Pesca, economia e consumo de proteínas animal no rio Xingu, Amazônia brasileira
pescarias, dieta, custos, dams, Belo Monte
A pesca de águas interiores tem seu potencial subestimado devido a deficiente coleta de dados sobre esta atividade. A carência de informações estende-se também a aspectos econômicos e sociais desta modalidade de pesca. Esta ausência de informações podem dificultar as políticas de decisão para o setor. Desde o ano de 2012 está sendo construída na bacia do rio Xingu, a terceira maior hidrelétrica do mundo – UHE de Belo Monte. Empreendimentos deste porte causam impactos ambientais que afetam a fauna e flora local, com mudanças na atividade de pesca extrativa, podendo comprometer a renda e fornecimento de proteína às populações locais. O presente estudo foi estruturado em três capítulos, com objetivo de estudar a pesca de peixes de consumo, o consumo de proteínas pelas populações locais e os custos e receitas das pescarias. Os dados foram coletados através de: 1) entrevistas realizadas em 21 portos ao longo do rio Xingu, acerca da dinâmica da pesca; 2) registro alimentar dos alimentos de origem proteica consumidos ao longo do ano em quatro comunidades no rio Xingu e 3) entrevistas com pescadores e donos de embarcação em 2 localidades acerca dos custos e receitas oriundos da atividade pesqueira. Em relação à atividade pesqueira monitorada por dois anos, entre abril de 2012 a março de 2014, foram registradas 23.939 viagens de pesca, totalizando uma produção de 1.484 toneladas de pescado, obtidas por quase 3.000 pescadores. A pesca na região tem caráter artesanal de pequena escala, destacando‑se a participação de canoas motorizadas que utilizam um motor de popa chamado “rabeta”. Os barcos motorizados atuam somente na foz do rio Xingu e no rio Amazonas. Tucunaré (Cichla spp), pescada-branca (Plagioscion spp), pacu (várias espécies de Serrasalmidae), aracu (várias espécies de Anostomidae) e curimatã (Prochilodus nigricans) perfazem mais de 60% do total capturado. A captura média por unidade de esforço é de 18 kg.pescador–1.dia–1 e muda dependendo da modalidade de pesca (tipo de embarcação e arte de pesca), do pesqueiro utilizado e da época do ano. Na maior parte dos casos, não encontramos diferenças nos rendimentos de 2012 e 2013. O pescado foi o alimento mais frequentemente consumido, seguido de carne bovina e aves. O consumo de pescado variou de 138 a 555 g.capita-1.dia-1 entre as localidades. Cinco espécies representaram 80% de todo pescado consumido no período de estudo, sendo preferencialmente de peixes com escamas. Até o momento, o consumo de pescado não apresentou diferenças entre anos e nem períodos. A receita total bruta declarada da atividade pesqueira de consumo, nos desembarques de canoas rabetas do rio Xingu, alcançou R$ 10.152.000,00. As maiores receitas corresponderam à comercialização do pescado nas localidades de Altamira (29%), São Félix do Xingu (31%), seguidos de Maribel (8%). A receita bruta na primeira comercialização sofreu variações ao longo dos anos, seguindo o padrão da produção total. Os preços médios das principais espécies comercializadas apresentaram aumentos acima da inflação. As informações geradas são importantes para subsidiar ações de ordenamento pesqueiro, elaboração de políticas públicas ou medidas de compensação econômicas, bem como para avaliar futuras mudanças que possam ocorrer na atividade frente às transformações ocasionadas pela construção da barragem de Belo Monte.