AVALIAÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DE REGIÃO DO MÉDIO RIO XINGU (AMAZÔNIA, BRASIL) INFLUENCIADA POR ATIVIDADES ANTRÓPICAS
Biomarcadores, Metais, Ictiofauna, Xingu.
O rio Xingu (Amazônia, Brasil), apresenta uma grande diversidade de espécies endêmicas. Tais espécies estão expostas aos diversos tipos de atividades antropogênicas. Na região do município de São Félix do Xingu, situado no médio Xingu, a atividade antropogênica predominante é a extração mineral de cassiterita. O processo de extração libera para o ambiente diversos metais e metaloides que tem o potencial de acumular nos distintos compartimentos ambientais (água, sedimento, solo e biota). Uma vez acumulados, muitos são capazes de induzir efeitos tóxicos nos organismos residentes. Os efeitos tóxicos primários de metais e metaloides envolvem alterações em baixos níveis de organização biológica (respostas bioquímicas, celulares ou fisiológica). Tais alterações podem ser usadas como biomarcadores, servindo como um aviso antecipado de efeitos que a longo prazo podem vir a atingir níveis de organização biológica superiores e com maior relevância ecológica. Em ecotoxicologia, os biomarcadores são tradicionalmente aplicados em organismos biomonitores, residentes no local alterado. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade ambiental de distintos pontos na região do médio Xingu através de parâmetros químicos e biológicos. Para tanto, foram realizadas 5 coletas em sete pontos: Bom Jardim, Canópus, Chico Rogério, Cidade, rio Fresco, Taboca 1 e Taboca 2. Duas coletas foram realizadas na cheia (março e abril) e 3 coletas na seca (junho, julho e agosto), com o intervalo de 15 dias entre cada coleta. Foi coletado água, sedimento e solo em todos os pontos, no entanto apenas em Bom Jardim, Chico Rogério e Canópus, foi realizada a captura dos organismos através de anzol e tarrafa. Foi determinada a concentração de metais e metaloides (Cu, Pb, Cd, As, Cr e Hg) em solo, água, sedimento do rio ou do seu entorno. Em termos biológicos, foram analisados biomarcadores bioquímicos de exposição (capacidade antioxidante total) e efeito (lipoperoxidação-LPO e micronúcleos), em diferentes órgãos/tecidos (fígado, brânquias, cérebro, músculo e sangue) dos organismos biomonitores selecionados (Cichla melaniae - carnívoro e Myloplus rubripinnis - onívoro/frugívoro). Os resultados demonstram que a concentração de Arsênio (As) está acima do recomendado pelo CONAMA (0,14 ug/L) para águas doces de classe II (com atividade de pesca) em todos os pontos amostrados. Os elementos Cr, Chumbo (Pb) e Níquel (Ni) no solo e sedimento de Canópus encontram-se altos e, na maioria dos casos, acima dos valores de prevenção estabelecidos pelo CONAMA. Os resultados de biomarcadores apontam para uma boa condição dos organismos analisados independente da origem dos mesmos. Apesar disso, os dados de cérebro demonstram uma maior LPO nos animais de Canópus, sugerindo um possível efeito de danos neuro-degenerativos. Mesmo que as espécies analisadas apresentem uma boa condição em termos gerais, cabe ressaltar que não indica que espécies mais sensíveis não estejam sofrendo danos mais severos.