dos grandes projetos, trouxe a popularização de atividades ligadas ao setor do turismo e do comércio extrativista, devido sua vocação paisagística e a abundância de recursos naturais, culminando na expansão do núcleo urbano ali existente e na eclosão de diversas configurações espaciais e na mistura entre atividades e modos de vida urbano e rural do território. Este trabalho analisa tais processos no território insular e também, a partir de um estudo de caso, expõe as alterações na dinâmica das relações socioprodutivas e as transformações espaciais de uma comunidade periurbana. Neste sentido, o presente trabalho é estruturado em dois artigos, em que cada um procura responder a um objetivo específico da pesquisa. Em uma escala macro, o primeiro artigo busca discutir a produção do espaço construído e a questão periurbana da ilha a partir da reconstituição do processo de ocupação e exposição de suas configurações espaciais. Em uma escala micro, o segundo artigo já procura expor as alterações na dinâmica das relações sociais e produtivas e os impactos dessas alterações na composição do espaço periurbano da comunidade do Rio Cajueiro localizada dentro do perímetro urbano da Ilha de Mosqueiro. A metodologia usada consiste em uma investigação de cunho exploratório que adotou a combinação de duas abordagens: o método regressivo-progressivo lefebvriano que auxiliou na reconstituição e teorização sobre o processo de ocupação e de urbanização do espaço na escala do território; e os procedimentos de coleta e análise de dados da Teoria Fundamentada que auxiliou, na escala do assentamento, na estruturação das informações obtidas em campo e no entendimento dos processos que contribuíram para a transformação espacial do objeto estudado. Os resultados da pesquisa demonstram que a ilha de Mosqueiro se mostra como um dos territórios insulares da Região Metropolitana de Belém mais marcados pela sobreposição de dinâmicas sociais e econômicas diferentes que culminou no surgimento de configurações espaciais híbridas ou periurbanas. Isso pode ser constatado na tanto nas dinâmicas socioprodutivas atuais quanto na composição espacial atual do estudo de caso da comunidade do Rio Cajueiro que carrega tanto os elementos da lógica de ocupação rural-tradicional quanto a do urbano-industrial.