SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA: o Gambá de Pinhel construindo narrativas de cidadania.
Festa do Gambá. Amazônia. Narrativas. Cidadania.
Senta que lá vem história: o Gambá de Pinhel construindo narrativas de cidadania” tem o objetivo de mergulhar, por meio da entrevista narrativa de ex-moradores de Pinhel, no universo da Festa do Gambá para tentar compreender de que forma a festividade contribui para o processo de construção de sentidos de cidadania. Pinhel é um Distrito do município de Aveiro e fica localizado na margem esquerda do rio Tapajós, na Amazônia paraense. A Festa é uma tradição que sobrevive há mais de 300 anos e é marcada pelo som forte do tambor chamado gambá que dá nome à festividade e o tom às folias. A Festa do Gambá é a Festa de São Benedito, santo que se apresenta não como o padroeiro oficial de Pinhel, mas sim como o santo escolhido como protetor e que arrasta um grande número de devotos, muito mais do que São José, este sim, padroeiro oficial da Igreja Católica. Para situar a pesquisa partimos de um panorama histórico sobre a comunidade de Pinhel passando pelo período da colonização até os dias de hoje, momento em que os moradores atravessam um processo de reidentificação indígena que os conecta diretamente às tradições que haviam se perdido, como forma de resistência e proteção aos valores genuínos da comunidade. Para isso, vamos enveredar pelas narrativas orais e memórias de nossos interlocutores através da entrevista narrativa proposta por Jovchelovitch e Bauer (2002). Os relatos vão dialogar com os conceitos fundantes do pensamento de Walter Benjamin (1987) sobre narração e experiência, além da ótica indígena sobre narrativas orais propostas por Vaz Filho (2010, 2013, 2008) e Kopenawa (2015). Por fim, lançamos um olhar compreensivo sobre os relatos que apontam que a reconexão com Pinhel e a experiência coletiva da Festa do Gambá manifestam, em nossos interlocutores, os sentidos de luta e de uma cidadania diferenciada (Baniwa, 2002), fora dos recortes hegemônicos. Por isso, a Festa acaba operando como canal para uma emancipação social reinventada, onde a luta por igualdade é também a luta por reconhecimento da diferença (Santos, 2007), e que ganha corpo através de formas híbridas de conhecimento emancipatório e novos olhares que criam novas epistemologias.