Ode de Ariana a Dionísio: o objeto para a psicanálise e a Ode descontínua e remota de Hilda Hilst (1974).
objeto, pulsão, Hilda Hilst.
Esse trabalho dissertativo, em construção na Pós-graduação de Psicologia da Universidade Federal do Pará, é uma pesquisa, cuja fundamentação teórica é o conceito psicanalítico de objeto articulado aos versos da Ode descontínua e remota para flauta e oboé. De Ariana a Dionísio de Hilda Hilst (1974). Essa Ode faz parte de uma coletânea de poesias hilstianas intitulada Júbilo, memória e noviciado da paixão do ano de 1974. Como ponto de partida tem-se a premissa de que esses poemas de Hilda Hilst (1974) são cânticos de Ariana endereçados a Dionísio, impregnados de afetos dolorosos em franca elaboração psíquica de uma saudade “descontínua e remota”. Consequentemente, a teorização psicanalítica adverte que existe um fracasso derradeiro quanto ao encontro com o primeiro objeto, que teria satisfeito uma demanda constitucional de cuidado. E isso compõe uma vida psíquica desejante em busca de sanar essa falta-motriz de algo que viria a dar conta, plenamente, das demandas pulsionais. Então, os cânticos de Ariana serão base para um testemunho dessa tragédia que engendra o desejo na alma humana. O referencial teórico se constitui dos textos sobre o objeto, ao longo dos aprofundamentos realizados por Freud e seus comentadores e estudiosos, voltados para os chamados “textos metapsicológicos”, especialmente, O Projeto para uma Psicologia Científica (1895), Interpretação dos Sonhos (1900), Introdução ao Narcisismo (1914) e Pulsões e seus destinos (1915). O método escolhido nesse horizonte investigativo, que de certo modo entrelaça poesia e psicanálise, é a pesquisa teórica com abordagem clínica, sendo o ponto central do estudo a obra de Hilda Hilst (1974) abordada como caso clínico. O objetivo geral é discutir o conceito de objeto para a psicanálise tomando como mote os cânticos-poemas de Ariana a Dionísio, nos quais o jogo ausência-presença do amado sugere um investimento objetal. Sendo os específicos: identificar elementos da metapsicologia subentendidos nos seus versos, tais como: constituição psíquica, escolha de objeto e o investimento pulsional; e ressaltar a riqueza da interface entre psicanálise, literatura e poesia, para elucidações acerca de fenômenos clínicos, como fez Freud com poemas, romances e mesmo mitologia grega. Por fim, compõem seus capítulos um primeiro apanhado da justificativa para o trabalho, seus objetivos e metodologia; depois uma discussão do conceito de objeto para a psicanálise; como segundo capítulo uma apresentação dessa obra de Hilda Hilst (1974); no quarto momento, ainda em construção, a trama que articula psicanálise e a poesia hilstiana de 74 e algumas considerações deste momento de feitura dessa proposta de investigação. Frente à presença-ausência de Dionísio, mesmo o protagonismo de Ariana em muitos momentos dá espaço para a lacuna que ele deixa e que é acompanhada de um intenso trabalho psíquico (“Chama movediça”). Com isso, a proposta é tratar do que é o objeto e como essa conceituação, por meio da dinâmica pulsional, pode luzir sobre a maneira como Hilda Hilst posiciona o personagem Dionísio (ora dentro, ora fora da cena) diante dos poemas/súplicas por seu amor.