O CONTRA ESPAÇO RIBEIRINHO AMAZÔNICO: as contradições da UHE-Belo Monte no espaço da Comunidade
Boa Esperança
Amazônia; Espaço Agrário; Pescador-Ribeirinho; Trabalho; Belo
Monte
O presente estudo contribui com as discussões acerca dos impactos gerados pelo barramento do rio Xingu para construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte - UHEBM, na Amazônia brasileira, que gerou impactos nas condições de uso das ilhas, canais, furos e lagos da Comunidade ribeirinha Boa Esperança, localizada na área de
remanso do reservatório da UHEBM no município de Altamira-PA. Neste âmbito, a pesquisa tem por objetivo analisarr as condições de reprodução material do trabalho ribeirinho mediante alterações nos ambientes fluviais das ilhas, após o barramento do rio Xingu para fins de produção de energia hidrelétrica. O estudo tem como base teórica metodológica o conceito de espaço, produção do espaço e contraespaço na Amazônia, realizando-se, todavia, pela análise de três variáveis: Capital, Técnica e Trabalho, fundamentado no materialismo, histórico e dialética no processo contraditório do espaço agrário na Amazônia, partindo da compreensão do espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ação que gera contradições no espaço a partir da materialização do contraespaço. O contraespaço é a manifestação no espaço das consequentes formas de resistências das populações excluídas e marginalizadas no processo de tecnificação do espaço agrário, produto das relações da sociedade no espaço geográfico. A pesquisa apresenta como principais resultados a condição do trabalho material do pescador-ribeirinho, conceito utilizado nesta pesquisa para identificar os sujeitos sociais que ocupam as ilhas da comunidade e tem sua identidade dissociada das suas relações de trabalho, a pesca. Portanto, a pesquisa contribui não só para as discussões paradigmáticas no campo da ciência geográfica, como também para o processo de reconhecimento de área impactadas pelo barramento do rio Xingu, através das observações e dados obtidos em campo na comunidade pesquisada. Essas mudanças interferem no nível de vazão do rio, elevação da temperatura da água, carga sedimentar, nível d’água na cheia e da seca, impactando diretamente as condições de uso dos pescadores-ribeirinhos a partir das transformações materias nas condições de trabalho, ocasionado pelas mudanças no comportamento natural do ambiente do regime hidrológico. Assim sendo, as alterações provocadas no rio Xingu contribuíram para a instabilidade do regime hidrológico dos canais e furos que impactaram diretamente nas condições de subsistências das famílias viventes dessas ilhas. Com efeito, direto no comportamento natural do ambiente fluvial que interfere na expressão material do pescador-ribeirinho, ou seja, no seu trabalho, que se realiza pela prática cotidiana do vivido. O trabalho, portanto, realiza-se toda via, pelas técnicas do fazer da essência do ser ribeirinho, que coexistem na sua forma e conteúdo na intermediação do homem com a natureza ao definir as práticas espaciais e materiais do percebido, concebido e vivido na produção da mais-valia, ou seja, como parte material da divisão internacional do trabalho. Desta forma, é, contudo, na condição do valor de troca que o monopólio do espaço passa a ser disputado, surgindo as relações de contraespaço, questionando o poder hegemônico que racionaliza os espaços da natureza primeira, na insurgência do pescador-ribeirinho como Sujeito protagonista das relações de produção abstrata e material do espaço agrário de Altamira-PA.