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Banca de DEFESA: MÁRCIA ROBERTA DE OLIVEIRA CARDOSO

Uma banca de DEFESA de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: MÁRCIA ROBERTA DE OLIVEIRA CARDOSO
DATA: 24/06/2022
HORA: 09:00
LOCAL: Plataforma Google Meet
TÍTULO:

E AÍ COMEÇOU TODA A MINHA ANDANÇA: itinerários terapêuticos em saúde mental a partir da perspectiva de usuários-guias do percurso por cuidados no mix público-privado no Pará


PALAVRAS-CHAVES:

Itinerários Terapêuticos; Saúde Mental; Saúde Suplementar; Saúde Pública; Cuidado.


PÁGINAS: 361
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Este estudo buscou identificar e analisar os itinerários terapêuticos percorridos pelos usuários que necessitam de cuidados em saúde mental que utilizam serviços de saúde públicos e privados em um município do estado do Pará. Além disso, procurou ainda: investigar os múltiplos arranjos que se estabelecem no cotidiano assistencial quando os usuários buscam cuidados em saúde mental utilizando os serviços de saúde públicos e privados; identificar e analisar as ofertas de serviços e tecnologias de cuidado em saúde mental ofertados aos usuários que são atendidos pelos serviços de saúde públicos e privados; identificar e analisar as interfaces entre os componentes público e privado do sistema de saúde na atenção em saúde mental, bem como avaliar as configurações tecnológicas do trabalho que são ofertadas no cuidado em saúde mental no Pará. A construção metodológica desta pesquisa, portanto, visou privilegiar o aspecto qualitativo e cartográfico, com destaque para o acompanhamento dos itinerários terapêuticos percorridos pelos usuários que necessitaram de cuidados em saúde mental e que utilizaram serviços de saúde públicos e privados numa perspectiva que foi compartilhada com os mesmos, partindo de pontos de vista que estruturaram sua experiência de cuidado, mais do que as linhas traçadas nas políticas e protocolos de cuidado. Neste caso, este estudo nos convida a um caminhar cartográfico, a partir dos usuários-guias, buscando uma perspectiva mais ampla do itinerário que os usuários fizeram nas redes de atenção à saúde (pública e privada) e também fora dela, com seus modos de existência e também na perspectiva da implicação dos trabalhadores neste caminhar. Além dos usuários-guias, outros sujeitos que operaram na produção do cuidado junto aos mesmos, sejam nas unidades de saúde ou em outros espaços, também poderiam participar como sujeitos da pesquisa, apresentando suas narrativas sobre os usuários-guias. Desde o início, esta tese foi pensada e planejada a partir de um projeto que pudesse contemplar a participação de vários protagonistas com o objetivo de construírem junto comigo o fazer da pesquisa. Nesse sentido, além da participação dos usuários-guias, havia também o desejo da pesquisadora em agregar outros atores, como os profissionais da saúde mental, em especial aqueles vinculados à Rede de Atenção Psicossocial. Os encontros com os usuários-guias e com os profissionais que compuseram a equipe de “pesquisadores apoiadores locais” se deram prioritariamente na estação de cuidado – CAPS Renascer. Entretanto, os encontros também se deram em outros espaços indicados pelos participantes, de acordo com seus itinerários terapêuticos (no caso dos usuários-guias) e de acordo com suas práticas de cuidado (no caso dos profissionais). O número de encontros variou conforme necessidade identificada pela pesquisadora em conjunto com os participantes, considerando os objetivos da pesquisa. A partir da transcrição das entrevistas e dos diálogos ocorridos entre pesquisadora e participantes durante os encontros e acontecimentos, foram confeccionados para a análise dos discursos os mapas dialógicos. Participaram desta pesquisa dois usuários-guias. Foi possível observar que na trajetória dos dois casos traçadores, alguns caminhos foram trilhados em comum e outros caminhos foram trilhados de forma singular. Compartilharam as principais estratégias utilizadas em seus itinerários terapêuticos para que o cuidado em saúde mental fosse assegurado. Para isso, utilizaram os serviços prestados pela rede formal de saúde, seja ela pública ou privada. Além disso, apresentaram vários recursos que utilizam para lidar com os desafios advindos do processo de adoecimento e principalmente nos momentos de intenso sofrimento psíquico desencadeando as chamadas “crises”. Os usuários-guias utilizaram diferentes recursos para lidar com o início de seu processo de adoecimento. Ambos procuraram primeiramente atendimento na rede formal de saúde acessando os serviços disponibilizados em seus respectivos planos de saúde. Posteriormente foi que tiveram conhecimento de uma rede de atenção psicossocial pertencente à esfera pública. Embora utilizassem concomitantemente serviços de saúde públicos e privados na busca por cuidados em saúde mental, foi no CAPS, um serviço público, que encontraram maior possibilidade de produção de cuidado. Na saúde suplementar, a perspectiva de que o cuidado fosse operado a partir de uma clínica reduzida era dada como certa. Pode-se dizer que o cuidado ofertado tanto nos serviços públicos quanto nos serviços privados é um “cuidado esquizofrênico” e pendular, pois aqui quem recebe o diagnóstico, ou melhor dizendo, um CID, é o cuidado ofertado e não o sujeito tratado. O cuidado é “esquizofrênico” porque não se observa: um cuidado articulado em linha ou em rede; não se observa um cuidado compartilhado entre a equipe que se caracteriza por ser multiprofissional, mas que em sua prática, na maioria das vezes, age de forma não integrada; não se observa um cuidado baseado em uma clínica ampliada e por fim não se observa um cuidado que atenda às necessidades dos usuários e respeite sua singularidade. Vale ressaltar que, apesar do cuidado ofertado pelos serviços públicos de saúde, principalmente o CAPS, ser notoriamente mais eficaz, resolutivo e humanizado, ainda persistem a coexistência de práticas manicomiais em meio a um discurso reformista e antimanicomial. O acúmulo teórico e empírico no subsistema público de saúde parece constituir cultura e imaginário acerca do modo como devem ser ofertados os cuidados à saúde mental. Neste caso, o setor privado deveria ocupar-se das diretrizes previstas no setor público. Agora o que é mais preocupante na atual conjuntura é o desmonte da política de saúde mental no Brasil. O que antes poderia ser seguido pela esfera privada como um modelo ideal de cuidado, a exemplo dos serviços prestados pela rede de atenção psicossocial (antes da desfiguração), agora passa a ser uma grande ameaça a partir da concretização, ascensão e legitimação do retorno do modelo manicomial. Mais do que em outros tempos, é necessário constituirmos uma força de resistência e luta para garantir que os serviços públicos em saúde mental continuem organizados de forma a trabalhar em rede e linha de cuidado, assegurando um percurso assistencial seguro ao usuário e sua família. Quando foi abordado outros aspectos apontados pelos usuários-guias como recursos utilizados no cuidado em saúde mental para além da rede formal de saúde, ambos deixaram claro que contam com o apoio de amigos e familiares, contam com o apoio de outras instituições, como instituições religiosas e, contam ainda com potentes relações comunitárias. É inegável que os dois usuário possuíam uma potencialidade incrível para lidar com os desafios trazidos pelo processo de adoecimento no âmbito da saúde mental. Ambos construíram projetos chamados aqui de projetos de produção de vida, cujo objetivo, além de outras coisas, foi estabelecer novos "modos de andar a vida" que dessem vazão ao intenso sofrimento psíquico no sentido de ressignificação das experiências negativas do padecimento quanto tornar mais suportável e por que não dizer mais alegre a própria vida. O mix público e privado referente ao cuidado prestado pelos serviços de saúde estava impresso e atravessado nos itinerários terapêuticos dos usuários-guias. Ainda é observada no âmbito desses serviços, a coexistência de práticas de cuidado que corroboram para os ideais da Reforma Psiquiátrica e outras que ainda reproduzem a lógica manicomial, por isso chamei também de “cuidado pendular” fazendo uma relação com o movimento de um pêndulo caracterizando a coexistência de práticas ambivalentes.


MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 411.449.450-20 - ALCINDO ANTÔNIO FERLA - UERGS
Interno - 1637740 - FLAVIA CRISTINA SILVEIRA LEMOS
Interno - 4467138 - LEANDRO PASSARINHO REIS JUNIOR
Externo à Instituição - MARCIA FERNANDA DE MELLO MENDES
Externo à Instituição - MARTÍN CORREA-URQUIZA VIDAL FREYRE
Interno - 602.784.550-34 - MÁRCIO MARIATH BELLOC - UFPA
Notícia cadastrada em: 20/06/2022 14:06
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