“NÓS TEM QUE SE UNIR PRA PODER TER”: Desenvolvimento Sustentável e a organização do trabalho na pesca artesanal na várzea na RDS Mamirauá
CAMILA PINHEIRO CORDEIRO DE MIRANDA
Belém-PA 2019
Desenvolvimento. Sustentável.Organização.Trabalho.Pesca. Atesanal
A discussão ambiental e os processos políticos dela decorrentes, que ocorreram, sobretudo, a partir da década de 1960, suscitaram a institucionalização de termos como o de Desenvolvimento Sustentável. Promover o desenvolvimento sem comprometer o meio ambiente para as gerações futuras tornou-se um compromisso, sobretudo, político e institucional. Como resultado dessa institucionalização, podemos destacar a criação das Unidades de Conservação, tanto de proteção integral quanto de uso sustentável, por meio do Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC); das políticas ambientais; das Organizações Não Governamentais (ONGs); da atuação dos regimes internacionais ambientais, dentre outros. A inserção de novas dinâmicas criadas a partir das ações de conservação e a presença de novos atores contituiu um campo socioambietal (BOURDIEU, 1989; MOURA, 2007). Nesse sentido, essa dissertação busca compreender como esse modelo de desenvolvimento sustentável das políticas socioambientais imprime novas formas de organização, comercialização, ritmo de trabalho e incorporação de novos conhecimentos na pesca em ambiente de várzea, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), no Amazonas (AM). Uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) é uma categoria de Unidade de Conservação, que tem por objetivo principal preservar a natureza ao mesmo tempo em que oferece possibilidades de melhor qualidade de vida para os moradores locais, por meio de ações de exploração sustentável do meio ambiente. O uso dos recursos naturais pela população local é orientado por um plano de manejo. Esse plano orienta o uso dos espaços por intermédio do zoneamento dos lagos, de regras quanto a quem tem acesso a esses recursos, de restrições a apetrechos de pesca que podem ser utilizados, bem como o tamanho do peixe, armazenamento do pescado, dentre outros aspectos. Além disso, a RDSM está inserida em um ambiente de várzea, que se caracteriza por intensa sazonalidade com períodos de enchente, cheia, vazante e seca. Essa sazonalidade imprime características próprias às dinâmicas socioeconômicas locais. Dessa maneira, levando em consideração que um campo é um espaço de disputas sociais, esse trabalho analisa as ações comunitárias, a participação política local e os processos de trabalho pesqueiro no âmbito de uma Unidade de Conservação de uso sustentável. Para tanto, realizou-se entrevistas semi estruturadas referentes aos processos de trabalho e questionários para a caracterização socioeconômica local, durante o ano de 2015 e 2017.