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Banca de DEFESA: MARCIA FERNANDA DE MELLO MENDES

Uma banca de DEFESA de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: MARCIA FERNANDA DE MELLO MENDES
DATA: 04/11/2021
HORA: 10:00
LOCAL: Videoconferência/Sala virtual Teams.
TÍTULO:

Castellers e mandalas na saúde mental: cartografia da participação em primeira pessoa nas politicas de cuidado.


PALAVRAS-CHAVES:

Saúde mental, em primeira pessoa, participação cidadã, movimento associativo


PÁGINAS: 325
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Ao longo dos séculos, tanto no Brasil quanto na Espanha, diferentes modos de tratar a doença mental foram conhecidos. A transformação do modelo de atenção em saúde mental de um formato asilar- institucional para estratégias preventivas e comunitárias, visando a promoção da saúde mental individual e coletiva, mostrou-se como um desafio, tendo a participação cidadã como um aspecto fundamental para a criação de novas políticas e busca de mudanças de paradigmas na saúde mental. Nesse contexto, realizo uma análise da participação em primeira pessoa na saúde mental, trançando aproximações e distanciamentos entre as políticas de saúde mental do Brasil e da Catalunha, além dos modos de participar nos dois países. Utilizo a metáfora do casteller e da mandala como representação da participação e organização cidadã entre os dois países. Para isso, realizei uma etnografia na Federació Catalana de Entitats de Salud Mental en 1ª Persona (Veus), um conjunto de entidades criadas e dirigidas por pessoas com diagnóstico de saúde mental que têm unido forças para promover e fortalecer o movimento associativo na primeira pessoa, garantindo seus direitos e que a sua voz influencie nas políticas públicas. A investigação tem a perspectiva cartográfica, fazendo uso dos seus pressupostos para se relacionar como campo de pesquisa e a compreensão do que emerge desse território. Uma das principais características da perspectiva cartográfica é que, ao buscar entender os processos que ocorrem nesse campo de estudo, não há intenção de produzir uma análise representacional da participação em primeira pessoa na saúde
mental, pois se analisam as linhas de força que compõem o campo da pesquisa e como traçar um plano
comum entre pesquisador e pesquisados. O termo em primeira pessoa, que identifica a Federação, é comumente utilizado na Espanha e se refere aos indivíduos que vivem uma problemática grave em saúde mental, os quais ultrapassam o papel de paciente para o papel de agente da sua existência, participando das decisões da sua própria vida e das políticas públicas. Primeira pessoa é uma condição, ao mesmo tempo, individual e coletiva. É o reconhecimento de um saber que vem da experiência e se soma a outros saberes, mas que não se reduz à abstração estigmatizante do diagnóstico biomédico. Nesse sentido, em primeira pessoa ocupa um papel muito semelhante ao conceito usuário (do SUS) como é usado no Brasil, também cunhado como reação ao papel do “paciente” do saber/poder biomédico. Eles são dispositivos para provocar outros olhares, tanto nas situações cotidianas, quando exibem com orgulho que ter um diagnóstico não determina quem eles são, ou ao ocuparem outros espaços políticos, em busca de produzir outros conhecimentos e disputar discursos sobre a doença mental nos saberes vigentes. Na Catalunha, o movimento associativo tem um papel relevante como forma de participação da sociedade civil. A partir da necessidade de agrupar forças, coordenar ações e melhorar o intercâmbio de informações, criam-se federações que aglutinam e representam associações com objetivos afins. Entretanto, o modelo de subvenção, que permite às entidades em primeira pessoa terem autonomia e proporem soluções para os problemas que percebem, também produz uma engrenagem administrativa de dependência. Se possibilita a participação direta, mas se delegam ações de cuidado a entidades da sociedade civil. Por outro lado, este ciclo também limita o escopo de reivindicação das entidades em primeira pessoa, que precisam responder às demandas para fazer jus às subvenções. Nesse ciclo, algumas entidades parecem mais com umas “caçadoras” de subvenção, perdendo a potência da incidência política que assegura a expressão das condições de diversidade das pessoas com problemas de saúde mental. Muitas vezes, adotam diretrizes e princípios de desempenho que as aproximam de um funcionamento empresarial e não sociopolítico. O que é um paradoxo, porque a lógica capitalista é um dos dispositivos de exclusão na saúde mental, pela dificuldade de adequarem-se ao mercado de trabalho, com horários rígidos, sobrecarga laboral, índices de desempenho etc. Mesmo com essas ambivalências, ao fazerem parte de uma associação ou se tornarem ativistas da saúde mental, pessoas que foram estigmatizadas encontram um outro papel social, a partir do qual podem mostrar quem são, sem esconder sintomas, diagnósticos, medos, sonhos e desejos. Além disso, as atividades oferecidas lhes permitem descobrir gostos e habilidades que vão compondo essa nova identidade, que por mais que se relacione à doença mental, não está colada e limitada na enfermidade. Contar suas histórias, fazer testemunho, dar aulas para profissionais da saúde, faz com que elas possam revisitar suas trajetórias e terem orgulho do caminho que estão trilhando na adversidade imposta por uma sociedade manicomial. Na metáfora inicial, o movimento entre castellers, representado por uma política pública consolidada num estágio avançado de experimentação do estado de bem-estar social, e o das mandalas, representado por uma dinâmica de conquistas cotidianas para as políticas e para a inclusão, representa também um ciclo de renovação, que pode ampliar ou reduzir o espaço do protagonismo das pessoas sob cuidado e dos discursos que os assujeitam ao saber especializado. Assim, pode-se dizer que esse movimento se põe em curso com iniciativas de participação e abertura à descoberta, ao que a análise das duas experiências contribui com o estranhamento recíproco.


MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 411.449.450-20 - ALCINDO ANTÔNIO FERLA - UERGS
Interno - 1637740 - FLAVIA CRISTINA SILVEIRA LEMOS
Interno - 602.784.550-34 - MÁRCIO MARIATH BELLOC - UFPA
Notícia cadastrada em: 26/10/2021 13:50
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