Empreender de si mesmo e desamparo: um estudo psicanalítico sobre a subjetividade neoliberal
Neoliberalismo; Psicanálise; Desamparo; Depressão.
Nesta pesquisa teórica utilizamos o método psicanalítico para investigar a relação entre a construção de uma subjetividade específica produzida pelo sistema neoliberal, denominada “empreendedor de si” ou “empresário de si”, e a condição de desamparo que o mesmo sistema promove e que se configura num dos aspectos que sustentam a forma de vida neoliberalizada. Uma das características do sistema neoliberal é a promoção de cenários de crises– sejam estas políticas, econômicas, ambientais, epidêmicas ou depressivas. Ao promover tais cenários, principalmente através do aprofundamento das desigualdades sociais que o Estado austero provoca, o neoliberalismo se vale de nossa condição ontológica de desamparo, tal qual formulada por Sigmund Freud, de maneira a forjar a identidade do empreendedor de si, que se conduz tal qual uma empresa, definido pela concorrência e referido sempre à incerteza, à falta de garantias e à exigência permanente de um a mais de desempenho. Manter o sujeito em permanente condição de desamparo é um dos dispositivos que o neoliberalismo se utiliza para produzir subjetividades despolitizadas que acabam por consentir com práticas que vão contra seus próprios interesses. Neste sentido, o sistema neoliberal produz e rege as condições de sofrimento contemporâneas, nas quais se destacam os quadros depressivos e melancólicos. No entanto, para a psicanálise, desamparo é afeto político por excelência, que produz uma corporeidade social cujo destino político, de alienação e servidão ou emancipação e transformação, depende de nossa posição de recusa ou afirmação dialética à condição ontológica do desamparo. Por isso, a aposta de emancipação das amarras neoliberais passa pela construção de um Comum, enquanto espaço coletivo que acolha diferentes práticas políticas passíveis de promover na sociedade algo diferente do isolamento a que o neoliberalismo relega o sujeito.