Dissertações/Teses

Clique aqui para acessar os arquivos diretamente da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFPA

2024
Descrição
  • FERNANDA LEMOS DE OLIVEIRA
  • NOSSA LUTA É TODO DIA, O TERRITÓRIO NÃO É MERCADORIA: o protagonismo das mulheres em ações socioterritoriais a partir do Pirocaba (Abaetetuba-PA)

  • Orientador : MARIA JOSE DA SILVA AQUINO TEISSERENC
  • Data: 09/04/2024
  • Mostrar Resumo
  • No Estado do Pará, precisamente no Baixo Tocantins, historicamente os atores sociais estão envolvidos em processos de lutas territoriais em defesa de seus modos de vida. Atualmente, pesa sobre os Projetos de Assentamento Agroextrativista (PAEs) do Baixo Tocantins ameaças de construção de um terminal portuário articulado à produção e exportação de commodities dirigido pela Cargill, empresa multinacional, conhecida antagonista em conflitos socioambientais na Amazônia. Diante da ameaça da construção do porto, e possíveis riscos dele decorrentes, dinâmicas de resistências com base na afirmação identitária, constituem-se, como é o caso da comunidade do Pirocaba. Tomaremos essa referência socioterritorial como lócus de um estudo qualitativo para acompanhar, pela observação direta e entrevistas com lideranças, um processo no qual a participação das mulheres nas lutas e organização coletiva vem se ampliando. Tal processo marca um ativismo feminino com novas estratégias de resistência, com uma identidade territorial, com uma defesa de bens comuns, com uma lógica econômica inclusiva e regida pelas exigências ambientais, chamada a reagir contra os efeitos sociais e ambientais de mais um empreendimento logístico, dirigido pelos interesses econômicos hegemônicos que, secularmente, tem decidido ser a Amazônia uma plataforma de recursos a ser transformada em capital.

     

     

  • MARLON KAUA SILVA CARDOSO
  • A dendeicultura em Igarapé-Açu/Pará: Um olhar sobre as relações de trabalho que tipificam o trabalhador rural na agroindustrial Palmasa

  • Data: 29/02/2024
  • Mostrar Resumo
  • O objetivo desta pesquisa foi analisar as relações de trabalho
    que tipificam os trabalhadores rurais na agroindústria do dendê em Igarapé-Açu,
    notadamente analisando a Agroindustrial Palmasa. A agroindústria do dendê, em
    nível macropolítico, foi territorializada no nordeste paraense através das ações
    estatais desenvolvimentistas nos governos civis-militares nos anos 1960, planejadas
    pela Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) e pela
    Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), e, tem novo impulso
    com o neodesenvolvimentismo dos anos 2000, associada ao desenvolvimento
    sustentável, através do Programa Nacional de Produção do Biodiesel (PNPB) e do
    Programa Sustentável de Óleo da Palma (PSOP). Estes desembocaram em projetos de
    integração, para a obtenção do Selo do Combustível Social (SCS), entre produtores
    do dendê e agricultores familiares em municípios do nordeste paraense. Através de
    metodologia de natureza qualitativa, aliando dados de entrevistas, bibliográfico e
    quantitativos verificamos que as políticas públicas mais recentes não abrangeram as
    atividades econômicas da Agroindustrial Palmasa, em Igarapé-Açu. Na região
    predominam contratos, mas apenas de compra e venda, relação associativa, entre
    médios/grandes produtores rurais de dendê e a própria empresa. Dessa forma, as
    relações diretas entre classes gravitam entre médios/grandes fazendeiros e boias-frias
    responsáveis pelo trabalho nas lavouras.

  • ALESSANDRO RICARDO PINTO CAMPOS
  • A GUERRA TRADICIONAL DO POVO KA’APOR: MITOS E ADAPTAÇÕES

  • Orientador : DENISE MACHADO CARDOSO
  • Data: 27/02/2024
  • Mostrar Resumo
  • Esta tese estudou como ponto central as guerras do povo Ka’apor, tentando
    conhecer em campo todo processo do que chamo de “guerra tradicional dos Ka’apor”,
    sem se aprofundar nas teorias já escritas por outros antropólogos. Todas as
    informações foram colhidas em campo, diretamente de amigos em três aldeias
    visitadas: Axinguirendá, Turizinho e Ywera. Portanto, a base desta pesquisa é a boa e
    velha etnografia feita a partir de estadias de algumas semanas. A pesquisa se inicia
    com minha entrada/acolhida pelo povo Ka’apor e relata toda experiencia de troca de
    tema. Minha aproximação com meu amigo, que mais tarde se tornaria meu
    coorientador, Etienne Samain, que esteve com este povo em 1980/81 tratando de seus
    mitos. Partimos dos mitos de grandes guerreiros para entender o modo de fazer
    Guerra do povo Ka’apor que se resume em: preparação das crianças para serem
    grandes guerreiros, a guerra, a morte do inimigo e o resguardo. As Puçangas são as
    poções magicas feitas com ingredientes especiais e realizados pelos pajés e tuxas com
    os meninos já homens feitos, que vão desde a queima e torração do beija-flor (pela
    sua rapidez) e esfregar esse pó na criança em noites de lua crescente até “matar” um
    morto, que depois se mostrava como o Mucura e depois comer e usar seu fígado
    tornando-o “invencível”. As guerras aconteciam com frequência contra os caraí, em
    busca de materiais principalmente o ferro para fazer ponta de flecha, e com os Guajá,
    seus inimigos tradicionais. Quando acontecia um assassinato havia festa e um
    resguardo sério do assassino Ka’apor, uma espécie de couvade como dos pais de uma
    criança recém nascida (Darcy Ribeiro, 1992). Somente depois ele poderia sair, sofrer as
    ranhuras para tirar o sangue ruim e ganhar seu status. Faz parte desta tese um filme
    etnográfico, produzido por mim e montado por Etienne Samain e Françoise, que
    mostra como se fabrica o Tamarã (espécie de borduna) muito usada nas guerras,
    intitulado “O Ritual do Tamarã”, além das flechas Taquar hoje com pontas de ferro (só
    são usadas para grandes caças como a anta, onça ou seres humanos). A pesquisa
    mostra através de histórias de guerras deste povo como que, empiricamente, era o
    resultado destas Puçangas e nomes de grandes guerreiros como Tapõon. A tese segue
    para um caminho que os próprios Ka’apor decidiram, mudar da guerra tradicional para
    a guerra no mundo dos caraí: a política. Possuem hoje a fortalecida e atuante
    Associação Ka’apor Ta Hury do rio Gurupi, na qual conto sua história da fundação,
    parcerias até suas ações efetivas para proteção do território, como a criação dos “guardiões Ka’apor”, continuamente invadidos por madeireiros, fazendeiros e, mais recentemente, mineradores. Nesta tese, existem poucas citações e autores de referência, me baseei profundamente na experiencia de campo e informações ouvidas/vistas diretamente do povo Ka’apor, através de uma etnografia participativa e com vivências extraordinárias.

  • MANOEL MACHADO RIBEIRO FILHO
  • QUANDO O PESQUISADOR E O SUJEITO DA PESQUISA SÃO UM:reflexividade quilombola sobre pesca, conflito e disputa na RESEX Ipaú-Anilzinho e TQ de Joana Peres (PA)

  • Data: 26/02/2024
  • Mostrar Resumo
  • Ao considerar os olhares cheios de significados nos quais me atravessam, pois sou quilombola,
    nascido, criado no quilombo e hoje atuando em um lugar de liderança, de uma minoria que busca se
    comunicar com a sociedade hegemônica em uma relação sem hierarquias, trago minha fala nesta
    escrita. Ao trazer a minha fala nesta dissertação, as minhas memórias, meu pertencimento e vivências
    estão presentes do início ao fim deste trabalho. Pensada e escrita assim, este estudo compreende uma
    autoetnografia, que para Miranda (2022, p. 71) é compreendida “como uma análise cultural elaborada
    por meio da narrativa pessoal, onde é possível desenvolver uma lente crítica em uma práxis dentrofora,
    de modo a entender quem somos nas nossas comunidades”. Neste contexto, venho dissertar sobre
    as tensões que desenham novas relações no processo de nova delimitação do território no contexto da
    RESEX e TQ, em cenários de conflito que vieram a se estabelecer e marcam essa relação,
    particularmente considerando a atividade pesqueira e a comunidade de Anilzinho. Joana Peres e
    Anilzinho são as únicas comunidades quilombolas, das seis que compõem a RESEX, criada em 14
    junho de 2005. Dois territórios quilombolas, pré-definidos ao longo do tempo por lideranças e
    pescadores, sendo unidas ao mesmo território da RESEX, a partir de sua criação. Enquanto o território
    da comunidade Anelzinho foi inserido em sua totalidade na RESEX, no que diz respeito ao meu
    quilombo vila de Joana Peres, a RESEX dividiu o seu território, parte da área da comunidade está no
    interior da RESEX, a outra não, que vai para além do entorno da unidade.
    Palavras-

  • IGNACIO GABRIEL SAN MARTIN ARAYA
  • ESTRATÉGIAS DE PERMANÊNCIA DE INDÍGENAS ESTUDANTES NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ: DESAFIOS E RESISTÊNCIA

  • Data: 23/02/2024
  • Mostrar Resumo
  • A presente dissertação foca nas experiências dos e das indígenas estudantes da Universidade
    Federal do Pará/UFPA e as estratégias que eles desenvolveram para permanecer na
    universidade. Como objetivo geral, busquei identificar os desafios comuns enfrentados pelas e
    pelos indígenas discentes, como a adaptação à escrita acadêmica, mudança de cidades e o
    enfrentamento do racismo, quer dizer, como essas estratégias de permanência podem ser vistas
    como ações de resistência na interface com a sociedade não indígena. Dessa forma, além das
    narrativas das lutas das indígenas estudantes, descrevo as ferramentas que a UFPA começou a
    ofertar, a partir da demanda desses estudantes, ou seja, para apoiar os e as indígenas estudantes
    e os impactos na vida acadêmica. Com o uso de metodologias da etnografia multisituada e
    digital, antropologia visual e o enfoque biográfico, esta pesquisa traz as narrativas de trajetória
    de vida de indígenas estudantes de graduação e pós-graduação da UFPA. Concluo que os
    processos de transformação da universidade se devem a pressões dos próprios estudantes que
    veem na Associação dos Povos Indígenas Estudantes da Universidade Federal do Pará um meio
    para se acolher e organizar.

2023
Descrição
  • LUANA DE NAZARE PINTO PENA
  • A INTERNET COMO ESPAÇO DE ATUAÇÃO POLÍTICA PARA MULHERES CAPOEIRISTAS EM TEMPOS DE ISOLAMENTO

  • Orientador : MICHELE ESCOURA BUENO
  • Data: 22/12/2023
  • Mostrar Resumo
  • Os espaços em rede configuraram novas dinâmicas de sociabilidade, possibilitando o entrelaçamento de diferentes contextos histórico-sociais, uma multiplicidade de grupos, organizações e sujeitos com diferentes perfis de atuação e mobilização social e política, que atingiram novos patamares a partir dos contextos impulsionados pela pandemia do COVID-19 no ano de 2020. Foi neste cenário que a capoerista paraense Sabrina Silva utilizou as lives no Facebook para difundir o movimento feminino da capoeira no Pará. Diante do exposto, o presente estudo objetivou analisar como a internet se tornou um lócus de atuação política das mulheres capoeiristas durante a pandemia no ano de 2020, a partir do estudo de caso das Lives de Sabrina Silva. Para realizar as análises, adotamos a etnografia do virtual como método, ela é uma adaptação da análise etnográfica para o estudo de culturas on-line, visando explorar e expandir as possibilidades por meio do constante uso das redes digitais, postando o material coletado. Em relação ao arcabouço teórico, selecionamos, entre outros, autores que trabalham questões relacionadas à capoeira, como Nestor Capoeira (1999), Letícia Reis (2000) e Luiz Augusto Leal (2005); autores que discutem as relações de movimentos sociais na atualidade, como Manuel Castells (2014) e Maria da Gloria Gohn (2011); autores que debatem questões de gênero, raça e classe, por exemplo, Anne McClintock (1995) e Kimberlé Crenshaw (2002); e teóricos que discutem a etnografia do virtual, a saber, Beatriz Lins, Carolina Parreiras e Eliane Freitas (2020). Com isso, verificou-se que as mídias sociais foram apropriadas por mulheres durante um período em que encontros físicos estavam suspensos, a fim de difundir uma luta tão importante para a construção da cultura brasileira, assim, evidenciando as relações de poder presente na capoeira e suas possibilidades de expandirem as discussões sobre o tema e darem mais visibilidade a ele.

     

  • LAIANE HELENA SILVA DA CRUZ
  • CASTANHAL: A “CIDADE MODELO”, OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO

  • Orientador : EDILA ARNAUD FERREIRA MOURA
  • Data: 20/12/2023
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação tem como objetivo analisar a atuação do Estado no município de Castanhal (PA) diante de uma proposta de desenvolvimento regional. Seguindo o padrão nacional-desenvolvimentista, o governo brasileiro na segunda metade do século passado implementou uma série de políticas públicas que visavam o crescimento econômico, principalmente, por meio da industrialização. Com a implementação da ditadura militar na década de 60, o governo que visava integrar a Amazônia ao restante do país passou a adotar diversas políticas públicas como a construção de rodovias e ampla política de incentivos fiscais. A região, vista como um “espaço vazio” pelo Estado, se tornou o destino de milhares de migrantes em busca de um lote de terra. O município de Castanhal, localizado no estado do Pará, é analisado não só a partir deste contexto, mas também de outros acontecimentos que estão diretamente relacionados à sua criação, como o ciclo da borracha e a construção da Estrada de Ferro de Bragança. A pesquisa foi realizada a partir de estudos sobre a história de Castanhal e da Região Bragantina e com base em dados sociodemográficos, econômicos e agropecuários disponibilizados para os períodos mais recentes. O conceito de desenvolvimento assume papel de destaque na discussão como norteador do planejamento estatal e é objeto de análise em seu contexto amazônico.

  • ANDRES FELIPE ORTIZ GORDILLO
  •  

     

    “Pueblo Pijao y recuperación de Ima: reetnización, sabidurías propias y defensa territorial en el Resguardo Indígena San Antonio de Calarma (Tolima, Colombia)”.

  • Data: 20/12/2023
  • Mostrar Resumo
  • Nesta pesquisa é realizada a sistematização crítica do processo de recuperação territorial que vem sendo implementado, desde meados da década de 1970, na Reserva Indígena San Antonio de Calarma Pueblo Pijao (Tolima, Colômbia). Este processo tem sido chamado de a recuperação de Ima(a Mãe Terra Pijao), e inclui duas dimensões estruturantes da luta territorial indígena no município de San Antonio de Calarma: a recuperação da propriedadede territórios considerados ancestrais” –o que tem ocorrido por meios institucionais e por meios de facto através da ocupação territorial, e da cura ou recuperação do equilíbrio do «mundo seco» (Ima, o território) para «retornar à origem».

    Através de um trabalho de pesquisa militante, que se situa no campo metodológico das etnografias colaborativas e que retoma princípios epistemológicos da pesquisa-ação participante, constatou-se que a recuperação de Ima, além de ser um processo de defesa territorial, investiga pelo próprio modo Pijao de ser, de sentir, de sentipensar o território, sendo também um processo onto-epistêmico, que tem levado à recuperação de sabedorias próprias denominadas Concepções-vida, um complexo sistema relacional de conhecimento territorial que propõe alternativas às crises impostas pelo capitalismo.

    Paralelamente, o processo de recuperação de Ima contribuiu para a re-existência do povo Pijao no sudoeste do departamento de Tolima, ao problematizar as estratégias de desindianizaçãoque fazendeiros e empresários agroindustriais têm utilizado, desde meados do século XIX, para camponesara força de trabalho indígena e inserir a região no circuito produtivo do café, que sustentou a economia colombiana no século XX. Neste sentido, o processo de recuperação de Ima éuma expressão da reindianização-reetnização vivida pelo povo Pijao do Tolima, que encontrou nas lutas territoriais o médio para des-cobrir as suas próprias sabedorias, as suas formas diferenciais de organização e mobilização, com o último objetivo de «recuperar o equilíbrio do mundo seco e retornar àorigem»

  • THAIS DE OLIVEIRA COSTA

  • “EM TODO TEMPO MULHER FOI TAPETE”: A escrevivência de um corpo rebarbado sobre as relações assimétricas de gênero na Assembleia de Deus em Boa Esperança - PA

  • Orientador : MICHELE ESCOURA BUENO
  • Data: 19/12/2023
  • Mostrar Resumo
  • Este texto sintetiza parte dos resultados da pesquisa que desenvolvo desde 2018 e centra-se nas discussões referentes à liderança de mulheres na igreja evangélica Assembleia de Deus. A instituição, fundada em 1911, em Belém do Pará e que atualmente está presente em todos os estados brasileiros, reserva às mulheres papéis subservientes e não permite que estas ascendam na hierarquia eclesiástica. Esse fator endossa a postura androcêntrica da igreja que, em seus 110 anos de fundação, nunca consagrou mulheres aos cargos de liderança eclesiástica, mesmo tendo uma mulher como pioneira na fundação na igreja e um público de maioria feminina. Buscando desenvolver uma escrevivência, como propõe Conceição Evaristo, delimitei como campo de pesquisa etnográfica a comunidade cristã da qual sou “membra desviada”, cuja sede fica em Boa Esperança, na zona rural do município de Santarém, no Oeste do Pará. Mais especificamente, o trabalho se desenvolveu por meio do diálogo com integrantes do Círculo de Oração, a fim de compreender as relações assimétricas de gênero enquanto instância de poder e entender as formas de atuação feminina dentro desse espaço.

     

  • FIAMA GOES MAUES
  •  


    DAS MAMETUS ÀS MUZENZAS: AS ARTICULAÇÕES E VIVÊNCIAS DE MULHERES NEGRAS DENTRO DE UM TERREIRO DE CANDOMBLÉ E OS REFLEXOS NO EXERCÍCIO DA VIDA EM COMUNIDADE

  • Data: 19/12/2023
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação intenta demonstrar como as articulações e vivências de mulheres negras dentro de um terreiro de Candomblé refletem e se estendem para a vida em comunidade. Para isso, realizei uma análise do terreiro como um local de produção de conhecimento ancestral africano e criação de redes de apoio, considerando-o como um quilombo urbano, o qual está presente e resiste dentro de um contexto ocidentalizado. Através das vivências, saberes e perspectivas individuais e coletivas de mulheres negras, acompanhei seus passos e sua rotina dentro da Casa de Santo e fora dela, e então, pude observar as redes compartilhadas entre o terreiro e a sociedade civil, por meio de suas vidas comunitárias e de seus projetos sociais. Para esse propósito, utilizei o método etnográfico, tendo como referencial bibliográfico um campo epistêmico afrocentralizado para além dos autores ocidentais, promovendo, assim, uma conversa entre estes saberes coexistentes no contexto pesquisado.

  • JORGE OSCAR SANTOS MIRANDA
  •  

     

    O “riso brasileiro”:  O imaginário político na obra humorista de Chico Anysio.

  • Orientador : KATIA MARLY LEITE MENDONCA
  • Data: 12/12/2023
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa busca abordar o humor brasileiro como expressão cultural, histórica e social. Para tanto, não parte das análises de anedotas, piadas ou cenas cômicas, embora fosse pertinente, já que centralizou esforços na compreensão do risível sob a perspectiva de um autor do riso, o humorista. O trabalho em questão percorreu reflexões sobre o imaginário em Gilbert Durand, para, então, adentrar o imaginário social do humor brasileiro a partir de Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o Chico Anysio. Artista popular e “homem de fronteira”, como pontuou François Dosse, pois vivenciou momentos de transformação do país que se encontram refletidos na sua arte humorística iniciada ainda no final dos anos 40 no rádio, no tempo em que esse meio de comunicação assumia o protagonismo. Todavia, ficou mais conhecido pelo grande público ao começar a trabalhar como produtor (na época, redator) de programas humorísticos na televisão nos anos 50 e quando apresentou ao país o revolucionário programa “Chico Anysio Show” na década de 60, na TV RIO. Através do recurso do videoteipe, o humorista criou um elenco particular, e ele próprio interpretava e interagia com todos seus personagens, com esse modelo de programa se tornando a assinatura do humorista. Mais tarde, em 1973, no período da ditadura militar, Chico cria “Chico City”, cidade ambientada na região Nordeste, no entanto, com traços bem brasileiros, incluindo os problemas sociais. O programa foi exibido na emissora, que apoiou o golpe militar, a Rede Globo, entretanto o humorista, em meio ao contexto de censura, lançou críticas à sociedade e ao autoritarismo a partir da sua linguagem humorística contida nos seus personagens, “tipos brasileiros”, os quais podem ser encontrados no cotidiano, a exemplo de “O político corrupto” (Justo Verissimo), “O professor mal remunerado, mas que acredita na profissão” (Professor Raimundo), “O contador de estórias, mentiras, que acredita nela” (Pantaleão), “O líder religioso avarento” (Tim Tones), entre outros. Foram mais de duzentos personagens criados, os quais, boa parte, tiveram a realidade social como fonte de criação, moldada pelas experiências do comediante nas quais podem se inscrever no que Alfred Schutz chamou de “províncias finitas de significados”. Sendo assim, para melhor entendimento de como o humorismo de Chico atinge tal condição analítica, fez-se necessário abordar uma leitura hermenêutica dos depoimentos, das entrevistas do artista, bem como dos arquivos de jornais, revistas e episódios de programas. Desse modo, coube investigar a relação entre o humor e o imaginário social e político na obra humorística de Chico Anysio.

  • THAINA GUEDELHA NUNES
  •  

     

    Por um turismo decolonial: reflexões antropológicas a partir da turistificação da Ilha do Combu/PA

  • Data: 04/12/2023
  • Mostrar Resumo
  •  

    A partir de 2015, na Ilha do Combu, Área de Proteção Ambiental pertencente a área insular de Belém do Pará, se inicia um processo de turistificação que a tira de sua condição de relativa invisibilidade, atraindo cada vez mais visitantes. Diante disso, esta tese tem como objetivo analisar esse processo e seus principais desdobramentos, identificando e compreendendo as transformações pelas quais a ilha vem passando, positiva e negativamente. Tendo como palco a Ilha do Combu, buscou-se refletir criticamente sobre o turismo ter se constituído sob a influência da colonialidade e, consequentemente, assimilado as noções de desenvolvimento e modernidade. Utilizando-se dos debates provenientes da Antropologia do Turismo, com contribuições de autores que abordam a decolonialidade, os resultados apresentados são frutos de uma pesquisa antropológica qualitativa. Esta teve como base a etnografia, com observação direta e participante, entrevistas semiestruturadas com donos de estabelecimentos comerciais da ilha voltados para o lazer e turismo, questionário online com visitantes da ilha e registros fotográficos. Foram também realizadas investigações na internet, buscando acompanhar em rede social perfis de estabelecimentos da ilha, material de divulgação destes e comentários em postagens sobre a ilha por perfis de jornais da cidade. Cabe destacar que os resultados aqui apresentados são oriundos não apenas da pesquisa durante o período do doutorado, mas de todas as pesquisas que realizei desde 2010, o que me possibilitou acompanhar as transformações pelas quais a ilha vem passando. Outra dimensão metodológica foi a da pesquisa-ação, em que se estabeleceu contrapartidas da pesquisa para a comunidade através de cartilhas para os donos dos estabelecimentos e para os visitantes, a ser produzido posteriormente. Assim como a criação de um site sobre a Ilha do Combu, já em funcionamento, divulgando informações sobre o local e que promoverá educação turística. Como resultados tem-se que o avanço da busca por lazer e turismo no local proporcionou a consolidação deste como um importante ponto turístico de Belém, gerando mais visibilidade, valorização do local, emprego e renda para a população. Entretanto, atraiu a atenção de forasteiros que buscaram também aproveitar das possibilidades promissoras do turismo, decidindo empreender no local, intensificando o processo de turistificação. Tal fato contribuiu para o desenvolvimento desordenado do turismo, que vem se intensificando rapidamente, gerando a proliferação de estabelecimentos, especulação imobiliária, perturbação da vida cotidiana local, poluição, erosão, insegurança, surgimento de atrativos artificiais e mudanças para atender às demandas externas. Percebeu-se que a maneira que a atividade vem se desenvolvendo nos últimos anos no local, reflete as ontologias propagadas pela colonialidade, no comportamento e ações de agentes do Setor Privado, do Poder público e de visitantes. Todavia, a população local tem mostrado sua agência e destacando seu protagonismo frente a esse processo.  Por fim, buscou-se trazer proposições para avançar na importante, e necessária, descolonização do turismo.

     

     

  • FABRICIO TAVARES DE MORAES
  •  

    O MOVIMENTO SOCIAL CONTRA O ATERRO SANITÁRIO EM MARITUBA (PA): UM ESTUDO SOBRE O FÓRUM PERMANENTE ‘FORA LIXÃO’

  • Data: 07/11/2023
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo faz uma análise do movimento social denominado Fórum Permanente ‘Fora Lixão’
    em suas práticas de atuação no município de Marituba (PA) sob a concepção da Teoria do
    Confronto Político (TPP). A pesquisa recorreu a uma abordagem qualitativa e ao método de
    estudo de caso, seguindo os procedimentos de entrevistas, documentos jornalísticos, judiciais,
    administrativos e pesquisa bibliográfica. Os resultados demonstraram uma organização interna
    do movimento composta de associações de comunidade, partidos políticos, movimentos sociais
    e segmentos da igreja católica, assim como formas de participação popular que oscilaram entre
    o confronto e a colaboração com o Estado. A pesquisa nos informa sobre como a sociedade
    civil organizada e instituições públicas construíram arranjos, parcerias e formas de participação
    política, para o caso da rejeição do aterro sanitário de Marituba, conhecido popularmente como
    “lixão de Marituba”. A pesquisa também informa sobre o fortalecimento da mobilização
    popular, no sentido de se conquistar uma democracia participativa popular, para um tratamento
    dos resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém, de acordo com parâmetros técnicos
    mais evoluídos e condizentes com as diretrizes da Política Nacional dos Resíduos Sólidos e as
    leis que a amparam.

  • ELTON LUIS DA SILVA JUNIOR
  •  

     

    "MINHA COR É O BRASIL? O DESMONTE ADMINISTRATIVO E SIMBÓLICO DA FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES (2019-2022)".

  • Data: 24/10/2023
  • Mostrar Resumo
  • O objetivo deste trabalho é analisar como as ações e discursos do ex-presidente da Fundação Cultural Palmares – FCP, Sérgio do Nascimento Camargo, aliado ao fenômeno do bolsonarismo vivenciado pelo Brasil, implicam no negacionismo e omissão do combate ao racismo do país, refletindo em um desmonte administrativo e simbólico da referida instituição. Nesse sentido, realizamos uma análise das ações institucionais concretas que procuraram enfraquecer a principal instituição federal de fomento à cultura afro-brasileira e de combate ao racismo no país. Para tanto, realizamos pesquisas no site oficial da instituição a fim de identificarmos documentos oficiais tais como Portarias, Instruções Normativas, Legislações, Notas Oficiais para investigarmos a maneira com que ocorreu o desmonte administrativo e simbólico da FCP. Além disso, realizamos entrevistas com duas lideranças Quilombolas paraenses para entendermos como os desmontes da fundação impactaram o cotidiano dos territórios no que se refere ao acesso ou não a direitos sociais. Metodologicamente, para análise da pesquisa, utilizamos as etapas técnicas de análise de conteúdo, tal como seguem: organização das informações; leitura do material; exploração e maturação do corpus; tratamento dos resultados, inferência e interpretação sobre a forma como a então gestão da FCP promoveu um desmonte administrativo e simbólico da instituição e seus reflexos no cotidiano de duas Comunidades Quilombolas paraenses. A partir da leitura crítica dos documentos e entrevistas, organizamos os principais pontos de discussão em categorias de análise interpretativa. Os resultados da pesquisa apontam que aquela gestão da instituição caminhou em um sentido contrário à política de valorização da cultura afro-brasileira, estimulando o racismo em suas diversas ramificações e a aversão aos elementos de valorização afro-brasileiros. Portanto, entendemos que as ações institucionais da gestão de Sérgio Camargo e sua equipe atuaram em direção oposta ao Regimento Interno da Fundação, atacando cotidianamente, em redes sociais e institucionalmente, tudo o que estava relacionado à nossa herança afro-brasileira.

  • ANDREA CARDOSO E CARDOSO
  •  

    QUILOMBOLA E PENTESCOSTAL: A CONSTRUÇÃO DE UM DIÁLOGO NA COMUNIDADE MOJU MIRI (PA).

  • Data: 06/09/2023
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa teve por objetivo entender a influência da igreja evangélica Assembleia de Deus  na cultura, no saber e no fazer do quilombo Moju Miri, uma comunidade quilombola localizada no município de  Moju, estado do Pará, às margens esquerda do rio Moju. A proposta metodológica se apoia em parte no método da pesquisa ação participante (BORDA,1978),  buscando produzir uma transformação que venha a resultar em um diálogo intercultural, uma prática de conversação entre moradores evangélicos e não evangélicos e com a própria igreja Assembleia de Deus, a fim de garantir a manutenção de valores quilombolas na vida do território.  O alcance deste diálogo faz parte do Bem Viver comunitário de Moju Miri, o qual estamos permanentemente construindo. Busquei responder a algumas questões que me inquietaram a partir de experiências vivenciadas na escola da comunidade na condição de professora acerca das práticas culturais e ancestrais de Moju Miri, uma vez que a comunidade é formada por pessoas afrodescendentes e seus conhecimentos estão entrelaçados na forma de vida que possuem. Nesse sentido, busco exercer algum poder de agência e influenciar nas mudanças necessárias para a comunidade resistir às imposições que as lideranças evangélicas tentam nos impor. Para nós, o Bem Viver inclui a resistência contra o apagamento das nossas tradições africanas e afro-brasileiras, e eu, como quilombola e evangélica, e do entrelugar situado entre comunidade e universidade, luto não apenas para compreender as possibilidades dessa relação intercultural, mas também para transformá-la. Dessa maneira considero que estarei contribuindo com a escola do território, com a igreja e com a comunidade. No primeiro capítulo apresento as minhas escrevivências e a oralidade também como recursos metodológicos, para, a partir das fronteiras e entrelugares em que me encontro, efetivar uma ação política e militar em favor do respeito à diferença na comunidade e à construção da interculturalidade. Para falar das minhas escrevivências, trago Conceição Evaristo com esse conceito que me possibilita usar a escrita na primeira pessoa e também minha experiência dada por uma vida engajada na comunidade, como professora e liderança comunitária. Assim como Conceição Evaristo, que fala das atividades das mulheres negras da sua favela, trago na minha dissertação vozes de outras mulheres quilombolas com que me relaciono. O relato de pessoas comuns e diálogos que reporto neste trabalho falam de cultura, modo de vida e pertencimento.  Trago também de Lélia Gonzalez o compartilhamento de vozes e a comunhão que ela faz entre pensamento e ação. Nesse sentido, busco uma compreensão ampla de significados para trabalhar contra o apagamento da cultura, do ser e do saber ancestral de Moju Miri, que ocorre pela imposição e intransigência de algumas lideranças evangélicas que atuam dentro da nossa comunidade. Entendo que a negação de nossas ancestralidades é uma forma de colonização e racismo e não podemos de forma alguma abrir mão da nossa cultura ancestral, porque isso seria abrir mão da nossa identidade. Assim, em minha escrevivência estão incluídos educação, resistência, intervenção social, a coletividade, a oralidade, a informalidade, o sentir e pensar de alguém que se situa entre a universidade e a comunidade.  Na sequência, no segundo capítulo, trago a minha autobiografia dividida em subtópicos: minhas Lutas e minhas Dores, a minha experiência como professora, as minhas vivências no mestrado e na militância, com a minha trajetória de lutas, resistências, enfrentamentos do machismo e dos racismos, a minha atuação na igreja, na escola, no movimento quilombola, na comunidade e na universidade, tudo isso informando meu texto. Em seguida, no terceiro capítulo exponho a cultura quilombola de Moju Miros mediante diálogos, com meu pai, minha mãe e minha tia Nazaré. Muito do conhecimento ancestral adquirido de nossos ancestrais, por onde caminha a educação quilombola, vem dessa oralidade. No quarto capítulo trago o contexto histórico da comunidade, o processo de formação política, lutas, organização, construção do protocolo de consulta prévia livre e informada, que marcou uma “divisão de águas” na comunidade. Importante enfatizar que o protagonismo da mulher quilombola de Moju Miri esteve sempre presente em todas as conquistas da comunidade, na liderança política, além dos cuidados, especialmente durante a pandemia de Covid 19, e nas tomadas de decisões, nos trabalhos coletivos, no cuidado com a saúde do território, no uso das plantas medicinais, e nos trabalhos da igreja evangélica. Com toda essa atuação, as mulheres cumprem um papel decisivo na comunidade. No quinto capítulo discuto valores para uma educação anterracista e quilombista, contextualizada de acordo com o cotidiano dos estudantes quilombolas, ribeirinhos e do campo, levando em consideração a diversidade cultural existente nessa realidade. E, por fim, no sexto capítulo trago um confronto entre a cultura ancestral quilombola e o pentecostalismo, a nossa cultura e seus elementos representativos, que permanecem na comunidade, que aprendemos com os mais velhos e precisam ser estimulados e reavivados.

     

     

  • ANDREZA CRISTINA MORAES VIANA
  • “VIRGENS DO BECO É SHOW”: PERFORMANCES DE UMA QUADRILHA HUMORÍSTICA EM SANTARÉM – PA

  • Data: 29/08/2023
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa tem como objetivo investigar as expressões e significados do riso nas performances de quadrilhas juninas classificadas como humorísticas na cidade de Santarém, Pará. O percurso do estudo parte das apresentações da quadrilha intitulada As Virgens do Beco, tomadas como unidades empíricas de investigação. Essa quadrilha é especialmente reconhecida em Santarém pela sua capacidade de mobilizar elementos risíveis, dança e teatro nas apresentações. Estas são analisadas por meio de uma abordagem fundamentada na antropologia da performance e no estudo do riso, à luz das contribuições de Bakhtin, sobretudo acerca do realismo grotesco. A investigação também considera as exibições da quadrilha como eventos ritualizados, com destaque para as interações face a face que ocorrem durante as apresentações. A análise buscou compreender a exploração e os sentidos do humor nas performances. Evidencia-se que, enquanto algumas partes cômicas são predefinidas, uma porção significativa do humor é criada de forma improvisada. Ademais, este estudo explora as nuances do riso e do risível no contexto das quadrilhas humorísticas de Santarém. Percebe-se que temas relacionados ao corpo e à sexualidade desempenham um papel proeminente nos esquetes desse estilo de dança junina, como indicado pelo próprio nome do grupo, "As Virgens do Beco".

  • JUSSIA CARVALHO DA SILVA VENTURA
  •  

     

    RÁDIO, CIDADE, GOSTO E MEMÓRIA:
    uma etnografia da Belém que toca na Feira do Som

  • Data: 19/07/2023
  • Mostrar Resumo
  •  

    As transformações tecnológicas têm imposto adaptações às emissoras de rádio que
    possibilitam a formação de realidades híbridas que coexistem em espaços tecnológicos
    diferenciados, que atendem público e realidades também diferenciadas. A Rádio Cultura
    do Pará, emissora pública criada em 1977 e ligada à Fundação Paraense de Radiodifusão
    (Funtelpa), apresenta esse tipo de hibridismo. Neste universo de pesquisa escolhi
    trabalhar com o programa “Feira do Som”, um dos programas mais antigos da rádio
    paraense, no ar desde 1972. Para fazer uma etnografia da Belém que é tocada nesse
    programa radiofônico foi necessário utilizar algumas técnicas metodológicas: audição
    participante, audição não participante, entrevista em profundidade (presencial e com
    suporte online), análise descritiva do programa. A pesquisa tem como objetivo geral
    identificar qual cidade de Belém é construída e consumida a partir do programa
    radiofônico Feira do Som da Rádio Cultura FM, uma das primeiras rádios públicas da
    Amazônia. Defende-se como hipótese que a construção de memória social e afetiva da
    cidade, a partir da relação do público com a mídia, é facilitada quando este produto
    midiático pertence à Comunicação Pública. Assim, o conteúdo veiculado no programa
    radiofônico Feira do Som permite uma construção de memória afetiva e social da cidade
    de Belém, seja por conta de uma Belém antiga, seja pela seleção musical regional. A
    construção da memória social da capital paraense a partir do programa radiofônico Feira
    do Som é pautado pelo gosto, que é uma experiência sensível, sensorial e de sintonia com
    o lugar de pertencimento.

  • TAINAH SOUSA DO NASCIMENTO FERREIRA
  • CORPOS IGNORADOS: uma análise sobre o ingresso de pessoas com deficiência no Serviço Público Federal.

  • Data: 27/06/2023
  • Mostrar Resumo
  • O presente trabalho parte do interesse em analisar a formação do gosto estético e cultural ocidental desejável para o trabalho no serviço público federal, mais especificamente para o exercício da atividade policial, a partir da perspectiva da decolonialidade, do corpo desejável e do corpo perfeito, estabelecendo diferenças e categorizações de corpos considerados normais ou deficientes, investigando a existência de desigualdades entre pessoas sem e com deficiência, tendo como premissa a existência de um padrão previamente estabelecido. O esforço deste trabalho destaca como característica a perspectiva decolonial orientadora da análise crítica do conhecimento científico acerca do tema proposto e efetividade ou não das normativas legislativas no Brasil. Chama-se atenção, portanto, para as mudanças de perspectiva hermenêutica em relação à compreensão da limitação de corpos categorizados como deficientes e incapazes. Com o advento da entrada em vigor da Lei 8.213, em 1991, a qual estabeleceu cotas para contratação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, houve um grande avanço legislativo no reconhecimento da necessidade de inclusão. O documento legal mais robusto e recente é o Estatuto da Pessoa com Deficiência, consagrado na Lei 13.146, de 6 de julho de 2015. No entanto, percebe-se a necessidade de ampliação de tais direitos, assim como há a necessidade de efetivação da legislação de proteção a essa categoria. Apresenta-se como um desafio o reconhecimento dos direitos de inclusão de pessoas com deficiência, inclusive na atividade policial, pois até 2013 nenhum edital no Brasil havia previsto vagas para pessoas com deficiência na atividade-fim das carreiras policiais, para cargos policiais. O pioneirismo da previsão editalícia se deu em 2013 com a publicação, pela Polícia Rodoviária Federal, do Edital Nº 1 – PRF – Policial Rodoviário Federal, de 11 de junho de 2013, que previa mil vagas para o cargo de Policial Rodoviário Federal, das quais novecentos e cinquenta foram destinadas à ampla concorrência e cinquenta vagas foram reservadas aos candidatos com deficiência. Muitas foram as barreiras encontradas pelos candidatos inscritos às vagas para pessoas com deficiência. A partir da análise de narrativas dos atores como forma de interpretação da experiência individual e coletiva, propõe-se compreender a classificação de “deficiência”. Conclui-se que apenas a previsão legal e/ou editalícia não são suficientes para a materialização da inclusão da população com deficiência no mercado de trabalho e que os governos e instituições devem implementar políticas públicas que auxiliem neste processo de inclusão que garanta o direito ao trabalho às pessoas com deficiência.

  • GLEIDSON WIRLLEN BEZERRA GOMES
  • Olhares da/na ci(s)dade: transexualidades/travestilidades, raça e práticas nos espaços citadinos de Belém-PA "em plena luz do dia"

  • Data: 19/06/2023
  • Mostrar Resumo
  • Esta tese tem como objetivo compreender as relações entre as transições de gêneros de
    pessoas trans/travestis e suas práticas nos espaços (CERTEAU, 2014) citadinos de
    Belém “em plena luz do dia”. Assim, a etnografia aqui proposta foi elaborada a partir de
    referências e reflexões da Antropologia Urbana, em diálogo com os estudos de gênero,
    sexualidades e raça. Teve como uma de suas bases as narrativas biográficas (ROCHA;
    ECKERT, 2013a) de cinco interlocutoras/es que, a partir de suas trajetórias de vida,
    permitiram refletir sobre as questões de gênero, sexualidade e raça implicadas em seus
    trânsitos cotidianos pela cidade. Além das entrevistas semiestruturadas voltadas para as
    trajetórias de vida, foram utilizadas também as narrativas e reflexões das pessoas
    trans/travestis sobre Belém, bem como realizei observações diretas com elas/eles,
    utilizando a técnica da etnografia de rua (ROCHA; ECKERT, 2013b) para descrever e
    interpretar as situações ocorridas em lugares de Belém como ruas, praças, calçadas e,
    também, em seus deslocamentos na urbe dentro de coletivos. Os dados etnográficos
    assim construídos foram organizados em “cenas”, com inspiração em Perlongher
    (1984), nas quais é possível perceber as performances (TURNER, 2015; SCHECHNER,
    2012) nelas contidas, gestos e expressões faciais, evidenciando os olhares dos
    desconhecidos na capital paraense como um dos micro-gestos que compõe as interações
    (GOFFMAN, 2014) urbanas das pessoas trans/travestis, quando elas têm seus corpos
    ora questionados, ora desejados, ou observados com curiosidade, demonstrando parte da
    complexidade do estilo de vida urbano nesta cidade amazônica. Nesses jogos de olhares
    são também percebidas territorialidades (PERLONGHER, 1984; 2008) em suas
    demarcações simbólico-espaciais em Belém, o que nos ajuda a pensar na ideia de uma
    ci(s)dade, ou seja, uma cidade que tem em seus fundamentos a cisgeneridade e a
    branquitude, atuando nas delimitações dos espaços concretos da urbe e compondo parte
    das relações sociais nela vivenciada.

  • MARCUS MAURO DE OLIVEIRA CONOR MORAES
  • HERÓIS MASCULINOS NAS FANTASIAS ELETRÔNICAS: COMO A MASCULINIDADE HEGEMÔNICA REFORÇA ESTEREÓTIPOS DE MASCULINIDADE NOS VIDEOGAMES

  • Data: 30/05/2023
  • Mostrar Resumo
  • O presente trabalho tem como objetivo analisar a masculinidade no contexto do mundo digital
    dos videogames, mais precisamente a masculinidade hegemônica, atribuída aos protagonistas
    masculinos e suas narrativas nos videogames. A análise se deu nas mais diversas camadas
    sociais e culturais, passando não só do âmbito da literatura e cinematografia, como também,
    principalmente no âmbito comercial, onde se encontra a indústria de videogames. Falar de
    masculinidade, tanto como feminilidade, não se trata somente de uma discussão acerca da
    identidade do indivíduo, mas também de sua interação com todo o resto da sociedade, que
    identifica e interpreta a expressão desta consonância, seja ela genuína, construída ou instituída,
    como o caso das atribuições hegemônicas da masculinidade nos mais diversos espaços do
    recreacionismo. A escolha do videogame, além da minha familiaridade, se dá por ele ser uma
    mídia de entretenimento, que promove interatividade do indivíduo para com o personagem o
    qual ele está controlando. Portanto, mesmo que ele não tenha as atribuições vigentes de uma
    masculinidade aceita ou idealizada, ele está no controle de um personagem que pode representar
    isso. A intenção deste trabalho é de a partir desta análise observar como o público de
    consumidores de videogames posicionam-se diante a uma indústria que pode estar
    reproduzindo hábitos e comportamentos masculinos, que podem ser nocivos socialmente e até
    mesmo individualmente, seja tanto para o homem quanto para todo o resto de seu meio social.

  • ANA SHIRLEY PENAFORTE CARDOSO

  • Mulheres Tembé-Tenetehara: entre saias, memórias, subjetividades e fotografias.

  • Orientador : DENISE MACHADO CARDOSO
  • Data: 27/04/2023
  • Mostrar Resumo
  • Esta tese é resultado de uma pesquisa etnográfica com Indígenas mulheres do povo Tembé Tenetehara, que vivem na Terra Indígena Alto Rio Guamá, TIARG, localizada no estado do Pará. O estudo parte de vivências e da observação em campo com a liderança cultural Kuzà’í, a pajé Francisca e com informações sobre a trajetória da capitoa Verônica Tembé, falecida em dezembro de 2013. A pesquisa utilizou a fotografia como um elemento de interação e análise, com a qual elaborou uma etnografia à luz da antropologia visual. O objetivo desta articulação teórico-metodológica foi observar as convergências entre os enunciados verbais e visuais, que possibilitem compreender a produção historicamente construída sobre povos indígenas forjando uma identidade, a partir da ótica de colonialidade, conceito que se distancia do modo como os próprios indígenas observam seu cotidiano. Buscou-se assim refletir sobre uma imagem simbólica construída historicamente do que seria uma mulher indígena e analisar aspectos dessa produção imagética que se conflita com o olhar dos indígenas, cuja apreensão se distancia bastante da versão que os próprios indígenas têm sobre si mesmos. Busquei analisar as subjetividades entre as mulheres Tenetehara em meio às práticas culturais e às movências históricas de sua sociedade, que as singulariza, diante das 305, sociedades indígenas que vivem atualmente no Brasil, das quais possuem 275 línguas ‘locais’ (IBGE, 2010), estas informações e as observações do campo possibilitam notar a generalização imposta historicamente às populações indígenas no país, prevalecendo, uma ideia da “índia” e do “índio”, em uma espécie de matriz eurocêntrica, marcada pelo exotismo, que desconsidera as particularidades destes povos, horizontalizados em uma perspectiva de colonialidade do poder, de dispositivo colonial que atravessa a história e encontra eco na contemporaneidade. Evidencio o protagonismo das indígenas mulheres, a partir do conceito de corpo-território (CELENTANI, 2014; XAKRIABÁ, 2018; KARIPUNA, 2021), que atravessa seus modos de vida. A imagem aqui é concebida como um instrumento de conhecimento, de memória, de percepção do corpo destas mulheres em meio a seus espaços de lutas, de direitos e de conquistas que é o Território, nos distanciando da matriz imposta e marcada pela colonialidade do olhar.

  • MARCELO SANTOS SODRE
  • A ESCOLA COMO UM “EU-ISSO BUBERIANO”: ARENDT, HABERMAS E O PERSONALISMO COMO CHAVES DE LEITURA DO FENÔMENO EDUCACIONAL 

  • Orientador : DENISE MACHADO CARDOSO
  • Data: 12/04/2023
  • Mostrar Resumo
  • Como Problema central de pesquisa, esta Tese de Doutorado investigou do ponto de vista do Personalismo em Mounier e em Buber (com forte diálogo com Arendt e Habermas) se a escola pública pode ser concebida como um “eu-isso buberiano” e se está vivenciando nas últimas duas décadas um modelo de escolarização para o Ensino Médio o qual instrumentaliza alunos e alunas em direção a desresponsabilização destes/as para com o mundo comum. Buscou-se compreender se o fato de reduzir o modelo atual a um mero “curso preparatório” para diversos processos seletivos de acesso ao ensino superior, especialmente para àqueles que utilizam a “nota do ENEM” como critério de seleção, estaria promovendo tanto a despersonalização quanto a despolitização dos(as) estudantes pelo ensino escolar. Assim, por um lado, analisou-se se este modelo promoveu aquilo que denomino neste trabalho de “dissolução da esfera pública/do mundo comum”, e, por outro, se a “aula como encontro” eleva-se como alternativa de rompimento com o caráter instrumental típico da educação escolar. Portanto, os locais de investigações foram escolas públicas selecionadas entre os anos de 2016 e 2020, e a Metodologia desenvolvida seguiu as matrizes explicativa e compreensiva, com abordagem dedutiva a partir de pesquisas teóricas e de campo. Como resultado, confirmou-se a tese investigada.

  • ENDERSON GERALDO DE SOUZA OLIVEIRA
  • A Braz é (e) quem ‘a faz’: paisagens de poder, experiências e apropriações na avenida Braz de Aguiar, em Belém (PA), Amazônia.

  • Data: 31/03/2023
  • Mostrar Resumo
  • Nesta pesquisa observo as vivências e experiências de sujeitos na avenida Braz de
    Aguiar, bairro de Nazaré, considerado um dos mais destinados às camadas médias de
    Belém do Pará, Amazônia (achei estranho isso. Talvez “um dos bairros de maior
    status”). Levando em conta que as paisagens são construções processuais (SANSOT,
    1983; SILVEIRA, 2004; ECKERT, 2009; ECKERT e ROCHA, 2013), me atento
    principalmente ao estabelecimento de “paisagens de poder” (ZUKIN, 1996), que são
    provocadas e/ ou se coadunam às práticas dos sujeitos. Tais poderes, em especial o
    econômico, se expressam nos habitus (BOURDIEU, 1983), perceptíveis mediante a
    realização da Etnografia de Rua (ECKERT e ROCHA, 2013) e da Etnografia da

    Duração (ECKERT e ROCHA, 2013). Na via, os serviços eram e ainda são
    direcionados a uma camada financeiramente mais privilegiada da cidade, com maior
    poder de consumo, aquisitivo e status, algo fundamental na construção e manutenção de
    certa “distinção” no contexto belenense. A Braz, então, torna-se um “espaço geográfico
    socialmente hierarquizado” (BOURDIEU, 2007), em que o ócio (VEBLEN, 1965)
    parece ser mais possível de ser praticado, mas não por todos. Em conjunto, isto aponta
    para o estabelecimento de processos específicos de sociabilidade e sociação (SIMMEL,
    1983) no mundo urbano belenense, em que é necessário discutir também a forma
    “aristocrática” como alguns indivíduos aderem/(re)criam tal fisionomia urbana
    contemporânea e como a avenida é referida e representada nas redes sociais.



  • VICTOR LEAN DO ROSÁRIO
  •  “NESSE TERREIRO TEM AXÉ E TEM VIADO”: EXPERIÊNCIAS HOMOAFETIVAS E SEXUALIDADE NUM TERREIRO DE UMBANDA NO NORDESTE PARAENSE

  • Data: 28/02/2023
  • Mostrar Resumo
  • O terreiro Mina Nagô Cabocla Mariana e Tapinaré das Matas, localizado na cidade de Igarapé Açu, é um dos principais centros afro-religioso do município, pois comporta diversos corpos, sexualidades e expressões de gênero que fogem a heteronormatividade, especialmente os homens gays, que habitam o espaço e potencializam a dinamicidade ritualística. Deste modo, esta pesquisa tem por objetivo compreender como se dá o lugar da homossexualidade masculina que se encontram no Terreiro Mina Nagô Cabocla Mariana e Tapinaré das Matas, sejam como rodante, seja como simpatizante da religião, cujas experiências são tecidas como os diversos sagrados presentes no espaço. As vivências, memórias e relações construídas entre os gays e as entidades foram analisadas a partir da etnografia, que tem como base demonstrar a instabilidade dos vínculos formados durante os rituais, giras, conversas e conflitos. Além disso, as entrevistas abertas com interlocutores gays e entidades auxiliaram na compreensão das suas subjetividade, concepções e sentido. Por isso, tais dinâmicas (re)produzidas no terreiro servem como instrumento de potencialização dos contatos entre homens gays, caboclos, exus, pomba-gira, erês, pretos-velhos, dentre outras entidades que povoam o visível e o invisível do terreiro. Desta forma, analiso como estes corpos dissidentes também fazem parte da construção do sagrado na casa de umbanda.

  • ELISA GONCALVES RODRIGUES
  • Espaços da morte na vida vivida e suas sociabilidades no Cemitério Santa Izabel em Belém-PA: Etnografia urbana e das emoções numa cidade cemiterial

  • Data: 27/02/2023
  • Mostrar Resumo
  • A morte permeia diversos campos da experiência humana em termos físicos e imaginários, portanto, individuais, coletivos e sociais. Tal construção circunda os sujeitos, suas relações e marcadores sociais, bem como a posição social em que determinados indivíduos ocupam, neste caso, dispostos no que chamo de cidade cemiterial. Sendo assim, esta dissertação tem o intuito de identificar como as emoções e vivências, vividas e relatadas, em sua maioria, pelos trabalhadores e transeuntes desta cidade cemiterial, dão corpo, impactam e influenciam o seu cotidiano, trabalhando com e para a morte. Através das perspectivas produzidas junto aos trabalhadores, transeuntes e usuários do campo santo, por meio de uma etnografia no contexto cemiterial urbano, ancorada nas três dimensões antropológicas que me interessam mais diretamente - das Emoções, Urbana e da Morte -, percorri as ruas das cidades dos vivos e dos mortos considerando sua mais ampla sensorialidade (evocada pelo sensível, o imaginário e os ritos), sob escuta e observação participante na rotina das datas coletivas de forte reverberação simbólica do/no Cemitério Santa Izabel. Através das andanças pelas ruas cemiteriais percebi que os que circulam dentro da necrópole experienciam a morte numa experiência conjunta à vida em perspectiva de interação com a morte. Nos sepultamentos, nas datas simbólico-coletivas, e em demais momentos referidos nesta pesquisa, notei a ambiência do lugar que a cidade dos mortos ocupa na cidade dos vivos, e vice-versa. Diante disso, a pesquisa em questão, através da etnografia voltada ao sensível no contexto cemiterial, abre espaço para as reflexões que consideram o olhar dos sujeitos que manejam a morte e a compreendem como um lugar em sua vida seja no trabalho ou fora dele, e dimensionam, portanto, as fronteiras que tocam o dia a dia da necrópole, que os alcançam para além das delimitações da cidade cemiterial amazônica.

  • GLAUCIA MACEDO SOUSA
  • REZAR E AGIR: A IGREJA CATÓLICA E A FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS DO OESTE DO PARÁ DAS DÉCADAS DE 1970 A 1980

  • Orientador : HERIBERT SCHMITZ
  • Data: 27/02/2023
  • Mostrar Resumo
  • Nessa pesquisa, objetivei investigar a formação de lideranças do Cristianismo da
    Libertação à luz do aporte teórico-metodológico dos frames. Para tanto, parti da
    investigação de (frame bridging), instituições e agremiações religiosas que foram
    acessadas na trajetória de vida de pessoas que se destacaram na organização de
    movimento sindical e em movimentos de bairro em Santarém, PA, entre as décadas de
    1970 a 1980. Realizei pesquisas bibliográficas, documentais, observações e participação
    em grupos de formação remanescentes ou semelhantes àqueles acessadas pelas
    lideranças. Os principais resultados mostram que por trás do processo de formação
    existiu o acesso a instituições da Igreja Católica, localizadas no Nordeste brasileiro,
    cujas influências da categoria intelectual orgânico ajudou a enquadrar os limites e
    potencialidades do clero enquanto aliado do movimento, para quem se objetivou formar
    filhos de trabalhadores rurais para atuar como lideranças. Estes retornaram ao lugar de
    origem, Oeste paraense, onde se aproximaram de trabalhadores rurais migraram do Sul
    do Brasil para a Transamazônica, marcando uma dinâmica de transformações e
    reinterpretações de esquemas primários que eram prejudiciais a ação coletiva, porque
    inferiorizavam e dividiam o grupo.

  • MARLLEN KARINE DA SILVA PALHETA
  •  “VOCÊ VÊ AQUELE BICHINHO ALI, NÃO TEM NOÇÃO DO TRABALHO QUE DÁ”: ESTUDO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL E AMBIENTE NA PESCA DE CURRAL EM SÃO CAETANO DE ODIVELAS.

  • Data: 16/02/2023
  • Mostrar Resumo
  • A pesca artesanal na Amazônia é uma temática vasta, que envolve diferentes atores sociais,
    processos produtivos, relações econômicas e sociais. O Salgado Paraense figura como uma área
    importante dentro deste contexto, dada sua história como primeira área de ocupação após a
    chegada dos portugueses na Amazônia, assim como uma localidade importante em decorrência
    do desembarque pesqueiro na área. A pesca realizada por essas populações se destaca como o
    principal ponto a ser observado e descrito nesta tese, em especial a pesca de curral. A pesca
    artesanal se divide em muitas outras modalidades, mas a pesca de curral figura como ponto de
    interesse deste trabalho, dada a própria constituição do ambiente que proporciona as melhores
    condições para ser realizada tal atividade, acarretando o uso do ambiente numa perspectiva
    harmoniosa por parte das populações tradicionais. Este estudo foi realizado na localidade do
    Aê, localizado no município de São Caetano de Odivelas. O Aê possui como principal atividade
    pesqueira a pesca de curral e, esta tese trará a discussão acerca da atividade exercida nessa
    localidade, o significado desta arte para os pescadores, e como se dá o processo de transmissão
    dos currais, haja vista que existe uma relação de descendência e herança especificamente na
    linha de curral. Também aborda como os pescadores se organizam, sendo o parentesco o
    elemento que norteia, organiza e conduz a atividade.
  • DÉBORA MELO ALVES
  • “ESSA CASA NÃO É DO INCRA, ESSA CASA É MINHA”: EFEITOS FUNCIONAIS E SIMBÓLICOS DO CRÉDITO HABITACIONAL EM UMA RESEX MARINHA DA AMAZÔNIA

  • Data: 01/02/2023
  • Mostrar Resumo
  • O objetivo desta dissertação é analisar a implementação do Crédito Habitacional do II Programa Nacional da Reforma Agrária (II PNRA) na Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu (REMCT), que possibilitou a construção de habitações para uma parcela da população. A REMCT está localizada no município de Bragança, e é um território onde residem pescadores e capturadores de caranguejo. Esta análise busca identificar como a dinâmica local afeta e modifica as proposições funcionais da habitação que também é constituída por sua dimensão simbólica, a qual está inscrita na história de vida dos atores e no modo de viver em uma Resex; e, se a política de habitação em questão possibilitou ganhos na qualidade de vida dos contemplados por ela. A metodologia utilizada será predominantemente qualitativa, baseada na revisão bibliográfica, na análise de entrevistas feitas com as moradoras da REMCT, lideranças e técnicos, e de atas e documentos oficiais. Dados quantitativos levantados em bases oficiais são usados de forma complementar, com vistas a enfatizar as principais questões destacadas nas entrevistas. No que se refere ao campo teórico, parto da perspectiva da sociologia que possibilita analisar as relações entre Estado e sociedade, destacando a importância dos atores, processos e estruturas, com destaque à dimensão social (CORTÊS e LIMA, 2012), e por essa abordagem permitir apurar a compreensão do papel dos grupos sociais, cujas interações possuem poderes para influenciar as estratégias, os projetos e os resultados das políticas públicas (LASCOUMES e LE GALÈS, 2012). Os resultados vêm mostrando que a política do Crédito Habitacional do II PNRA tem potencial para reduzir desigualdades, isto porque a construção de habitações destinadas a populações empobrecidas, propicia um teto para morar e traz consigo estruturas funcionais como quartos, sala, cozinha, banheiro e água encanada, capazes de levar mais qualidade de vida. Por outro lado, a política pública em questão não considerou aspectos regionais nem ambientais, e por tratar-se de um tipo de Unidade de Conservação a implementação da política deveria dialogar com a questão da sustentabilidade do território, considerando também a participação das populações locais na construção e implementação da política habitacional.

2022
Descrição
  • CARLA FIGUEIREDO MARINHO SALDANHA
  • Pelos olhos de Irene – deslindando Lindanor Celina, Escritora, Personagem

  • Data: 13/12/2022
  • Mostrar Resumo
  • Penso a pesquisa realizada no doutorado, como um segundo momento do projeto político que me propus a desenvolver, que consiste em estudar/pesquisar sobre a vida e/ou obra de escritoras paraenses. Nesta pesquisa busquei identificar, através da linguagem, como Lindanor Celina Coelho de Miranda Casha – professora, mãe, atriz, jornalista, funcionária pública, escritora e uma “viajante”, como ela própria se definia – constrói, simbolicamente, grafadas “concretamente” na sua escrita, as imagens do feminino produzidas, entre outros, nos romances: Menina Que Vem de Itaiara (1963), Estradas Do Tempo-Foi (1971) e Eram Seis Assinalados (1994). Uma trilogia na qual a narrativa é marcada pela memória, pelos condicionamentos sociais, econômicos e religiosos em que as injunções de gênero estão presentes o tempo todo, reveladas, registradas, interpretadas por Lindanor, ao longo de seus textos. Para tanto, fazendo uso da lente dos Estudos de Gênero realizei a leitura sócio antropológica da trilogia, o que me possibilitou identificar a complexidade e desafios de ser mulher a partir da trajetória da personagem Irene, que é a protagonista e ao mesmo tempo o ‘elo’ que une os três romances. A trajetória particular de Irene, que ‘encarna’ elementos autobiográficos da própria escritora, permitiu, de certo modo, compreender os desafios do seu tempo, que são expressados nas ideias e visões de mundo que Lindanor reconstrói, enquanto pano de fundo, no cenário da vida amazônica registrada nos diferentes quadros da vida interiorana dos paraenses, principalmente no primeiro e terceiro romances – Menina Que Vem de Itaiara e Eram Seis Assinalados. Devo dizer que não se trata de um estudo sobre o gênero literário romance e seus traços estilísticos. Embora tais elementos contribuam na contextualização histórica da trilogia.

  • ELSON LUIZ BRITO DA SILVA
  •  

     

     

    “Do sentar à mesa ao sentar na mesa”: aspectos sociais e políticos da construção ruidosa do Plano Estadual de Enfrentamento da Violência Transfóbica no Estado do Pará

  • Data: 02/12/2022
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo traz como objetivo analisar aspectos que constituem condições de inserção dos atores Sociais LGBTQIA+ por meio de organização e mobilização, em esferas públicas e os avanços significativos na construção da cidadania homossexual, para o que muito contou políticas públicas afirmativas e espaços públicos de debates sobre garantias de direitos. O reconhecimento como sujeitos de direitos e sua relação na construção do plano estadual de enfrentamento à violência homofóbica, cuja demanda e conquista se forja em um contexto de fragmentação social, no qual a reivindicação de direitos culturais, de afirmação de identidades múltiplas têm se destacado em um mundo no qual se aceleram as mudanças nas esferas económica, social, cultural e política, constitui a perspectiva acionada pela seguinte questão norteadora. Como e através de quais estratégias de mobilização e de organização coletivos se constituem e se relacionam com os poderes públicos, tendo em vista, pela afirmação das diferenças reivindicar a igualdade de tratamento público enquanto sujeito de direito. Como operação metodológica a proposta é pela perspectiva sociológica reconstruir a trajetória das mobilizações e organização do movimento na região metropolitana de Belém para com isso contribuir com desinvisibilização de segmentos sociais outros que também compõem a sociodiversidade na Amazônia brasileira urbana. Uma sociodiversidade que também reflete dilemas e desafios humanos e sociais relacionados com lógicas políticas e sociais hegemônicas cujos valores são confrontados. Além da pesquisa documental, em seu primeiro momento a pesquisa englobou um universo de 32 pessoas - lideranças e participantes do movimento LGBTQI+ – acompanhadas desde 2014, ainda no Mestrado, considerando as variáveis escolaridades, faixa etária, participação política, resultados que remontam a 2014 indicam significativas mudanças na organização das ações hoje mais marcadas pela reivindicação de políticas contra a homofobia, a não discriminação e qualquer forma de preconceito. Em seu segundo momento, no ano de 2020, o universo ampliou para 63 (sessenta e três) participantes, via questionário online, em virtude da pandemia, a fim de comparar com os dados de 2014, juntamente com entrevistas gravadas em áudios de 04 (quatro) representantes do movimento LGBTIQ+ e 04 (quatro) do poder público, que apontaram os avanços e dificuldades da relação entre os atores sociais envolvidos no processo de construção de uma política pública.

  • ISAAC FONSECA ARAÚJO
  • “A CABEÇA PENSA ONDE OS PÉS PISAM”:  R-existência de comunidades camponesas por territórios de vida da Amazônia Brasileira

  • Data: 07/11/2022
  • Mostrar Resumo
  • Este é um estudo sobre e com comunidades camponesas da Amazônia Brasileira, especialmente aquelas situadas na Amazônia Tocantina, na mesorregião nordeste do estado do Pará. Comunidades camponesas, territórios de vida e r-existência formam o tripé a partir do qual procurei dialogar com um conjunto de referências empíricas levadas ao encontro de uma base teórica sensível, acredito, ao tratamento das questões que orientaram esta investigação. Assumi a noção de comunidades camponesas enquanto territórios de vida, lugares da experiência-saber compartilhada, negociada, ora híbrida ou modelar, ora sequestrada ou encoberta, mas, não raro, formuladora de consciência do sujeito em relação e do conflito, sujeito-objeto da crise que leva ao acordo sempre que exigências se impõem à reinvenção dos seus regimes de trabalho, sociabilidade, territorialidades, crenças e diversas outras relações sociais e de produção. Assumi estes exercícios como formas de r-existência cujos sentidos encontram amparo numa dimensão real-simbólica constitutiva de territórios reais, porque espaços de lutas, tensões e aprendizados, mas, também, imaginados/objetivados, portanto, espaços de identidade e pertencimento. Com estas pistas, uma preocupação em compreender em que medida os grupos camponeses, convivendo com um modelo desenvolvimentista informado nas referências da colonialidade, resistem a diferentes mecanismos de dominação e expropriação dos seus territórios conduziu-me a examinar, em quatro casos de uma mesma dinâmica territorial, diversas ações coletivas, isto é, modos de participação, trabalho, conhecimento e engajamento político assumidos pelos grupos enquanto estratégias reprodutivas, interessado, para efeito de análise, no que dizem de si, como se articulam, como se percebem na arena pública, que interesses e dimensões de sua existência são revelados pelas narrativas que compartilham; procurei os eventos públicos, suas liturgias, seus discursos e esquemas de ritualização para, a partir do que foi vivo e intenso nessa escuta etnográfica, perceber as convergências e os distanciamentos presentes nas cenas/arenas que investiguei. Assim, restou-me compreendido que o dilema da reprodução social em territórios tradicionais situados passa pela permanente reinvenção de um sistema de disposições, práticas e saberes que, para além de responder a necessidades reprodutivas propriamente exprime sentidos existenciais a se revelarem numa ética da vida e da produção camponesa. Disto decorre que as estratégias reprodutivas acionadas pelos grupos contradizem os processos de racionalização econômica refletidos, por exemplo, nos projetos desenvolvimentistas que operaram sobre os territórios porque informadas numa razão socioambiental historicamente estabelecida, manifesta em três dimensões que se articulam e se completam, a saber: a experiência do trabalho coletivo, a luta política e a formação humana como exercício de produção de sujeitos sociais. Este modo de ser e tornar-se sujeito, de conceber a ação coletiva e de formar-se nela, de pensar o território e habitá-lo, de produzir as condições de vida e recriar relações de vida, acentuadas as suas contradições e descontinuidades, constitui, enfim, formas de r-existência das comunidades camponesas amazônicas.

  • ANA PATRICIA REIS DA SILVA
  • CATADORAS DE CARANGUEJO EM LUTA POR AUTONOMIA: ESTUDO SOBRE AS MULHERES DA REDE CAETEUARA NA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA CAETÉ-TAPERAÇÚ-PARÁ

  • Data: 24/10/2022
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo analisa a construção inicial da Rede de Mulheres Caeteuaras, inserida na Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu (RESEX), município de Bragança, nordeste do Pará. É uma organização coletiva que busca autonomia, condições de trabalho e renda para mulheres catadoras de caranguejos. A experiência é pioneira na cadeia produtiva, pois não se resume a gerar renda, mas quer valorizá-las como profissionais da pesca e, nesse processo, incorpora ideais de equidade de gênero. O referencial teórico inclui análises feministas sobre trabalho e gênero, em geral e no universo pesqueiro, e o debate sobre desenvolvimento socioambiental. Nesta visão de desenvolvimento, a economia não se separa da sociedade, os direitos territoriais de povos tradicionais são garantidos e a equidade de gênero, com paridade de participação de mulheres e homens na vida social, é requisito. A hipótese do estudo é que a organização coletiva das mulheres contribui em duas direções de mudança: ajuda na visibilidade e valorização do papel delas na cadeia produtiva pesqueira e potencializa o desenvolvimento socioambiental do território. Com abordagem qualitativa, foram feitas observações e entrevistas semiestruturadas com 30 mulheres nas vilas de Treme, Taquandeua e Pescadores e entrevistas em profundidade com lideranças locais. A pesquisa revelou três formas sociais de organizar a catação: a familiar, as catadoras a serviço de um patrão e as que adquirem a matéria-prima de comerciantes de fora, beneficiam e vendem o produto catado. Elas diferem nas etapas, na divisão sexual das tarefas e nas relações comerciais. As catadoras seguem em posição subordinada, pois não controlam o produto, os preços e a demanda por seu trabalho. Elas buscam estratégias para ganhar algum grau de autonomia, como alternar entre as formas de catação e receber pagamento nos fins de semana. Nesse cenário, a Rede representa uma inovação coletiva no enfrentamento dos problemas. Analisar sua trajetória a partir das experiências de vida das catadoras foi o objetivo geral desta Tese. Não importa só o acesso à renda pela via associativa, mas também, se há avanços em proteção contra os riscos do mercado e a superação de opressões ligadas às relações de gênero e de classe. E, no caso deste estudo, na conservação ambiental, pois os caranguejos são alvo de intensa exploração. Os dados mostram que a Rede tem conseguido avançar mais na consciência de seu status de trabalhadoras extrativistas, por meio dos cursos e formações, e menos na prática concreta do trabalho e da comercialização. É preciso ampliar a rede de parceiros e os recursos materiais e sociais. Seus projetos, contudo, apontam para novos sentidos de mercado. A cozinha comunitária prevê associar qualidade do produto, saúde ocupacional e estruturas de apoio às jovens mães no cuidado com os filhos. Desse modo, o estudo ratifica a importância da Rede para o desenvolvimento socioambiental, inclusive com suporte das associações da RESEX e os poderes públicos pertinentes. Isso porque, as condições concretas em que as catadoras vivem e participam do mercado são marcadas por bloqueios estruturais, onde se misturam opressões de gênero e de classe, barreiras sociais e culturais.

    Palavras-chave: Gênero. Economia. Equidade. Desenvolvimento. RESEX.

  • RAIDA RENATA REIS TRINDADE
  • O Aprendizado da Vida: brincadeira, trabalho, gênero e geração em Boa Vista/PA

  • Data: 18/10/2022
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo teve como foco central analisar o modo de vida de pessoas pertencentes a
    diferentes gerações frente ao movimento das transformações ocorridas na constituição
    dos grupos que desempenham as atividades de 'pesca' e de 'mariscagem', considerando,
    inclusive, as relações que daí provém, isto é, minúcias elaboradas na dinâmica de um
    modo de vida específico que abrange, ao mesmo tempo, permanências de regras sociais,
    e mudanças de algumas daquelas. Ele se insere no campo dos estudos sobre gênero,
    família e geração. A pesquisa concentrou-se na população da vila chamada Boa Vista,
    essa pertencente ao território do município de São Caetano de Odivelas, nordeste do Pará.
    Procurei investigar no discurso de mulheres, crianças e homens uma tal “diferença” de
    ideias e de práticas, e dos resultados daquelas no cotidiano, o que me permitiu perceber
    diferentes pontos de vista e interpretações, assim como conformidades, distinções,
    classificações, ambivalências e inseguranças

    Palavras-chaves: 

     

     

     

  • LARISSA RIBEIRO WANZELLER
  • As novas formas de organização de luta dos motoristas de aplicativo na era digital.

  • Data: 17/10/2022
  • Mostrar Resumo
  • Um dos atuais desafios da Sociologia tem sido explicar as mudanças que ocorrem no mundo do trabalho nas
    últimas décadas. A tendência global de dispositivos de gestão técnica algorítmica que ampliam a exploração do
    trabalho e modificam as relações sociais passaram a ser parte integrante das discussões a respeito das novas
    estratégias de racionalização do capital. Para alguns, essa tendência atinge as organizações tradicionais dos trabalhadores, como os sindicatos, para outros os trabalhadores recalcularam sua rota e deixaram de ter o sindicato enquanto uma referência. Esta pesquisa tem como objetivo analisar as novas formas de organização de luta dos motoristas de aplicativo na era digital. A intenção, somado ao objetivo da pesquisa, é entender o funcionamento e alcance de associações, sindicatos e grupos de aplicativo como o whatsapp, para exigir e garantir de forma efetiva os direitos dos trabalhadores. A pesquisa se constitui, a partir do método qualitativo e
    com entrevista semiestruturada, direcionada a 06 (seis) lideranças de organizações de trabalhadores de motoristas de aplicativo do estado brasileiro atuantes na Uber e 99 Pop e 01 (um) representante da Federação
    Nacional dos Sindicatos de Motoristas por aplicativo. Foram realizados levantamentos nas seguintes bases de dados: Livros, teses e dissertações referentes ao tema da pesquisa. Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Sociedade brasileira de sociologia (SBS), site DigiLabour, especializado em questões do trabalho digital, BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações e Bureau of Labor Statistics (BLS) base de dados de Sociologia do trabalho. Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic). A pesquisa justificasse pela urgência da compreensão das estratégias, limitações e avanços das novas ferramentas de luta, agora também digitais, de organização dos trabalhadores. Foi possível concluir que o trabalho de plataforma é uma realidade que se diferencia no nível de precarização que atinge os países, o que interfere diretamente na organização dos trabalhadores motoristas de aplicativo, que enquanto tentativa de expressividade de demandas utilizam o ciberativismo, estrutura que representa avanço na conexão com mais trabalhadores pelo mundo através dos meios digitais e limitações na possibilidade de romper com as formas de funcionamento e gestão do capitalismo.

  • JOSE VICENTE BRAGA DA SILVA
  • “CONTROLE SOCIAL SOBRE A POLÍCIA MILITAR: ANÁLISE DEAÇÕES DE ACCOUNTABILITY”

  • Data: 13/10/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta tese investiga o controle social sobre a Polícia Militar e procura analisar os efeitos de ações de accountability nesse tipo de controle. O objetivo principal é averiguar se é possível o exercício de alguma forma de controle social sobre a Polícia Militar, nos parâmetros democráticos, com elementos de accountability, como a transparência. Em primeiro plano, foram identificadas as peculiaridades da Polícia Militar e a sua dupla natureza, policial e militar. Selecionou-se a Polícia Militar do Estado do Pará como unidade de análise. Demonstra-se o sistema de segurança pública no Brasil e as consequências da ausência do ciclo completo de polícia. Mais adiante, apresentam-se linhas teóricas sobre controle social, destacando-se a teoria de Mannheim (1971) e, da mesma forma, verifica-se a importância das instituições como instrumentos de conformação de conduta em sociedade, mas que devem também sofrer controle social. Desse modo, analisa-se a accountability como forma de controle social sobre as instituições policiais, mormente a Polícia Militar, com ênfase na atuação das corregedorias como controle interno. Fez-se necessário criar um tipo ideal de accountability para o controle da Polícia Militar pela sociedade. Foram coletados dados sobre demandas da sociedade nos websites de instituições policiais brasileiras e estrangeiras, no período de 2011 a 2022. Investiga-se também a implantação de accountability no sistema de segurança pública brasileiro, tendo por base o COMPSTAT norte-americano. Em pesquisas de campo foram realizadas entrevistas semiestruturadas com policiais militares em Belém-PA e do interior do estado. Com o mesmo objetivo, foram realizadas entrevistas com integrantes da Gendarmerie Nationale francesa por ocasião do período de doutorado sanduíche, com bolsa da CAPES, na Universidade Paris Nanterre, de outubro de 2021 a março de 2022. Os resultados indicam que a partir da Constituição de 1988 a transparência nas ações governamentais passou a ser uma preocupação da sociedade e as instituições policiais introduziram elementos de accountability na sua gestão. Todavia, a accountability, de fato, não se encontra presente na Polícia Militar. Conclui-se também, com base em Habermas (2012), que a Gendarmerie não apresenta accountability satisfatória, mas é uma instituição policial legítima, instituída pela vontade da sociedade francesa, enquanto a Polícia Militar no Brasil representou, como consequência de sua formação histórica, a vontade da elite dominante, sendo definida por uma legalidade ilegítima que manteve sua característica militar, em detrimento da atividade policial.

  • ANDREICI MARCELA ARAUJO DE OLIVEIRA
  • MOBILIZAÇÃO COLETIVA E ENSINO SUPERIOR: movimentos micropolíticos na universidade.

  • Data: 29/09/2022
  • Mostrar Resumo
  • Estar na cidade é também frequentar espaços institucionais, dialogar com agentes do Estado e se fazer presente em um dos espaços que ganham mais visibilidade ultimamente: as universidades. A presença de indígenas nas universidades não é somente para engrossar as estatísticas, mas significa um grande passo dado na busca por formação e entendimento das políticas que afetam de forma direta ou indireta os Povos Indígenas e, ultrapassando essa esfera, pode significar também uma busca por maior participação e atuação direta em determinadas políticas, como a de educação e saúde. Considerando que os indígenas estão, cada vez mais, ocupando o espaço acadêmico e do seu papel mobilizador entre aldeia e cidade, a seguinte problemática surge: como esses indígenas acadêmicos da área de saúde, se mobilizam politicamente dentro dos muros da Universidade Federal do Pará? Parto da hipótese de que a mobilização política indígena, na área de saúde, ganha força a partir da inserção de indígenas no nível superior, mas ainda esbarra nas barreiras institucionais da Política de Saúde Indígena e no baixo número de profissionais indígenas nesta área para uma atuação mais efetiva. Assim, busco analisar como o acesso ao ensino superior pode ser um instrumento de mobilização coletiva, no campo da saúde indígena, em relação aos indígenas acadêmicos da Universidade Federal do Pará- campus Belém, do instituto de Ciências Biológicas e da Saúde a partir dos seguintes passos: verificando as implicações do acesso ao ensino superior no processo de mobilização política indígena; descrevendo a atuação da Liga Acadêmica de Saúde Indígena do Pará (Lasipa) dentro e fora dos muros da Universidade Federal do Pará; e identificando a relação entre educação e atuação política dos estudantes dos cursos da área de saúde da Universidade Federal do Pará. Utilizou-se entrevistas, análise de documento, levantamento bibliográfico. Concluiu-se que o ingresso nas universidades fortalece os movimentos micropolíticos, necessários para uma maior visibilidade no campo da área de ciências da saúde e, assim, a relação diretamente proporcional entre educação e atuação política se concretiza.

  • CICERO DE OLIVEIRA PEDROSA NETO
  • O Capitaloceno na Amazônia: mineração e necropolítica no agenciamento da produção de desastres socioambientais em Barcarena-Pa

  • Data: 23/08/2022
  • Mostrar Resumo
  • Este trabalho é fruto de uma etnografia que versa sobre o contexto da mineração na cidade de Barcarena, no nordeste do estado do Pará, que acabou por transformar, desde a década de 1980, o cotidiano da população desta cidade amazônica, fazendo-a experimentar as agruras de se viver em um ambiente constantemente vitimado por desastres socioambientais, que contaminam seus rios, o solo, o ar e, finalmente, os corpos humanos e não-humanos. Misturando as vivências do autor como antropólogo, repórter e fotógrafo ao longo de quase uma década de percursos na cidade, a presente dissertação utiliza como background o desastre ocorrido em fevereiro de 2018, de responsabilidade da mineradora norueguesa Hydro Alunorte, para analisar as agências necropolíticas que consolidaram o cotidiano movediço de incertezas no qual estão imersas as famílias que vivem na circunvizinhança do parque industrial barcarenense, cenário extremo que dialoga com a ideia de que a humanidade esteja vivendo uma crise ecológica sem precedentes e eminentemente conectada ao modelo de produção capitalista, o Capitaloceno.

  • PETRONIO MEDEIROS LIMA FILHO
  • "Pulsar, Festa como Potência Societal: os Jogos de Identidade Quilombola e a refundação política das comunidades quilombolas de Salvaterra - Marajó - Pará. Uma contribuição à teoria antropológica da Festa".

  • Data: 19/08/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta tese é um estudo antropológico que busca compreender a constituição e os significados dos Jogos de Identidade Quilombolas (J.I.Q) nas relações intra e intercomunidades quilombolas de Salvaterra - Marajó - Pará. Os J.I.Qs foram criados no ano de 2004 no contexto dos processos em que 16 comunidades se autodefiniram quilombolas no município Salvaterra. Todos os anos desde então, no mês de novembro, uma comunidade quilombola diferente sedia os Jogos, quando além das centenas de pessoas que vão prestigiar o evento, as comunidades quilombolas de Salvaterra e de outros municípios do Marajó enviam suas delegações para as representarem nos Jogos, mobilizando entre 400 a 600 quilombolas que são abrigados, alimentados e organizados para participar das diversas modalidades de esportes durante o dia, além das  apresentações nas "noites culturais" e "noites da beleza negra" ao longo dos quatro dias de festas. A etnografia demonstrou que este grande congraçamento se constituiu como um "projeto político quilombola" ao mesmo tempo com, contra e para além dos limites do Estado, cujo objetivo foi/é integrar as comunidades quilombolas marajoaras no contexto das lutas por direitos socioterritoriais no Marajó. Por durar no tempo, devido a sua abrangência e pela capacidade de mobilização de pessoas e recursos, os significados desta festa quilombola têm se ampliado ao longo do tempo, sendo vista pelos interlocutores quilombolas como tempo/lugar consagrado à "consciência negra"; à luta contra o racismo e como lugar de mostrar "sua cultura". Além disso, na sua preparação e realização, os J.I.Q têm mobilizado as redes de movimentos sociais quilombolas do Marajó, criando novos espaços nas comunidades: as sedes quilombolas; contribuído para a formação de novas lideranças vinculadas às redes de movimentos sociais quilombolas, bem como para ampliação dos processos de autodefinição quilombola, principalmente entre os jovens destas comunidades, que se constituem como a faixa etária mais numerosa presente nas festas. A partir da etnografia sobre os J.I.Q discuto a teoria da festa e sugiro pensá-la como "Potência Societal", que além de reproduzir coletivos, têm (re)criado e transformado estas coletividades. As conclusões deste estudo evidenciam que as socialidades festivas por meio da imaginação criadora, das emoções estéticas e do trabalho dos corpos têm produzido outras imagens, assim como paisagens, criando outras atmosferas (imaginários) que vêm contribuindo para uma espécie de refundação política dessas comunidades, originando, de inúmeras formas criativas, os quilombos contemporâneos no e do Marajó.

     

  • PETRONIO LAURO TEIXEIRA POTIGUAR JUNIOR
  • REMEDIOS CASEIROS, PAJELANÇA “REMÉDIO DO BRANCO”, “FEITIÇARIA”
    E “ORAÇÃO PARA DEUS”: Uma aproximação etnográfica aos conhecimentos e
    práticas de saúde/doença/cura entre os homens indígenas na aldeia Mapuera.

    (T.I.Nhamunda-Mapuera-PA).

  • Data: 16/08/2022
  • Mostrar Resumo
  • Resultado de um processo de diálogo com os indígenas da aldeia Mapuera, (Terra Indígena
    Nhamundá Mapuera), no noroeste do Pará, este estudo buscou analisar e compreender as
    práticas de saúde/doença/cura entre os homens indígenas nessa região, considerando suas
    subjetividades por meio de suas histórias de vida e as transformações nas concepções sobre
    estar com saúde, estar doente e estar curado. Tais mudanças estão relacionadas com os
    processos socioculturais a partir dos anos 1970, relacionados com a presença de
    missionários evangélicos e as respostas indígenas perante esses processos, fruto de
    movimentos sociais e estratégias de resistência indígena. Essas transformações impactaram
    também as concepções indígenas sobre saúde/doença/cura, fruto de influências de
    instituições como o Estado, a Igreja, a escola e a família. A pesquisa está baseada no
    método etnográfico e no enfoque teórico da antropologia dialógica (BUBER:2001), em que
    palavras e gestos foram suportes para captar narrações, emoções e concepções, por meio
    de histórias de vida com homens velhos, adultos e jovens e de um roteiro de entrevista
    referente às práticas de saúde/doença/cura tais como a pajelança, o uso de remédios
    caseiros, uso da medicina ocidental e a “oração a Deus”. As reflexões da Antropologia da
    saúde fundamentaram teoricamente este estudo, considerando as alteridades indígenas nas
    práticas de saúde/doença/cura entre os homens nessa aldeia. Para adentrar no “mundo
    masculino” e nos itinerários terapêuticos no processo da cura de doenças foi necessário
    navegar pelo mundo feminino, pois é a família, com as mães, avós e bisavós, a fonte de
    construção e repasse de conhecimentos e práticas sobre saúde/doença/cura e da formação
    da pessoa masculina (ser homem) nesse local. Esta investigação mostra que os contatos
    dos indígenas da aldeia Mapuera com outros povos indígenas na região dos rios Trombetas
    e Nhamundá-Mapuera, a inserção da medicina ocidental pelo Estado brasileiro e, por fim,
    o contato com evangelizadores da Igreja Protestante Batista, permitiram interconexões de
    conhecimentos e práticas de saúde/doença/cura que permeiam o itinerários terapêuticos dos
    homens indígenas na atualidade.

  • ADRIAN KETHEN PICANCO BARBOSA
  •  

     

    Os tambores da África reverberam aqui: o Projeto Batuque como prática decolonial na comunidade quilombola de São Pedro dos Bois – AP

  • Data: 11/08/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa tem como tema a Educação Escolar Quilombola (EEQ) e, inserido neste contexto da referida modalidade de ensino, analisarei o Projeto Batuque como uma prática decolonial na comunidade quilombola de São Pedro dos Bois - AP. O estudo segue a metodologia da Pesquisa-Ação-Participante de Orlando Fals Borda (1978), atualizando-a segundo uma perspectiva decolonial para identificar as transformações promovidas pela Educação Escolar Quilombola, com ênfase na análise do Projeto Batuque na citada comunidade quilombola.

  • FLAVIA PINGARILHO RODRIGUES
  • “O DESVIO NO OLHAR”: O fenômeno da invisibilidade social das pessoas em situação de rua no

    espaço urbano de Belém.


  • Data: 06/07/2022
  • Mostrar Resumo
  • A invisibilidade social descreve-se como um fenômeno de negação da existência de
    um indivíduo através de um estigma, um preconceito: ele existe fisicamente, no
    entanto não existe socialmente. Assim, não sendo visto como parte da sociedade, não
    pode desta forma ser considerado cidadão, desfrutando, pois, de seus direitos. O
    objetivo desta pesquisa é investigar, a partir do olhar sociológico (BOURDIEU, 2002;
    SENNETT, 2004; HONNETH, 2006; SOUZA, 2003), como a invisibilidade social
    acontece, e de que forma uma pessoa de rua é “apagada” socialmente, ao ponto de
    não possuir registros que possam garantir seu bem-estar em meio ao espaço público.
    O local da pesquisa foi a região da Feira do Ver-o-Peso de Belém do Pará, ambiente
    de intensa comercialização e de turismo, no qual transita uma parcela significativa
    dessas pessoas em situação de rua. A metodologia utilizada foi qualitativa envolvendo
    a realização de entrevistas informais e semiestruturadas com as pessoas em situação
    de rua, feirantes locais e voluntários do Grupo Solidário Sopão Feliz, levantamento de
    dados quantitativos e bibliografia para conformar o estudo de caso sobre a temática
    da invisibilidade social na cidade de Belém. A invisibilidade, tanto quanto a visibilidade
    são ramificações de mesma raiz, visto que a decisão do que é ou não visível
    socialmente se estabelece dependendo do que a sociedade, chamada aqui como
    normativa, estabelece em o que é desejável em existir ou não, quando a presença do
    diferente oferece ameaças a esta sociedade, sejam estas de: simples incômodo visual
    até a negação ao direito de existir de determinado indivíduo, em espaço urbano
    público, coagidos portanto, mediante violência simbólica e física.

  • GLAUCIA SILVA DOS SANTOS
  • “CURT NIMUENDAJÚ E AS NARRATIVAS MÍTICAS TEMBÉ: REVISITANDO UMA PRODUÇÃO ETNOGRÁFICA”

  • Data: 04/07/2022
  • Mostrar Resumo
  • Revisitar uma etnografia de Curt Nimuendajú, que integra um repertório de narrativas míticas do grupo indígena Tembé Tenetehara, constitui a base de investigação desta dissertação. O etnógrafo Curt Nimuendajú, alemão que migrou para o Brasil em 1903 e se tornou, ao longo de quarenta anos, um exímio conhecedor de grupos indígenas, publicou em 1915 na Zeitschrift für Ethnologie o texto Sagen der Tembé-Indianer (Pará und Maranhão) no qual reuni dez narrativas míticas dos Tembé Tenetehara. Desse modo, a presente dissertação propôs saber sobre o contexto e as orientações metodológicas que permitiram a produção de tal etnografia naquele início do século XX. Assim, a pesquisa seguiu uma perspectiva biográfica de Curt Nimuendajú, que ajudou visualizar o percurso de sua formação inicial no campo de estudo sobre populações indígenas, permitindo saber o contexto do encontro etnográfico com os Tembé Tenetehara em dois momentos, sendo o primeiro nas mediações das políticas indigenistas do SPILTN, na região do Rio Gurupi, e o segundo nas dependências da missão religiosa dos capuchinhos lombardos no município paraense de Igarapé-Açú. Em ambos os contextos a agenda etnográfica de Nimuendajú se concentrou no conhecimento da língua e da cosmologia Tembé, empreendimentos de pesquisa que estavam alinhados com as orientações da etnologia alemã, em voga na época, pela via da etnografia de salvamento, que ele conheceu a partir dos trabalhos dos americanistas alemães que se encontram referendados em suas etnografias.

  • AVELINA OLIVEIRA DE CASTRO
  • ‘Meninas’, ‘Cria(da)s’, ‘Casadas’: Adolescentes, “circulação” e “entrega” em Breves (Marajó)

  • Data: 30/05/2022
  • Mostrar Resumo
  • A presente tese identifica e interpreta, antropologicamente, narrativas e vivências de “circulação” e de “entrega” de adolescentes do gênero feminino, acerca da sexualidade, construídas no cotidiano, no município de Breves, no Marajó. Trata-se de uma pesquisa etnográfica que foi realizada entre os anos de 2016 e 2020, na sede do referido município, utilizando como metodologia, a observação direta e participante. A partir de referenciais teóricos do feminismo e dos estudos de colonialidade foi observado e analisado dentro do processo de circulação, alargado nesta tese, o movimento de entrega, não só de “crias de família”, como também o de entrega das adolescentes para o casamento. Os dois movimentos – e rituais – de entrega possibilitam visualizar relações atravessadas por reflexos da colonização brasileira, observados, tanto em uma espécie de “cultura da escravidão”, como também por relações de colonialidade, em todas as suas dimensões, assim como de gênero, uma vez que essas dinâmicas são, predominantemente, com as meninas, em um processo que as objetifica, mas no qual também se observa ações delas no sentido do enfrentamento e resistência.

  • MANUEL DO SOCORRO VALENTE CORREA
  • CUIREZA. AS ARTES DE CURA DAS MÉDICAS DA TERRA: SABERES E ESPIRITUALIDADES ANCESTRAIS DE SAÚDE NA AMAZÔNIA TOCANTINA 

  • Data: 26/05/2022
  • Mostrar Resumo
  • Este trabalho de pesquisa é, antes de tudo, um revisitar à minha própria ancestralidade, pois sou neto de uma Médica da Terra. Mediante o estudo das Artes de Cura praticadas pelas Médicas da Terra, que por meio dos seus saberes e espiritualidades Afroindigenas revelam as chamadas "Medicina da Terra e a Farmácia do Mato; elaboro reflexões acerca dos conceitos de Medicina acadêmica, Medicina da Terra, saúde e doença. As referidas abordagens reflexivas partem da compreensão do Trânsito do Cuidado Encantado vivenciado pelas Médicas da Terra, o qual acontece por meio das relações estabelecidas entre o mundo biofisico, o humano e os mundos dos (as) encantados (as). Este estudo discute ainda às relações, interações e limites estabelecidos entre a Medicina praticada pelas Médicas da Terra com a Medicina acadêmica a partir do entendimento das Médicas da Terra em torno dos tratamentos das doenças do corpo e do espírito, bem como do uso de remédios da terra e da farmácia. As Médicas da Terra afirmam que a Medicina da Terra é a "Medicina dos santos e caboclos encantados."
    Palavras-

  • ELLEN CAROLINE DOS SANTOS SILVA
  •  

     

    “O CAVALO É UM COMPLEMENTO PARA A VIDA”:  conexões multiespécies

  • Data: 05/05/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa é sobre múltiplas interações com cavalos no nordeste paraense. Buscou compreender como essas relações são estabelecidas e de quais formas se projetam, através da experiência etnográfica e da imersão em campos com pessoas que compartilham a vida com cavalos. A pesquisa de campo foi iniciada no município de Aurora do Pará, onde acompanhei a relação humano-cavalo na lida com o gado e a interação de humanos com cavalos na cavalgada, e num segundo momento passei aproximadamente um ano em no Centro de Treinamento de cavalos quarto de milha que competem na modalidade esportiva de três tambores, localizado no município de Castanhal, no qual aprendi a entender e sentir os cavalos. A importância da interação de pessoas com cavalos é refletida no cotidiano de trabalho, no treinamento esportivo e no lazer. O cavalo é um agente motivador de desenvolvimento humano e de socialização, onde o foco está na conexão estabelecida com o animal e nas formas em que se constroem as interações.

  • SILVIO KANNER PEREIRA FARIAS
  •  

     

    Os trabalhadores da ciência: a crise da ação coletiva dos docentes da UFPA.

  • Data: 05/05/2022
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo se inscreve nas temáticas da ação coletiva e da organização sindical dos trabalhadores. Trata-se de uma pesquisa sobre o sindicalismo docente dos professores da UFPA. Aporta contribuições da sociologia das organizações e dos movimentos sociais às teorias da sociologia do trabalho que se referem à crise do sindicalismo. Discute a condição crítica do sindicalismo docente no quadro da degradação da educação superior e das condições de trabalho especificas desta categoria. Por meio de entrevistas e pesquisa documental verificou-se a ocorrência de três crise simultâneas, participação, filiação e repertório, configurando um quadro de crise da ação coletiva. As respostas teóricas da sociologia do trabalho para a condição crítica do sindicalismo no Brasil, apesar de relevantes em termos macro, não possibilitam uma explicação do fenômeno identificado no caso em estudo, por não problematizar o aspecto organizacional e a forma especifica de trabalho e seu controle. Conclui que se constituiu nos últimos anos um modo especifico de controle do trabalho intelectual no âmbito das universidades que se denomina produtivismo acadêmico. Como outros, esse modo também afeta a capacidade de ação coletiva, por meio da compressão do tempo e da subjetivação das injunções da produção cientifica. Seu locus de reprodução é a pós-graduação. Verifica-se um elevado crescimento da pós-graduação na UFPA nas ultimas duas décadas. Introduz uma forma sui generis de alienação do trabalho docente. Sugere que a natureza da crise de ação coletiva, não obstante os aspectos contextuais marcados pela degradação das condições de trabalho e por mecanismos externos de regulação, pode ser encontrada na pragmática sindical, marcada pela ausência de espaços de interação direta como forma de ação organizacional entendida como a construção e reconstrução sistemática das condições para a mobilização a partir da estruturação de uma rede de significados compartilhados.

  • PAULO VICTOR SOUSA LIMA
  • MARETÓRIO: O GIRO ECOTERRITORIAL DOS POVOS EXTRATIVISTAS COSTEIRO-MARINHOS DO LITORAL DA AMAZÔNIA PARAENSE?
  • Data: 13/04/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação apresenta uma reflexão acerca da construção social e socioantropológica da identidade dos povos extrativistas costeiro-marinhos do litoral da Amazônia paraese. Tendo em vista isso, o estudo teve como objetivo compreender como as lideranças da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Extrativistas Costeiros e Marinhas (CONFREM) de Reservas Extrativistas (RESEXs) Costeiro-Marinhas do litoral do Pará dão sentido ao maretório, que ao mobiliza-lo pelo reconhecimento de uma identidade singular, a de extrativistas costeiro-marinhos, vão desenhando um conceito na prática – enquanto um giro ecoterritorial. Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório de cunho qualitativo, envolvendo um conjunto de técnicas e procedimentos metodológicos que incluem, pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e entrevistas com roteiros semiestruturados. Este material foi analisado em diálogo com uma proposta de síntese conceitual do campo teórico dos movimentos sociais. Contudo, dadas as especificidades das lutas socioambientais no contexto do litoral da Amazônia paraense, houve a necessidade de incorporação outras categorias analíticas, tais como conflitos socioambientais e expropriação do mar. Atualmente existem 30 RESEXs Costeiro-Marinhas decretadas entre os anos de 1992 e 2018, e 13, estão localizadas no litoral do estado da Pará. As mobilizações protagonizadas por povos extrativistas costeiro-marinho demando a criação dessas Unidades de Conservação de Uso Sustentável foram originadas em função dos conflitos socioambientais desencadeados pela incorporação do litoral da Amazônia paraense uma agenda composta por ações, políticas e iniciativas, caracterizada pela literatura como expropriação do mar. Os resultados da pesquisa apontam que somente no 2008, isto é, pouco mais de uma década após a institucionalização da primeira RESEXs Costeiro-Marinhas no Brasil, é que surgiu a ideia e formar uma organização representando o movimento socioambiental, que viria a ser conhecida pela sigla CONFREM. Ao longo dos anos a CONFREM foi ampliando sua janela de atuação e conquistando reconhecimento do Estado e Sociedade como um todo. As principais pautas defendidas pela CONFREM envolvem a demanda e o acompanhamento dos processos de criação de novas Unidades de Conservação, bem como, o acesso a políticas que atendam e reconheçam as especificidades da categoria. Em diferentes espaços de participação como encontros, fóruns e seminários, essas lideranças da CONFREM de RESEXs Costeiro-Marinhas do litoral do Pará apresentam uma reivindicação direcionada a academia: a construção do conceito maretório. A partir dessas lideranças é possível compreender que o maretório, enquanto um conceito, caracterizar-se-ia como as lentes necessárias para àqueles e àquelas que desejam compreender a dinâmica socioambiental, que ocorre no litoral da Amazônia paraense, do segmento populacional autodenominado “povos extrativistas costeiro-marinhos”. Que está atrelada a singularidade de um modo de vida pautado na reprodução cultural, política e econômica em meio a fluidez dos processos de apropriação e usos dos recursos comuns dos ambientes e ecossistemas costeiros e marinhos.

  • JENNEFER PORTELA DE SALES
  •  

     

    “Esquinas” VIRTUAIS, “Garotas” NEM TANTO: UM ESTUDO SOBRE INTERCÂMBIOS SEXUAIS E ECONÔMICOS NEGOCIADOS EM PLATAFORMAS DIGITAIS

  • Data: 08/04/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa se propõe a analisar as vivências de mulheres belemenses e suas estratégias para transitar no espaço virtual do mercado do sexo, bem como identificar as nuances dessa prática, afetada por transformações comunicacionais, impulsionadas pela internet. Metodologicamente, se fundamenta no encontro etnográfico com três mulheres cisgêneras com faixa etária de 24 a 35 anos residentes na cidade de Belém do Pará, moradoras da chamada “periferia”, com nível superior completo, desempregadas, ou que vivenciam sua profissão de formação de modo precarizado, bem como na observação das plataformas digitais (Fatal Model, Skokka e Garota com Local) utilizadas por elas como “esquinas”, no período de dezembro de 2018 a setembro de 2021. Os dados apontam que o fator financeiro e a busca por ascensão social, são propulsores para o ingresso na prostituição, como um movimento temporário, que garante o investimento em qualificação profissional e o custeio de suas despesas básicas, que é facilitado pelas plataformas onde publicam seus perfis, as quais se apresentam como ambientes em que serviços sexuais são negociados. A pesquisa evidencia, ainda, o quanto o uso das tecnologias da informação e o acesso à internet, impacta inclusive nos intercâmbios sexuais, afetando no modo como os serviços são ofertados e quais serviços são procurados, possibilitando autonomia às anunciantes, comodidade, segurança e discrição na oferta dos serviços. Conclui-se que há um continuum de permanências e reconfigurações nos intercâmbios sexuais e econômicos negociados no que chamo “esquinas virtuais”.

  • TADEU LOPES MACHADO
  •  

     

    A escola reivindicada: educação escolar no contexto do povo indígena Palikur

  • Data: 23/03/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta Tese traz uma abordagem sobre a educação escolar na aldeia Kumenê, do povo Palikur. Os aspectos metodológicos da pesquisa, bem como o processo dos acordos definidos com a comunidade e alguns elementos teóricos são descritos na primeira parte que compõe o estudo. Acompanhando a trajetória que fiz a partir da negação pelas mulheres Palikur a uma primeira proposta de pesquisa, passando pelos descaminhos de negociação com o movimento indígena na tentativa da segunda proposta, procuro levar o/a leitor/a a perceber as estratégias e os mecanismos de luta daquele povo indígena, tendo como horizonte entender que a pedagogia do fazer política é uma das facetas da vida indígena. A educação escolar nas aldeias dos Palikur é uma realidade que não tem correspondido aos seus anseios e projeto de vida, portanto, busco dar minha contribuição a partir dos elementos apresentados no decorrer desse estudo, tendo como horizonte a construção de uma pesquisa envolvida com um problema social que afeta o cotidiano desses indígenas. A falta de investimentos para contratação de professores e demais funcionários indígenas, para reparos, reformas e construção de novos prédios para a escola, as burocracias impostas para gerir os assuntos da escola, a falta de merenda escolar regionalizada, todos esses elementos nos levam a questionar: a escola indígena que existe no Kumenê é realmente indígena? Compreendemos que o fazer escolar na aldeia desnuda a forma como o Estado tem mantido a relação com os povos indígenas: com desrespeito e falta de diálogo. Portanto, é importante que os próprios indígenas continuem mobilizados para enfrentar o desafio de refundar a educação em suas aldeias, lutando para que a pedagogia Palikur, entendida aqui como o conjunto de práticas cotidianas e tradicionais para a manutenção da vida indígena, seja o fundamento do exercício escolar.

     

  • PAULA PAMPLONA BELTRAO DA SILVA
  • TERCEIRIZAÇÃO OU AUTONOMIA: a condição laboral do motoentregador por plataforma digital em Belém-PA. 

  • Data: 21/02/2022
  • Mostrar Resumo
  • Está pesquisa emerge no século XXI diante do fenômeno denominado quarta revolução industrial, com a implantação de tecnologia disruptiva no modo de produção, ampliando o processo de flexibilização do trabalho, metamorfoseando determinados modelos de negócios no “capitalismo de plataforma”, como o ciberproletariado, trabalhadores que, em tese, deveriam romper com as características da relação de emprego e os vestígios de proteção social ao trabalho, fundados no welfare state, uma vez que passam a ser escalonados por uma racionalidade empresarial das subjetividades. Assim, foi utilizado o método de pesquisa  hipotético-dedutivo, aplicado o método de procedimento monográfico e estatístico, concomitantemente, com as seguintes fases: revisão bibliográfica, pesquisa documental no sítio eletrônico do TRT 8ª Região PA/AP e pesquisa de levantamento do tipo survey para alcançar os resultados que na teoria apontam para uma inadequação das normas legais vigentes no Brasil para amparar a realidade laboral da digitalização do trabalho, de casos como o do motoentregador que atua por intermédio de plataforma digital em Belém-PA, ainda que sejam uníssonas as características desejáveis para um ciberproletário, o desejo está distante da prática, e esse descompasso foi comprovado pelo resultado da pesquisa documental realizada no sítio eletrônico do TRT 8ª Região PA/AP, que aponta um espectro de judicialização do direito no sentido de reconhecer ou não o vínculo empregatício na relação laboral dos motoentregadores, pois mesmo com o advento das Lei n.º 13.429/17 e Lei n.º 13.467/17, os liames entre autonomia e terceirização recaem na zona cinzenta ocasionada pelas fraudes nas relações trabalhista, no curso da formação de precedentes sobre o ciberproletariado foi perceptível a importância que teria um instituto jurídico próprio para reger o trabalho digitalizado, no entanto a norma, de direito, no consegue comportar todos os acontecimentos, de fato e nem a esse objetivo serve. Super longa a frase. De perder o folego. Refazer Nesse contexto emerge a importância do da pesquisa obtida, pois tendo uma construção do perfil do motoentregador que atua em Belém-PA, em multiplataformas, será fornecida para a sociedade uma informação preciosa sobre os parâmetros de precarização e vulnerabilidade laboral vivenciados por estes trabalhadores.

  • RAIANA SIQUEIRA MENDES
  •  

    ENTRE DIÁLOGOS E CONFLITOS: O PROCESSO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DO TERRITÓRIO QUILOMBOLA ALTO TROMBETAS II.

  • Data: 07/02/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa teve como objetivo geral refletir sobre usos da noção de “diálogo”, como categoria nativa e analítica, no âmbito das reuniões em que se buscavam alternativas para compatibilizar o direito territorial das comunidades representadas pela Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Alto Trombetas II (ACRQAT) e o direito difuso ao meio ambiente, neste caso especificamente aplicado a duas Unidades de Conservação federais geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Enquanto a ACRQAT pleiteava a titulação do território quilombola Alto Trombetas II, o ICMBio defendia a gestão da Floresta Nacional Saracá-Taquera e da Reserva Biológica do Rio Trombetas, no âmbito de um processo administrativo perpassado pelo conflito decorrente da sobreposição territorial entre o território quilombola e as unidades de conservação. Buscamos compreender em consiste o diálogo e em quais situações ele é acionado. Investigamos, ainda, se as características do processo de negociação sobre a regularização fundiária do território são, efetivamente, dialógicas. O trabalho pauta-se em observações realizadas por meio de trabalho de campo etnográfico entre 2015 e 2018, acrescidas de uma revisão bibliográfica das produções de autores clássicos e contemporâneos sobre o tema proposto, considerando a polissemia do termo “diálogo”, bem como a análise dos documentos emitidos durante o processo em questão, como memórias, relatórios, portarias, notas técnicas, atas de reuniões e outros.

  • EVELYN TALISA ABREU DE OLIVEIRA
  • RODA CULTURAL DE BENEVIDES: UMA PESQUISA-AÇÃO SOBRE A LUTA ANTIRRACISTA EM BENEVIDES/PA.

     

     

  • Data: 31/01/2022
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação de mestrado teve como objetivo central investigar a mobilização do coletivo “Roda Cultural de Benevides” (RCDB), fundado em 08 de agosto de 2018, enquanto movimento de resistência negra, construído em um município que traz em sua configuração histórica a primeira libertação dos escravos na Amazônia. Assim, esta pesquisa procurou responder o seguinte problema: como o coletivo Roda Cultural de Benevides contribui para a atualização e visibilização da luta antirracista em Benevides/PA? Para isso, primeiro caracterizamos a RCDB, a fim de identificar as dinâmicas e os significados das ações do coletivo em relação a luta antirracista no município e, em seguida, por meio da proposta de intervenção, objetivamos a cooperação para o aprimoramento da consciência racial do coletivo, tendo em vista o conhecimento adquirido na universidade em diálogo com as vivências na RCDB. A metodologia desta investigação está amparada nos princípios da pesquisa-ação socialmente crítica, uma modalidade da pesquisa-ação política. As categorias de análise utilizadas neste trabalho são os novos movimentos sociais, movimento negro, movimento hip hop, coletivo cultural, luta antirracista, colonialismo, colonialidade. Dentre as referências teóricas estão Abdias Nascimento (2016), Aluízio Marino (2013; 2015),  ngela Alonso (2009), Aníbal Quijano (1992;2005;2009), Bruno Borda (2016), Frantz Fanon (2008), Glória Diógenes (2015), Grada Kilomba (2019), Kabengele Munanga (2019), Leila Ferreira (2019), Nilma Lino Gomes (2017), Petrônio Domingues (2007), Regina Novaes (2006), Remo Mutzenberg (2015), Ricardo Campos e Ágata Sequeira (2018). Os resultados da análise dos elementos e das ações que constroem e caracterizam a RCDB, assim como a experiência de prática social implementada, nos conduziram a duas conclusões. A primeira conclusão é a reprodução de uma das formas atualizadas do racismo à brasileira, isto é, o racismo por omissão, ressaltando a urgência do posicionamento explícito contra o racismo. A segunda conclusão corresponde à resposta ao problema de pesquisa proposto, a saber, a arte é a principal estratégia de luta antirracista contemporânea no município de Benevides.
     
    Palavras-chave: Coletivo cultural; Luta antirracista; Racismo por omissão; Roda Cultural de
    Benevides.
2021
Descrição
  • JOAO VINICIUS MARQUES
  •  

     

    SUJEITOS NA LOUCURA EM CONFLITO COM A LEI: VIVÊNCIAS EGRESSAS DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA NO ESTADO DO PARÁ

  • Data: 15/12/2021
  • Mostrar Resumo
  • A medida de segurança é a sanção penal aos sujeitos considerados loucos que cometeram crimes. Este trabalho resulta do acompanhamento etnográfico no estado do Pará de sujeitos com transtorno mental egressos do manicômio judiciário local, isto é, daqueles que já cumpriram suas medidas de segurança e, recém-egressos, se encontram em um equipamento de acolhimento transitório chamado República Terapêutica de Passagem (RTP).  Pensando a partir das cifras majoritariamente negras nas estatísticas da população prisional no Brasil, este trabalho toma por interlocução referências críticas a que designo como pensamentos negros. Deparado com novas questões e provocações no curso desta pesquisa, me proponho a retomar algumas histórias e interrogações aos estudos e estratégias políticas de atenção e liberdade das pessoas egressas das medidas de segurança ao longo desta pesquisa antropológica, tendo por interface os debates em saúde mental e racismo.

  • ANA MANOELA PRIMO DOS SANTOS SOARES
  • : SER INDÍGENA E ANTROPÓLOGA: TECENDO PESQUISAS COM AS ANTIGAS – ALDEIA SANTA ISABEL – POVO KARIPUNA DO AMAPÁ

  • Data: 14/12/2021
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa é tecida por uma jovem do povo do Karipuna do Amapá, em diálogos, vivências, cuidados e compartilhamentos com um grupo de mulheres comumente chamadas de antigas de seu povo de origem, as quais são suas “parentas” por linhagem matrilinear: mãe, tias e com a memória da avó já falecida. Na pesquisa objetivo compreender como as trajetórias pessoais destas mulheres, nascidas na aldeia Santa Isabel (Terra Indígena Uaçá – Oiapoque – AP), contribuem para pensar a trajetória de sua aldeia de origem. Pois Santa Isabel foi fundada por seus pais, meus avós maternos, e elas são algumas das senhoras mais antigas, ainda vivas, a terem memória sobre a constituição desse território. As reflexões que trago se constroem a partir das vivências coletivas. Existindo na pesquisa reflexões sobre as relações entre as indígenas mulheres, a Terra e os territórios; e como seus corpos se constituem enquanto corpos-territórios, lugares que guardam a oralidade e a memória. Mas também reflexões acerca do parentesco e das relações intergeracionais entre as mulheres de uma mesma família. Destacando-se na dissertação a importância de nós indígenas falarmos e escrevermos em nossos próprios termos, sobre os aspectos éticos e políticos que isto implica e sobre o enfoque autoetnográfico considerado na pesquisa.

  • NELIO RIBEIRO MOREIRA
  • “URBI ET ORBI. LOCALIZAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO DA CANÇÃO POPULAR PARAENSE".

  • Data: 26/11/2021
  • Mostrar Resumo
  • A tese procura abordar, por meio de uma perspectiva teórica da cultura como invenção,
    o processo social como convenção (WAGNER, 2012) e da agência dos objetos
    artísticos (GELL, 1996), como se caracteriza uma cultura musical em seu processo, um
    mundo artístico (BECKER, 2010), por meio de sociações de diversas colorações
    (SIMMEL, 2006) consolidando um grupo sonoro (BLACKING, 2010) que atua em um
    contexto de interação mundial por meio dos processos globalizadores (HANNERZ,
    1996; CANCLINI, 2008; APPADURAI, 1994). Procuro mostrar que o mundo da
    canção popular paraense contemporâneo é uma formação social caracterizada como um
    conjunto social marcado por certa estabilidade nas suas ações e perspectivas
    socioculturais e por formas de interação diversas que são praticadas entre uma
    diversidade de membros, intra e intergrupal, que formam redes de sociação e atuam em
    diversas dimensões, como em cenas locais e translocais, sendo esta última tomada a
    partir das 1) conexões entre artistas locais com outros artistas já estabelecidos no
    cenário nacional brasileiro, e 2) das experiências de atores em contextos transnacionais.
    A forma de obtenção de dados se valeu da proposta de etnografia multissituada
    (MARCUS, 1995), elemento fundamental para compor o quadro de elementos a ser
    analisado, haja vista o contexto marcado por certa dispersão de tais dados. Isso feito por
    meio do “seguir” os eventos, atores e os dados, em lugares físicos ou virtuais. O
    trabalho está dividido em duas partes. A primeira, intitulada Cultura Musical como
    Invenção, está dividida em quatro capítulos “Trajetória e campo”, “Invenção da cultura
    no mundo da canção popular paraense – I” “Invenção da cultura no mundo da canção
    popular paraense – II” e “Recriações na cultura musical paraense contemporânea: o caso
    do carimbó”. A segunda parte, chamada de Processo Musical como Convenção, é
    composta por cinco capítulos: “A cena local: os lugares da canção como espaço
    praticado para projetos”, “A cena translocal: projetos e práticas, redes e conexões”, “A
    cultura musical paraense em processos globais: fluxos, fronteiras e hibridações”,
    “Festival de Música Popular: a(tua)ção ritual no processo musical” e “A cena local em
    ambientações digitais: o Jambu Live como festivalização virtual”.

  • KEILIANE DE LIMA BANDEIRA
  • QUANDO EU NASCI, EU ERA O ANJO TORTO E REPETIA PRA MIM: “NÃO VOU SER GAUCHE NA VIDA” - Um estudo sociológico sobre Gênero e Deficiência

  • Data: 22/09/2021
  • Mostrar Resumo
  •  

     

    Esta dissertação é um estudo sociológico sobre o corpo com deficiência e gênero, que tem como metodologia a autoetnografia. Os conceitos são debatidos a partir da narrativa da minha história de mulher com deficiência e de mais duas interlocutoras: Juno e Débora. Partindo do entendimento que o corpo é uma construção social (BRETON, 2012) faço questionamento de como nossos corpos de mulheres com deficiência são lidos e construídos socialmente, tendo como fio condutor o conceito de capacitismo (MELLO, 2012), opressão que permeia a vida social das pessoas com deficiência. É um texto que localiza a deficiência no campo sociológico, em certos momentos fazendo contrapontos à leitura biomédica da deficiência. A partir disto,  debateremos como tem sido construída e representada a imagem da pessoa com deficiência na mídia e como o discurso capacitista, racista e sexista atua na criação e representação de estereótipos em grandes veículos de comunicação.

     

  • GISELLE CASTRO DE ASSIS
  •  

     

     

    TURISMO COMUNITÁRIO COMO SISTEMA DE DÁDIVAS NA AMAZÔNIA: uma aliança entre reciprocidade e autonomia na gestão local do turismo em Anã e Coroca, Santarém, PA.

  • Data: 23/06/2021
  • Mostrar Resumo
  • Essa investigação analisou como se estruturam as relações sociais tecidas entre os
    agentes sociais endógenos das comunidades Anã e Coroca (Santarém/Pa), e as
    relações que eles estabelecem com agentes exógenos para a oferta do turismo, com
    a finalidade de identificar a função da autonomia comunitária em iniciativas turísticas
    protagonizadas por populações locais. A pesquisa de campo foi orientada pelos
    pressupostos da etnografia antropológica, em três períodos diferentes de imersão nos
    microcosmos das comunidades, e no macrocosmo formado por Santarém e Alter do
    Chão. O caminho metodológico de análise dos dados foi construído a partir da
    concepção de Lanna (2000) sobre a “etnografia da troca”. O campo mostrou que o
    turismo institui relações de troca de dádivas ambivalentes (econômicas/simbólicas)
    entre os agentes sociais internos e desses com agentes externos às comunidades.
    Esse intercâmbio relacional de dádivas cria uma estrutura de rede social
    interdependente, sem a qual a experiência de turismo não acontece na comunidade.
    Ao promover a conexão do microcosmo com o macrocosmo, o turismo gera alianças
    e sociabilidades de forma sistêmica e complexa, pois existe entre esses ambientes
    uma dependência recíproca. Portanto, em ambientes sociais que promovam a troca
    de bens e de sua espiritualidade de forma ambivalente, o turismo pode ser
    compreendido como uma dádiva e, a dinâmica relacional que ele produz, como um
    sistema de dádivas. A compreensão da dinâmica dessas relações sociais me permitiu
    inferir que o turismo comunitário produz um “fato social total” na concepção de Mauss
    (2017). A observação detalhada das iniciativas turísticas de Anã e Coroca revelou que,
    embora ambas sejam chamadas por turismo de base comunitária (TBC), a base
    comunitária ou endógena, está ativa, no momento, somente em Coroca. Isso porque,
    essa comunidade opera suas ações coletivas por meio da reciprocidade. Como a
    estrutura social que sustenta a autonomia de uma comunidade de processos de
    dependência, tutela e dominação de agentes externos, a reciprocidade é a
    responsável por promover a autogestão dos interesses coletivos, como o turismo. Ao
    identificar a aliança entre reciprocidade e autonomia no microcosmo de Coroca, e sua
    ausência no microcosmo de Anã, compreendi a função da autonomia, e sua relevância
    como característica balizadora para reconhecer iniciativas de turismo comunitário,
    pois não há como referir o protagonismo de uma população local na gestão do turismo
    se ela não é livre para escolher; se não é plenamente capaz de tomar decisões em
    todos os processos que envolvem a operação turística, os quais ocorrem tanto no seu
    ambiente endógeno (o comunitário), quanto no exógeno (mercado de viagens).
    Acredito que a autogestão do turismo comunitário é um caminho possível, desde que
    as populações locais tenham acesso ao conhecimento e formação técnica para
    autogerir-se de forma integrada entre suas demandas comunitárias, e as expectativas
    do mercado de viagens.

  • EVILLYS MARTINS DE FIGUEIREDO
  • TRAJETÓRIAS DOCENTES E FORMAÇÃO CONTINUADA EM RELAÇÕES
    ETNICORRACIAIS NA AMAZÔNIA PARAENSE

  • Data: 30/04/2021
  • Mostrar Resumo
  • O âmbito educacional brasileiro, nos anos 2000, foi marcado pelo avanço de políticas públicas
    para a população afro-brasileira. Dentre elas, está a lei 10.639/03 que tornou obrigatório o
    ensino de história e cultura africana e afro-brasileira no ensino básico; a partir dela,
    documentos oficiais do Conselho Nacional de Educação (CNE) ressaltaram a necessidade da
    formação continuada de professores como um dos principais meios de se efetivar o que
    demanda a referida lei. Nessa perspectiva, o presente trabalho utilizou a metodologia de
    trajetórias sociais baseadas em biografias (BOURDIEU, 2006; COSTA, 2015; LEVI, 2006;
    SCHWARCZ 2013) em conjunto com a técnica de entrevista não diretiva (MICHELAT,
    1987) com o objetivo de compreender como docentes da educação básica, que cursaram uma
    especialização em relações etnicorraciais, foram afetados por tal formação continuada e como
    a percebem enquanto parte de suas vivências objetivadas em trajetórias sociais na Amazônia
    paraense. A pesquisa contou com três interlocutores identificados pelos codinomes Ayòbámi
    Adébáyò, Onyebuchi Emecheta e Édouard Glissant, os quais são egressos da “Especialização
    UNIAFRO: Política de Promoção da Igualdade Racial da Escola; III Curso de Especialização
    Saberes Africanos e Afro-brasileiros na Amazônia; Implementação da Lei 10.639/03”,
    promovido pelo Grupo de Estudos Afroamazônico (GEAM/UFPA) sob financiamento do
    Ministério da Educação. Para compreender as trajetórias desses docentes, analiso seus relatos
    biográficos a partir dos conceitos de raça, racismo, gênero, morenidade e preconceito contra a
    origem geográfica e de lugar, pois os relatos de suas vivências, durante e depois da
    especialização, foram em torno do conflito no aprendizado sobre as particularidades das
    relações etnicorraciais, em especial na região amazônica, visto que é um lugar marcado por
    uma produção de conhecimento exógena e homogeneizadora que a fixou na imagem de
    “floresta” e “vazio demográfico”, invisibilizando suas populações, sobretudo negros e negras,
    diante do eixo nacional. Assim, foi possível entender que durante a formação continuada, com
    as disciplinas e debates, os docentes interlocutores conseguiram acumular novos
    conhecimentos que pudessem levar para suas salas de aula; durante e após o curso, percebem
    que os sujeitos na escola ainda enxergam o racismo como comportamento individual isolado,
    ideia na qual buscaram intervir no sentido de se apropriar do conhecimento da especialização
    para repensar em conjunto as estruturas de opressão presentes no cotidiano e na escola. Esse
    aprendizado sobre relações etnicorraciais também afetou suas vidas pessoais, mudando ou
    mantendo seus entendimentos sobre suas trajetórias sociais no âmbito do reconhecimento das
    opressões e resistências que vivenciaram. Também foi possível compreender que a
    transposição dos conhecimentos desses docentes interlocutores para a sala de aula foi um
    processo trabalhoso, mas no qual, segundo eles, conseguiram certo êxito em chamar a atenção
    dos seus estudantes durante as discussões e atividades em torno da temática relações
    etnicorraciais, algo que, mesmo em pequena escala, teve efeito na mentalidade dos alunos.

  • ALEF MONTEIRO DE SOUZA
  •  

     

    CIDADÃOS DO CÉU, E QUILOMBOLAS NA TERRA:UM ESTUDO SOBRE ARTICULAÇÕES ENTRE CRENÇAS PENTECOSTAIS E ASPECTOS DA TERRITORIALIZAÇÃO DE UM QUILOMBO AMAZÔNICO

  • Data: 19/03/2021
  • Mostrar Resumo
  • Este texto é resultado de uma pesquisa que agregou revisões bibliográficas, pesquisas etnográficas e reavaliações teóricas que sintetizaram parte dos resultados de uma pesquisa de campo realizada na comunidade quilombola São Pedro, em Castanhal, Pará, nos meses de março de 2020 a fevereiro de 2021. O objetivo é descrever conexões existentes entre crenças pentecostais e a territorialização do Quilombo São Pedro. Para tanto, foram realizadas pesquisa censitária, observação participante e realização de entrevistas. Os dados gerados em campo foram analisados sob uma perspectiva epistemológica descolonial e que, por isso, formam um leito reflexivo de modo que teorias e autores favoreçam um trabalho crítico ao sistema-mundo
    capitalista, moderno e colonial. Os resultados da investigação apontam que Assembleia de Deus naturalizou o racismo e os problemas sociais da comunidade (expressões do genocídio do negro brasileiro e da necropolítica do Estado) os interpretando como sinais necessários da volta de Jesus. Um elemento fundamental da resposta imaginária da igreja à situação escatológica que supõe existir é a identidade de “cidadãos do céu” que, na prática, consiste em viver de acordo com os princípios do pentecostalismo assembleiano, uma religião sincrética, mas, ao mesmo tempo, afeita ao espírito do capitalismo e ao racismo à brasileira e suas “máscaras
    brancas”. Por ora, a AD em São Pedro contribui com a situação de autofagia cultural e política que ao mesmo tempo enfraquece as fronteiras étnicas da comunidade e reforça a necropolítica que a vitima.

  • MAYARA DE OLIVEIRA SILVA
  •  

     

     

    NAS VEREDAS DA SOBREVIVÊNCIA: MULHERES NO SETOR INFORMAL NA FEIRA DO VER-O-PESO EM BELÉM DO PARÁ.

  • Data: 17/03/2021
  • Mostrar Resumo
  • A presente dissertação tem como objetivo apresentar, a partir de uma etnografia, trajetórias e narrativas de mulheres que encontraram na feira do Ver-o-Peso, em Belém do Pará, oportunidades de geração de renda e que sem permissão pela Prefeitura Municipal de Belém para a utilização do espaço na feira, sobrevivem através dos seus trabalhos informais, autônomos e ambulantes. A pesquisa de campo foi dividida em três momentos: a) chegada ao campo b) imersão ao campo c) conhecendo mulheres que trabalham na feira. E foi realizada entre os meses de abril de 2018 e fevereiro de 2020. Foram levantados dados bibliográficos para suporte teórico da antropologia e sociologia, assim como, alguns dados quantitativos do universo da pesquisa. Foram entrevistadas 66 mulheres, na faixa etária entre 17 a 69 anos. A pesquisa qualitativa mostrou-se essencial para o conhecimento de trajetórias de vida de mulheres pertencentes ao setor informal; também, através da observação participante, dos seus trabalhos na feira, atividades laborais imprescindíveis para a subsistência diária. Observou-se que a feira representa um espaço acolhedor, que absorve grande parcela da população desempregada na cidade e ao mesmo tempo representa um desafio para o controle do poder público e lócus de práticas de criminalidade. O trabalho informal é abundante e marca característica da feira do Ver-o-Peso, sobretudo representado pela figura feminina no espaço.

     

  • MARILEIA DA SILVEIRA NOBRE
  • "TUDO TEM SUA MÃE E DEVE-SE RESPEITAR": O MUNDO MÍTICO DE CARAPARU-PARÁ.

  • Data: 26/01/2021
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo visa compreender, pelas práticas discursivas de agricultores da vila de Caraparu, a constituição e o funcionamento do imaginário que se projeta no real sócio-histórico em que vivem, como parte constitutiva de suas condições de existência material. Meu afã, enquanto pesquisadora, é o de compreender o funcionamento desse imaginário materializado nas práticas discursivas dos sujeitos e mais, examinar os indícios de prováveis/possíveis transformações desse imaginário, a partir das narrativas dos jovens agricultores de Caraparu. Há, portanto, neste texto, um gesto de compreensão que busca reconhecer as regularidades de uma formação discursiva e ideológica que sustenta a crença nas regras que regem o cotidiano desses sujeitos e impõe a obediência a elas. Para o alcance desses objetivos, articulam-se as abordagens etnográfica e discursiva na análise de narrativas dos agricultores e das agricultoras mais antigos/antigas e dos jovens da região. Defende-se, como resultado do percurso de análise, o reconhecimento de uma formação discursiva mítico/cabocla, que rege a relação entre seres humanos e não-humanos pautada no temor e no respeito pelos seres encantados e no medo e no pavor pelos fadistas e na reciprocidade entre eles. A natureza desta pesquisa me levou a visitar um campo teórico exógeno ao da Antropologia, qual seja, o da Análise de discurso materialista. Evoquei deste campo a tríade Real/Simbólico/Imaginário, entrelaçados na releitura que Michel Pêcheux faz dos trabalhos de Jean Jacques Lacan e dos de Louis Althusser. O recorte das sequências discursivas que compõem o corpus discursivo nos permitirá compreender processos de subjetivação que apontem para os movimentos de identificação plena, contraidentificação ou mesmo desidentificação com os saberes da formação discursiva dominante naquela comunidade.

2020
Descrição
  • JOSE MARIA GUIMARAES RAMOS
  • “FILHO QUE É FILHO NÃO ABANDONA A MÃE, E A MÃE NÃO ABANDONA O FILHO”: TESTEMUNHOS DE MILAGRES NA DEVOÇÃO À NOSSA SENHORA DE NAZARÉ EM BELÉM DO PARÁ.

  • Data: 28/12/2020
  • Mostrar Resumo
  • A presente tese é um estudo sobre os testemunhos de milagres na devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Belém, capital do estado do Pará. Os testemunhos coletados são de devotos em peregrinação à Basílica Santuário de Nazaré durante as festividades da procissão do Círio de Nazaré, que acontece todos os anos, desde 1793, no segundo domingo de outubro e reúne milhões de pessoas durante quinze dias de celebrações e procissões. O estudo mostra como o imaginário social dos devotos da Virgem de Nazaré se articula partir das narrativas de milagres, como um elemento da fé expressa linguisticamente no testemunho, configurando um imaginário religioso. Minha metodologia de coleta de dados foi a pesquisa de campo na Casa de Plácido, que é um local de acolhida de milhares de romeiros que peregrinam à pé de diferentes cidades do Pará, recebidos e cuidados pela Pastoral da Acolhida. O Campo de pesquisa foi construído em torno de ações que caracterizam a dinâmica dos testemunhos, ou seja, narrativas de romarias, curas, graças e milagres. Na pesquisa percebi que a Casa de Plácido não é somente um local de acolhida e de socorro aos debilitados romeiros, mas um espaço litúrgico onde a acolhida é ritualizada sendo o testemunho de milagres uma parte da ação litúrgica.  O pressuposto é que testemunhos de milagres fazem parte de um processo social, de uma visão religiosa de mundo que ajuda a configurar e compreender a cultura local. Por isso, o instrumental teórico escolhido para esta análise é a hermenêutica do testemunho de Paul Ricoeur, que é uma teoria para interpretar como o testemunho de cunho religioso e seus significados sociais são expressos nas narrativas testemunhais dos devotos. Entendi que os testemunhos de milagres têm múltiplos significados, que são um imperativo existencial da memória feliz do devoto que superou o mal físico ou espiritual de sua vida, e que, por esse motivo, necessita peregrinar e testemunhar sua experiência com o sagrado.

  • GLAUCY LEARTE DA SILVA
  • “LÁ, ERA ALAGADO, MAS ERA CENTRO”:

    Deslocamento compulsório urbano e sofrimento social em Altamira no Pará.

     

  • Data: 30/11/2020
  • Mostrar Resumo
  • A presente tese pretende analisar o processo de Deslocamento Compulsório Urbano, que retirou famílias da parte central da cidade de Altamira, no Estado do Pará, dos chamados baixões e da orla da cidade e os deslocou compulsoriamente (em sua maioria) para os Reassentamentos Urbanos Coletivos – RUC’s, bairros construídos pela empresa responsável pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a Norte Energia S.A. Esse deslocamento compulsório urbano, ocasionou sofrimento social, sendo este observável em dois momentos: 1º momento - antes do deslocamento ocorrer, na fase de cadastramento das famílias, quando os interferidos ainda não têm as devidas informações do que ocorrerá com eles, além do que que há uma série de conflitos entre os atores sociais envolvidos no processo. O 2º momento ocorre após a efetividade do deslocamento compulsório urbano, pois, o modo de vida dessas famílias deslocadas foi modificado, haja vista que a cidade de Altamira é uma cidade ribeirinha e possui uma série de especificidades, que serão mencionadas ao longo desta pesquisa. Busco compreender como o deslocamento compulsório urbano rompe com as relações sociais, estabelecidas ao logo dos anos, principalmente nos bairros de Altamira Baixão do Tufi e Açaizal (que hoje já não existem mais) e como a mudança territorial ocasiona o Sofrimento Social. A categoria de análise deslocamento compulsório urbano, fio condutor desta pesquisa, será tratada com um olhar socioantropológico, mas também tentará promover um diálogo interdisciplinar com as outras áreas do conhecimento. Autores como Vainer (1992; 2014), Almeida (1996), Magalhães (2007), Benincá (2011), Ferreira (2014), Maricato (2014), Souto Maior (2014), entre outros autores, dão embasamento para as discussões sobre o deslocamento compulsório urbano aqui tratado, fato que permite discutir e compreender o fenômeno em questão. Para melhor desenvolver as análises, foram utilizadas entrevistas em profundidade e análise quantitativa, realizadas no período de 2014 a 2018, com pessoas que vivenciaram o processo de deslocamento compulsório urbano, além da análise de documentos oficiais emitidos por órgãos responsáveis pela construção/funcionamento da hidrelétrica de Belo Monte. A observação de eventos tais como caminhadas, audiências públicas, manifestos, entre outros, foram utilizados nesta pesquisa por apresentarem o ponto de vista dos diversos atores sociais, objeto de estudo desta pesquisa e que protagonizaram o processo de construção da barragem da UHE Belo Monte, o problemático e doloroso deslocamento compulsório e todas suas trágicas consequências, fazendo com que o sofrimento, ao ser externalizado, converta-se em bandeira de luta, de resistência, por melhores condições de vida e trabalho.

  • URIENS MAXIMILIANO RAVENA CAÑETE
  •             

    EU GOSTO DAQUI: ESCOLHAS ONTOLÓGICAS QUE SE EXPRESSAM EM UMA RELAÇÃO ENTRE HUMANOS E NATUREZA

  • Data: 24/11/2020
  • Mostrar Resumo
  •  

     

     

    Esta tese figura como uma tentativa de construção de uma etnografia de cunho decolonial, compreendendo decolonial como uma temática ainda em construção e que carece de aprimoramento e debate. O argumento central parte da perspectiva de que sociedades alternativas, na periferia do sistema hegemônico, constroem seu conhecimento a partir do afeto, particularmente tecido na relação com a natureza. No que se refere ao método, faz uso da etnografia não convencional, marcada pela condição de ser afetado, portanto, decorrente das próprias trajetórias pessoais do etnógrafo. Ela apresenta um teste teórico que, a partir da alteridade e de conceitos decoloniais, intenta compreender quais são os motivos que levam os moradores da comunidade de Monte Alegre da Barreta, situada na Resex-Marinha Mocapajuba-São Caetano de Odivelas (PA), a fazer escolhas que os conduzem a um modo de vida que se diferencia e se opõe à sociedade hegemônica. As estratégias metodológicas que fundamentam esta reflexão repousam na apresentação das categorias êmicas percebidas e debatidas a partir do acúmulo de leituras que discutem a decolonialidade do conhecimento. Ampliando a discussão, ao passo que a condensando, a questão que move a empreitada e, portanto, embasa esta tese, volta-se aos motivos que desenham, entre seus moradores, o desejo de morar em Monte Alegre da Barreta. O texto traz a trilha percorrida em um caminho de produção etnográfica capaz de compreender a ontologia e episteme construídas pelo afeto dos interlocutores da pesquisa e pelo próprio etnógrafo.

     

     

  • JOÃO LUIZ DA SILVA LOPES
  •  

     

     

    ARENA PÚBLICA, DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA EM UM TERRITÓRIO AMAZÔNICO: O Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Ilhas de Belém-PA (2006-2020)
  • Data: 24/11/2020
  • Mostrar Resumo
  • Neste estudo discute-se a maneira como as comunidades ribeirinhas insulares dos municípios de Belém e Acará, estado do Pará-Brasil, se mobilizaram e participaram da Arena Pública/Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Ilhas, para reivindicar seus direitos concernentes a saúde, educação, saneamento, abastecimento de água, segurança pública, energia elétrica/solar, geração de renda e superação de sua invisibilidade. Para analisar essa problemática, adotouse como quadro de análise a abordagem sociológica da ação coletiva de Daniel Cefaï, Veiga e Mota (2011), que privilegia as situações locais que estão na origem da constituição de arenas públicas. O estudo demandou uma abordagem qualitativa descritiva em que a coleta de informações/dados foi realizada através de conversa informal; observação participante em eventos como: reuniões, entregas de cestas básicas, brinquedos e material escolar, visitas e mutirões; pesquisa em documentos (projeto, planos, relatórios e atas de reuniões); e entrevistas abertas com atores das comunidades ribeirinhas insulares, do poder público, de instituições religiosas, ONGs e de pesquisa e extensão. Os resultados indicam que em um contexto territorial historicamente marcado por relações sociopolíticas clientelistas, é razoável considerar essa experiência de participação e mobilização como um evento importante, que se constitui como educação política, com aprendizagens significativas em direção à inclusão desse segmento subalternizado no processo de tomada de decisões referentes às políticas públicas de seu interesse. Essa mobilização se beneficiou do apoio essencial de técnicos de órgãos públicos, experts de universidades e políticos do campo progressista para encorajar a denúncia de injustiças herdadas da colonização, mantidas e atualizadas pelo sistema de dominação, com efeitos perversos impregnados no conjunto das relações com os atores do sistema de poder local – a que se chama de colonialidade. A mobilização enfrentou resistência de certa concepção que concebe as comunidades ribeirinhas insulares como atrasadas e fadadas ao desaparecimento. As estratégias dos ribeirinhos insulares contribuíram para uma politização dos desafios locais, mas foram limitadas por vários elementos, como a ausência de um aparato jurídico inovador, a desconsideração sobre a desigualdade das condições de participação, o uso de metodologias pouco adequadas, a falta de valorização do trabalho dos tradutores/mediadores, o não reconhecimento da diversidade de ontologias do sujeito, a incompreensão das diferentes cosmologias e epistemologias, fatores que funcionaram como obstáculos para que a mobilização colocasse em questão o sistema de dominação tradicional no qual se assenta o poder local.

  • AMANDA MESQUITA CRISTO
  • JUSTIÇA AMBIENTAL EM TERRITÓRIO DE DESASTRES: UMA AÇÃO LOCAL DE
    RESISTÊNCIA EM SÃO SEBASTIÃO DO BURAJUBA / BARCARENA (PA).

  • Data: 27/10/2020
  • Mostrar Resumo
  • O presente trabalho tem como objetivo analisar ações e organizações de atores mobilizados em
    processos que se configuram como lutas contra a injustiça ambiental e pelo bem viver na
    comunidade de São Sebastião do Burajuba em Barcarena, município do estado do Pará, como
    resistência a questões ligadas as injustiças ambientais quanto ao acesso e ao uso da água, em um
    contexto marcado pelas atividades de mineração. Atividades essas, consideradas como
    poluentes em grau elevado resultam em alterações significativas no ecossistema, nos modos
    de vida, nas práticas econômicas e culturais de comunidades quilombolas, indígenas,
    agricultoras, extrativistas e pescadoras. Para tal recorreu-se aos conceitos de Justiça
    Ambiental de Acselrad (2010) e Bem Viver de Acosta (2016), compreendendo-se que a
    natureza e seus recursos são referências ligadas a uma filosofia de vida parte de inúmeras
    historiais de luta e resistência das chamadas populações tradicionais. Defender-se da injustiça
    colocada quanto à distribuição desigual dos riscos pelas atividades industriais apresenta-se na
    forma de denúncia e enfrentamentos em Barcarena realizados pela Associação dos Caboclos,
    Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama) e pela comunidade quilombola São
    Sebastião do Burajuba. Trata-se de uma pesquisa de metodologia qualitativa, em que além da
    análise de dados e de bibliografia básica, realizou-se entrevistas com diversos atores da
    comunidade Burajuba, incluindo membros da Cainquiama. A pesquisa também aponta que a
    luta pela justiça ambiental tem um longo caminho a percorrer, principalmente num país
    marcado por várias desigualdades sociais e territoriais. Os resultados indicaram que as
    emissões de poluentes industriais têm como destinação parte de um território onde vivem
    populações de origem étnico-raciais cuja situação socioeconômica torna-se desfavorecida.

  • ADRIANA GUIMARAES ABREU
  • A teoria do pescador: saberes, práticas, dinâmicas e
    territórios de pescadores de pequena escala de Ponta de Pedras, Ilha do Marajó, PA.
    Belém. 2020,

  • Data: 21/09/2020
  • Mostrar Resumo
  • A dissertação trata do processo de aprendizado da teoria do pescador a partir da
    análise dos saberes e das práticas que orientam as atividades de pesca realizadas por
    pescadores do município de Ponta de Pedras, situado na Ilha do Marajó, região do estuário
    do rio Amazonas, estado do Pará. O objetivo foi compreender a construção do saber na
    pesca de pequena escala, as mudanças e continuidades nas configurações dos territórios
    de pesca da região. A metodologia utilizada na pesquisa consistiu na realização de
    pesquisa de campo a partir do método etnográfico (observação e interação), com a
    realização de entrevistas formais e informais, registros fotográficos e mapeamento
    participativo; bem como do uso da história/trajetória de vida de interlocutores-chave para
    conhecer o processo de aprendizagem da teoria do pescador, as dinâmicas da atividade
    pesqueira, modos de construir e gerir os territórios, a partir das experiências de realizar a
    pesca na Baia do Marajó e nos rios da região. Foram realizadas entrevistas com 20
    pescadores de Ponta de Pedras-PA no período de março de 2018 a dezembro de 2019,
    com várias idas a campo. Os dados apontam que a atividade pesqueira compreende
    processos de aprendizagem e conhecimento, nos quais os pescadores, ao interagir com os
    ambientes e praticar o espaço, constroem conhecimentos tradicionais locais e
    desenvolvem estratégias que lhes permitem adaptar e resistir às mudanças provocadas por
    fatores sociais, econômicos e ambientais. Os pescadores relataram mudanças na produção
    pesqueira atribuídas ao aumento do número de pescadores novos e às mudanças na
    tecnologia, como canoas motorizadas, cujo uso impacta os locais de pesca e gera conflitos
    com pescadores antigos, expressando diferentes modos de interagir com o ambiente. Para
    os pescadores antigos, os pescadores novos precisam aprender a teoria e a prática do
    pescador que é construída por meio da vivência, da observação, ou seja, no praticar a
    pesca que resulta no aprender/conhecer. Conclui-se que o conhecimento é construído na
    vivência dos sujeitos e no engajamento prático do mundo e se propaga por meio do
    compartilhamento de vivências (relatos de experiências e estratégias de pesca) entre
    diferentes gerações e no ouvir dos mais velhos histórias de eventos de pesca. Esse
    conhecimento é acionado ao desenvolverem estratégias para lidar com as mudanças no
    contexto da pesca, configurando um tipo de resiliência. Essa malha de caminhos cruzados
    entres as gerações de pescadores que produz o conhecimento dos ambientes formam um
    complexo processo de aprendizado do conhecimento da “teoria do pescador”.

  • TEREZINHA DE FATIMA RIBEIRO BASSALO
  • O LUGAR DO CORPO NO CORPO DO LUGAR: uma etnografia da panha do açaí entre 

    jovens da Ilha das Onças – PA 


  • Data: 27/07/2020
  • Mostrar Resumo
  • Os modos e significados das relações de jovens coletores e coletoras de açaí com o lugar onde vivem e praticam esta atividade é o estudo apresentado aqui. Lugares têm história, geografia e hidrografia; têm agência nos corpos ao mesmo tempo em que são praticados por eles. A “panha” – nome dado pelos moradores/moradoras da Ilha das Onças à atividade de coletar o açaí – é entendida como ação relacional entre humanos e plantas, é técnica, é habilidade e conforma um jeito próprio de realização, cujo intuito é colher os frutos sem magoá-los, envolvendo riscos, alturas e muitos cuidados. Revela o quão imbricados estão os corpos das pessoas com os seus lugares de moradia, que também são lugares de trabalho. A coleta do açaí, dentre o conjunto de técnicas corporais, praticadas nas ilhas próximas de Belém, é uma atividade secular, ancestral e, por isso, tradicional, sendo que o produto coletado é fonte de alimento e base econômica dos moradores da Ilha das Onças. A vivência nos açaizais dessa ilha, acompanhando pessoas que coletam o açaí, resultou numa etnografia da “panha”, baseada em três movimentos corporais com ritmos distintos: a subida, a chegada na copa, a descida e outras percepções. Depois da “panha” vem a “debulha” e o acondicionamento dos frutos em rasas de um jeito artesanal, porque é belo e útil, o momento em que o produto é exposto, tocado, degustado e comercializado. A “panha” também deixa marcas nos corpos das pessoas coletoras, revelando vestígios da agência da planta, estigmas e atribuição de masculinidade. Ela é “serviço de homem”, mas é de mulher também. Mulheres “panham” o “bébi” e “panham” o açaí. As corporalidades de coletores e coletoras são vistas, de um lado, como constituídas pelas interagências entre ambiente, sociedade e indivíduo; e de outro, como palimpsesto, onde ficam impressas estas relações interagenciais ao longo da existência. A relação homem/mulher e planta configura um trançado nas paisagens da ilha

  • BRENDA THAINA CARDOSO DE CASTRO
  •  

    MULHERES DESCOLONIZANDO A AMAZÔNIA PELOS CAMINHOS DE VIDA:
    PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES ATRAVESSADAS PELO PROJETO DE NAÇÃO
    DESENVOLVIMENTISTA

  • Data: 10/07/2020
  • Mostrar Resumo
  • As subjetividades desafiam constantemente o projeto de nação ao confrontarem políticas desenvolvimentistas que adotam como premissas valores e modos de vida diferentes dos seus.
    Diante disso, alguns contextos, como o caso da Amazônia, possibilitam que percebamos como a produção de subjetividades se dá em dinâmica com o capitalismo e o Estado, especificamente nos anos de crise política vividos no Brasil desde meados de 2014 e 2015, passando pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff até a ascensão do governo de extremadireita de Jair Bolsonaro. O presente estudo desenhase, então, neste cenário, para pensar a partir dos caminhos de vida de mulheres que vivem no Tapajós, de que forma se relacionam com o projeto de nação sob o signo desenvolvimentista que historicamente projeta na Amazônia o futuro da nação por meio de uma lógica de expropriação e exploração. O estudo se deu por meio de uma pesquisa de campo desenvolvida ao longo de recorrentes viagens de 2017 a 2019, conectandoas a desdobramentos macropolíticos no período e a realidade em três localidades diferentes: a Vila de AlterdoChão, Santarém; a comunidade  Jamaraquá, na Floresta Nacional do Tapajós; e a comunidade de Coroca, no rio Arapiuns, parte do Projeto de Assentamento Agroextrativista Lago Grande. Além da vivência e de conversas cotidianas durante as visitas, foram realizadas 11 entrevistas com mulheres que vivem nas três localidades em torno de eixos sobre suas perspectivas de vida. A discussão foi apoiada principalmente na abordagem da modernidade/colonialidade e decolonialidade, assim como da esquizoanálise, para se identificar os efeitos da colonialidade nas estruturas e relações ontemporâneas, tanto sobre sujeitas e sujeitos, mas também sobre instituições e regiões, como a Amazônia, construída no imaginário social como lugar generificado e racializado, o que historicamente coaduna com uma visão de projeto desenvolvimentista para o Brasil. Para mulheres, tal processo envolverá peculiaridades a partir da colonialidade de gênero, que também atravessa relações de raça, de classe e de lugar origem/pertencimento.
    Percebeuse que as subjetividades podem tanto ser compatíveis com os valores que servem aos interesses capitalistas e estatais, como também podem ser incompatíveis, levando a uma ruptura e a singularização destas subjetividades. Igualmente, também foi percebido que existe uma possibilidade de atravessamento, em que se busca uma ruptura, mas pelas próprias limitações estruturais e sistemáticas, o desloca mento é uma ferramenta encontrada para atender às próprias necessidades, coexistir dentro de uma sociedade capitalista e ainda assim
    produzir desejos próprios mesmo que envolvidos na lógica moderna/colonial.

  • RAYNICE SOUZA DOS SANTOS
  • MOTIVAÇÃO PARA O ENGAJAMENTO SINDICAL: ESTUDO DE UMA
    ORGANIZAÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES NO NORDESTE PARAENSE.

  • Data: 30/06/2020
  • Mostrar Resumo
  • A presente pesquisa trata das motivações para o engajamento no Sindicato de Trabalhadores e
    Trabalhadoras Rurais (STTR), do Município de Concórdia do Pará. A ação coletiva representa
    uma das formas mais importantes de fazer prevalecer reivindicações sociais e políticas e é
    realizada frequentemente por meio de organizações. As organizações sociais tornam-se,
    portanto, instrumentos privilegiados de contestação e confronto político e, especialmente, os
    sindicatos têm desempenhado historicamente um papel central na defesa dos interesses dos
    trabalhadores. O sindicalismo rural, entretanto, está atualmente numa situação mais delicada,
    em virtude de uma série de transformações que põem em xeque a sua atratividade,
    dificultando o engajamento e a permanência dos sócios. Por isso, entender o porquê de se
    tornar membro de um sindicato, é uma questão de relevância não só acadêmica, mas também
    prática. Para realizar tal análise foi utilizado uma abordagem qualitativa, com a coleta de
    dados ocorrendo em duas comunidades (Galho e Igarapé João), e um assentamento (Nova
    Inácia), bem como na sede do sindicato. A pesquisa foi dividida em duas etapas, com cinco
    incursões ao campo. Foram coletados dados secundários (junto a Secretaria de Agricultura de
    Concórdia e a sede do STTR), consultada a literatura sobre a temática pesquisada e realizadas
    23 entrevistas (com 18 agricultores familiares e cinco dirigentes sindicais). Os resultados da
    pesquisa apontaram que o STTR de Concórdia possui uma parcela significativa de
    agricultores filiados que, em sua a maioria, aprova a atual diretoria do sindicato. Não
    obstante, constatei que a maior parte dos sócios não está em dia com a contribuição sindical,
    com alguns alegando que deixaram de contribuir após a aprovação da Medida Provisória MP
    871/2019 que acabou com a necessidade de emitir declarações do sindicato para que os
    trabalhadores rurais possam solicitar a aposentadoria. Esse serviço foi um dos principais
    motivos para a filiação ao STTR e a sua anulação enfraqueceu a organização. Esse fato aponta
    para a necessidade dos sindicatos se reinventarem e estabelecerem parcerias com outras
    organizações, como as associações de agricultores.

  • LANNA BEATRIZ LIMA PEIXOTO
  • “TODA PLANTA TEM ALGUÉM COM ELA” – SOBRE MULHERES, PLANTAS E IMAGENS NOS QUINTAIS DE MANGUEIRAS

  • Data: 22/04/2020
  • Mostrar Resumo
  • Neste trabalho apresento um estudo sobre a relação de mulheres e quintais, com ênfase no cultivo de plantas. A pesquisa foi desenvolvida na Comunidade Quilombola de Mangueiras, município de Salvaterra, Arquipélago do Marajó, região Norte do Brasil. A partir da vivência junto a quatro mulheres e suas narrativas, objetivo compreender como se dá a habitação do espaço, como constroem suas paisagens. Entendo os quintais como um microcosmos, estudar as relações nele/com ele estabelecidas envolve questões relacionadas a vários aspectos da vida social como família, política, cura e xamanismo, e deixa transparecer formas e perspectivas de ver e viver o mundo marajoara. Em Mangueiras, como na maioria das comunidades quilombolas de Salvaterra que lutam até hoje pelo reconhecimento de suas terras, as mulheres tiveram papel decisivo no processo político e identitário. Papel de protagonistas elas também têm em outros âmbitos, entre eles está o cuidado com quintais e hortas domésticas, implicando a esfera de interações entre não-humanos e humanos; às preocupações com seus filhos, às sutis relações com o sagrado e o si-mesmo. São conhecimentos repassados através de uma trama de transmissão e troca, muitas vezes herdadas das relações de mães, filhas e avós. Neste caso também estão em jogo segredos, táticas de resistência de uma cultura, das mulheres de um povo. São conhecimentos e práticas que resistem e se reinventam frente os processos de dominação desde o período colonial aos mais recentes processos de colonialismo interno e externo. Quintais e mulheres cultivam-se mutuamente ao longo do tempo em direção ao cuidar de si e dos seus, reflexo do modelo patriarcal dominante. Mas que apresenta uma faceta política fundamental, que mantêm até hoje vivas, pulsantes, essas culturas.

  • IVONETE PINHEIRO
  •  

     

    TRAJETÓRIAS DE MULHERES NO TRÁFICO DE DROGAS: INTERSECÇÕES DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE

     

  • Data: 09/04/2020
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa se propõe a analisar os fatores que levam as mulheres a ingressar no tráfico de drogas tendo em conta os marcadores de gênero, raça e classe de forma interseccionada, para pensar como estes podem contribuir para compreender os fatores que levam essas mulheres a se envolver nessa atividade. Para tal, recorri a diferentes métodos que incluem a análise de dados estatísticos, a história oral na modalidade trajetória de vida e duas etnografias em dois contextos distintos: a rua e uma instituição. Assim, foi possível verificar, a partir das percepções de experiências das interlocutoras, que elas não atribuem aos homens a responsabilidade por suas entradas na rede de tráfico, justificam suas inserções por outras vias: sobrevivência, sustento dos filhos e dificuldade de inserção no mercado de trabalho legal/formal. Nesse sentido, a pesquisa conclui que o marcador gênero sozinho não serve para explicar a inserção e as vivências das mulheres no tráfico de drogas, tendo em conta que este se intersecta com os marcadores raça e classe social que, juntos, são determinantes nos rumos que as trajetórias de vida tomam.

  • MATHEUS HENRIQUE PEREIRA DA SILVA
  • Performando naturezas no Antropoceno
    Relações com animais em um zoológico na Amazônia

  • Data: 06/04/2020
  • Mostrar Resumo
  • A presente etnografia aborda as práticas de conservação da natureza no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, localizado na cidade de Belém (PA — Amazônia brasileira), a partir dos entrelaçamentos interespécies que envolvem os animais que compõem a coleção natural do local e os profissionais nomeados tratadores. Os tratadores são responsáveis pelos cuidados diários dos animais, contribuindo com os programas de manejo visando à saúde e o bem-estar dos indivíduos ao passo que os mantêm em exposição nos seus recintos e viveiros com diversos propósitos, como atividades educativas, ou o salvaguardo de suas vidas enquanto são remanejados para outro local. O papel destes profissionais também envolve muita atividade física, incluindo levantar, ajuntar e carregar seus materiais de trabalho, bem como, esfregar e limpar os recintos, preparar alimentos e empurrar carrinhos de mão; e mesmo, auxiliar na captura e restrição de animais para treinamento ou propósitos biomédicos. Através do acompanhamento das práticas diárias dos tratadores em seus encontros com animais, busco me indagar como se constituem em seus entrelaçamentos envolvendo cuidados, éticas, performances e manejos que organizam suas vidas sociais, permitindo uma rotina de tramas nas paisagens do Parque. Com isso, atento para como performam múltiplas naturezas em seus encontros e práticas diversas, diante a extinção em massa das espécies no atual contexto do Antropoceno — período histórico utilizado para pensar nossa época geológica que considera a espécie humana enquanto agente geológico produzindo efeitos de devastação sobre a biodiversidade, os ecossistemas e habitats do planeta. De maneira que a história do Antropoceno é, em muitos aspectos, coextensiva à do zoológico.

  • TAINARA LUCIA PINHEIRO
  • NEGRA QUANDO?:
    IDENTIFICAÇÃO DE SI ENQUANTO EVENTO E TIPIFICAÇÃO DO RACISMO COMO TEMPORALIDADE EM BELÉM-PA
    BELÉM

  • Data: 03/04/2020
  • Mostrar Resumo
  • Considerando a formação sócio-econômica brasileira e da amazônia belenense, em específico, onde a morenidade se apresenta como um tipo de negação regional da negritude, este trabalho objetiva compreender de que forma a tipificação de si enquanto negra, a partir do evento de se atribuir esta identificação, instaura uma nova temporalidade na experiência vivida de mulheres negras militantes em Belém do Pará que de alguma maneira atravessaram a Rede de Mulheres Negras. Para isso, a metodologia em que me apoio é etnografia de abordagem fenomenológica, utilizando a interseccionalidade como enquadramento analítico. Problematizo as noções de trauma que constituem sujeitos negros de maneira a impedir a identificação com a negritude, bem como aponto que o momento de identificação de si não necessariamente é traumático e, portanto, a categoria evento (DASTUR, 2000) é, aqui, mais adequada. A partir do evento é que as coisas do tempo passam a ser tipificadas de maneiras diferentes. O que acontece a partir do evento é o abraçar um projeto de negritude e esta etapa é processual. Refiro-me à temporalidade como fundamento da experiência vivida, pois desenvolvo uma abordagem dinâmica acerca da identificação racial adotada pelas interlocutoras desta pesquisa na medida em que há o deslocamento de tipicalidades no devir próprio da vida. Como principal resultado desse estudo está o entendimento de que para que a experiência da pessoa negra com a temporalidade seja alterada, o movimento negro possui papel fundamental. É a partir do projeto educador desse movimento – historicamente construído – que o rompimento de padrões de violência é possibilitado, uma vez que dar outro tipo de atenção à memória colonial é fundamental nesse projeto educativo que transforma as dores do tempo em potência emancipatória. Parte dessa potência está na palavra percorrida da fala à escuta atenta em movimento de restituição de humanidade e, consequentemente, cura das feridas abertas pelo potentato colonial, cura essa que é possível graças à ética do ato de amar.

  • EDSON PAIVA SOARES NETO
  • A fabricalização do trabalho docente nas Instituições de Ensino Superior Privadas

  • Data: 27/03/2020
  • Mostrar Resumo
  • Desde a década de 1990 a educação superior no Brasil vem passando por mudanças político-administrativas que estabeleceram um novo marco regulatório a constituição de Instituições de ensino superior (IES) privadas com fins lucrativos, assim como o impulso por meio de fundo público para a expansão e domínio privado na oferta de serviços educacionais, cujas repercussões são identificadas com a adoção pelas IES privadas de técnicas e métodos empresariais norteados por ideologias de cunho empreendedor e gerencial, os quais priorizam a massificação, padronização, redução de custos e utilitarismo estritamente mercadológico da gestão do trabalho à prestação dos serviços. Em vista disso, adotou-se como objetivo de pesquisa: analisar a educação superior no Brasil destacando o momento de abertura para a iniciativa privada e as consequências para o trabalhador docente. Dessa forma foram considerados os seguintes objetivos específicos: discutir sobre a ofensiva do capital no âmbito da esfera estatal na condução das políticas educacionais; identificar e analisar quais os discursos e valores empresariais dos gestores do trabalho transmitidos pelas IES privadas aos docentes; destacar e analisar quais os métodos e técnicas produtivos usados pelas IES privadas no processo de dominação dos trabalhadores docentes e; examinar o processo de trabalho e suas repercussões nos trabalhadores docentes. Como hipótese defende-se o tipo fabricalização como expressão que remete à dominação do capital, circunscritas no movimento histórico das reformas estruturais do Estado neoliberal em matéria de trabalho, educação e ideologia produtivista e na adoção e adaptação pelas IES privadas de métodos e técnicas provenientes das experiências fabris e do sobretrabalho não-remunerado. Trata-se de pesquisa quanti-qualitativa nas IES privadas da capital paraense, com observação de campo de gestores educacionais de médio e alto escalão, realização de entrevistas e questionários (estatística descritiva) aos trabalhadores docentes e consulta a fontes documentais. Os resultados mostraram o aumento na intensidade e exigências profissionais das IES aos docentes: 1) disciplina com prazos e uso de indicadores de desempenho pelas IES; 2) maior dedicação e envolvimento nas atividades pedagógicas e institucionais; 3) Na “valorização” de atributos comportamentais que refletem na pró-atividade, postura empreendedora; 4) nas demais áreas da vida, os trabalhadores docentes: possuem baixa participação em movimentos sociais, vida restrita ao espaço profissional e familiar; suas formas de lazer restringem-se à própria casa (televisão, filmes e computador); acerca da saúde, avaliaram-se com elevada ocorrência, respectivamente: de cansaço, problemas posturais e stress.

  • WILSON EDUARDO GOMEZ PULGARIN
  •  

    Òrè rü ùkue͂, SOBRE PALAVRA E CONSELHO:
    CONHECIMENTO E MEMÓRIA NA COMUNIDADE MÁGÜTA (TIKUNA) DE
    MACEDONIA
    (SUL DO TRAPÉZIO AMAZÔNICO- COLÔMBIA).
    Belém-PA.

  • Data: 13/02/2020
  • Mostrar Resumo
  • As comunidades indígenas Tikuna ou Mágüta que hoje habitam a ribeira do rio
    Amazônas/ Solimões, além do contato com a escola, as igrejas católica e evangélica e o
    turismo impulsionado principalmente por empresas privadas, mantêm uma relação cada
    vez mais próxima com outros povos indígenas, com sociedades regionais ocupantes de
    terras amazônicas (os “novos colonos”) e com os diferentes Estado-Nação (o Brasil, a
    Colômbia e o Peru). As novas tecnologias de comunicação também se aproximam com a
    televisão, a internet e, portanto, com as redes sociais que conectam o mundo. Entretanto,
    a língua indígena vai cedendo terreno nos locais sociais das comunidades indígenas, as
    crianças e adolescentes começam a valorar e usar outras línguas, outras oralidades, outras
    formas de comunicação. Nesse cenário, o povo Mágüta, apesar das constantes e
    persistentes influências de pensamento colonial e messiânico conserva a sua língua, suas
    narrações e sua palavra. Nas suas narrativas são exprimidas formas de conhecimento e de
    memória através das quais constroem seu posicionamento como povo e como sociedade
    na grande Amazônia. Portanto, esta pesquisa, procura problematizar e compreender como
    o conhecimento da palavra òrè (palavra oral e palavra mítica) é manifesto na comunidade
    indígena Tikuna de Macedonia, na ribeira colombiana do rio Amazonas/Solimões. Aqui
    serão importantes as interpretações em torno da oralidade, as representações locais que
    colocarão no cenário o “poder” da palavra òrè e as lembranças do conselho úkue͂. Deste
    modo, o tema central desta Tese explora as diversas formas da palavra Mágüta na
    comunidade de Macedonia, para se deter na oralidade e a mensagem manifesta no ato de
    aconselhar. Propõe-se assim, uma abordagem metodológica baseada no apelo à memória
    individual e coletiva, que explora atos comunicativos e que indaga junto com atores
    Mágüta locais (professores, pastores evangélicos, comunidade escolar e médico
    tradicional) que ainda fazem uso da língua nativa na comunidade. Ao final, a mensagem
    do òrè fala da origem, dos heróis, dos mitos e da construção social do povo Mágüta, mas
    também fala de cenários íntimos da cotidianidade, desde onde se ativa a palavra de
    conselho que costuma ser dada aos parentes, à comunidade e a todo aquele que deseje
    recebé-lo.

  • MALENNA CLIER FERREIRA FARIAS
  • “SOU DA TERRA”: a trajetória de uma mulher do beiradão amazônico como redescoberta de si com os outros

  • Data: 11/02/2020
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo é um comentário da autobiografia de uma mulher que vive sua vida na região do Rio Fundo entre o beiradão de Pitangueiras, a company town Eldorado e a comunidade agroextrativista, Mangabeiras de onde é nativa. O contexto onde sua vida têm se desenvolvido é permeado por agentes com os quais têm mantido relações, relativamente tensionadas: uma empresa de base florestal que atua na região do Rio Fundo há 40 anos e o grupo dos Chegantes que vivem na comunidade de Mangabeiras há cerca de 10 anos. Tomo por objeto de estudo um conjunto de narrativas sobre as vivências e experiências que o lugar por onde ela habita permitem existir, a fim de elucidar suas tensões, transformações e noções de identidade. Tendo acompanhado os processos de mudança social instaurados na região por essa indústria de base florestal, Catarina chegou, aos dias de hoje, a ocupar o cargo de coordenadora administrativa (segundo cargo da hierarquia) da Associação dos Microprodutores da Comunidade Mangabeiras (AMMA) e de coordenadora da União das Comunidades Tradicionais de Flor da Lua (UCTFL). Meu objetivo é compreender, através da narrativa de Catarina sobre a própria vida, como algo semelhante a “ansiedade étnica” (FISHER, 2016), que é desencadeada em situação de conflito, semelhante à comunidade de Mangabeiras, conforma novas dinâmicas de significação às vivências de uma pessoa enquanto pertencente a um grupo e enquanto indivíduo diferenciado, liminar relativamente a este mesmo grupo. Para isso, com base na antropologia interpretativa de Geertz (2014) realizo uma etnografia em movimento (PINK, 2010), que acompanha a trilha de Catarina nos espaços em que ela constrói sua autobiografia, seja na travessia cotidiana de Eldorado a Pitangueiras, no trajeto semanal com destino a Mangabeiras e onde mais quer que a sua vida demande-lhe presença. Por resguardar a integridade física e moral dos agentes envolvidos na pesquisa enfatizo o uso de nomes fictícios para referir-me às pessoas, aos lugares, organizações e instituições como recurso narrativo, sem destoar do contexto central que atravessa essa história de vida. As linhas de história de vida de Catarina apontam para um sujeito que constrói sua autobiografia sob várias temporalidades que se sobrepõe umas às outras, mas que ganham sentido quando enunciadas sob momentos de atenção específicos: sonho, fé, luta. A cada um desses mundos, Catarina organiza as experiências que teve de eventos sob um conjunto cognitivo (SCHUTZ, 1979), os quais dão fundamento para a elaboração de uma identidade, mais precisamente, uma identidade narrativa (RICOUER, 1994).

2019
Descrição
  • YTALLO KASSIO FRANCO DE SOUZA
  • OH! SÃO SEBASTIÃO DA VILA DO MOCAJATUBA, PROTEJA O BOI CUIRÃO: Um estudo sobre a “invenção” das identidades no Distrito Industrial de Ananindeua/Pará
    BELÉM–PA
    2019

  • Data: 18/12/2019
  • Mostrar Resumo
  • O Boi Cuirão é uma prática de Boi Bumbá realizada por moradores do bairro do Distrito Industrial, Ananindeua, Pará, Brasil. A organização de todas as atividades relacionadas ao “Cuirão” estão a cargo da Ong Salve Symphonia que, com o auxílio de moradores locais, tenta consolidar o Boi “Cuirão” como uma manifestação cultural local. Nesse sentido, este estudo buscou compreender as estratégias culturais que esses agentes utilizam no trabalho de produção de espaços de significação. O ponto de partida dessas estratégias é a renovação do passado do lugar, representado pela Vila do Mocajatuba, área que teria dado origem ao bairro e desaparecido com o surgimento do Distrito Industrial. Assim, na tentativa da diferenciação cultural, o grupo evoca imagens do Mocajatuba e do Boi “Cuirão para atrair o público e receber o reconhecimento dessa manifestação como expressão das identidades locais. Partindo de uma perspectiva antropológica, buscou-se refletir sobre as estratégias criadas pelos agentes locais que visavam à formação de um sentimento de pertencimento comunitário, por meio do envolvimento da comunidade nas manifestações, como festas, arrastões, cortejos, do Boi Cuirão, que poderiam resultar na produção de espaços de significação, assim como o entendimento dos interesses, objetivos e peculiaridades dessa manifestação cultural que continua a existir no espaço urbano da Região Metropolitana de Belém.

  • TANIA NAZARENA DE OLIVEIRA MIRANDA
  • RECOMPOSIÇÃO SOCIOERRITORIAL EM CONTEXTO DE MINERAÇÃO: utopia e distopia através de um PAE em Juruti Velho, Baixo Amazonas

  • Data: 16/12/2019
  • Mostrar Resumo
  • Este trabalho, a partir de uma perspectiva informada na sociologia da ação pública, interpela as complexas relações que se produziram entre comunidades e a mineradora Alcoa, a partir de 2009, na localidade de Juruti Velho, distrito do município de Juruti (Baixo Amazonas). A pesquisa privilegiou observações sobre o Projeto Agroextrativista Juruti Velho, como iniciativa inscrita nos desdobramentos em termos de recomposição socioterritorial produzida com o concurso do empreendimento de exploração de alumínio, inaugurando com isso, e ao mesmo tempo, uma arena de conflitos envolvendo comunidades tradicionais, agentes públicos, corporações, Igreja católica e movimentos sociais, atores de diferentes formações e relevância. Ressalta-se nesse processo, experiências de intensos conflitos resultantes de divergências internas nas comunidades, de alguma forma relacionados à presença das atividades e dos interesses da mineração naquele território. Os dados levantados resultaram de um percurso metodológico próximo da pesquisa-ação junto a comunidades ribeirinhas envolvidas. Entrevistas, observações diretas em reuniões da associação à qual estão filiadas 53 comunidades locais, e também registros fotográficos constituem as técnicas, por meio das quais foi construída a base dos dados e informações, nos quais se identificou como emblemático dos conflitos a ruptura de laços de vizinhança anteriormente testemunhados pela prática dos puxiruns (trabalho em prol do bem comum). Prática importante numa recomposição social do território, através de ações locais com as quais a comunhão de utopias constituiu elemento aglutinador. Assim sendo, em Juruti Velho se dará intenso processo de articulação e mobilização popular visando reconhecimento enquanto comunidade tradicional e, através desse reconhecimento, a titulação de suas terras. Como resultado desse processo, hoje, a gestão dos royalties, pagos como contrapartida ao direito de lavra da bauxita, é realizada pelas comunidades com a finalidade de promover o desenvolvimento sustentável do território. É através dessa gestão, aqui interpretada como territorial, e de sua dinâmica em termos de utopias e distopias, envolvendo os representantes das comunidades implicadas no Projeto Agroextrativista de Juruti Velho, assim como no processo de ressignificação do puxirum, que se buscou compreender as contraditórias relações existentes entre as comunidades e a mineradora, e nelas o que se projeta como futuro em relação ao território, objeto no qual, e em torno do qual, atores se mobilizam para alcançar um objetivo, neste caso, o controle de sua gestão, de acordo com as exigências do desenvolvimento sustentável. Compreende-se que o emprego dos royalties sob a gestão da Associação das Comunidades Ribeirinhas de Juruti Velho (Acorjuve), ao mesmo tempo em que significou conquistas, integrou uma recomposição territorial através de instrumentos como o PAE, trazendo desafios enfrentados com a ressignificação de práticas sociais tradicionais como o puxirum, possibilitando, com isso, novas perspectivas de futuro do território.

  • MARIANA PAMPLONA XIMENES PONTE
  • O CÍRIO DE NAZARÉ DE BELÉM-PA COMO FRESTA PARA A RELIGIOSIDADE PARAENSE.

  • Data: 23/10/2019
  • Mostrar Resumo
  • Esta tese parte da ideia que o Círio de Nazaré de Belém-PA é um ritual que tem
    representatividade regional e por isso através dele é possível ter acesso ao ethos
    religioso paraense. A pesquisa foi realizada através da observação participante e
    pesquisa bibliográfica. A etnografia foi feita com base em dois importantes eixos de
    discussão interconectados, são eles, Círio como Carnaval Devoto e Círio como uma
    Festa Sagrada e Profana. A expressão Carnaval Devoto foi criada por Dalcídio
    Jurandir (2004) ao definir o Círio de Nazaré em um de seus romances, este termo
    sintetiza ao menos duas de suas principais características, a religiosidade através da
    devoção à Santa e a festividade com que se realiza. Isidoro Alves (1980) identifica o
    Carnaval com o Profano e o Devoto com o Sagrado, e estes são parâmetros usados
    para esta classificação usual dos eventos do Círio. A partir da análise do espetáculo
    O Auto do Círio, da Festa da Chiquita, das homenagens dos estivadores e dos
    promesseiros da Corda, entre outros, compreendemos que “a parte profana” da Festa
    do Círio, considerando a teoria de Émile Durkheim (1989), é formada por eventos e
    práticas Sagradas. Concluímos que a festividade é elemento constitutivo da
    religiosidade que se expressa de forma carnavalizada, e que essa população possui
    uma religiosidade profanizadora (AGAMBEN, 2007).

  • JAKSON SILVA DA SILVA
  •  

     

     

    Segregação racial em Belém. Colonialidades, gentrificações e resistências populares em defesa do lugar.
    Belém

  • Data: 09/10/2019
  • Mostrar Resumo
  • Nesta tese analisamos a segregação racial em Belém, de um ponto de vista histórico e com foco no processo urbano atual. Consideramos a segregação espacial dos pobres - na maioria negros – em Belém, abrangendo os municípios de Ananindeua e Marituba. Uma colonialidade do poder (Anibal Quijano), a segregação racial persiste desde quando os portugueses se instalaram em 1616 onde se situa hoje o Forte do Presépio, removendo dali os indígenas Tupinambá. A remoção das pessoas dos seus lugares sempre foi um traço colonial em Belém. Hoje, essa colonialidade se reproduz no processo de urbanização de Belém e redondezas, conformando periferias desumanizadas e desprezadas pelo poder público. De fato, o poder público despreza as periferias porque despreza as pessoas que estão lá, configurando isso um racismo institucional. Franz Fanon, em Os Condenados da Terra, escreve que “o mundo colonial é um mundo dividido em compartimentos” (1968, p.27). Belém é assim, embora aqui as “baixadas” configurem periferias bem próximas do centro da cidade. As baixadas e as periferias distantes são, assim como a cidade colonial descrita por Fanon, perigosas e mal afamadas. A ideia de zonas raciais no espaço urbano, observada por Fanon com relação à cidade colonial, é útil para caracterizar a segregação em Belém, que aprofunda desigualdades sociais e raciais à medida em que a urbanização progride. A segregação sócio-espacial tem cor. São os pretos e os pardos, racialmente inferiorizados, que no processo perdem seus lugares de moradia e sociabilidade. A perda do lugar é algo muito grave que acontece na vida dessas pessoas, e esse infortúnio é patrocinado pelo poder público, e a própria sociedade naturaliza esses procedimentos desumanos. Na tese, a colonialidade do poder aplicada ao espaço urbano de Belém é demonstrada a partir de dois casos: (i) a urbanização da Av. Bernardo Sayão, a antiga Estrada Nova de Belém, onde ocorre um programa de macrodrenagem e o projeto orla, que inclui o Portal da Amazônia, o qual caracteriza um gentrificação das margens da cidade banhadas pelo rio Guamá. Esse processo de gentrificação encontra resistências populares. (ii) O “lixão de Marituba”, o nome que se dá a um “aterro sanitário” localizado nesse município conurbado a Belém. O “lixão de Marituba” afeta dramaticamente o cotidiano dessa população, e sua localização justamente nessa periferia desumanizada não é por acaso. Uma intensa ação popular se mobiliza com o mote “Fora Lixão de Marituba” Na pesquisa de campo, entrevistei moradores, lideranças comunitárias, políticos, feirantes, quilombolas e representantes do poder público, produzindo com eles narrativas sobre os sentimentos e os conflitos gerados pelo desprezo do Estado para com o lugar de vida das pessoas, social e racialmente inferiorizadas. Consideramos os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre cor e raça para caracterizar a segregação sócio-racial em Belém, e fazemos na tese uma defesa do lugar contra a ideologia do progresso que desconsidera a vida popular e a diversidade urbana.

  • TATIANE DO SOCORRO CORREA TEIXEIRA
  • O RANCHO NAS RUAS E AS RUAS NO RANCHO:
    sociabilidade carnavalesca na escola de samba Rancho
    Não Posso Me Amofiná

  • Data: 26/09/2019
  • Mostrar Resumo
  • Este trabalho visa analisar formas de sociabilidade carnavalesca na Agremiação Rancho Não Posso me Amofiná. Apresenta a agremiação marcada pela ritualização festiva, na qual a sociabilidade é mediada pelo mundo carnavalesco. Sua realidade é complexa e heterogênea. Vive-se em processo de recriação de sociabilidade ao longo do ano, que se intensificam com a proximidade do carnaval, pois o desfile carnavalesco norteia as redes de relações e o cotidiano da agremiação. Busco compreender como se constituem essas relações que não ocorrem mais apenas no interior do grupo, mas que abarcam múltiplos sujeitos que vão desde brincantes, políticos, empresários, agentes dos meios de comunicação, de modo a entender os sentidos da identificação de coletividades com a agremiação. Procuro perceber a quadra como um local de sociabilidade, no qual fortalecem os vínculos sociais e afetivos, seja através das aulas de balé, Judô ou qualquer outra atividade no seu interior. Dialogo com esses muitos sujeitos, homens, mulheres e crianças que compartilham experiências diversas no interior da quadra ou do “pedaço”. Abordo a festa carnavalesca como o momento de maior interação, fruto das socializações.

  • MARIA GORETI GÓES DA ROCHA
  • “UM TAPINHA NÃO DÓI” (?) SOB A LEI MARIA DA PENHA: EM QUESTÃO OS
    LIMITES SOCIAIS DA JUDICIALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONJUGAL

  • Data: 11/09/2019
  • Mostrar Resumo
  • temática da presente pesquisa é a violência doméstica e familiar contra a
    mulher, com recorte para a violência conjugal heterossexual, expressada no crime de lesão
    corporal de natureza leve. A questão da violência contra a mulher está diretamente ligada ao
    processo político de questionamento e desconstrução de um status quo das relações de gênero,
    em uma sociedade originariamente patriarcal, como a brasileira. A estratégia de
    criminalização da violência conjugal visa a redução da impunidade, o que não tem sido
    alcançada ao longo do tempo, em razão de uma realidade de dominação presente no tecido
    social, expressada de um lado pela ambiguidade da conduta feminina (SAFFIOTI, 2004) e por
    outro pelos atravessamentos morais dos operadores do direito. O objetivo é analisar como
    ocorre a judicialização desse fenômeno social (RIFIOTIS, 2004, 2015) no cenário da Lei nº
    11.340/2006-Lei Maria da Penha, tendo em vista a dispensa de autorização da mulher para
    processar o agressor. A hipótese é de que em razão do padrão de comportamento
    heteronormativo de dominação masculina que retrata a lógica familista, presente nas decisões
    de um juizado da mulher, ocorre a mitigação da perspectiva de cidadania de gênero da mulher
    enquanto sujeito de direito, o que pode contribuir para a reiteração da banalização da
    violência conjugal, vivenciada anteriormente nos espaços dos Juizados Especiais Criminais-
    JECrim, que tinha por consequência a impunidade, o que contribuiu decisivamente para a
    criação da Lei Maria da Penha. Foi aplicada a técnica estatística Análise Exploratória de
    Dados sobre uma amostra representativa dos inquéritos policiais instaurados no ano de 2015
    pela Delegacia de Crimes contra a Mulher-DCCM e respectivos processos criminais julgados
    pelo Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher-JVDFM, ambos da cidade
    de Macapá-Amapá, gerando informações quanto ao perfil socioeconômico dos atores
    conjugais, dinâmica das agressões, motivações do conflito, tipologias de violências, desfecho
    dos casos, cujo resultado significativo dos dados analisados revelou que quase a totalidade
    (89,59%) dos homens acusados de praticarem violência física com ofensa à integridade
    corporal de suas companheiras, ex-companheiras, namoradas, ex-namoradas foram
    absolvidos.

  • CRISTIANO BENTO DA SILVA
  • A água do rio vai crescer: o “evento” da hidrovia Araguaia – Tocantins e a memória da barragem de Tucuruí

  • Data: 28/08/2019
  • Mostrar Resumo
  • A pesquisa em destaque foi realizada na comunidade vila Tauiry, povoado pertencente ao município de Itupiranga, região sudeste do Estado do Pará/Amazônia Oriental. O objetivo consistiu em analisar como os (as) ribeirinhos (as) interpretam o “evento” da hidrovia Araguaia – Tocantins e, a partir de então, modelam os seus comportamentos. Para isto, a pesquisa empreendeu um esforço em: a) compor um quadro sobre a comunidade Tauiry, a partir da memória, recuperando o contexto da vida preexistente à barragem de Tucuruí; b) Analisar a relação dos (as) ribeirinhas (as) com o lugar, a partir das múltiplas conexões (materiais e simbólicas) existentes entre eles (as) e o meio biofísico; c) Identificar e analisar os significados que a hidrovia Araguaia – Tocantins possui para os (as) ribeirinhos (as), tendo por base o registro de situações do cotidiano e de ações coletivas. A hipótese inicial da pesquisa é a de que as interpretações e as ações esboçadas pelos (as) ribeirinhos (as) frente à construção da hidrovia Araguaia – Tocantins são mediadas, em boa medida, pelas memórias da expropriação que a comunidade sofreu em função da construção da barragem de Tucuruí, no rio Tocantins, entre os anos de 1970 e 1980. Assim, os trabalhos de campo levaram-me a formular e a defender a tese de que o quadro interpretativo e as ações políticas referentes à hidrovia Araguaia-Tocantins encampadas pelos atores sociais em tema concorrem, decisivamente, para atualizar as memórias da expropriação assim como estas determinam ou influenciam o contexto atual. Afinal de contas, ninguém quer que aconteça o que aconteceu quando veio a barragem [de Tucuruí]. Por outro lado, dizem eles/elas, não somos contra o progresso, mas sabemos que somos comunidade tradicional e temos nossos direitos. As aludidas memórias da expropriação não ficaram estacionadas no passado. Elas constituem, ao contrário, pontos de ancoragem para pensar e agir no presente.

  • HELOISA MARIA PAES DE SOUZA
  •  

     

    “COMO ESTRANGEIRA EM MINHA TERRA”:conversão de mulheres ao Islã na Província de Luanda (Angola)

  • Data: 23/08/2019
  • Mostrar Resumo
  • A presente tese tem como objetivo principal compreender a conversão ao Islã entre mulheres residentes na província de Luanda, principal centro político e econômico de Angola. A partir da compreensão de que a conversão religiosa não é um evento único, mas um processo, dividido em sequências temporais com suas próprias características e conteúdos, realizei pesquisa bibliográfica e de campo com os seguintes objetivos específicos: 1) identificar os motivos das conversões; 2) compreender as sequências temporais do processo de conversão ao Islã; 3) identificar possíveis impactos sofridos pelas mulheres que tornam-se muçulmanas; 4) tendo como base o pressuposto de que foram socializadas em outra tradição religiosa, inferir que, ao tornarem-se muçulmanas, é necessário que experimentem processos educativos de internalização dos princípios e práticas rituais constantes do cotidiano islâmico. A hipótese que defendo é a de que que quando uma mulher, na Lusofonia, se converte ao Islã, abraça uma tradição religiosa aparentemente distante de suas matrizes culturais e vive um processo de passagem cultural que causa impactos nas relações interpessoais. A convertida passa a ocupar uma posição entre “dois mundos”, tendo dificuldades para ser vista e aceita como pertencente à sua própria sociedade, principalmente quando adota o hijab, código concernente ao comportamento e vestuário feminino islâmico. Nesse processo, cada mulher luta contra estereótipos associados ao Islã e à mulher muçulmana. Pertencendo à uma cultura lusófona, majoritariamente cristã, a convertida procura conciliar sua realidade com o que é prescrito no Islã ou, melhor dizendo, com interpretações do Islã que, por sua vez, são baseadas nos textos sagrados - o Alcorão e a Sunnah. Durante o processo de conversão, a mulher torna-se muçulmana através de processos educativos, pelos quais internaliza princípios doutrinários e rituais islâmicos (no caso, sunita), que contribuem para a incorporação de uma nova perspectiva do Sagrado e do mundo que se reflete na reconfiguração de aspectos de sua identidade. À medida em que o tempo avança e o processo acontece, ela passa a sentir-se, em primeiro lugar, como mulher muçulmana e, depois, como angolana. A pesquisa mostra a importância de mediadores, sobretudo homens muçulmanos, no processo de conversão, pelos quais as mulheres desenvolvem afeto/amor e o desejo de, com eles, estabelecerem laços familiares que lhes permitam segurança, cuidado e conforto. Com relação às sequências temporais geralmente encontradas em trabalhos sobre o tema, a pesquisa em Angola revela que tais sequências podem não seguir a mesma ordem, o que pode implicar na questão dos motivos que impulsionam as mulheres ao ingresso no Islã através do ritual da shahada.

  • ANA MARGARIDA GONCALVES DE SOUZA
  • “COMO SE VIVE ‘NESSE LUGAR’?”: uma etnografia com mulheres em situação de prisão na Amazônia

  • Data: 01/07/2019
  • Mostrar Resumo
  •  

     

    Esta dissertação busca compreender como mulheres em situação de prisão contestam dificuldades na cadeia, entendida a partir de suas falas como lugar destinado a não humanos. O trabalho consiste em pesquisa qualitativa, concebida mediante pesquisa bibliográfica e pesquisas de campo, durante as quais lancei mão de observação, conversas informais e entrevistas semiestruturadas em uma unidade prisional na Amazônia. Foram 5 meses de pesquisa de campo dentro da prisão e 10 dias de visita (sábados ou domingos) à porta da mesma unidade prisional na Amazônia, desta vez interagindo com visitas. A pesquisa constatou que mulheres em situação de prisão forjam códigos extraoficiais, que teias de relações de poder entre mulheres em situação de prisão engendram relações tais quais o corre (que diz respeito à busca de satisfação de necessidades materiais) como maneiras de contestar dificuldades materiais e afetivas vividas na prisão; outrossim, foram observadas estratégias de rupturas de silenciamentos e processos em que são requeridos do corpo da mulher em situação de prisão certa renúncia de sensibilidades (que não quer dizer indolência) e vivência de afetos cindidos pela desconfiança inerente à cadeia.

  • SAMUEL VIEIRA CRUZ
  • POBRES COMO NÓS: QUILOMBOLAS DE ROSÁRIO E USO COMUM NO RIO CAMARÁ (MUNICÍPIOS DE SALVATERRA E CACHOEIRA DO ARARI/PA)

  • Data: 24/06/2019
  • Mostrar Resumo
  •  

    A presente dissertação busca compreender a identidade quilombola entre os comunitários de Rosário, refletindo sobre os valores que fundamentam suas relações com outras comunidades e vilas vizinhas, considerando sua ancestralidade comum e a delimitação do território pretendido para regularização fundiária em seu favor. Com fundamentação teórica em Pierre Bourdieu, através do capital cultural e do habitus, examino suas estratégias e providências no sentido de garantir o usufruto dos recursos naturais existentes (território, recursos pesqueiros e florestais), os quais além da apropriação privada por fazendeiros da região, se encontram em áreas que vão além do território quilombola pleiteado, denominadas pelos próprios quilombolas como território de uso comum, compartilhados com famílias de outras comunidades ribeirinhas, com as quais mantém relações históricas baseadas na tradição, nas relações de parentesco – por ascendência e aliança, acionados em situações de eventos sócio-culturais e/ou para solucionar eventuais conflitos. Tendo como aporte a pesquisa etnográfica, descrevo as práticas na vida cotidiana relacionadas ao manejo dos recursos naturais existentes, a metodologia utilizada para a construção dos croquis e mapas que definiram o território quilombola e o contexto no qual emergiu o que denominaram de “área de uso comum do rio Camará”. Ao longo da dissertação, são identificadas tensões, choque de interesses e valores entre os campos envolvidos e a dinâmica socioeconômica na calha do rio Camará, que expõem as ações ordinárias, funcionando a partir de estruturas de significados, pelas quais podemos interpretar as mudanças e permanências na ordem cultural que demonstram a resiliência da comunidade quilombola nas relações com seus vizinhos e que lhes garantem os vínculos de solidariedade, assim como o acesso – para todos - aos recursos naturais essenciais ao seu modo de vida (roçado, coleta, pescado).

  • CAMILA PINHEIRO CORDEIRO DE MIRANDA
  • “NÓS TEM QUE SE UNIR PRA PODER TER”: Desenvolvimento Sustentável e a organização do trabalho na pesca artesanal na várzea na RDS Mamirauá
    CAMILA PINHEIRO CORDEIRO DE MIRANDA
    Belém-PA 2019

  • Data: 19/06/2019
  • Mostrar Resumo
  • A discussão ambiental e os processos políticos dela decorrentes, que ocorreram, sobretudo, a partir da década de 1960, suscitaram a institucionalização de termos como o de Desenvolvimento Sustentável. Promover o desenvolvimento sem comprometer o meio ambiente para as gerações futuras tornou-se um compromisso, sobretudo, político e institucional. Como resultado dessa institucionalização, podemos destacar a criação das Unidades de Conservação, tanto de proteção integral quanto de uso sustentável, por meio do Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC); das políticas ambientais; das Organizações Não Governamentais (ONGs); da atuação dos regimes internacionais ambientais, dentre outros. A inserção de novas dinâmicas criadas a partir das ações de conservação e a presença de novos atores contituiu um campo socioambietal (BOURDIEU, 1989; MOURA, 2007). Nesse sentido, essa dissertação busca compreender como esse modelo de desenvolvimento sustentável das políticas socioambientais imprime novas formas de organização, comercialização, ritmo de trabalho e incorporação de novos conhecimentos na pesca em ambiente de várzea, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), no Amazonas (AM). Uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) é uma categoria de Unidade de Conservação, que tem por objetivo principal preservar a natureza ao mesmo tempo em que oferece possibilidades de melhor qualidade de vida para os moradores locais, por meio de ações de exploração sustentável do meio ambiente. O uso dos recursos naturais pela população local é orientado por um plano de manejo. Esse plano orienta o uso dos espaços por intermédio do zoneamento dos lagos, de regras quanto a quem tem acesso a esses recursos, de restrições a apetrechos de pesca que podem ser utilizados, bem como o tamanho do peixe, armazenamento do pescado, dentre outros aspectos. Além disso, a RDSM está inserida em um ambiente de várzea, que se caracteriza por intensa sazonalidade com períodos de enchente, cheia, vazante e seca. Essa sazonalidade imprime características próprias às dinâmicas socioeconômicas locais. Dessa maneira, levando em consideração que um campo é um espaço de disputas sociais, esse trabalho analisa as ações comunitárias, a participação política local e os processos de trabalho pesqueiro no âmbito de uma Unidade de Conservação de uso sustentável. Para tanto, realizou-se entrevistas semi estruturadas referentes aos processos de trabalho e questionários para a caracterização socioeconômica local, durante o ano de 2015 e 2017.

  • CARLOS ELVIO DAS NEVES PAES
  • A UNIVERSIDADE REIVINDICADA

    Etnografia histórica de uma ação pública no Marajó, PA

     

  • Data: 31/05/2019
  • Mostrar Resumo
  •  

    A Universidade Federal do Pará se instalou em Breves, no Marajó, com a missão de produzir, divulgar, usar e transformar o conhecimento para formar cidadãos e construir uma sociedade (marajoara) mais sustentável. Seus propósitos incluíram integrar a instituição às demandas locais e regionais segundo a lógica de privilegiar valores e sabedorias do povo marajoara nos processos de ensino, pesquisa e extensão. A fim de saber se as práticas e os saberes acadêmicos conseguem suprir demandas sociais e culturais com as ações de ensino, pesquisa e extensão e contribuir para a emancipação social, a pesquisa descrita nesta tese objetivou compreender as relações entre universidade e sociedade brevense segundo a mediação entre saberes e ações e entre atores sociais e dinâmicas de mobilização numa perspectiva socio-histórica. A pesquisa foi desenvolvida como documental e empírica alinhada metodologicamente na abordagem qualitativa. As fontes de dados incluíram documentos (estatuto e regimento geral) da UFPA, notícias e textos opinião, entrevistas e imagens. Pesquisa se embasa em autores como Boaventura de Souza Santos, Paulo Freire, Anibal Quíjano, Pierre Lascoumes e outros. Os resultados indicaram distanciamento das ações da UFPA em Breves em relação ao que seus marcos institucionais estabelecem como compromisso público; o que pode minimizar seu papel estratégico nos processos de ensino, pesquisa e extensão tendo em vista a região de florestas do Marajó. A indefinição de cenários concretos para o campus de Breves no planejamento institucional da UFPA não se acresce, mas também intensifica problemas severos que afligem o povo marajoara, sobretudo a negatividade de indicadores de saúde e educação e ausência de políticas públicas. Urge, então, que a UFPA almeje mitigar tais indicadores negativos num processo que pressuponha interação ainda mais propositiva e em parceria com órgãos municipais que administram a rede escolar e a de assistência social e saúde, bem como com entidades representativas da sociedade civil.

  • BRENO RODRIGO DE OLIVEIRA ALENCAR
  •  

    Noivado e ritos pré-nupciais
    Um estudo sobre significados, experiências e as codificações de uma unidade cultural

  • Data: 24/05/2019
  • Mostrar Resumo
  • Esta tese tem como objetivo compreender o lugar do noivado e dos ritos pré-nupciais na teoria antropológica. Adotando como escopo o conceito de unidade cultural, a mesma analisa o modo como as crenças e os comportamentos nupciais são formula-dos, estimulados ou reprimidos tendo como interface a decomposição dos códigos que fazem deste ritual a principal expressão do processo de aliança em segmentos urbanos da sociedade brasileira. Chamando atenção para a revisão bibliográfica, a primeira parte do trabalho enfatiza a pluralidade de recortes interpretativos e a rele-vância do noivado como categoria de análise, seja no âmbito dos rituais contemporâ-neos, seja para a interpretação da aliança nos estudos do parentesco. Esta parte da tese também se dedica a identificar os valores, processos e símbolos que regulam a escolha do noivado como um tipo de relacionamento no mundo urbano, adotando, como fonte de reflexão, as contribuições de Thales de Azevedo e o vocabulário que permeia seus significados nas redes sociais, na imprensa e no cinema. A segunda parte da tese enfatiza a interlocução com os sujeitos, tendo a mesma se dado a partir de entrevistas realizadas como noivos e noivas nas cidade de Belém, Teresina e Bra-sília. Seu principal objetivo é descrever o processo através do qual os códigos nupciais são incorporados à biografia e socialização dos interlocutores, levando-se em conta o papel dos mesmos como agentes e intérpretes desta experiência. A terceira parte, por fim, explora a mediação protagonizada pelo mercado e a igreja católica que, atuando como instituições codificadoras, disciplinam, respectivamente, os símbolos em torno da ritualização nupcial e os valores e significados relativos a identidade conjugal. Esta abordagem se pauta em pesquisa etnográfica realizada em Feiras de Noivas e En-contros de Preparação para o Casamento ("cursos de noivado") nas cidades de Belém e Teresina.

  • EMILSON FERREIRA DE SOUZA
  • DESLOCAMENTOS E TERRITÓRIO NA FRONTEIRA ACRE-BOLÍVIA ATRAVÉS DO MÉTODO VISUAL: acompanhando o ir e vir de famílias camponesas da floresta (2006-2017)
    BELÉM

  • Data: 05/04/2019
  • Mostrar Resumo
  • Depois de cem anos em territórios amazônicos, resistindo aos ciclos da exploração
    da borracha, a partir de 1970, uma nova onda modernizadora, através da
    pecuarização da economia acreana, interferiu de forma aguda no meio ambiente, nas
    relações sociais e econômicas. Muitos camponeses da floresta, para permanecerem
    com seus modos de vida, migraram para a fronteira amazônica boliviana, porém, a
    partir de 2006, começa um movimento do Governo de Evo Morales para deslocar
    compulsoriamente estes trabalhadores, amparado na constituição boliviana, que não
    permite a posse da terra a estrangeiros na faixa de 50 km de suas fronteiras. Depois
    do acordo bilateral firmado entre os Governos da Bolívia, Brasil e a OIM estes
    camponeses foram deslocados da fronteira e realocados em projetos de
    assentamento do INCRA, cidades e “colônia” acreana. A questão básica deste estudo
    é: como, em contexto social e político marcado pela expansão da fronteira capitalista,
    grupos populacionais de camponeses brasileiros desterritorializados
    reterritorializaram-se na Bolívia e, depois, deslocados compulsoriamente, se
    reterritorializam novamente no Brasil. Como esses grupos, retornados, organizam
    seus modos de vida, re-existem, hoje no estado do Acre? A pesquisa é de natureza
    qualitativa, associada ao trabalho de terreno, com emprego de outras técnicas, como
    entrevistas semiestruturadas e uso dos procedimentos do método visual. Os dados
    foram coletados em períodos intermitentes durante pouco mais de uma década (2006-
    2017), acompanhando um grupo de 7 famílias que passou pela experiência do
    deslocamento/desterritorialização dos seringais bolivianos que se acompanhou de
    uma reterritorialização em cidades, projetos de assentamento do INCRA e “colônia”
    no Acre. A base teórica se voltou para a sociologia pública desdobrada na sociologia
    da ação pública territorial (TEISSERENC & TEISSERENC, 2014), em diálogo com
    autores que estudaram deslocamento compulsório de populações tradicionais da
    Amazônia (MAGALHÃES, 2007), (ALMEIDA, 1996). Os resultados apontam que o
    processo de desterritorialização-reterritorialização que estas famílias sofreram é
    traduzido em perdas que abrangem desde o espaço físico até suas relações sociais e
    economicas, desestruturando-as. Os camponeses brasileiros para reterritorializaremse,
    inseriram-se na esfera da economia capitalista, reorganizaram suas relações com
    o meio. Foram verificados, nesse grupo, perdas, adaptações, esforços, resistências
    para atender a novas exigências de ordem material e simbólica.



  • LEILA CRISTINA LEITE FERREIRA
  • Manas: Mulheres negras construindo o Movimento Hip Hop em Belém do Pará

  • Data: 28/03/2019
  • Mostrar Resumo
  • O Movimento Hip Hop de Belém do Pará está passando por um processo de mudanças provocado pelas mulheres, as manas, que levam para dentro dele o Movimento Feminista Negro e deixando que um atravesse o outro conseguem construir um Movimento Hip Hop com um novo olhar, com um novo entendimento do que vem a ser a participação feminina e feminista dentro dele. As manas discutem a maneira como os manos estão negando a elas o seu espaço de direito por serem também artistas que pensam e produzem o movimento tanto quanto eles. Então, elas chegam e questionam o que para eles já estava posto e imutável, como por exemplo o fato de serem tratadas como “a mina do cara”. As manas discutem qual o lugar dos seus filhos e filhas nesse movimento, afinal muitas são mães e precisam contar com a ajuda de suas mães para que cuidem deles e delas. O Feminismo Negro possibilita as manas produzirem um movimento artístico complexo e criativo, com poesias, artesanato, grafite, dança, músicas, livros, produção audiovisual, fotografias, onde se empoderam de seu espaço, de seu lugar de fala, arte que denuncia a violência doméstica e a violência contra a juventude negra na periferia. A aproximação dessa temática tão delicada aconteceu de forma lenta, exigindo um ouvir atento a todas as questões colocadas pelas manas, a partir da observação cuidadosa em cada evento organizado por elas, em cada divulgação, em cada postagem nas redes sociais, buscando de dentro conhecer e perceber a maneira como a relação entre as manas e os manos se dava e como se relacionavam com sua arte. Neste estudo, a fotografia foi utilizada como mais uma forma de interpretar o campo e escrever o que foi observado. A fotografia é tomada como um texto que pode mostrar o que o texto escrito não consegue dizer. O Movimento Hip Hop atravessado pelo Feminismo Negro faz entender que ao mesmo tempo em que o machismo dos manos fecha o Hip Hop ao alcance das manas, possibilita a abertura de caminhos que leva as levam a usar do próprio Hip Hop para que questionem o posicionamento dos manos e consigam dizer o que querem.

  • SANDRA MARIA FONSECA SILVA
  •  

    A FAMÍLIA DE SANTO COMO PROTEÇÃO ÀS MULHERES: UM ESTUDO NA ETNIA JEJE

     

  • Data: 27/03/2019
  • Mostrar Resumo
  •  

    Neste trabalho, realiza-se reflexões sobre a família de santo como fator de proteção às mulheres, aborda-se a mitologia relativa às voduns femininas, bem como a relativização do patriarcado no candomblé Jeje. Trata-se de uma proposta para ampliar o debate na área com a inclusão da família de santo como uma categoria analítica, somando-se com as reflexões já existentes. A metodologia do mesmo caracterizou-se por uma extensa pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, que se dividiu em duas fases. Na primeira, realizou-se observações participativas, que se desdobraram em anotações de diário de campo relativos a participação em rituais religiosos, e eventos voltados para a comunidade; já a segunda formou-se da realização de entrevistas, entretanto, a pesquisa bibliográfica ocorreu nas duas fases do trabalho. Conclui-se que a proteção às mulheres nessa etnia é decorrente tanto da relativização do patriarcado, como também em decorrência da concepção filosófica de totalidade na qual o homem não é apartado de Olurum e de seus voduns, sendo esta concepção a base de todas as religiões de matriz africana, o que pode indicar a tendência de que não a há violência contra mulheres na grande maioria dos terreiros de candomblé no Pará e no Brasil.

  • PATRICIA NORAT GUILHON
  • NOS CAMINHOS DE MARIA:aparições marianas e a trajetória mística de uma vidente em Belém
    BELÉM - PA

  • Data: 22/03/2019
  • Mostrar Resumo
  • Trata-se de um trabalho etnográfico sobre as aparições de Nossa Senhora para uma vidente no bairro Castanheira em Belém-PA onde, desde o começo do fenômeno, em 1989, fundou-se uma comunidade religiosa nesse local. Tendo em vista que as aparições marianas são um fenômeno de longa duração histórica, e que vários estudiosos, sobretudo sociólogos e antropólogos, têm chamado atenção para um surto de aparições marianas que vêm ocorrendo na atualidade, não apenas no Brasil, como em diversas partes do mundo, tracei uma análise comparativa, especialmente no campo da antropologia da religião, entre o fenômeno mariano aqui presente, com os eventos de aparições estudados por esses autores, sem deixar de levar em consideração as especificidades do caso abordado. De maneira semelhante a esses pesquisadores, também observei a existência tanto de aspectos e elementos de uma antiga simbologia mariana católica, quanto de novas características que também se fazem presentes nesse contexto de aparições. Nesse ponto, me orientei, principalmente, pela perspectiva analítica de Carlos Steil, que evidencia que essas novas configurações foram inscritas a partir do evento de aparições da Virgem em Medjugorje, na antiga Iugoslávia, no ano de 1981, que se configurou em um modelo, uma referência para as aparições que viriam a ocorrer depois, no contexto atual, compreendido pelo autor como sendo aparições do período pós-moderno. Do mesmo modo que outros autores, entre eles vale destacar: Cecília Mariz, Lilian Sales, Mísia Reesink, Tânia Almeida, também notei o papel central que o movimento carismático ocupa nos eventos de aparições atuais, ao demonstrar que, graças aos sacerdotes e agentes leigos carismáticos, ocorreu a conversão e a preparação espiritual da vidente, contribuindo para a construção do próprio evento de aparições e dos primeiros pilares da Casa de Oração – Nossa Senhora Rainha dos Corações – sendo responsáveis também por reativar e ressignificar um antigo repertório simbólico mariano e introduzir, com suas crenças e rituais, mudanças no interior dessa manifestação. Entre essas modificações, destaquei a forma de comunicação entre a vidente e o sagrado, que passa a ser feita, principalmente, por meio de locuções interiores, o conteúdo das mensagens, que está mais voltado para a conversão, o perdão e a admoestação dos fiéis, assim como atuaram de forma consciente e inconsciente fazendo modificações no próprio evento, visando aproximá-lo de um padrão conhecido, aceito e reconhecido de aparições. Em meu trabalho, debati amplamente sobre a importância da Renovação Carismática Católica no fenômeno das aparições atuais, pois através da sua estrutura organizacional e burocrática, esse movimento também tem contribuído para divulgar, organizar e promover essas manifestações marianas. Dediquei especial atenção ao tema da peregrinação, uma vez que esta antiga prática devocional católica também tem adquirido novos contornos na atualidade, na qual os próprios videntes e mensageiros também se tornam peregrinos, como é o caso aqui presente, em que a nossa vidente se desloca para outros lugares, levando consigo as aparições e as mensagens da Virgem. Para compreender essas novas configurações, estabeleci um diálogo com a obra: “O peregrino e o convertido” de Hervieu-Léger, que me ajudou a refletir sobre o agir religioso contemporâneo. Também enfatizei a postura ativa assumida pela vidente ao buscar conduzir o processo de legitimação e rotinização do seu próprio carisma, sendo que analisei o seu comportamento por meio de uma aproximação teórica entre o binômio communitas/estrutura de Victor Turner, e o conceito de carisma e, mais especificamente, de rotinização do carisma, de Max Weber. Finalmente, também discorri sobre a importância da Igreja e dos Novos Movimentos Religiosos católicos no agir religioso da contemporaneidade, que também desempenham um papel fundamental no fenômeno das aparições marianas atuais. Nesse sentido, dei ênfase à figura de João Paulo II como o “Papa Peregrino” de Nossa Senhora.

  • GEISA COSTA COELHO
  • Entre o mar e a terra: mulheres mercantes
    Gênero, família e profissão.

  • Data: 27/02/2019
  • Mostrar Resumo
  • Esse estudo analisa a circulação de mulheres mercantes entre seu ambiente de trabalho no navio, e o retorno ao lar, após o período embarcada como oficiais brasileiras da marinha mercante. A investigação focaliza, sob a perspectiva das relações sociais de gênero, os desafios enfrentados por essas mulheres transitando entre esses dois mundos, o lar e o trabalho nas embarcações. Suas motivações e suas expectativas, retomando o momento de formação enquanto estudantes e mais tarde como oficiais. Suas dificuldades e facilidades na inserção em espaço eminentemente masculino foram analisadas a partir da pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e entrevistas; cuja ênfase recaiu na produção referente à antropologia da educação, profissões e aos estudos de gênero e geração. Verificou-se que apesar de avanços em termos de formação e na prática da vivência como oficiais, há muito ainda a ser conquistado quanto à superação de preconceitos e conquistas de condições trabalhistas favoráveis à presença da mulher nesse ramo profissional. O trânsito nas esferas da casa e do trabalho ainda é suscetível a situações de estranhamento e assédio.

  • JULIANA CARDOSO FIDELIS
  • “TRATAMENTO DIFERENCIADO”: sobre reconhecimento e consideração em torno do sistema biomédico no Alto Trombetas

  • Data: 25/01/2019
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa apresenta aspectos das reivindicações sobre os serviços de saúde, originalmente reservados a funcionários da Mineração Rio do Norte, e as estratégias de acesso a serviços biomédicos, tal qual elas vem sendo tomadas por oito comunidades remanescentes de quilombos em Trombetas (Oriximiná/PA). Trata-se da demanda por reconhecimento e consideração enquanto sujeitos morais e de direitos forjada pelos quilombolas residentes no Território Alto Trombetas II, os quais, organizados, negociam junto a MRN acesso à medicina convencional/hegemônica. Nesse contexto, considerando a insuficiência de serviços públicos prestados em diversos segmentos no território, bem como as transformações do “modelo de saúde tradicional” operante com base em conhecimentos repassados ao longo de gerações e ainda acionados nas comunidades, pretende-se apresentar reflexões acerca das condições de acesso aos serviços biomédicos, de como elas são experimentadas pelas populações e tratadas nos debates/discursos relacionados à empresa mineradora. Dessa maneira, partimos da hipótese de que a liberação e as condições de acesso a esses serviços se constitui como uma questão moral de consideração, pautada no desenvolvimento de uma noção de “tratamento diferenciado”, que os considere e que os possibilite perceber estima social, como sujeitos morais e de direitos. A pesquisa se desenvolve por meio de trabalho etnográfico, que é baseado metodologicamente na abordagem multisituada, pela qual seguimos as relações fundamentais com base nos discursos emergentes que compõem campos de negociação e entendimentos sobre reconhecimento.

2018
Descrição
  • ALBINO JOSE EUSEBIO
  •  

     

    DA VIOLÊNCIA COLONIAL À VIOLÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE SOCIOANTROPOLÓGICA SOBRE DESLOCAMENTOS COMPULSÓRIOS PROVOCADOS PELO GRANDE PROJETO DE MINERAÇÃO DA VALE EM MOÇAMBIQUE 

  • Data: 14/12/2018
  • Mostrar Resumo
  • A presente tese analisa o processo de deslocamento compulsório e a vida cotidiana das populações deslocadas, em consequência da instalação, no distrito de Moatize, na região do Vale do Zambeze, província de Tete, Moçambique, do Projeto Moatize de exploração de carvão mineral, operado pela multinacional brasileira Vale. O estudo é inspirado teórico-metodologicamente na antropologia do desenvolvimento; nos estudos pós-coloniais e na sociologia do cotidiano. A pesquisa empírica que embasa a tese foi realizada em Moatize em dois períodos (primeiro trimestre de 2016 e de novembro a dezembro de 2017) e buscou-se dentre vários pontos explorar às práticas que caracterizaram o processo de deslocamento e a realidade de vida cotidiana no “novo lugar”. Ao longo da elaboração da tese estabelecemos um profundo diálogo entre os dados empíricos e a literatura histórica sobre a região do Vale do Zambeze, de um lado, e as abordagens etnográficas sobre as práticas da Vale em outros contextos socioculturais (Canadá e Amazônia Brasileira), de outro. Duas teses buscamos defender: primeiro, que as práticas do deslocamento compulsório em Moatize, evidenciam que há mais continuidades – o deslocamento compulsório centralmente planificado, o sequestro dos destinos das populações atingidas, o sofrimento social – de práticas violentas coloniais do que cismas nos processos atuais de implementação dos projetos de desenvolvimento em Moçambique. Segundo, que a violência do deslocamento compulsório é uma caraterística intrínseca aos grandes projetos de mineração independente dos contextos políticos e jurídicos de cada lócus em que estão sendo implementados. A Vale possui práticas autoritárias, violentas e “coloniais” de atuação que independem do contexto de sua implementação. Isso nos leva a concluir que existe um modelo hegemônico global de “grande projeto de mineração”, que tem a violência e expropriação como partes inseparáveis, como “outra parte da mesma moeda”.

  • LEONARDO JOSE ARAUJO COELHO DE SOUZA
  •  

     

    MÚSICA E MITO: A RELAÇÃO ENTRE AS MACROESTRUTURAS MUSICAIS
    E A LINGUAGEM MITOLÓGICA NA OBRA DE LÉVI-STRAUSS


  • Data: 14/12/2018
  • Mostrar Resumo
  • Lévi-Strauss apresenta em suas narrativas mitológicas e etnográficas uma extensa análise comparativa entre as formas musicais e o pensamento mitológico. Mediante as informações antropológicas e a vivência quanto ao estudo e ao ensino da música, decidiu-se desenvolver este trabalho para elucidar a relação entre a linguagem musical e a linguagem mitológica, com base na obra do referido antropólogo. Para tanto, analisaram-se as principais formas musicais correspondentes às estruturas mitológicas, contextualizaram-se os aspectos estruturais da música e das principais macroestruturas utilizadas por Lévi-Strauss, interpretou-se e ilustrou-se musicalmente o pensamento musical desse antropólogo, esclarecendo suas metáforas e explicações musicais em relação aos mitos ameríndios, abordaram-se o aspecto sonoro na narrativa mitológica e o trabalho conjunto da etnografia e da música na elaboração dos textos antropológicos, determinaram-se os “princípios estruturantes” comuns às formas musicais cíclicas e à linguagem mitológica, ratificou-se a importância do entendimento e conhecimento dos princípios estruturantes básicos da composição musical, a repetição e o contraste, bem como se apontou como Lévi-Strauss se apropria dessas premissas e relaciona-as à lógica do mito e, por fim, analisou-se a obra musical de Mestre Anísio. Como procedimentos metodológicos, in stricto sensu, foram realizadas a pesquisa bibliográfica e de campo ou etnográfica. Para consolidar esta tese, empreenderam-se três etapas: a primeira, levantamento bibliográfico e documental, correspondeu à leitura e análise das obras Tristes Trópicos (1955), Antropologia Estrutural (1958), Mitológicas I O Cru e o Cozido (1964), Antropologia Estrutural Dois (1973), Mito e Significado (1977), Olhar Escutar Ler (1993); a segunda, descrição e análise de alguns mitos, fase em que se verificaram as estruturas e formas similares às da música; a última correspondeu à pesquisa etnográfica, realizada na comunidade Aê, no município de São Caetano de Odivelas, no período de 2016 a 2017, junto ao Mestre Anísio, para coletar dados quanto ao processo de suas composições, das formas musicais presentes nessas obras. Constatou-se que antropologia e música completam-se por meio de disciplinas distintas, a saber, a Antropologia Estrutural e a Estruturação Musical, as quais podem ser trabalhadas atualmente, além de propiciarem mais abrangência e percepção aos estudos da antropologia musical. Atestou-se que as macroestruturas e os elementos básicos da arte musical, como ritmo, melodia e harmonia, transformam-se em formas simbólicas e assim corroboram com o pensamento de antropólogos, etnógrafos e etnomusicólogos. Além disso, o estudo do pensamento musical em Lévi-Strauss permitirá a compreensão da dimensão antropológica e sociológica do som, incluindo os diferentes elementos comuns às formas musicais cíclicas e à linguagem mitológica − a leitura sincro-diacrônica, a simetria invertida e a repetição e o contraste, ao se refletir sobre sua pergunta lévi-straussiana significante: “Qual é esta afinidade profunda entre a música e o mito?”.

  • SUELEN REIS DA CONCEICAO
  • RELAÇÕES DE PODER NA REGULAMENTAÇÃO DO TRANSPORTE
    ALTERNATIVO EM BELÉM: REFLEXOS DO PODER LOCAL NA POLÍTICA
    URBANA

  • Data: 13/12/2018
  • Mostrar Resumo
  • Há quinze anos, propostas para a regulamentação do transporte alternativo em Belém tem
    sido debatidas na Câmara Municipal, todavia, esse debate tem revelado contradições e
    motivações particulares, com insuficiência nas ações reguladores capazes de conferir à
    modalidade condições adequadas para a oferta do serviço. O presente estudo faz uma
    análise desse debate, considerando a retórica e os interesses que permeiam as ações dos
    agentes que compõem esse campo. O estudo considerou um campo de disputas e conflitos
    permanentes entre agentes que ora se posicionam a favor da regulamentação, ora
    contrários, com convergências e divergências entre todos os agentes, que se diferenciam
    pela grandeza dos capitais privilegiados nesse campo, a saber, capital político e
    econômico. Tais diferenciações contribuem para a formação de poderes locais
    distanciados de demandas coletivas na política de mobilidade urbana em Belém-Pa.

  • KAMILLA SASTRE DA COSTA
  • “AONDE EU COLOCO AS MINHAS DORES, DOUTOR?”: UM OLHAR ANTROPOLÓGICO DA ESCLEROSE MÚLTIPLA NA VIDA DE TRÊS MULHERES RESIDENTES EM BELÉM DO PARÁ

  • Data: 30/10/2018
  • Mostrar Resumo
  • A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurológica, crônica e autoimune, e vem a ser potencialmente debilitante ao longo do tempo. Afeta, em sua maioria, mulheres adulto-jovens. Por ter isso em vista, o presente estudo, de caráter reflexivo, teve a proposta de investigar a influência social da EM na vida de mulheres residentes em Belém-PA, analisando a partir das narrativas compartilhadas por elas os efeitos dos marcadores sociais da diferença que distinguem e singularizam essas mulheres, inicialmente pela busca do fechamento do diagnóstico, e no decorrer pelas situações que marcam suas trajetórias significativamente. Mediante o diálogo ocorrido entre a pesquisadora que também tem EM e interlocutoras, a partilha das vivências, angústias, incômodos e dores subsidiaram transformações nas envolvidas enquanto sujeitas que conseguem reinscrever suas/nossas próprias histórias, tendo como um dos objetivos romper com o silenciamento imposto a elas socialmente, inclusive no meio acadêmico, especificamente nas áreas das Antropologia e Sociologia, onde resistem à invisibilidade. Para a pesquisa de campo foram utilizados procedimentos de cunho qualitativos e de diálogo entre pesquisadora/ativista com as interlocutoras, priorizando suas vozes e suas experiências, sendo que para tal feito foram realizadas entrevistas semiestruturadas, muito embora as conversas informais tenham sido a base para a construção do diálogo e, consequentemente, ao alcance dos dados, com vista à perspectiva construcionista dialógica empregada. Foram realizadas visitas ao hospital público Ophir Loyola e a pesquisadora está inserida em duas Associações que lhe proporcionaram uma maior aproximação com o universo de estudo. Além disso, a literatura do feminismo negro e descolonial possibilitou uma melhor visualização das questões referentes à raça e outras intersecções com a finalidade de compreender como atuam as opressões, levando em consideração o racismo, o capacitismo e o sexismo, experienciados pelas sujeitas. A pesquisadora incorporou na escrita à prática feminista ligada a ruptura da exclusividade do modelo biomédico no atendimento e convivência com as pessoas com deficiência, especificamente ao corpo de mulheres e, para isso, utilizou como referência a literatura do Disability Studies (Estudos sobre Deficiência), tendo como foco o modelo social. Assim, foi possível constatar que o modo de se situar socialmente, inclui a influência dos marcadores sociais, embasa a construção das narrativas e da própria trajetória em relação à doença das interlocutoras desta pesquisa.

  • CHRISTIANE DE FATIMA SILVA MOTA
  • TERREIROS EM MOVIMENTO:
    RITUAIS, FESTAS, RESISTÊNCIA E MOBILIZAÇÃO.
    BELÉM
    2018

  • Data: 09/10/2018
  • Mostrar Resumo
  • Esta tese analisa a resistência dos povos de terreiro pela garantia de direitos, reconhecimento, liberdade de culto e expressão a partir da pesquisa no âmbito da atuação política de lideranças, autoridades religiosas e coletivos formalizados em São Luís, Maranhão. Cada terreiro é uma unidade de resistência. Desse modo, parto da noção de que os rituais e festas não se separam do político, são elementos mobilizadores “em movimento” constante que se mantiveram mediante processo histórico de resistência desde a escravidão às perseguições policiais nos séculos XIX e XX. Discuto a categoria povos e comunidades tradicionais de matriz africana estabelecida pelo Decreto 6040/2007, quando os terreiros passaram a integrar a agenda do governo federal na Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). Para tanto, utilizo como base teórica documentos, livros, artigos, relatório de encontros e de eventos produzidos pelos próprios terreiros em razão de entendê-los como sujeitos que também elaboram teorias e conhecimentos complexos a respeito de suas realidades. Na segunda parte da tese, destaco várias situações conflituosas tendo como marco dos acontecimentos, os anos de 2014 a 2018. Em São Luís, o posicionamento político e público das lideranças e coletivos pela garantia de direitos, formas de expressão e manutenção dos territórios sagrados têm ganhado força nas últimas décadas, sobretudo, através da participação direta dos religiosos na elaboração de políticas públicas, planos e projetos específicos aos terreiros. A tese é perpassada pela atualidade histórica das resistências. As narrativas registradas revelam um passado-presente ou um presente-passado no qual os povos de terreiro exigem o reconhecimento por parte do Estado brasileiro nos âmbitos de suas origens ancestrais (africana), histórica no Brasil (escrava) e social (religiosa).

  • CARLOS ALBERTO CORREA DIAS JUNIOR
  • Da feira e da cozinha:
    consumo, identidade e linguagem em torno da comida na Feira Municipal de Cametá-Pa

  • Data: 03/10/2018
  • Mostrar Resumo
  • Trata-se de um trabalho etnográfico sobre as relações entre a Feira Municipal de Cametá/Pará e as práticas alimentares na cidade de Cametá/Pará. Tendo como ponto principal a alimentação, discuto se a Feira influencia o hábito alimentar do cametaense e se, por outro lado, o cametaense que influencia a oferta da feira e que aspectos culturais e de identidade estão presentes nesse processo. Por princípio, é importante que se entenda o funcionamento da Feira e a sua centralidade econômica na região do Baixo Tocantins. Partindo de alguns trabalhos endógenos sobre feira (CAMPELO,2010; LEITÃO, 2010; FERREIRA, 2015; MEDEIROS, 2008; RODRIGUES, 2014; SILVA, 2017), pretendo esclarecer as formas de funcionamento da Feira de Cametá. Em seguida, mapear quais espaços o alimento ocupa e quais são esses alimentos, daí a necessidade de usar o conceito de “Sistema Alimentar” (POULAIN, 2006 e HUBERT, 1991). Nessa compreensão, analiso as diversas falas dos feirantes e fregueses com o intuito de saber que alimentos estão presentes nas refeições diárias e que relações de sociabilidade (SIMMEL, 2005) eles engendram. Em seguida, discuto a identidade a partir da alimentação (MINTZ, 2001; POULAIN,2006; FISCHLER, 2001), seja como símbolo (BOURDIEU, 2011) ou como manifestação de uma coletividade, para por fim entender a comunidade comensal em questão. Nos questionários e observações que serão feitos, pretendo definir uma estrutura da refeição dessa comunidade, para também entender a sua identidade e que ligações ela mantém com os alimentos ofertados na feria. Para tanto, recorro às discussões de Claude Fischler sobre comida e identidade, Pierre Poulain sobre “sistema alimentar” e estrutura da refeição; e Lévi-Strauss sobre a identidade a partir do “triângulo culinário”. Partindo da concepção de que a linguagem transforma o mundo (BENJAMIN,1987) levanto a hipótese de que ela é também elemento de transformação assim como o fogo.

  • JEAN ROBERTO PACHECO PEREIRA
  • AMOR DE PUTA: as representações dos sentidos de amar nas falas das prostitutas de rua da Zona Metropolitana de Belém - Pará

  • Data: 10/09/2018
  • Mostrar Resumo
  • O presente trabalho versa sobre as manifestações e representações do amor, das ideias e práticas amorosas, especialmente a partir de suas expressões entre mulheres prostitutas de rua, mediante a adoção de entrevistas e observações realizadas em espaços públicos e privados, e de pesquisas bibliográficas que referenciam os temas abordados aqui. Para tanto, cinco interlocutoras prostitutas de rua residentes e atuantes na Zona Metropolitana de Belém compuseram o presente estudo. Sob a perspectiva antropológica, o diálogo amor-putas compreende a busca pela tentativa de descaracterizar as impossibilidades impostas pelo pensamento e pelas práticas hegemônicas da relação entre o amor e a puta. Enquanto emoção, o amor aparece no contexto ocidental como um sentimento que expressa a mais profunda incorporação da benevolência, de algo positivo, diante da obrigatoriedade em estar presente na maioria dos sujeitos. Todavia, ao se delimitar sua composição enquanto sentimento de bondade, determinados grupos sociais não se incluem nesta leitura, tal como as prostitutas. É comum o todo social pensar e manifestar sua interpretação para com as putas, permeada de elementos restritos à vida pública destas, em seu corpo público quando localizado na rua – no sentido de “estar prostituindo-se” –, toda carga estigmatizada e os marcadores do “desvio” aparecem. A ideia de exacerbação da sexualidade associada à ideia de falta de agência que se tem sobre estas mulheres compõem a imagem da puta no urbano. A tendência para a desconstrução de uma visão unilateral sobre as putas surge quando se pretende uma leitura mais profunda de suas realidades, e descobre-se que esta realidade está para além de uma imagem na esquina, para além de uma paisagem urbana pública. Nestes termos, a puta também é detentora de um mundo privado, de agência e de amor. Para interpretar a relação da puta com as emoções, vale estender às interações entre amor, corpo, gênero e sexo, interpretados como elementos adjacentes ao comportamento amoroso ocidental. As análises apresentadas compõem uma etnografia entre os dois mundos da puta: o público e o privado. Remonta-se, assim, um devir puta no contexto urbano das ruas, das esquinas, da casa, da intimidade, do amor.

  • SIMONE DE JESUS RIBEIRO CARDOZO DO NASCIMENTO
  • UNIVERSIDADE E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ EM BELÉM

     

  • Data: 31/08/2018
  • Mostrar Resumo
  • Este trabalho analisa a função social da universidade, considerando a extensão como uma área essencial para articular a universidade e sociedade em uma perspectiva emancipatória. Para tanto, a Universidade Federal do Pará (UFPA) uma instituição reconhecida na Região Amazônica foi escolhida como lócus da pesquisa. Avaliamos que tipo de relação a UFPA desenvolve com a sociedade, no município de Belém, no período de 2011 a 2015 por meio da experiência extensionista Escola de Conselhos, com abrangência em todo o estado do Pará, inserida na área temática da educação e na linha de extensão Infância e Adolescência. Verificamos que a Escola de Conselhos fomentou uma participação intersetorial na UFPA e estendeu uma articulação com vários órgãos públicos e movimentos sociais em defesa dos direitos das crianças e adolescentes. A Escola trouxe esses sujeitos sociais relevantes no contexto dos direitos humanos para dentro da Universidade para contribuir com suas ações. Assim, se constitui como uma instância relevante socialmente, pois foi criada para atender a uma demanda legítima da sociedade: a defesa dos direitos de crianças e adolescentes da Amazônia paraense, por meio da formação continuada de conselheiros tutelares e de direitos. Os dados levantados indicam a importância das formações para os conselheiros tutelares e apresentam sugestões para melhorar as ações da Escola. A população atendida pelos conselheiros sugere que eles sejam mais preparados para atendê-la. Assim, consideramos que a Escola, apesar dos limites impostos a ela, tem contribuído significativamente para a formação dos conselheiros tutelares e outros sujeitos da rede de proteção dos direitos de crianças e adolescentes.

  • JOSE MARIA FERREIRA COSTA JUNIOR
  • Vamos levar uma delícia?

    Uma etnografia da circulação do pirarucu salgado na feira da 25 de Setembro em Belém

  • Data: 07/08/2018
  • Mostrar Resumo
  •  

    Este trabalho aborda as relações entre o regime de valor da circulação do pirarucu salgado e as formas de crédito direto estabelecidas entre feirantes e consumidores na feira da 25 de Setembro em Belém/Pa. O objetivo principal é compreender como a venda de determinadas mercadorias a prazo compõem os padrões e critérios que determinam a trocabilidade do pirarucu. Para alcançar este objetivo foi realizada uma experiência de observação participante entre os feirantes do setor de farinha e de mercearias (local da venda de pirarucu salgado naquela feira) durante os meses de fevereiro e junho de 2016. Além de levantamento de informações sobre as feiras e mercados de Belém junto a Secretaria Municipal de Economia, entrevistas de feirantes em outras feiras e observação direta das características dos comércios de pirarucu em todas as feiras e mercados da cidade. Resultando disso tudo uma etnografia da produção do valor das mercadorias na feira onde são descritos os processos classificatórios de pessoas e objetos que estabelecem a distinção como marca da ordenação do universo de mercadorias.

  • VERONIQUE ISABELLE
  • Uma coderiva no mundo sensível do igarapé Jamaci
    e nas múltiplas dimensões das paisagens insulares e de várzea belenenses
    Belém

  • Data: 02/08/2018
  • Mostrar Resumo
  • Numa perspectiva que considera as potências e as agências das águas das paisagens
    insulares e de várzea belenenses, a presente pesquisa propõe um percurso nas suas
    múltiplas dimensões, a partir das experiências estéticas e éticas vivenciadas junto com os
    moradores da ilha de Paquetá e, principalmente do igarapé Jamaci. Através de uma
    abordagem metodológica que visa a experimentar formas de investigar e apresentar tais
    experiências através do uso das artes no trabalho de campo, essa pesquisa busca
    contribuir para o melhor entendimento de questões em torno das formas de morar,
    configurar e perceber tais paisagens pelos seus moradores (INGOLD, 2000). Partindo do
    principio que construímos e somos construídos pelas dinâmicas das paisagens, é possível
    entender tal processo enquanto uma expressão coexistencial que é perceptível na
    arquitetura e nas coisas, nas tarefas cotidianas, nas relações entre os humanos e os não
    humanos, nos corpos, e nas leituras sensíveis dos elementos constitutivos das paisagens
    tais como as marés, as lamas, o cultivo do açaí, a pesca, entre outros. Esse processo
    coexistencial vincula coisas e seres com suas agências múltiplas e sensíveis, cujas
    complexidades merecem tanto o entendimento de seus fenômenos materiais quanto
    imateriais que se manifestam nas narrativas, nas imagens, nos gestos, nas crenças que
    constituem às memórias do e no lugar. Isso implica em uma coderiva dos moradores
    junto com a antropóloga, nas múltiplas dimensões do mundo sensível deles.

  • LORENA TAMYRES TRINDADE DA COSTA
  • Mulheres Nerds em Belém: (Inter)subjetividades e Performances Através de Elementos Imagéticos e Mídias Sociais

     

     

  • Data: 05/07/2018
  • Mostrar Resumo
  •  

     

    Neste trabalho, me proponho a investigar como mulheres nerds articulam gênero, performance e intersubjetividades através de elementos imagéticos e mídias sociais. Partindo do pressuposto de que as mulheres, além das características que abrangem grande parte dos nerds, têm outras ferramentas de afirmação de identidade, que também podem ser ligadas ao feminino, é relevante compreender como se expressam as relações de gênero a partir de performances e representações e mulheres nerds e qual a importância dos elementos imagéticos para a performatização e midiatização das identidades das mulheres nerds? Através da análise de representações e estereótipos de mulheres na cultura nerd, dos processos de pertencimento e exclusão e da construção de performances e da articulação de saberes e práticas, é possível identificar as peculiaridades, subjetividades e relações de poder que estão contidas na afirmação de suas identidades seja nas mídias sociais e blogs, ou na vida cotidiana offline.

  • LEONNE BRUNO DOMINGUES ALVES
  •  

    Relações de parentesco e produção do espaço ribeirinho

    na Amazônia Paraense: uma etnografia no igarapé Acaputeua em Igarapé-Miri

  • Data: 20/06/2018
  • Mostrar Resumo
  • O presente trabalho apresenta uma etnografia das relações de parentesco e da produção do espaço de ribeirinhos do igarapé Acaputeua, no município de Igarapé-Miri, no estado do Pará, tendo a família Pantoja e seus descendentes e agregados como os principais interlocutores deste trabalho. Entendendo ribeirinhos como uma população haliêutica, cujo modo de vida está assentado no padrão rio-casa-floresta, ou seja, tendo a organização social se desenvolvendo dentro desse tripé que representa a dimensão socioestrutural de seu espaço, este trabalho relaciona o parentesco – relação social atribuída ou consanguínea) – elemento da organização social ao espaço imediato, e compreende aquele como responsável pela organização do mesmo. O espaço social imediato, aqui, revelou-se como o sítio ribeirinho que, compreendido na estrutura rio-casa-floresta, tem seu sentido de espaço e lugar produzido pelos movimentos e pausas da espacialização ribeirinha, fazendo do sítio como unidade doméstica um reflexo da espacialidade maior que é ate onde a parentela se estende, e dessa espacialidade maior um reflexo do sítio doméstico. O sítio ribeirinho, portanto, é permeado pelas relações de parentesco que organizam a sua economia interna e externa, como as relações mãe-filhos, ou marido-mulher. Além disso, as relações de parentesco são permeadas pelos papeis sexuais de homem e de mulher. Não obstante, o sítio ribeirinho se caracteriza por uma grande economia – material e simbólica – entre as unidades domésticas que o compõem e são indispensáveis a sua sobrevivência. Assim, conforme as relações e as famílias se alteram, o sítio ribeirinho é também alterado; seu espaço é produzido a partir das relações de parentesco que nele ocorrem, ou podem vir a ocorrer. Tal espaço é, portanto, uma grande rede de parentesco, pois, como se diz no Acaputeua, “aqui todo mundo é parente”.

  • BRUNA FERREIRA PINHEIRO
  •  

     

    INSTRUMENTOS DE GOVERNANÇA PARA OS DIREITOS DOS POVOS
    INDÍGENAS DA AMAZÔNIA: ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO INDÍGENA NA OTCA
    E NA COICA


  • Data: 08/06/2018
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo analisa a busca pela construção de governança para os direitos
    dos Povos Indígenas na Pan-Amazônia, a partir dos documentos elaborados pela
    Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e da Coordinadora de
    las Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazónica (COICA). Nas últimas
    décadas, uma série de instrumentos vem sendo elaborados e firmados entre os países
    para a promoção e defesa dos direitos dos povos indígenas. Todavia, percebe-se uma
    dicotomia entre o discurso das convenções firmadas e as ações práticas de
    participação indígena no interior de cada país, em especial, na região da Pan-
    Amazônia. Com base nos argumentos da teoria Crítica e do enfoque Decolonial e
    seguindo a perspectiva metodológica da análise do discurso, são analisados os
    mecanismos que visam a construção de Governança sobre o tema dos direitos dos
    povos indígenas, considerando as formas de diálogo entre os Estado e os atores
    indígenas para a consolidação dos seus direitos. Mas os documentos mostram ações
    que, por vezes, podem não coincidir com tais propósitos.

  • MARIA SALETE PANTOJA AQUIME
  • A LUTA PELA IGUALDADE DE GÊNERO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS: A CRIAÇÃO DA COOPERATIVA DAS MULHERES COMO ESPAÇO DE LUTA, RESISTÊNCIA E VISIBILIDADE NO MUNICÍPIO DE CAMETÁ
    Belém

  • Data: 28/05/2018
  • Mostrar Resumo
  • A presente dissertação versa sobre a história de luta e resistência das mulheres de Cametá, trazendo para um debate mais amplo a luta pela igualdade nas relações de gênero, dentro dos movimentos sociais, a fim de perceber que são, junto com os homens, peças fundamentais no processo de desenvolvimento social. Durante muito tempo as mulheres eram percebidas nos movimentos sociais como receptoras passivas do desenvolvimento, como a figura de que a maternidade e a criação das crianças são os seus papéis mais importantes na sociedade. As informações que trazemos no bojo desta pesquisa são oriundas das observações in loco, das entrevistas realizadas, inclusive algumas via e-mail, uma vez que as interlocutoras estavam viajando e se dispuseram em nos atender, das informações e análise dos documentos das organizações sociais e da nossa vivência junto ao movimento de mulheres da região do baixo Tocantins. Neste âmbito, as formas de organização das cooperadas, a gestão coletiva da produção, a luta pela igualdade de gênero, bem como as estratégias coletivas para o direcionamento das ações da cooperativa das mulheres estão no foco desta investigação. O trabalho vem mostrar a motivação da organização das mulheres na criação de uma cooperativa formada por 40 associadas, visando ao reconhecimento de que elas, por meio de seus papéis produtivos e reprodutivos, são participantes ativas e proporcionam uma importante contribuição, geralmente não reconhecida no município de Cametá. Poucas se sentiam capazes para discutir em situação de igualdade com os homens as reivindicações travadas e em sua comunidade e no município. Poucas participavam nos espaços de decisão nos sindicatos e cooperativas de produção, assim como estavam ausentes dos projetos de geração de renda fomentados nos movimentos sociais. Isso se reflete na ausência de referência à sua contribuição econômica local, ainda que as mulheres fossem as principais responsáveis pela produtividade básica de suas comunidades. A dissertação vem mostrar, então, o outro lado da história, suas experiências , vivências e lutas em Cametá.

  • ELCIMAR MARIA DE OLIVEIRA LIMA
  • HÁ VINHOS NOVOS EM VELHOS ODRES?
    O movimento dos indignados à luz das teorias dos movimentos sociais
    Belém

  • Data: 25/05/2018
  • Mostrar Resumo
  • Este trabalho teve como objetivo analisar, à luz das teorias dos movimentos sociais, como
    dois movimentos, identificados com o Movimento dos Indignados, construíram os processos
    de enquadramento interpretativos, desenvolveram os repertórios e organizaram suas
    estruturas de mobilização para realizar as ações coletivas em Belém-PA, a partir de junho de
    2013. No período de 2013 a 2016, Belém presenciou a emergência de vários movimentos
    sociais com características plurais, autônomos, horizontais, que nasceram de redes de grupos
    ou coletivos, diferentes, portanto, de movimentos sociais clássicos. As características do
    Movimento dos Indignados levaram os estudiosos a criar uma tipologia nova de movimento
    social capaz de caracterizá-los como “novíssimos movimentos sociais”. A metodologia
    utilizada foi um estudo de caso, para o qual foram escolhidos o Movimento Belém Livre e o
    Ocupa UFPA. Estes movimentos foram selecionados, porque apresentam elementos ligados
    aos “novíssimos movimentos sociais”. Para isso, foram realizadas pesquisas documental e
    bibliográfica, observação direta das manifestações e da ocupação, vinte e cinco entrevistas
    em profundidade e quinze conversas informais com integrantes dos dois movimentos, além
    de análise de vinte entrevistas às televisões locais e sete depoimentos pessoais disponíveis
    no Youtube e no Facebook. Ao final da pesquisa, foi constatado que esses “novíssimos
    movimentos sociais”, apesar de conseguir mobilizar um número expressivo de pessoas para
    as suas ações, foram movimentos que se esgotaram de maneira relativamente rápida.
    Também foi constatado que, em virtude da ausência de lideranças visíveis, se estabeleceram
    disputas pela liderança entre os líderes dos coletivos sociais já existentes e que aderiram ao
    Movimento Belém Livre e ao Ocupa UFPA, mas que já tinham experiência anterior com a
    organização de movimentos sociais. Essas disputas enfraqueceram a coesão inicial e
    dificultaram a realização de novas ações coletivas. A forma de organização horizontal que,
    em princípio, parecia positiva por permitir a ampla participação dos integrantes do
    movimento, na prática, apresentou dificuldades para o desenvolvimento das ações coletivas
    e para os processos de tomada de decisão, que interferiram diretamente no esgotamento do
    movimento após o período no qual realizaram manifestações públicas.

  • NAIARA VIDEIRA DOS SANTOS
  • O DIRETO À CIDADE E A POLÍTICA HABITACIONAL: ANÁLISE DO CONJUNTO HABITACIONAL DE MORADIA POPULAR " RESIDENCIAL MACAPABA, NA CIDADE DE MACAPÁ-AP. 

  • Data: 24/05/2018
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação analisa as condições de planejamento e execução de um conjunto habitacional de moradia popular no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) na perspectiva do direito à cidade, tomando como estudo de caso o “Residencial Macapaba”, localizado em Macapá-Ap, implantado em sua primeira etapa em 2014 e finalizado em sua segunda fase em 2017. Utilizando-se de pesquisa documental, de entrevistas e questionários semiestruturados, objetivou-se analisar as etapas de formulação e implantação do conjunto habitacional e seu projeto de cidade e nessa perspectiva, a inserção dos moradores na malha urbana a partir da mudança para o habitacional. A discussão em torno do direito à moradia e do direito à cidade no campo da política habitacional constitui-se como fundamental para garantir a essas populações alcançar uma qualidade de vida urbana, frente aos desafios do ideal da cidade-mercadoria nas sociedades capitalistas contemporâneas. Dessa forma, identificou-se como os moradores do “Residencial Macapaba” vêm acessando os serviços e equipamentos urbanos de educação, de saúde, de transporte, de segurança e de lazer na nova moradia e também em comparação com a sua residência anterior. Trata-se de moradores, inseridos na Faixa I do PMCMV, com renda à época de implantação até R$1.600,00, em sua maioria provenientes de áreas alagadas e de bairros periféricos da cidade de Macapá, em situações precárias de habitação. Portanto, a importância de que lhes sejam garantidos não apenas o direito à moradia, mas também um conjunto de fatores que os permitam acessar o espaço urbano e seus recursos e dessa forma, possam efetivamente “viver” e usufruir da cidade.

     

  • RILDO FERREIRA DA COSTA
  • TECNOLOGIA, ÉTICA E SOCIABILIDADE NA ESCOLA

    Uma fenomenologia das relações entre professor e aluno em sala de aula na era da tecnologia digital

     

  • Data: 04/05/2018
  • Mostrar Resumo
  • Na presente tese de doutoramento apresentamos como campo temático “tecnologia e processos de sociabilidade na escola”, com objetivo de compreender os processos de sociabilidade nos âmbitos interpessoal e pedagógico construídos em sala de aula, na tentativa de entender as relações na dimensão ética e social, a partir do olhar de professores aos alunos que utilizam celular durante a realização da aula. Metodologicamente, a pesquisa tem um cunho teórico e empírico, cujos dados mobilizados por meio de observação direta não participativa, questionários com perguntas fechadas e entrevistas semiestruturadas, foram analisados por uma abordagem fenomenológico-hermenêutica, sobretudo com base na filosofia de Gabriel Marcel e Martim Buber. Em face das questões levantadas, o estudo nos possibilitou a percepção dos seguintes resultados: as novas tecnologias exercem na vida das pessoas uma influência considerada positiva e otimista em suas relações, sobretudo a instantaneidade das comunicações. Todavia, não se apercebem do cenário de estranheza, isolamento e perda de percepção de si e do outro em que estão caminhando. Na escola, a maioria das pessoas utiliza celular para seus interesses particulares, e muito esporadicamente é utilizado como ferramenta pedagógica, carecendo de metodologias de uso das novas tecnologias no processo ensino-aprendizagem e capacitação docente para sua utilização pedagógica. Em sala de aula, a preocupação docente é pedagógico-racional, voltada para o ensino dos conteúdos disciplinares, enquanto os alunos se “isolam” em seus celulares, alheios ao que está ocorrendo, condicionando os professores a uma prática autoritária e construção de um discurso no qual afirmam que o uso do celular afeta negativamente a autoridade do professor e prejudica a qualidade do trabalho docente. Na dimensão ética, a sala de aula mostra-se como um ambiente de aprisionamento, asfixiando possibilidades éticas inter-humanas entre professores e alunos, visto que a ação educativa não agrega valores humanos, perdendo-se o encantamento humano na educação como um momento de produção de sentido para a vida. Existe uma grave crise de relacionamento e valores nas relações familiares que repercute diretamente nos processos relacionais estabelecidos entre professores e alunos. Em meio à violência, medo e um estado de ‘cegueira ética’, em sala de aula não se perdeu o respeito entre professor-aluno, mas a sua consistência ética sofreu uma redução de sentido, evidenciando entre ambos, dificuldades em viver experiências de verdadeiro encontro inter-humano na ação educativa. Cabe ao educador agregar à racionalidade pedagógica, um fazer docente, baseado no diálogo, na escuta e novas possibilidades construídas na fenomenalidade humana em uma relação humanizada com o saber científico. É pelo sentimento de comunhão, amor, fraternidade e esperança que se torna possível uma verdadeira educação humanizada capaz de promover o autêntico encontro do Ser com o Outro no mundo e a restauração do sentido da vida na dimensão Eu-Tu em sua “verdadeira alteridade, destruindo o círculo da solidão” entre professores e alunos.

     

  • TALITA INGRID DA SILVA
  • CONFLITOS SOCIAIS E PARTILHA DE POLÍTICAS PÚBLICAS: A ATUAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS USUÁRIOS DA RESEX CAETÉ-TAPERAÇU - BRAGANÇA-PA

  • Data: 03/05/2018
  • Mostrar Resumo
  • Os conflitos sociais em territórios ambientalizados no contexto da Amazônia brasileira tem suscitado um importante campo de debate sobre a agência das mobilizações coletivas na gestão das políticas públicas direcionadas as Unidades de Conservação de uso sustentável. A formação das associações-mãe nesses espaços ambientalizados, ganha contornos diferenciados em função de ser posta, por demanda legal, na condição de principal interlocutora do Estado, suscitando questões sociológicas. Esta dissertação analisa a atuação da ASSUREMACATA diante dos conflitos sociais relacionados à partilha das políticas públicas direcionadas à Reversa Extrativista Marinha Caeté Taperaçu, mais especificamente a duas políticas: os créditos derivados do II Programa Nacional da Reformaria Agraria (II PNRA) e o Programa de Apoio à Conservação Ambiental Bolsa Verde (PBV). A ASSUREMACATA coloca-se como ator principal na partilha dessas políticas. O estudo, de base qualitativa, foi realizado na Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu, localizada no município de Bragança, no Estado do Pará.  A pesquisa constituiu-se de entrevistas semiestruturadas com os presidentes e associados da ASSUREMACATA; acompanhamento de reuniões do Conselho Deliberativo (CD) e análise de documentos que amparam a gestão partilhada da Resex, tais como o Plano de Manejo e atas do CD. A Associação é um lócus privilegiado para a observação dos conflitos em torno da partilha das políticas públicas dentro da Resex, refletindo os diversos interesses e as lutas que mobilizam os agentes sociais envolvidos na produção do território. Em função da heterogeneidade dos atores sociais envolvidos foi possível perceber conflitos de diversas dimensões. Quanto aos conflitos na partilha das políticas públicas nas gestões dos presidentes da Associação, constatou-se que o acesso as políticas públicas foi viabilizado por alguns arranjos que se deram, considerando as relações de parentesco e compadrio, estas interações ocorrem frequentemente entre os moradores locais

  • TASSIO DE SOUZA DAMASCENO
  • TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO SOBRE OS DESDOBRAMENTOS DO USO DESSAS FERRAMENTAS POR DOCENTES E DISCENTES DO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS.

  • Data: 30/04/2018
  • Mostrar Resumo
  • Uma das maiores características da contemporaneidade sem dúvidas é a presença cada vez maior de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) em diversos setores da sociedade. Nas últimas décadas, com a difusão da internet e a rapidez das inovações tecnológicas, houve um processo crescente do uso de novas tecnologias por parte dos indivíduos para exercerem diversas atividades do dia a dia. Essas transformações tecnológicas vividas pelos sujeitos na contemporaneidade representam não só a inserção de equipamentos e técnicas, mas também se manifestam na forma como os indivíduos estão vivendo e trabalhando essas transformações em suas relações cotidianas. Desse modo, as TIC estão presentes na nossa vida, no nosso trabalho e na nossa constituição como ser social. No contexto da Sociedade da Informação, a informação e o conhecimento passam a ser elementos estratégicos para o desenvolvimento do modo capitalista de produção. A partir disso, as universidades tornam-se locais estratégicos para o fornecimento de mão-de-obra qualificada para o mercado e de desenvolvimento do conhecimento e de novas tecnologias. Através da pesquisa bibliográfica, da netnografia em mídias socias e da pesquisa de campo, na qual foram utilizadas a observação participante, o roteiro de entrevistas semiestruturadas e o registro em diário de campo, investigamos quais os desdobramentos da inserção de TIC no ambiente acadêmico da Universidade Federal do Pará (UFPA). Em linhas gerais, os resultados alcançados nessa pesquisa ressaltam uma série de processos provenientes da introdução das TIC no ambiente acadêmico, que foram identificados e abordados ao longo deste trabalho. Dessa forma, podemos ressaltar o crescimento da Cibercultura entre os sujeitos investigados, que se manifesta por meio do uso de TIC na intermediação de uma gama variada de atividade como trabalhar, estudar e se comunicar. Além disso, observamos que a modernização da UFPA representa um grande passo para a introdução da instituição na dita Sociedade da Informação e do Conhecimento e contribui diretamente para esse crescimento da cultura digital entre docentes e discentes. Em contrapartida, também foram identificados problemas como os conflitos na relação entre docentes e discentes em sala de aula e nas mídias sociais, a exclusão digital presente no meio acadêmico e as dificuldades da instituição em atender as demandas da comunidade acadêmica por treinamento e qualificação. Em síntese, esse trabalho contribui para enriquecer o panorama de discussões sobre o processo de inserção de TIC no ensino superior, especialmente, no trabalho de docentes e discentes e na relação entre esses indivíduos no ciberespaço e na sala de aula.

  • ROSA IBIAPINA DOS SANTOS
  • AÇÃO LOCAL EM UM AMBIENTE MARINHO AMAZÔNICO: MUNICÍPIO E RESEX DE SÃO JOÃO DA PONTA (PA) – ASPECTOS DE UM MOVIMENTO SOCIOTERRITORIAL INOVADOR

  • Data: 30/04/2018
  • Mostrar Resumo
  • Estudo de caso que apresenta reflexões acerca de um território da Amazônia, de Reserva Extrativista (Resex), no estado do Pará, mediante a Associação dos Usuários da Resex Marinha de São João da Ponta (Mocajuim). A questão central é a compreensão de como são construídas as relações sociais dos movimentos do território de São João da Ponta que o colocam em um processo de emergência territorial pela ação local? Para tanto, apresentou como objetivo demonstrar e interpretar à luz de uma sociologia da ação local as relações sociais que compõem o processo de emergência do território de São João da Ponta enquanto município e Resex. E mais especificamente: 1-Apresentar a Resex em sua constituição como uma referência socioambiental na Amazônia brasileira; 2-Descrever os movimentos (constituição do município e constituição da Resex) do território como dinâmicas centrais em São João da Ponta; 3-Interpretar as relações sociais dos usuários da Resex a partir da Associação Mocajuim descrevendo o território em movimento na Amazônia, território da ação local; e 4-Demonstrar as especificidades do caso de emergência territorial de São João da Ponta em um contexto de ambientalização pelo instrumento Resex que pode se constituir em inovação nas expectativas sociais e políticas menos excludentes na Amazônia. Estruturado em Parte I e II, a metodologia utilizou como: 1-método de pesquisa o estudo de caso único, por revelar as ações locais e a emergência de São João da Ponta; 2-método de abordagem o qualitativo por responder a questões particulares e simbólicas das relações e processos sociais, com o universo de 434 usuários da Resex e amostragem as lideranças comunitárias, associados, conselheiros e atores relatados nos principais movimentos sociohistóricos ou socioterritoriais; 3-método de coleta de dados a triangulação, por convergir entrevistas, documentos e observações diretas; e 4-método de análise de dados o hermenêutico, por utilizar as narrativas das entrevistas para interpretar o território de relações sociais complexas e dinâmicas; complementado pelo método da sociografia, de contexto sociohistórico e científico pela documentação analisada e pelo método da etnografia, de contexto sociocultural pelas observações diretas. Principais conceitos e teorias foram território em movimento, instituição, ação local, inovação social, participação ativa, movimentos sociohistóricos ou socioterritoriais e desenvolvimento local e sustentável. E principais resultados a interpretação do território em movimento na Amazônia e a emergência da Resex de São João da Ponta por ser inovação social contínua mesmo em um modelo institucional e ser elo de ligação entre ação local e desenvolvimento local.

  • THAIS DE ALMEIDA COSTA
  • UMA ANÁLISE SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A COMUNIDADE BOM JESUS I E A OFERTA DE SERVIÇOS DE SAÚDE: PRÁTICAS SOCIOCULTURAIS NO ENTORNO DO IGARAPÉ MATA FOME, BELÉM-PARÁ

  • Data: 27/04/2018
  • Mostrar Resumo
  • Este trabalho apresenta uma análise sobre uma parte da comunidade Bom Jesus I (Belém/PA), ao passo que descreve as práticas populares nos cuidados do corpo e como estas se configuram como estratégias importantes de promoção e de prevenção em saúde. A Comunidade Bom Jesus I, situada entre os bairros da Pratinha II e do Tapanã, em Belém do Pará, passou por um rápido processo de ocupação, especialmente por pessoas oriundas do interior do Pará, de outros Estados e também outros bairros da capital. Em busca de melhores condições de vida e viabilidade econômica, essas pessoas chegaram a Belém buscando áreas periféricas como locais de residência em face da oferta de terrenos desocupados e da especulação imobiliária nas áreas centrais da cidade. A pesquisa teve caráter quali-quantitativo, foi realizada a aplicação de 47 questionários, além da observação participante. Assim, foi possível observar que parte considerável da comunidade não dispõe de serviços urbanos básicos, tais como saneamento, escolas públicas, segurança e serviços de saúde próximos.Quanto aos equipamentos de saúde na área, parte de seus moradores utiliza-se da Unidade Municipal de Saúde (UMS) do Tapanã, na qual são realizados diferentes tipos de exames. Há também a UMS da Pratinha, que representa uma segunda alternativa aos moradores da comunidade, além do uso da Unidade Estratégia Saúde da Família (ESF) da Pratinha I, para a realização de exames mais básicos. Todavia, alguns moradores, por meio de entrevistas, relataram algumas dificuldades em acessá-los.Foram realizadas 8 entrevistas semiestruturadas, com o intuito de verificar os itinerários terapêuticos utilizados pela população local em busca de cuidados de saúde.Observou-se uma grande diversidade de explicações ligadas a conhecimentos tradicionais e sua interface com o modelo biomédico, o que expõe outras práticas, saberes e compreensões, acerca dos cuidados com o corpo, ancorados na memória.

  • ROSEMBERG BATISTA DE ARAUJO
  • Redes na penumbra: um estudo sobre ação pública e empresas, na construção da Hidrelétrica de Belo Monte

  • Data: 25/04/2018
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa analisa como variados grupos econômicos e sociais estabeleceram demandas, constituíram alianças, formaram e mantêm consórcios e redes de empresas para a execução da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo construída no rio Xingu entre os municípios de Altamira e Vitória do Xingu no Estado do Pará, Amazônia Brasileira. Ancorando-se em abordagens teórico-metodológicas sobre ação pública (LASCOUMES e LE GALES, 2012a), território (PORTO-GONÇALVES, 2006; LITTLE, 2002 e TEISSERENC 2010), território ocupado (MAGALHÃES, 2008); e redes (MARQUES, 2000; BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009 e GRANOVETTER, 2009), é elaborado um quadro geral dos atores públicos e privados envolvidos na construção da UHE no contexto do recente ciclo desenvolvimentista no Brasil. Esse quadro baseia-se em análise do desenvolvimento como campo de poder (CABALLERO-ARIAS, 2007; SARDAN, 1995; RIBEIRO, 1992; FOUCAULT, 2008, CASTRO, 2015) e da participação do Estado (MARQUES, 1997; EVANS, 1993; NUNES, 2010) em face dos interesses privados. Esta tese trabalha com a perspectiva do estudo de caso, numa abordagem qualitativa. Foram realizadas entrevistas com atores públicos e pesquisadores envolvidos com o projeto de construção da UHE; analisados documentos do processo de licenciamento ambiental; material jornalístico; relatórios de consultoria; relatórios de auditoria (TCU). Ao longo da pesquisa, houve a recusa sistemática dos principais consórcios de Belo Monte em prestar informações sobre os contratos das obras, serviços e fornecimento de equipamentos. A tese demonstra que os dados sobre as redes de empresas, contratos e valores são ocultados e ainda não foi possível a abertura da caixa preta (LATOUR, 2000), restando na penumbra diversos elementos da ação pública (SIMMEL, 2009). A ingerência dos atores públicos (cúpula da Eletrobrás, MME, Casa Civil do Governo Federal) se deu ao longo de todo o processo de licenciamento ambiental e garantiu o atendimento dos interesses das empresas envolvidas (construtoras, empresas de montagem, da indústria de fornecimento de equipamentos, de cimento e de aço), sendo significativos desse jogo de interesses a constituição do Consórcio Norte Energia e o leilão de concessão. As ações no território ocupado, a partir do PBA (enquanto instrumento da ação pública), foram realizações pontuais e desconectadas, sem uma visão global da cidade e de sua dinâmica com deficiências na articulação com os órgãos públicos municipais e estaduais; e descomprometidas com os prazos estipulados pelo órgão licenciador e com a qualidade técnica das obras concluídas.

  • HELIO FIGUEIREDO DA SERRA NETTO
  • TAL COMO FUNES: Memória, Hipermemória, Tecnologia e Imagem.

  • Data: 13/04/2018
  • Mostrar Resumo
  • Existe algo de antepassado na forma como o Homem se relaciona com a imagem, e ainda que hajam diferentes materialidades, diferentes tecnologias que intermediam essa relação, alguma coisa de essencialmente ancestral permanece. Portanto, seja nas placas de estanho, nos negativos de celulose com gelatina sensível ou nos modernos sensores digitais, as fotografias, uma das grandes expressões da técnica ocidental, desempenham um importante papel nesse relacionamento do Homem com a imagem. Na atualidade, com o desenvolvimento da tecnologia digital, outras espacialidades surgem e reforçam mais ainda o papel dessas imagens em nossa vida, principalmente no que tange os chamados ambientes virtuais, que, cada vez mais, assumem um espaço admirável em nossas relações. Devido à aceitabilidade desta tecnologia e a capacidade avassaladora de produção e proliferação de imagens, acabamos por desenvolver um tipo único relacional, que nos torna, a cada dia, mais dependentes das tecnologias e das intermediações que elas proporcionam. E isso acaba por nos tornar mais dispostos a um tipo de irreflexão única, desencadeada pelo excesso de imagens em que estamos imersos. Desta forma, há de se buscar compreender o estatuto atual da imagem e como se dá o desdobramento das tecnologias digitais em relação a essa tríade essencial: o corpo, a imagem e a memória. Portanto, um desdobramento que nos encaminha para uma relação com a memória extremamente efêmera, na medida em que, abarrotados de imagens, lidamos com um tipo de esquecimento característico de nosso tempo, o esquecimento pelo excesso, derivado do que conceituamos por Hipermemória. Esses são questionamentos centrais desta tese, e que nos permitirão embarcar em uma profunda relação com este elemento essencialmente antropológico, a imagem. Para tal, iremos procurar entender os dois grandes sentidos da imagem, um que nos leva à irreflexão e com isso à violência, e o outro que nos encaminha a uma relação de alteridade, o que nos leva, irremediavelmente, a um tipo de supressão da violência pelo outro, pelo tu. Este trabalho é fruto de uma pesquisa baseada nas chamadas teorias do imaginário e busca traçar uma articulação entre a experiência do tempo, do corpo e das tecnologias, para nos permitir compreender o estatuto contemporâneo da imagem, e como as pessoas lidam com elas em busca de sentido. Esta pesquisa se desenvolveu, em grande parte, na cidade de Belém–Pará, com pequenas incursões em outras cidades do estado. E embora esta tese seja fruto de uma reflexão eminentemente teórica, ela também é um desdobramento de incursões empíricas que nos possibilitou um incremento em nossa interpretação, a partir de um olhar fotográfico sobre certas manifestações culturais, o que nos permitiu construir e lapidar o nosso olhar.

  • THALITA NERI CARDOSO COELHO
  • ENTRE O SONHO E A SOBREVIVÊNCIA: OS SENTIDOS DO TRABALHO PRISIONAL NO CPPB E NO CRF. 

     

     

  • Data: 28/03/2018
  • Mostrar Resumo
  • Este estudo analisa os sentidos do trabalho desenvolvido pelas internas custodiadas no Centro de Reeducação Feminino (CRF) e pelos internos custodiados no Centro de Progressão Penitenciária de Belém (CPPB), localizados na Região Metropolitana de Belém, no Estado do Pará, no ano de 2017. Desenvolve-se a partir de duas linhas centrais de reflexão: a primeira está centrada na reflexão acerca da relação entre o trabalho previsto na Lei Nº 7210/1984 e a realidade do sistema penitenciário paraense buscando compreender em que medida este tipo de trabalho cumpre seu dever social e sua finalidade educativa e produtiva; a segunda linha buscará refletir sobre os sentidos que esse tipo de trabalho adquire para as internas e para os internos inseridos nas atividades laborativas. Essas duas linhas de reflexão possibilitam compreender o tipo e os sentido do trabalho ofertado pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (SUSIPE) aos sujeitos que vivenciam o cárcere no estado do Pará.

     

     

  • SAMUEL MARQUES CAMPOS
  •  

     

    O SACRIFÍCIO ENCANTADO:
    Percepções, ritualidades e identidade na Igreja Universal do Reino de Deus



  • Data: 27/03/2018
  • Mostrar Resumo
  • Esse é um estudo que objetiva interpretar as percepções de fieis da Igreja Universal do Reino de Deus em Belém/PA acerca das contribuições financeiras para a obtenção da saúde em rituais xamânicos de cura. Esta tese utiliza como metodologia, entrevistas com interlocutores fieis, faz uma comparação das suas perspectivas com observações dos cultos de cura do templo central desta igreja, aliado a pesquisa bibliográfica. Foi feito um estudo das origens, da cosmologia e das práticas da Igreja Universal no Brasil e em Belém/PA. Em seguida, foi realizada uma análise das concepções cosmológicas da IURD sobre a doença e a obtenção da cura. Posteriormente, fez-se reflexão sobre questões identitárias dentro do sistema terapêutico iurdiano, entendido como um tipo de xamanismo. Por fim, ancorado no paradigma de dádiva e reciprocidade, foi elaborada uma interpretação do sistema sacrificial das contribuições financeiras para a obtenção do favor divino. Constatou-se que, nas concepções de saúde e de cura da IURD, a doença é entendida como sendo provocada por espíritos maus. Por isso, existe uma cosmologia que considera a coexistência de seres humanos e de seres espirituais, num tipo de perspectivismo. Nesse contexto, as contribuições financeiras são entendidas como uma relação do fiel com o sagrado através de uma forma de magia positiva, compreendendo-se que a IURD pode ser classificada como pertencente a um pós-pentecostalismo de caráter xamânico.

  • ROBERTO EDUARDO BASTOS LISBOA
  • A REESTRUTURAÇÃO DAS RELAÇÕES DE PODER E O REDESENHO DO TERRITÓRIO DA VILA DE ALGODOAL (MARACANÃ-PA) APÓS A CRIAÇÃO D APA-ALGODOAL/MAIANDEUA EM 1990.

  • Data: 22/03/2018
  • Mostrar Resumo
  • Essa dissertação analisa como os diferentes atores sociais da Vila de Algodoal (Maracanã-PA), lutam por melhores posicionamentos e vantagens no campo socioambiental da Área de Proteção Ambiental de Algodoal-Maiandeua, agindo por meio de relações de poder na arena decisória constituída pelo Conselho Gestor. Neste cenário, a Vila de Algodoal, apresenta uma relevância histórica pelo fato de ser um espaço social onde várias alterações aconteceram, desde a formação do seu primeiro núcleo populacional, uma vila de pescadores, até se tornar um balneário turístico do litoral paraense. Nessa transição, algumas mudanças na organização social ocorreram com a chegada da atividade turística. O aparecimento dessa nova atividade econômica, atraiu a vinda de pessoas de fora com a intenção de investir no ramo hoteleiro e do comércio. Ao mesmo tempo, o aumento da presença de turistas apreciadores da natureza do lugar contribuiu para que a criação de um grupo ambiental influenciasse na criação pelo governo do Estado do Pará, da APA Algodoal-Maiandeua no ano de 1990, e mais tarde, com o passar dos anos, por meio reivindicações da Sociedade Civil Organizada esta Unidade é implantada com a criação do seu Conselho Gestor no ano de 2006. A abordagem utilizada a partir das orientações teóricas de Pierre Bourdieu possibilitou identificar os atores nesse campo socioambiental que revela a luta pelo poder entre as diversas e distintas situações ao longo dos anos após criação da APA. Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram realizados por meio de pesquisas bibliográficas, documentais e pesquisa de campo durante os anos de 2015 e 2016.  O estudo revelou a evidência das lutas por menos proibições e melhores condições de vida.

     

                  

  • EVANILDO MORAES ESTUMANO
  • Tradições de Conhecimento na Amazônia:
    uma etnografia sobre o senso comum na pesca artesanal

  • Data: 08/03/2018
  • Mostrar Resumo
  • Resumo

    Examino o senso comum na pesca do mapará (Hypophthalmus Marginatus), tendo como base teórica os estudos de Clifford Geertz, Marshal Sahlins e Pierre Bourdieu voltados à interpretação da vida prática. Descrevo, a partir de pesquisa etnográfica, como são interpretados os conhecimentos e práticas decorrentes da atividade da pesca na vida cotidiana de uma comunidade de pescadores artesanais no Estado do Pará (Brasil), identificando tensões, interesses e perspectivas dos pescadores no processo de produção, reprodução e transmissão dos saberes sociais. Destaco, a articulação entre as categorias senso comum como sistema cultural (Geertz), razão cultural (Sahlins) e senso prático (Bourdieu) que expõem as ações ordinárias funcionando a partir de estruturas de significados por meios das quais pode-se interpretar as mudanças e permanências na ordem cultural. O pescado é, neste quadro, símbolo ambivalente, simbolizando ao mesmo tempo o trabalho pesado; o trabalhador sem formação escolar; a pobreza; a ganância; a luta política; a consciência ambiental; o futuro econômico. Estes valores culturais emergem nos resultados de cada pescaria sinalizando que “tornar-se trabalhador” não é sinônimo de “tornar-se pescador” ainda que o primeiro processo englobe o segundo. Sugiro, portanto, que por meio desta atividade – considerando os conhecimentos práticos decorrentes da cosmovisão do grupo – se pode acessar um dos principais operadores de significação da vida comunitária nas presentes condições histórico-sociais, que é a maneira pela qual concebem a realização moral de um homem, pai de família, por meio do trabalho.

2017
Descrição
  • LUCÉLIA LEITE FERREIRA
  • Entre o rio e o asfalto: o cotidiano de jovens da Ilha de Cotijuba, Belém-Pará

  • Data: 01/12/2017
  • Mostrar Resumo
  • Os jovens que moram na ilha de Cotijuba- Belém- Pará tem seus contextos de vida demarcados não apenas pela especificidade do local de sua moradia, mas, também, por um conjunto de fatores que  os levam a engendrar diversas alternativas para a realização de seus projetos de vida. Assim, há aqueles que optaram por ter seu cotidiano marcado pelo trânsito entre a ilha e a cidade de Belém, um “ir e vir” constante que os levam a imergir em vivências de espaços marcados por modos de vida diferentes. Para esta juventude em trânsito, como os chamo, o “ir e vir” é uma maneira de não sair do '‘seu lugar”, ou seja, uma forma de permanecer próximo a família sem deixar de buscar novas perspectivas de vida. A manutenção dessa estratégia é reforçada pelo sentimento de pertença local e encontra “suporte” nas redes de parentesco e sociabilidade, que funcionam como “base de apoio” para a realização dos projetos de vida.

     

  • MARCELO DO VALE OLIVEIRA
  • PLANO DE MANEJO DA RESEX MARINHA CAETÉ-TAPERAÇU:
    COPRODUÇÃO DE UMA AÇÃO PÚBLICA EM UM TERRITÓRIO EM RECOMPOSIÇÃO

  • Data: 27/11/2017
  • Mostrar Resumo
  •  

     O objeto deste trabalho é a coprodução de um Plano de Manejo, um dos dispositivos envolvidos na implementação de um instrumento de política pública ambiental como a Resex. Neste caso trata-se da Caeté-Taperaçu, situada no município de Bragança, Estado do Pará. Essa área tem enfrentado a pressão da pesca em escala industrial praticada por exploradores externos, e do extrativismo dos recursos do mangue ampliado pela construção de uma estrada. A participação nesse contexto se impõe e marca a elaboração de um dispositivo de gestão, o Plano de Manejo, aprovado em 2012, por atores - técnicos do Icmbio e de instituições de pesquisa, representantes de comunidades da Resex, associação, e gestores municipais. Nesse sentido, o objetivo geral é de compreender, a partir de uma sociologia da Ação Pública, a coprodução do Plano de Manejo da Resex Caeté-Taperaçu, ressaltando, em um contexto de participação, as relações entre os atores envolvidos, seus conhecimentos (tradicionais e científicos) e práticas, interesses, conflitos e acordos. A questão central é como são produzidas as normas (Plano de Manejo) e como nelas são integrados os conhecimentos científicos e os conhecimentos locais? A partir de uma abordagem da Sociologia da Ação Pública (LASCOUMES e LE GALÈS, 2012; TEISSERENC e TEISSERENC, 2014) vinculamos uma nova perspectiva de olhar interdisciplinar sobre as políticas públicas, onde o Estado tem sua centralidade contestada, com maior participação de diferentes atores nas discussões com implementações e gerenciamentos, a partir de novas dinâmicas e mobilizações locais. A base de dados analisados foi constituída a partir de informações documentais e entrevistas a 20 pessoas envolvidas na coprodução do Plano de Manejo da Reserva. E o resultado principal evidencia que em um processo tão rico em aprendizados e em conquistas socioambientais ainda não se conseguiu romper com a hegemonia de interesses outros vinculados à uma racionalidade que não ambiental e nem das populações locais. Mas, não se pode deixar de reconhecer a capacidade de resistir, de inventar, de aprender, de segmentos sociais como as populações tradicionais, em parceria com outros segmentos de atores (ONG, Instituições de ensino e pesquisa, organismos do Estado), vem conseguindo se impor, enfrentar forças políticas e econômicas que as negam, via adoção das referências da conservação ambiental.

  • ALEXANDRE DE BRITO ALVES
  • PA-458: TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E DINÂMICA SOCIOECONÔMICA NA ÁREA COSTEIRA DE BRAGANÇA-PA (BACURITEUA, 1974-2016)

  • Data: 23/08/2017
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação tem como foco central descrever e analisar a dinâmica socioeconômica e territorial na área costeira de Bragança a partir dos usos da Estrada Bragança-Ajuruteua (PA 458) pelos trabalhadores locais. Construída entre as décadas de 1970 e 80 a fim de ligar a cidade de Bragança à praia de Ajuruteua, a rodovia impactou nas práticas econômicas e sociais de atores que vivem na área costeira de Bragança. Observei como as mudanças implantadas no território por políticos e empresários sob o discurso ideológico do desenvolvimento social e econômico, por meio da atividade do turismo, produziram modificações nas dinâmicas cotidianas de grupos sociais que dependiam e ainda dependem dos recursos do ecossistema para sua sobrevivência. Por meio de observação direta, entrevistas semiestruturadas e de análise das narrativas de idosos constatei que os usos da rodovia influenciaram novas dinâmicas no comércio do peixe e do caranguejo a partir da década de 1980, tais como: a) ampliação das rotas de transportes da produção local; b) maior integração e circulação dos recursos entre o meio rural e o urbano; c) aumento da mercantilização dos recursos naturais. Além de influenciar a migração de novos atores sociais que se apropriaram e agenciaram lugares antes inexplorados pelo trabalho humano. Porquanto, os esforços deste estudo consistiram em identificar como a estrada utilizada como meio de circulação e de escoamento da produção mudou as práticas de trabalhos dos moradores locais, focalizando a observação nas apropriações da espacialidade e no manejo dos recursos naturais em locais de influência da PA-458.

  • CARLA CILENE SIQUEIRA MOREIRA
  • ENTRE A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL E A TRANSFERÊNCIA DE RENDA: O
    PROGRAMA BOLSA VERDE EM UMA RESEX MARINHA NA AMAZÔNIA

  • Data: 17/08/2017
  • Mostrar Resumo
  •  

    No estado do Pará existem diversas Unidades de Conservação (UC) de proteção
    Integral e uso sustentável que foram criadas, sobretudo, após os anos 2000. É o
    caso da Unidade de Conservação onde esta pesquisa se insere, a Reserva
    Extrativista São João da Ponta, localizada na região denominada de Salgado
    Paraense, no município de São João da Ponta. Para o entendimento das questões
    socioambientais que se desenvolvem localmente é relevante considerar o contexto
    histórico e político de criação dessas unidades, paralelo aos interesses de proteção
    a determinados ecossistemas e biomas, gestados no âmbito dos acordos
    internacionais que elaboraram instrumentos institucionais visando reunir a
    erradicação da pobreza e a conservação ambiental. Nesse âmbito é que são
    elaboradas no Brasil políticas que pretendem atender as populações pobres rurais.
    Destaca-se aqui o Programa de Apoio à Conservação Ambiental Bolsa Verde,
    integrante do Plano Brasil Sem Miséria, lançado em 2011 pelo Governo Federal. O
    objetivo do trabalho foi investigar a percepção dos sujeitos de direitos, os
    “beneficiários”, sobre a implantação dessa política socioambiental no território da
    Resex de São João da Ponta. Analisamos as possíveis mudanças na relação com o
    uso dos recursos naturais e conservação ambiental, face aos objetivos e às
    condições impostas pela política do Programa Bolsa Verde aos agentes sociais da
    Resex. Para alcançar tal meta foi realizado estudo de caso, com os procedimentos
    de: entrevistas semiestruturadas com (15) usuários (as) nas comunidades da
    Reserva e outras (2) com o gestor da Unidade e o presidente da Associação;
    levantamento e análise de dados primários como a documentação da Associação e
    Conselho, análise e sistematização de dados nos sites institucionais e o
    levantamento e atualização da bibliografia subsidiou a pesquisa: A agência desses
    atores sociais é discutida face ao objetivo de promoção da cidadania enquanto
    empoderamento político e financeiro. Tensões e conflitos são observados na
    oposição ao caráter normativo do PBV que por vezes, se opõe as demandas por
    direitos sociais dos agentes em tela. O PBV apresenta grande potencial para a
    promoção do bem estar e melhoria na qualidade de vida das populações rurais e a
    conservação do ecossistema da Resex. Porém, enquanto política pública com
    condicionalidades socioambientais, para alcançar a efetividade e a sustentabilidade
    social, deve incluir de maneira mais incisiva as populações locais, a fim de promover
    uma repartição justa e equitativa dos benefícios da gestão dos recursos naturais, ou
    seja, dos resultados decorrentes do atendimento as regras estabelecidas nos
    instrumentos de gestão.

  • JORGE AUGUSTO SANTOS DAS MERCES
  • MEMÓRIAS DA PROMESSA E DO FIM DO MUNDO: EXPERIÊNCIA VIVIDA DO DESLOCAMENTO COMPULSÓRIO EM TUCURUÍ

  • Data: 13/07/2017
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa com deslocados compulsoriamente em função da Usina Hidrelétrica de Tucuruí tem como objetivo compreender a experiência vivida pelo deslocamento compulsório na construção de temporalidades informadas pela memória e veiculadas em narrativas de testemunho. Realizei, como procedimento metodológico, uma etnografia com o intuito de compreender os significados atribuídos por meus interlocutores aos mundos referidos por eles como velho e novo Breu. O Breu velho é aquele lugar que foi para o fundo do lago com a implantação da hidrelétrica supracitada, enquanto o novo Breu (ou Breu Branco ou Novo Breu Branco) refere-se ao espaço onde foram lançados com a ocorrência do deslocamento compulsório em suas vidas. A construção simbólica dos mundos é marcada pela fronteira que existe entre um antes e um depois do evento que se manifesta inclusive nos nomes dados aos lugares que ganham reciprocamente significado na vida dessas pessoas. Enquanto o Breu velho é apontado como aquilo que foi perdido com o enchimento do lago, seja atividades econômicas, relações de ser-com-os-outros reconhecidamente próximos, valores éticos ou mesmo a noção de liberdade; o novo Breu é o espaço que abriria possibilidades para a melhoria de vida desde que, na perspectiva dos deslocados compulsoriamente, cumpridas as promessas da Eletronorte. Como desde o início essa promessa não se efetivou, a sensação de injustiça e o sentimento de não pertencimento ao novo espaço se articulam na construção de uma interpretação que ressalta o sentido apocalíptico de que ―tudo foi para o fundo‖ por causa de uma promessa não cumprida. O ―tudo‖ que preenche o mundo que se perdeu com este evento é elaborado de forma distinta por cada interlocutor: nesta pesquisa trabalhei com quatro interlocutores com veiculação de suas perspectivas através da minha atuação como personagem-narrador e editor deste texto. O exercício de escuta dos relatos não se limitou a essas pessoas, mas teve a partir deles significados que preenchem de forma heterogênea o mundo que se perdeu no fundo do lago da usina em foco. A partir do que ouvi dessas pessoas estando lá, pude concluir que a fenomenologia da memória não se transforma, neste caso, em uma hermenêutica do esquecimento pelo jogo sempre inconcluso do perdão em uma situação na qual a ruptura da estrutura de ser-no-mundo aconteceu tendo como justificativa promessas que, por mais que às vezes quase aconteçam, nunca chegam a se efetivar. Sugiro que enquanto se mantiver este jogo do quase acontecer não haverá, por parte dos deslocados, perdão e, como consequência, a possibilidade de se reatar o sentimento de pertencimento ao espaço no qual involuntariamente foram lançados com a construção desta hidrelétrica também se mantém no quase acontecer. Assim, tiradas de um mundo pelo seu fim, essas pessoas não podem construir outro onde estão, pois o presente em que vivem até agora existe assombrado pela experiência apocalíptica da ruptura do caráter existencial de ser-no-mundo, impedido de se reconfigurar no novo espaço pela quase efetivação da promessa que não culmina na justiça que anseiam estes condenados ao deslocamento compulsório.

  • ROGERIO DA COSTA SOUSA
  • RELAÇÕES SOCIAIS E SABER-FAZER NA PESCA DE CAMARÃO NA COMUNIDADE MARI-MARI, MOSQUEIRO (BELÉM/PA).

  • Data: 12/07/2017
  • Mostrar Resumo
  • O saber-fazer das populações amazônicas aliam, cotidianamente, produção econômica, modos de vida tradicionais e práticas culturais, em correlação direta com a natureza. Na comunidade Castanhal do Mari-Mari, situada na Ilha de Mosqueiro, distrito de Belém/PA, a pesca do camarão é uma atividade central para a provisão de renda às famílias locais, devido ao seu potencial comercial, influenciando a dinâmica da vida cotidiana dos pescadores. Da mesma forma, é um veículo potencializador dos laços de sociabilidade e da atualização de um saber-fazer local que, por meio da etnografia – incluindo pesquisa bibliográfica, entrevistas semi-direcionadas e observação participante –, procuramos registrar e, consequentemente, compreender. No contato direto com seis pescadores, e especialmente acompanhado suas saídas para pesca e despesca do crustáceo, conhecemos locais, instrumentos, produtos e circuitos feitos pelos pescadores e pelo pescado, constatando a coexistência de elementos tradicionais e inovações absorvidas a partir do contato com outras realidades pesqueiras. Constatamos, assim, que a pesca de camarão em Mari-Mari ocorre de forma artesanal, mas tem passado por transformações que são vivenciadas, também, no saber-fazer local, repercutindo nas maneiras de interpretação da realidade. Verificamos, por fim, que essa atividade reúne uma gama de saberes empíricos apreendidos e retransmitidos geracionalmente, mas vem enfrentado empecilhos à sua continuidade, devido ao fato de as novas gerações estarem, cada vez mais, buscando outros meios de subsistência, inclusive se ausentando da vida cotidiana na comunidade para viverem no centro urbano.
    Palavras-chave: Pesca de camarão. Saber-fazer. Comunidade de Mari-Mari, Mosqueiro
    (Belém/PA).

  • AMADEU LIMA DE DEUS
  • “SOMOS VETERANAS!”:
    As experiências do tempo vivido a partir das narrativas e das memórias de mulheres travestis e transexuais

  • Data: 12/06/2017
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação tem por objetivo mostrar a autopercepção das experiências do envelhecimento em corpos de mulheres travestis e transexuais, a fim de trazer à tona narrativas que expressam as vivências ao longo do tempo vivido, e que esbarram nos projetos pessoais das interlocutoras da pesquisa. Sendo assim, as narrativas memoriais contam parte das histórias dessas mulheres, que configuram parte da paisagem citadina de Belém, mesmo não limitando suas experiências apenas a esta localidade. Busco discutir questões relacionadas aos padrões de gênero e transfeminilidades, apontando, assim, as diferenças existentes entre as constituições identitárias de um devir trans na cidade. Logo, as narrativas são os caminhos para o melhor entendimento das particularidades existentes nessa trama que envolve as várias instituições sociais: família, Estado, escola, entre outras. O norte desse texto etnográfico, para além das trajetórias, também envolve as variadas noções sobre o corpo trans envelhescente, logo, as particularidades aparecem nas vivências singulares de cada uma das cinco interlocutoras que fizeram parte dessa pesquisa. As ―barrocas‖ dos dias atuais foram as ―bonequinhas‖ de outrora e afirmam: ‗―velhas não‖, somos ―veteranas‖‘.

  • JOYCE MEDEIROS DE MELO
  • SÍMBOLOS DE PAZ EM MEIO AO CONFRONTO ARMADO: MAHATMA GANDHI E O VALOR DA NÃO-VIOLÊNCIA

  • Data: 08/06/2017
  • Mostrar Resumo
  • A presente pesquisa procura compreender em que medida o imaginário simbólico foi utilizado para a comunicação do valor da não-violência durante a liderança política de Mahatma Gandhi na Índia. Para tanto, parte-se uma base de estudo hermenêutica que pretende a aproximação do contexto social e histórico indiano e da conjuntura política encontrada durante o processo de independência na Índia, bem como da relação que Gandhi mantinha com a não-violência a ponto de torná-la um valor norteador de ações privadas e públicas durante sua vivência e sua liderança política. Sendo assim, são analisados na pesquisa os sentidos atribuídos por Gandhi a ahimsa (não-violência) e a satyagraha (busca pela Verdade), assim como as principais influências e críticas feitas à doutrina não-violenta. Finalmente, são analisados os principais símbolos apropriados por Gandhi durante a luta pacífica tendo em vista que eles foram a base para as campanhas de desobediência civil indiana e a formaram toda a estratégia de educação e mobilização pacífica local. A pesquisa mostra ainda que tanto os símbolos utilizados por Gandhi quanto a sua visão a respeito da não-violência estiveram pautados na relação com o divino e apontavam para a realização de uma caminhada espiritual necessária. São analisados neste trabalho principalmente a roca, a Marcha do Sal, os jejuns e o testemunho de vida de Mahatma Gandhi.

  • DANNA RISSIA SILVA DA SILVA
  • REPRODUÇÃO DO CAMPESINATO: UMA ABORDAGEM INTERGERACIONAL DE UM ESTUDO DE CASO NA ÁREA DE ASSENTAMENTO EM CASTANHAL/PA

  • Data: 31/05/2017
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação analisa as estratégias de reprodução social ao longo de três gerações de um mesmo grupo familiar moradores do Assentamento Cupiúba, localizado no município de Castanhal, no estado do Pará. O objetivo do estudo foi analisar a partir de uma abordagem intergeracional, as condições de reprodução camponesa num contexto de assentamento rural sob influências urbanas. O estudo foi feito através de leituras bibliográficas à compreensão das categorias de assentamento rural e campesinato, no contexto brasileiro e especificamente, amazônico, a realização do trabalho de campo com entrevistas abertas no período de 2014, 2016 e 2017, com a matriarca da família, uma das moradoras mais antigas do assentamento Cupiúba, seus filhos e com seus netos, e entrevistas com representantes da EMATER, INCRA e SEDAP. Os principais resultados do estudo evidenciaram que os mais velhos na condição de aposentados rurais garantem a produtividade da terra, enquanto os filhos e netos se revezam em atividades agrícolas e não agrícolas. Os órgãos governamentais, que visam um desenvolvimento voltado para o mercado, não conseguem atuar de forma efetiva no assentamento, mas auxiliam na produtividade do lote de “Dona” Oscarina. Foi possível perceber a maior oportunidade de escolarização e profissionalização da terceira geração, incentivada pelos pais, o que não é o motivo da migração permanente do filho, mas uma estratégia à reprodução social e a maior produtividade. As três gerações declararam que gostam de morar na localidade e se propõem a desenvolver o loteamento com maquinários e até mesmo contratação de maiores funcionários para aumentar a produtividade, mas como a renda dessas famílias é baixa, a alternativa encontrada por eles, é pensada numa perspectiva em longo prazo, com uma produção de árvores permanentes (fruticultura), que possibilita a maior pluriatividade no lote.

  • SILVIA LILIA SILVA SOUSA
  • “MEMÓRIAS DAS ESQUINAS: AS TRAJETÓRIAS DE PROSTITUTAS NA BATALHA PELO BAIRRO DA CAMPINA, BELÉM-PA.”

  • Data: 29/05/2017
  • Mostrar Resumo
  • No presente trabalho volto meu olhar à prostituição no contexto urbano belenense, especificamente ao bairro da Campina, área central da cidade de Belém/PA, onde predominou entre os séculos XIX e XX o centro da boemia e o principal ponto de prostituição da capital. Neste bairro foi construída no ano de 1921 a famosa zona do meretrício, também conhecida como “quadrilátero do amor”, que permaneceu fechada na década de 1970 pelo governo militar. Partindo dos estudos de antropologia urbana em interlocução com os estudos de gênero, me proponho na presente dissertação compreender as relações que as mulheres prostitutas mantêm com o bairro estudado, levando em consideração suas trajetórias, memórias e lutas. Sendo assim, percebo que por entre as esquinas, boates e pensões emergem histórias que povoam as memórias destas mulheres, narrativas que permitem refletir sobre diferentes interpretações quanto à cidade, portanto, referem-se as outras formas de exercer a sociabilidade e de experienciar a urbe.

  • DAYVISON CARLOS COSTA DOS SANTOS
  • Os Intelectuais das Ciências Humanas e a Religiosidade: secularização, religiosidade e intelectuais das Humanidades na Amazônia

  • Data: 15/05/2017
  • Mostrar Resumo
  • O presente trabalho estuda o modo pelo qual ocorrem as relações entre religiosidade e a condição de intelectual das Ciências Humanas na Amazônia. Neste intuito, fazemos, primeiramente, por meio de informações históricas e estatísticas, a desconstrução duma ideia do senso comum, sob a qual pensa-se que o conhecimento científico-humano seria causa quase implacável de ateísmo ou agnosticismo para aqueles que dele tomam parte. Após isso, dialogando com autores como Weber, Simmel e Eliade, detemo-nos numa reflexão histórica e teórica acerca das relações entre fé e razão no ocidente, estabelecendo ao fim uma tipologia analítica dessas relações para suas expressões sociológicas. Em seguida, corroborados pelos pensamentos de autores como Antônio Flávio Pierucci e Peter Berger, elucidamos a situação moderna da religião, aprofundando-nos nas especificidades do processo de secularização pelo qual passa a sociedade ocidental e também examinando como ele se relaciona com o grupo intelectual das Ciências Humanas. De igual modo, desvelamos aspectos desse processo de secularização presentes na história da sociedade amazônica, especialmente nos âmbitos político, educacional e científico-tecnológico. Ao final, operamos a análise científico-social de entrevistas feitas com intelectuais das Humanidades da Amazônia a respeito de suas relações com a religiosidade, do ponto de vista pessoal.

  • CYNTHIA GIOVANA CARDENAS PALACIOS
  • A DOENÇA DO PETRÓLEO. EXTRAÇÃO PETROLEIRA E OS ACHUAR DO RIO CORRIENTES NA AMAZÔNIA PERUANA

  • Data: 11/05/2017
  • Mostrar Resumo
  • No norte da Amazônia peruana, perto da fronteira com o Equador, os Achuar do rio
    Corrientes convivem a mais de quarenta anos com as empresas petroleiras, desde que o
    Estado promoveu uma política de concessão e exploração de hidrocarbonetos em toda a
    Amazônia. Esta dissertação aborda as ressignificações e/ou transformações
    experimentadas pelos Achuar no contato com as atividades petroleiras, que unicamente
    trouxeram morte, destruição, contaminação e doença. Tentando contribuir com os debates
    sobre o território indígena, como uma categoria em construção, como uma tradução, a
    partir da qual os Achuar falam de como percebem o mundo, da história do contato com
    os outros. Considerando que as formas de se relacionar com seu entorno dialogam e se
    confrontam com as formas de relacionar-se com o entorno das empresas petroleiras e, em
    base a esta realidade, constroem na pratica, no sentir e no viver o seu conceito de
    território.

  • THAINA GUEDELHA NUNES
  • Viver às margens do rio: identidade e pertença na Ilha do Combu/PA

  • Data: 28/04/2017
  • Mostrar Resumo
  • Viver às margens do rio: identidade e pertença na Ilha do Combu/PA

  • JUDIL VIRGILIO MARRUPE
  • TRÁFICO E PROSTITUIÇÃO: UM ESTUDO SOBRE PERCEPÇÕES DE POLICIAIS
    EM MOÇAMBIQUE

  • Data: 20/04/2017
  • Mostrar Resumo
  • Uma pesquisa interessante que aproxima as abordagens acima indicadas e relacionadas
    àrealidade africana pode ser encontrada a partir de uma análise contextual da África que tenha
    em conta experiências coloniais vivenciadas na África, principalmente quando se procura
    compreender, como o estabelecimento de relações políticas entre países da África do Norte,
    Oriental, Subsaariana e alguns países da Europa incentiva o desenvolvimento do Tráfico de
    Seres Humanos, tal como foi estudado por Carling (2007), Munro (2006) e Corrin (2005).

  • FLAVIO ALVES DOS REIS NETO
  • A JUSTIÇA FEDERAL NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO: O CASO DO ESTADO DO PARÁ.

  • Data: 11/04/2017
  • Mostrar Resumo
  • Analisar como o sistema Judicário Brasileiro, vem agindo.

  • MARIA DA PAZ CORREA SAAVEDRA
  • O “ir” para o assalariamento na agroindústria do dendê e o “voltar” para a comunidade quilombola: o caso de Santo Antônio em Concórdia do Pará

  • Data: 27/03/2017
  • Mostrar Resumo
  • O desenvolvimento acelerado do capitalismo por meio das indústrias de produção de óleo de palma na Amazônia implica não só a transformação do meio natural, como também sua expansão possibilita a exploração dos moradores de comunidades quilombolas que com sua força-de-trabalho, criaram um novo elemento até então desconhecido para eles: o assalariado rural. Com este trabalho busco visualizar estas situações. A pesquisa que resultou nesta dissertação foi realizada na comunidade quilombola Santo Antonio localizada no município de Concordia do Pará, no Nordeste paraense que tem, como outras comunidades na Amazônia, a característica de estar localizada nas adjacências dos espaços de cultivo de dendê (Elaeis guineenses), e fornecer mão-de-obra assalariada para a empresa Biopalma, responsável pela produção de óleo de palma. O trabalho de campo revelou que o processo de ir trabalhar como assalariado na grande plantação de dendê desencadeou uma série de transformações negativas na vida dos quilombolas assalariados, fazendo-os retornar às suas atividades anteriores, entre as quais, a agricultura familiar. Em certa medida, este trabalho pretende contribuir para se pensar além do imediato, da financeirização do meio ambiente, mostrando que é possível romper com o modelo desenvolvimentista imposto pela monocultura do dendê no mundo rural amazônico.

  • PAULO SERGIO LIMA DA SILVA
  • SOBRE A VITALIDADE DE DUAS ASSOCIAÇÕES COMUNITÁRIAS DE BAIRRO: RELAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E CAPITAIS EM JOGO, ICOARACI/BELÉM-PA”

  • Data: 16/03/2017
  • Mostrar Resumo
  • SOBRE A VITALIDADE DE DUAS ASSOCIAÇÕES COMUNITÁRIAS DE BAIRRO: RELAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E CAPITAIS EM JOGO, ICOARACI/BELÉM-PA”

  • TADEU LOPES MACHADO
  • NA CIDADE VENDO A FARINHA E DE LÁ TRAGO MERCADORIA E DINHEIRO PARA A ALDEIA: REDES DE SOCIABILIDADES E INTERCÂMBIO DE BENS DOS INDÍGENAS PALIKUR NA CIDADE DE OIAPOQUE - AP.

     

  • Data: 10/02/2017
  • Mostrar Resumo
  • Os Palikur, povo indígena que habita a fronteira Brasil-Guiana Francesa na região de Oiapoque, estão em constante interação com outros povos indígenas e não-indígenas daquela região. Historicamente, no período colonial, aproximaram-se dos franceses e com eles mantiveram intenso contato de troca, venda, intercâmbio de bens, entre outras atividades. No princípio do século XX foi dado início ao processo de interrupção desse contato, em virtude do estabelecimento de políticas do estado para demarcação de fronteiras políticas e acentuar as características das culturas nacionais naquela região e avançar para uma configuração que apresentasse menos “perigo” para a segurança nacional. A partir dessas políticas, bem como com a atuação de concepções cristãs evangélicas por meio da evangelização entre os Palikur por frentes missionárias instaladas em meados do século XX, esses indígenas passaram a construir vínculos diversos com os brasileiros. Oiapoque passou a ser o principal ponto de negociação de seus produtos agrícolas e esse movimento de ir e vir da aldeia para a cidade é bastante acentuado hoje. Com o Barco da Comunidade e outros barcos particulares os Palikur mantêm com a cidade de Oiapoque um laço criado para atender ao imperativo das interrelações produzidas na grande rede de sociabilidade que é sustentada na região oriental das Guianas. A partir da produção de uma etnografia dos vínculos de intercâmbio de bens dos Palikur com os habitantes da cidade de Oiapoque, trata-se de fazer uma aproximação às redes de sociabilidade em que os Palikur estão inseridos, considerando vários espaços de socialização. Oiapoque é um desses espaços, onde os indígenas do Urukauá constroem uma aproximação com os não-indígenas para resolver questões que são resolvidas somente na cidade (como a venda da farinha, tratamento de saúde, questões de aposentadoria, etc.). Desse modo, o foco do atual trabalho se concentra em percorrer o caminho que os Palikur fazem para estabelecer o intercâmbio de bens na cidade de Oiapoque, e entender que esse caminho é importante, embora não seja o único, para a manutenção de seus vínculos de sociabilidade.

  • IRANA BRUNA CALIXTO LISBOA
  • CULTURA MATERIAL E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE A COLEÇÃO ETNOGRÁFICA ANAMBÉ DO ALTO RIO CAIRARI (PA)

  • Data: 16/01/2017
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação versa sobre a cultura material Anambé, especialmente as cestarias da coleção etnográfica Anambé, localizada na Reserva Técnica do Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo (LAANF), do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará (UFPA). Tais artefatos culturais foram coletados por Arthur Napoleão Figueiredo e Anaíza Vergolino no ano de 1969.  A pesquisa foi realizada em dois locais, na Reserva Técnica e na aldeia, com a finalidade de identificar os usos, desusos e substituições dos objetos, assim como investigar de que maneira os Anambé relacionam-se com seus artefatos. Em termos metodológicos, para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico e documental em sites da internet direcionados à temática indígena, levantamento da coleção etnográfica Anambé e pesquisa de campo com entrevistas semiestruturadas e gravadas junto aos interlocutores. Em suma, os cestos disponíveis na Reserva Técnica do Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo (LAANF) evocaram a memória dos entrevistados ao observarem os seus artefatos antigos.

2016
Descrição
  • DEIZEANE COSTA DOS SANTOS
  • ASSOCIATIVISMO NA PRODUÇÃO DO ARTESANATO DE MIRITI EM ABAETETUBA-PA

  • Data: 22/11/2016
  • Mostrar Resumo
  • Esta pesquisa analisa o processo de criação da Associação de Artesãos de Miriti - ASAMAB, no município de Abaetetuba, localizada na região do Nordeste Paraense. O movimento para sua organização se originou entre os anos de 2002 e 2003, quando alguns artesãos buscando reconhecimento profissional contaram com a parceria de atores locais. A pesquisa possui como objetivo analisar o processo de constituição e afrouxamento dos laços associativos e seu possível impacto no reconhecimento do trabalho dos artesãos; apresentando o trajeto utilizado para sua institucionalização, conquistas e perdas. Conforme relatos de alguns associados, no decorrer dos anos ocorreram mudanças na associação que enfraqueceram os laços de confiança presente, resultando em mudanças de grupos entre os artesãos e o desmembramento de parcerias. A coleta de dados foi composta por entrevistas semiestruturadas com os artesãos associados, ou não, e atores que compuseram a parceria, como representantes comerciais locais. Analisou-se documentos e Atas das Assembleias da Associação, assim como foram realizados registros fotográficos das principais festividades locais como o MIRITIFEST, O Círio de Nazaré (em Belém-PA e Abaetetuba-PA) e O Círio de Conceição, acompanhando o trabalho de confecção dos artesanatos desenvolvidos nos ateliês e na Associação. A associação possui papel essencial para os artesãos ao reforçar o modo de trabalho coletivo, contribuindo para o seu reconhecimento profissional. Contudo, outros grupos de artesãos associados se desmembram da associação, porém, continuam com seu nome conhecido nacionalmente, o qual foi conquistado a partir da rede de relações sociais tecidas durante sua organização.

  • MARIA LUIZA NOBRE LAMARAO
  • JUVENTUDE E PARTICIPAÇÃO: JOVENS NA GESTÃO COMPARTILHADA
    DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE CAETÉ-TAPERAÇU, EM
    BRAGANÇA, PARÁ

  • Data: 21/10/2016
  • Mostrar Resumo
  • Discute a incipiente participação de jovens na gestão compartilhada da Reserva Extrativista
    Marinha de Caeté-Taperaçu, em Bragança, Pará, partindo da seguinte questão: se a Reserva
    Extrativista é uma política pública instituída na perspectiva de sustentabilidade
    socioambiental do território, como garantir a sustentabilidade sem significativa participação
    de jovens? Os dados da pesquisa foram obtidos a partir de entrevistas com oitenta jovens
    moradores de duas vilas da reserva, bem como junto a lideranças e gestores. Constatou-se que
    eles têm práticas de engajamento na vida coletiva de suas comunidades sem, contudo,
    alargarem essa participação para as arenas da gestão do território, especialmente os comitês
    locais e os conselhos. Com efeito, eles em geral desconhecem a política da qual são
    beneficiários e não há ações consistentes de formação para os novos engajamentos que a
    gestão compartilhada requer. Vivem o dilema de permanecer ou sair de suas comunidades em
    razão da falta de oportunidades de estudo e trabalho no lugar, o que os faz pensar seus
    projetos de vida para além da pesca, da coleta de caranguejos, da pequena agricultura e das
    fronteiras de suas comunidades. Há, portanto, necessidade de investimentos em processos
    socializadores de jovens para a atuação nas instâncias formais da gestão, processos que
    estimulem seus potenciais criativos, fortalecendo a cooperação, sobretudo em prol da
    promoção e do fortalecimento dos meios de vida e da cultura, garantidores da identidade do
    território em sua nova configuração social e política.

     

     

  • GABRIELA DA COSTA ARAÚJO
  • PRAÇA DO CARMO EM BELÉM-PA E SUAS REPRESENTAÇÕES: UMA ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DAS RELAÇÕES DOS EVENTOS CULTURAIS COM A PRAÇA.

  • Data: 21/10/2016
  • Mostrar Resumo
  • Neste presente trabalho procura-se discutir os sentidos das práticas de usos desenvolvidos na
    Praça do Carmo em Belém do Pará, realizada por três importantes eventos do calendário
    cultural belenense, o Carnaval de rua, o Auto do Círio e o Arrastão do Círio. O campo desta
    pesquisa será a Praça do Carmo. Esta praça encontra-se situada na cidade de Belém do Pará,
    precisamente no bairro da Cidade Velha, reconhecido como Centro Histórico da cidade.
    Com isso, procura-se compreender como estes usos atribuem sentidos àquele espaço e o que
    motivou essas práticas. Desta forma, a análise desta pesquisa será direcionada a partir da
    perspectiva de representações dadas pelos atores sociais, que estão presentes nos dias dos
    eventos, no qual, são identificados como: moradores, os produtores culturais, os
    frequentadores e a Associações. Deste modo, o trabalho, desencadeará uma análise das
    representações destes atores a partir da relação espaço e eventos, no qual será discutida de
    acordo com as categorias relacionadas.
    Palavras-Chaves: Praça do Carmo; eventos, representações; memória; usos; patrimônio

  • ERICA CRISTINA ALMEIDA LOPES
  • ESTRATÉGIAS E EXPERIÊNCIAS DE PARTICIPAÇÃO: UM ESTUDO COM USUÁRIOS DA RESEX MARINHA CAETÉ-TAPERAÇU EM BRAGANÇA/PARÁ. 

  • Data: 06/07/2016
  • Mostrar Resumo
  • Esta dissertação analisa as experiências e estratégias utilizadas nas práticas
    participativas de usuários e líderes comunitários na cogestão da Reserva Extrativista
    Marinha Caeté Taperaçu (REMCT) em Bragança-Pa. Esta inquietação surgiu da
    intenção de compreender a participação desses usuários nas discussões e demandas na
    gerência da REMCT, considerando que a literatura mostra que estes geralmente são
    tolhidos nesse processo. Desta maneira, o principal objetivo do trabalho é analisar a
    conformação das estratégias que os usuários utilizam para a gestão da Resex, bem como
    verificar que peso suas experiências participativas tem nos processos de cogestão da
    UC. O estudo foi baseado na metodologia qualitativa, com o estudo de caso, pesquisa de
    campo utilizando técnicas como entrevista semiestruturada e observação, além de
    pesquisas bibliográficas e documentais. A partir da observação da atuação dos agentes
    no cotidiano da Resex, constatou-se que os históricos de ativismos dos usuários foi
    fundamental na formação da participação destes na gestão da Unidade de Conservação e
    esse histórico é a principal estratégia que eles destacam no ambiente político, por serem
    usuários e conhecerem a realidade extrativista. Foram identificadas como principais
    motivações para atuação destes na Resex, os benefícios sociais recebidos e a
    preocupação com a conservação dos recursos naturais; e como dificuldades, o
    distanciamento entre os entrevistados e a associação de usuários em virtude da
    desconfiança nos representantes comunitários.

  • EDSON ROGERIO NASCIMENTO CRUZ
  • RECONHECIMENTO, IDENTIDADE E DIREITOS SOCIOTERRITORIAIS: ASPECTOS DA VIDA POLÍTICA DE JOVENS QUILOMBOLAS DA AMAZÔNIA MARAJOARA

  • Data: 09/06/2016
  • Mostrar Resumo
  • O presente trabalho tem por objetivo analisar o protagonismo político dos jovens quilombolas
    do município de Salvaterra por meio do Grupo de Jovens Abayomi, coletivo criado
    justamente para atender esse fim. Trata-se, portanto, de um estudo de caso a respeito do grupo
    em evidência e de sua atuação. O trabalho está fundamentado na composição teóricoconceitual
    capitaneada pela teoria do reconhecimento de Axel Honneth que vem agregada
    pelos conceitos de territorialização e ação pública local. Como o ator sociopolítico da vez é o
    Grupo de Jovem Abayomi, adicionamos também o conceito de protagonismo juvenil.
    Partimos do entendimento de que aquele coletivo de jovens representa um dentre os vários
    atores presentes no território quilombola do município. Tais atores, por sua vez, compõem a
    chamada ação pública local. Ou seja, eles atuam coletivamente em um território específico
    visando assegurar determinada política pública: Essencialmente, a titulação das terras
    quilombolas. O trabalho está baseado no levantamento de dados alcançados por meio de
    diversas fontes, tais como, documentação, fotografia, entrevistas estruturadas (e
    semiestruturadas), registros em arquivos, matérias jornalísticas, além de análise de elementos
    culturais do comportamento político dos quilombolas conforme a postura dos indivíduos
    considerados na pesquisa. Daí se manter as notas das observações em um caderno de campo.
    Será visto que o grupo em destaque tem cumprido seu papel protagonista entre os jovens
    quilombolas de Salvaterra. Em relação ao componente teórico, será explanado como o
    presente trabalho – enquanto um estudo de caso – poderá servir a elaboração de
    generalizações do tipo analítica, segundo o pensamento de Robert Yin (2001).

  • SUZIANE PALMEIRA DOS SANTOS
  • RESEX-MAR DE SÃO CAETANO DE ODIVELAS/PA: UMA ETNOGRAFIA DOS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS.

  • Data: 24/05/2016
  • Mostrar Resumo
  • RESUMO
    Este trabalho aborda o processo de criação e implementação da Reserva Extrativista Marinha Mocapajuba, localizada em São Caetano de Odivelas, município pesqueiro do Salgado paraense. Objetiva entender a institucionalização dessa Unidade de Conservação como parte de um processo social que envolve luta territorial e disputa pela apropriação dos espaços e uso dos recursos naturais. Busca também, refletir sob que alcances a criação da reserva pode ser avaliada como resultante de um processo de engajamento e envolvimento das populações pesqueiras daquela região. Metodologicamente optou-se pelo enfoque etnográfico articulado com o método de análise situacional, privilegiando assim o registro de situações, comportamentos e conflitos em torno do processo de constituição da Resex-Mar. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com representantes locais, defensores e opositores da reserva e empregado 43 questionários junto aos moradores de São João de Ramos, comunidade abrangida pela UC. Os dados coletados informam que a composição de Mocapajuba dividiu-se em dois momentos, primeiro dirigido por um grupo de mulheres pescadoras que pleiteavam por reconhecimento de suas atividades de pesca e proteção ambiental. E o segundo, orientado pela Colônia de Pescadores Z-4 do município. Os trâmites pela criação da reserva têm origem na década de 1997, no entanto, só recebeu o decreto presidencial no final do ano de 2014, a institucionalização da unidade ocorreu de forma desarticulada e distanciada das populações tradicionais locais, fator que reflete o baixo reconhecimento da reserva entre seus usuários e acirra conflitos. Além disso, compromete a capacidade de manejo dos recursos pesqueiros da região.

  • SANDRA PEREIRA PALHETA
  • "MULHER PESCA? PESCA MESMO! ESTUDO SOBRE TRABALHO E AS ESTRATÉGIAS DAS PESCADORAS DA COLÔNIA Z-32 DE MARAÃ - AM".

  • Data: 10/05/2016
  • Mostrar Resumo
  • Essa dissertação é um estudo sobre a participação politica das mulheres pescadoras da
    Colônia Z-32, de Maraã, localizada no Estado do Amazonas. E foi estruturada a partir do
    seguinte questionamento: Quais foram as estratégias utilizadas pelas pescadoras da Colônia Z-
    32 de Maraã que concorreram para a construção de uma identidade e que transformaram a
    realidade social na qual estão inseridas? Entendo ser relevante a realização deste estudo, pois
    informa como essa participação da mulher na cadeia produtiva da pesca está acontecendo a
    partir de uma realidade especifica. O objetivo é compreender o processo de construção de
    uma agência das mulheres pescadoras, as estratégias por elas utilizadas para conquistar um
    lugar de fala num campo politico, dentro da Colônia de Pescadores Z-32 de Maraã, uma
    entidade historicamente dirigida por homens. Tomo como ponto de partida o histórico de
    criação do grupo “Mulheres em ação”, para analisar como este coletivo contribuiu para a
    conquista de direitos e para o empoderamento das mulheres pescadoras, bem como sua
    contribuição para mudar as estruturas de poder e, consequentemente, as relações de gênero no
    contexto desta entidade. A metodologia utilizada neste estudo foi levantamento bibliográfico
    da literatura sobre gênero, identidade, participação de mulheres na pesca, participação e
    representação politica. A coleta de dados se deu através de visitas em órgãos e instituições
    representativas da categoria, sites e também através de pesquisa de campo de cunho
    etnográfico, com realização de técnicas como a observação participante e direta, conversas
    informais, entrevistas semiestruturadas, relatos de historia de vida, e participação em eventos,
    reuniões e assembleias. Os resultados evidenciam que o grupo de mulheres representa uma
    força politica e também de oposição a um grupo que desde o inicio tem dirigido a Colônia Z-
    32, e está à frente de uma luta por uma participação mais igualitária das mulheres na pesca
    manejada de pirarucus (Arapaima gigas), coordenada por um coletivo formado por
    pescadoras e pescadores sócios (as) da Z-32. Porem, a maioria dos pescadores ainda não
    incorporou em suas agendas demandas especificas que afetam a maneira como as mulheres
    participam da pesca.

  • DEYSE SOARES DA SILVA TEIXEIRA
  • UIPP TERRA FIRME: "UM MODELO INOVADOR DE FAZER SEGURANÇA PÚBLICA"? ANÁLISE DAS PROPOSTAS E PRÁTICAS DESENVOLVIDAS PELA PRIMEIRA UNIDADE INTEGRADA PRO PAZ NO ESTADO DO PARÁ.

  • Data: 20/04/2016
  • Mostrar Resumo
  • RESUMO
    Esta dissertação de mestrado descreve e analisa, a partir de uma perspectiva das políticas sociais e das ações de governo, como foi concebida a Unidade Integrada Pro Paz da Terra Firme, Belém/PA, a primeira unidade nesse modelo, como uma unidade que promove segurança pública atuando a partir da doutrina de polícia comunitária e como vem atuando em relação a sua proposta inicial que é a da prevenção ao crime. A partir de relatos de moradores do bairro acerca da percepção da diminuição das ocorrências de crime no local, foi realizada a pesquisa científica, com recurso de metodologia qualitativa, utilizando a pesquisa documental e bibliográfica para compreender como as categorias utilizadas em políticas de segurança pública vêm sendo tratadas no Brasil e em especial no estado do Pará. Os resultados alcançados após análise de documentos e estatísticas oficiais divulgadas pelo governo do Estado do Pará, assim como, de pesquisas realizadas em âmbito nacional acerca da violência e ocorrência de crimes no país e da análise da teoria empregadas a esse tema, pudemos constatar que as estatísticas referentes ao período de 2011 – 2013 atestaram uma redução nos índices de violência na área pesquisada, entretanto os índices de redução constatados foram pequenos em comparação a magnitude do problema apresentado. Outros fatores que influenciam nessa ocorrência estão relacionados aos limitados investimentos em saneamento básico e infraestrutura urbano que são precários no bairro, que influenciam na qualidade de vida dos moradores e que não vêm recebendo atenção definida no plano de ação pelo poder público.

  • ERIVALDO SILVA NASCIMENTO
  • O ESVAZIAMENTO DO CONSELHO ESCOLAR ENQUANTO O ESPAÇO PÚBLICO DA INSTITUIÇÃO.

  • Data: 07/04/2016
  • Mostrar Resumo
  • O Conselho Escolar foi criado para ser o espaço público da escola cujas funções principais seriam a concretização de uma gestão democrática e a efetivação do projeto pedagógico da instituição, entretanto, esse colegiado encontra-se, na Escola Estadual de Ensino Médio Governador Alexandre Zacharias de Assumpção, em processo de esvaziamento, perdendo, assim, sua razão de ser. Daí, a presente dissertação objetiva identificar que fatores concorrem para esse fato. O que levou a essa pesquisa foi a seguinte interrogação: Por que o Conselho Escolar dessa instituição não atua de forma a promover uma melhor organização do trabalho escolar? Refletindo sobre isso, recorre-se ao conceito de esfera pública em H. Arendt e J. Habermas e a teoria do agir comunicativo deste, que apontam para esse domínio da vida social onde por meio de palavras e ações, busca-se a concretização dos interesses coletivos que, em nosso caso, remetem a melhoria da qualidade social do ensino. Assim, como resposta ao problema formulado, constatou-se que a predominância do âmbito administrativo–financeiro sobre a esfera pedagógica, a falta de capacitação dos conselheiros, a comunicação distorcida transformam esse colegiado num espaço vazio de sentido na estrutura da escola.
    P

  • THARYN MACHADO TEIXEIRA
  • PARTICIPAÇÃO EM CONTEXTOS TERRITORIAIS AMBIENTALIZADOS: UM ESTUDO NA APA ALGODOAL-MAIANDEUA (MARACANÁ-PA).

  • Data: 31/03/2016
  • Mostrar Resumo
  • relação dos atores sociais com os processos resultantes da implementação de uma
    APA, como instrumento de política ambiental, instituída no território que abrange as
    Ilhas de Algodoal e Maiandeua, localizado no litoral nordeste paraense. A
    abordagem de participação nesse estudo é apresentada a partir do entendimento
    acerca da necessidade de uma “organização consciente” das dinâmicas de disputas
    do poder político, por parte dos atores sociais que compõem a sociedade civil, por
    meio da aprendizagem da própria realidade desses atores que são afetados pelos
    problemas sociais, econômicos e políticos, enraizados historicamente na Amazônia.
    De tal modo que, apresenta-se a abordagem de pesquisa qualitativa, além de
    contemplar, também, a abordagem quantitativa, elementos fundamentais para a
    compreensão da realidade estudada. Essa pesquisa desenvolveu análises
    específicas dos contextos de participação em meio às dinâmicas socioterritoriais das
    quatro vilas que compõem o território da APA de Algodoal-Maiandeua: Algodoal,
    Fortalezinha, Mocooca e Camboinha, evidenciando, assim, suas condições
    facilitadoras e não facilitadoras. Os procedimentos metodológicos adotados foram a
    pesquisa documental, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo realizada
    entre os anos de 2014 e 2015. Os resultados revelam que o ambiente de
    participação em que os atores sociais estão envolvidos, é a participação
    institucionalizada, ou seja, um espaço “democrático” cedido pelo poder público para
    a integração destes aos aparelhos estatais. Tal situação influencia a desmobilização
    entre os atores sociais, os quais devido aos reflexos da formação histórico-política
    no território Amazônico e o contexto de marginalização do caráter se reconhecem como sujeitos ativos e fundamentais nessa dinâm icpaa rdtiec iptoamtivaod,a n dãeo
    decisões. Embora haja alguns fatores que limitam a participação no sentindo da
    organização consciente desses moradores locais acerca da disputa entre poderes e
    interesses econômicos e políticos, considera-se que o ambiente de indignação, por
    parte desses atores sociais, é uma condição que pode impulsionar organizações
    conscientes e autônomas que reflitam ações locais consolidadas na intervenção
    direta desses atores sociais que residem nesse território.

  • GERCILENE TEIXEIRA DA COSTA
  • RESERVAS EXTRATIVISTAS ENQUANTO INSTRUMENTO DA AÇÃO PÚBLICA AMBIENTAL NO BRASIL: COMPARANDO A CONSERVAÇÃO NA TERRA FIRME E NO MAR DA AMAZÔNIA MARANHENSE. 

  • Data: 30/03/2016
  • Mostrar Resumo
  • As Reservas Extrativistas (Resex) são unidades de conservação genuinamente brasileiras, de domínio público e concedidas às populações tradicionais para uso e extração sustentável dos recursos naturais. Neste trabalho, elas foram analisadas enquanto um instrumento da ação pública, construído a partir da interação de diversos atores sociais que atuaram num processo conflituoso de disputas agrarias na Amazônia brasileira e de uma arbitragem do governo que as adotou como instrumento de regulação territorial e ambiental. Partindo da hipótese de que as Resex são instrumentos da ação pública local, analisou-se, neste estudo, as experiências socioterritoriais de duas Resex situadas no Litoral Ocidental do Estado do Maranhão, na Amazônia brasileira, a Resex Quilombo de Frechal e a Resex Marinha de Cururupu, com o objetivo de conhecer as aplicações desse instrumento e as ações públicas que estão sendo construídas nesses territórios. O estudo, entre outros, apontou para apropriações e interpretações diferenciadas do instrumento, assim como para recomposições territoriais feitas com base em elementos identitários. Em Frechal, a recomposição territorial tem se dado via construção de uma identidade quilombola, diacrítica e ressemantizada, gerando tensões dentro do território. Em Cururupu, esta recomposição tem-se dado via um novo território turístico. A conclusão principal deste estudo é que o instrumento Resex detém uma força de ação que se desenvolve e se diferencia a partir das interações e interpretações dos atores sociais. Como instrumento de ação pública local, as Resex não são estáticas e redutíveis ao instrumento, ao contrário, produzem efeitos independentes dos objetivos que elas assinaram. Sendo a dinâmica e a apropriação pelos atores sociais, determinantes, na construção da ação públicas.

  • MICHEL RIBEIRO DE MELO E SILVA
  • ENTRE GAMES, RPG´S E OUTRAS NERDICES: CONSUMO E SOCIABILIDADE NO CIRCUITO DOS NERDS EM BELÉM.

  • Data: 02/03/2016
  • Mostrar Resumo
  • Neste trabalho pretendo apresentar o circuito de sociabilidade dos nerds em Belém, e como este, através de suas formas de comunicação, movimenta grupos e indivíduos em torno de seus objetos de consumo e interesse. Este grupo social que se reúne em diversos eventos pela cidade, afirma e vivencia uma “cultura nerd” baseada em padrões de consumo e interesses comuns de lazer dentro dos mesmos espaços de sociabilidade. A proposta de pesquisa baseia-se em estudos antropológicos urbanos e digitais, que fazem uso desses espaços por toda a cidade de Belém (incluindo ambientes de socialização virtual em grupos de Facebook, WhatsApp, etc.) para realizar uma etnografia permitindo uma análise mais ampla desse grupo social em Belém e podendo assim realizar suas considerações sobre as dimensões deste circuito de lazer e sociabilidade.

  • BENEDITO WALDERLINO DE SOUZA SILVA
  • PATRIMÔNIOS CULTURAIS VIVIDOS: SENTIDOS E PRÁTICAS DO PATRIMÔNIO CULTURAL PARA OS PEIXEIROS DO MERCADO DE FERRO DO VER-O-PESO.

  • Data: 25/02/2016
  • Mostrar Resumo
  • O estudo apresentado neste trabalho visa compreender os sentidos e práticas do patrimônio cultural vivido pelos peixeiros do Mercado de Ferro no Ver-o-Peso. Para tal, me utilizo de princípios teóricos presentes nos contextos de debate da Antropologia Simbólica, sobretudo os relativos a análise das formas de operar da cultura a partir de sistemas de significação particulares de seus agentes e das formas de operar da sociedade sobre seus membros a partir de seus símbolos culturais. Nesse contexto, ponderando a categoria patrimônio cultural enquanto apropriação de noções de hierarquia de sentidos e valores que os indivíduos adquirem em relação à representatividade cultural que sua sociedade atribui a bens presentes no contexto das relações e ações sociais que lhes são características. Ainda associando as influências que as categorias paisagem cultural, sociabilidade e memória social têm sobre a construção social de patrimônios culturais. Princípios estes que contribuíram para uma prática etnográfica junto aos peixeiros objetivando compreender os sistemas de significação presentes tanto nas imagens de patrimônios culturais compartilhadas e vivenciadas junto a outras categorias de feirantes do Ver-o-Peso e a sociedade belenense, quanto às imagens de patrimônios culturais vivenciadas de maneiras mais restritas ao contexto simbólico particular dos peixeiros. Igualmente, modos pelos quais essas imagens influenciam na vivência de um patrimônio cultural regulado a partir de identidades e dinâmicas socioculturais resultadas da relação entre os peixeiros e as várias dimensões espaciais e simbólicas dos múltiplos espaços físicos e agentes indispensáveis ao desempenho de suas práticas cotidianas.

     

  • CARLA FIGUEIREDO MARINHO SALDANHA
  • ENEIDA PARA MULHERES, SOBRE MULHERES, A MULHER "DITA": CONTORNOS DA IMAGEM DO FEMININO EM ENEIDA, "A ESCRITORA QUE VEIO DO PARÁ".

  • Data: 19/02/2016
  • Mostrar Resumo
  • A escritora e jornalista paraense Eneida de Moraes (1903-1971) atuou na imprensa carioca escrevendo para as colunas femininas “Mundo de Hoje” do jornal Momento Feminino do Partido Comunista Brasileiro, “Mulheres de Ontem e de Hoje” e na Série “Mulheres Contam sua Vida” do jornal da grande imprensa Diário de Notícias. Seus artigos da primeira coluna apresentavam os avanços conquistados pelas mulheres na luta por direitos e assumiam um tom de denúncia pontuando claramente a necessidade de participação feminina num cenário de tensão política nacional e internacional. Já na segunda Coluna e na Série, ela apresenta mulheres de diferentes nacionalidades, classes e gerações que afrontaram, de certa forma, aquilo que se esperava dos papéis atribuídos a uma mulher, para entrarem em espaços marcadamente masculinos. Neste estudo pretendi identificar através, da linguagem, como Eneida ‘diz’ a mulher, e nesse ‘dizer’ identificar as formas, configurações e contornos de uma imagem feminina produzidas nas colunas e série mencionadas, que foram classificadas e analisadas numa perspectiva sócio antropológica. O recorte de gênero se fez necessário, logo que as edições de jornais eram espaços majoritariamente “masculinos”, no que se referia à sua consideração social. Eneida, assim como outras jornalistas de sua época para solidificarem-se em sua carreira jornalística, enfrentou e afrontou os padrões instituídos para aquilo que seria o papel “feminino” de sua época. As relações e construções sociais acerca do feminino e do masculino são introduzidas continuamente em seus textos evidenciando às mulheres a atualização constante das injunções de gênero na vida social.

2014
Descrição
  • ISABEL CRISTINA DAS NEVES OLIVEIRA
  • COSTURAR, COLAR, MOLDAR, MAS TAMBÉM DESMONTAR E REFAZER TUDO OUTRA VEZ: OS TRAÇOS E OS MOLDES DO RACISMO SOFRIDO PELA JUVENTUDE DO LAR ACOLHEDOR EM BELÉM DO PARÁ.

  • Data: 30/06/2014
  • Mostrar Resumo
  •  

    O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa que utilizou a artesanato como método – para entender, por meio de observações, análises e entrevistas, no período de junho de 2012 a maio de 2013 – a fim de identificar se e como a discriminação racial afeta a juventude de um Lar-Abrigo em Belém do Pará. Paralelamente, analisei as relações de raça/gênero internas (entre os jovens) e externas (suas relações com a sociedade). A pesquisa buscou saber se os jovens do Lar-Abrigo utilizam estratégias para nomear, mascarar ou negar o racismo que sofrem, bem como quais as consequências das estipulações de gênero utilizadas pela sociedade em sua pequena comunidade. O artesanato foi a motivação e a metodologia para a penetração em suas histórias e realidades, servindo de parâmetros entre a confecção dos trabalhos artesanais e as suas narrativas.

SIGAA | Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) - (91)3201-7793 | Copyright © 2006-2024 - UFPA - castanha.ufpa.br.castanha1