Diversidade e relações ecológicas de invertebrados capturados em uma pesca camaroeira tropical
Amazônia Azul, by-catch, fauna acompanhante, camarão-rosa, Farfantepenaeus subtilis, Costa Norte do Brasil
A captura incidental de espécies que não são alvo da pescaria representa uma das maiores ameaças à biodiversidade em nível mundial. A pesca de arrasto do camarão marinho captura as maiores porções desta fauna, quando comparada às demais pescarias. O objetivo deste trabalho foi identificar a diversidade, riqueza, relações ecológicas e distribuição espaço-temporal dos invertebrados capturados na pesca na Plataforma Continental do Amazonas (PCA). As coletas com frequência bimestral, de julho/2015 a junho/2017, são realizadas em embarcações da frota industrial camaroeira da Costa Norte, executadas por um amostrador de bordo contratado pelo Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Norte (CEPNOR/IBAMA). A fauna para análise foi selecionada ao final de cada arrasto a partir do material içado das redes e despejado no convés e os fatores abióticos foram aferidos no momento da coleta. Análises de agrupamento mostraram distinção das condições físico-químicas (temperatura, salinidade e sedimento) entre pesqueiros das regiões norte e sul da área de pesca. Analisamos 20.303 espécimes, compreendidos em 6 filos (Annelida, Cnidária, Arthropoda, Echinodermata, Mollusca e Porifera) e 154 espécies. Há predominância de espécies de baixa ocorrência, visto que a maioria destas (85) são esporádicas, enquanto 68 espécies contribuem para 99% do total de indivíduos. Crustacea é o grupo dominante em todos os agrupamentos obtidos, contudo os padrões de dominância taxônomica e trófica diferem em relação ao tempo e espaço, sendo que os pesqueiros da região Norte têm espécies de maior fidelidade e especificidade. Todos os descritores analisados (riqueza, produção de camarão e esforço pesqueiro) apresentaram aumento gradativo em direção à região noroeste da área pesqueira. A análise de partição de variância entre as variáveis ambientais x espaciais e temporais x espaciais demonstra que o espaço teve a maior proporção de explicação para a riqueza (23 e 38% de explicação, respectivamente). O ajustamento de Modelos Lineares Generalizados identificou os fatores fase da lua e região como os descritores qualitativos mais importantes para explicar a variabilidade da riqueza, bem como as covariáveis profundidade e temperatura. A análise de redundância canônica (RDA) destacou a significância dos mesmos fatores apontados pelo GLM, apontando a associação de 7 espécies com os mesmos. A riqueza biológica e a produção de camarão são grandezas diretamente proporcionais, com elevado grau de correlação (R= 0,77), contudo, há locais com baixa produtividade e elevada riqueza de fauna acompanhante, principalmente áreas com a presença de corais. A fauna de invertebrados capturada incidentalmente apresenta elevada riqueza e diversidade biológica e funcional, com padrões de dominância espaço-temporal diferenciados e com áreas prioritárias para conservação.