IMPACTO DAS QUEIMADAS EM ÁREA DE FLORESTA NO SUL DA AMAZÔNIA: UMA REFLEXÃO ENSAÍSTICA SOBRE A PRECIFICAÇÃO DE CARBONO
Palavras-chave: Ecossistemas. Floresta Semidecídua. Amazônia. Aerossol. Modelagem
Ambiental. Precificaçãoo do Carbono.
Florestas tropicais são importantes reguladoras climáticas globais. Elas estocam grandes
quantidades de carbono em sua biomassa viva e mantém uma delicada relação biosfera-
atmosfera. Para que essa relação funcione adequadamente, fatores exógenos e endógenos
(bioquímicos) precisam estar em perfeita harmonia. A ciclagem de carbono na Amazônia
tem sido muito estudada devido às alterações promovidas em suas concentrações a nível
global, no solo, na água e principalmente na atmosfera. Esta pesquisa visa contribuir
identificando perturbações de ordem antrópica (queima de biomassa florestal) e suas
influências na troca líquida de CO2 sobre área de floresta semidecídua localizadas na bacia
Amazônica. Medidas micrometeorológicas em situ, localizadas a 50 km NE de Sinop-MT,
são utilizadas para estimar o potencial de absorção de CO2 sob condições poluídas (AOD
≫ 0.10) e não poluídas (AOD ≤ 0.10) para as demais áreas de floresta semidecidual
encontradas nos biomas brasileiros. Fragilidades e ótimos fisiológicos são determinados e
usados como subsídios-chave para abordagens concernentes à precificação de carbono no
Brasil. Dados remotos orbitais pelo sensor MODIS (AODm) e à superfície pelo sistema
AERONET 2.0 (AODa) são usados para uma visão regional dos impactos das queimadas
sobre o fluxo de radiação solar. Uma longa série de medidas AODa, entre 1999-2017, é usada
na determinação de um modelo de irradiância solar de céu-claro. Reduções e aumentos
no %NEE para determinadas cargas de poluição (AOD), irradiância relativa f e valores
ASZ (ângulo solar zenital) são observados. Os resultados mostram uma diminuição de
aproximadamente 40% em f e um aumento de 0,10 para 5,0 nos valores AODa à 500 nm.
Foi observado também um aumento médio de 35-70% no fluxo NEE para níveis de poluição
AODa acima de aproximadamente 1,25. O aumento de 35-70% do NEE é atribuído ao
aumento de 40-60% na fração difusa da radiação solar em relação à fração direta, devido
ao impacto de aerossóis da queima de biomassa (BBOA). Foi observado também redução
e aumento estatisticamente significantes sobre variáveis biofísicas, tais como, temperatura
do dossel foliar (Tdf ) e umidade relativa (URar), respectivamente. Um aumento médio de
∼ 3◦C e uma redução de ∼ 10% na Tdf e URar foi encontrado sob condições de céu
esfumaçado (AODa ≫ 0.10). Estes resultados serão úteis na obtenção de novos coeficientes
e calibração de parametrizações físicas de processos pobremente representados nos sistemas
numéricos vigentes, bem como as respostas fotossintéticas de florestas semideciduais para
a ciclagem de carbono regional na Amazônia. Estes achados, norteiam também políticas
públicas de preservação do ecótono Cerrado-Floresta Amazônica e outros ecossistemas
pantropicais. Aqui, apontam-se fragilidades e inviabilidades de ações políticas destinadas
à precificação do carbono, principalmente sobre serviços ecossistêmicos (sequestro de
CO2). Para tal, uma breve discussão sobre alguns documentos, relatórios técnicos gerados
em conferências com pauta ambientais serão analisados. Como resultado, apresenta-se
uma breve reflexão sobre essas elaborações que tem sido orientado para atender a lógica mercantil, apoiados na ideia de exploração dos recursos naturais como meio para o
desenvolvimento e progresso econômico, os quais negligenciam as fragilidades e as resiliências dos ecossistemas amazônicos, ocultando assim a atual e crise ecológica em que vivemos.