CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO ILHEUS VIRUS EM ISOLADOS OBTIDOS NO BRASIL
Arbovírus; Flavivirus; Ilheus virus; Filogenia
A família Flaviviridae tem como membros diversas espécies virais de importância médica, associadas com a ocorrência de doenças em seres humanos e responsáveis por elevadas taxas de endemicidade, morbidade e mortalidade em diversas regiões do mundo. Os membros do gênero Flavivirus possuem potencial de dispersão, dada a capacidade de infecção de diversos hospedeiros vertebrados, especialmente as aves. Ainda pode-se ressaltar que diversos flavivírus possuem capacidade de causar infecção no sistema nervoso central. Dentre esses vírus, se encontra o Ilheus virus (ILHV) que apresenta variados níveis de incidência tanto em populações humanas quanto animais. Desse modo, a caracterização genômica é fundamental, já que permite a identificação de eventuais mutações que confiram vantagens adaptativas ao ILHV, contribuindo para uma eventual futura emergência. Para realização do estudo, foram utilizados isolados do vírus, oriundos da viroteca da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas (SAARB/IEC) e o critério amostral para inclusão das amostras se deu com base no ano de isolamento, local de origem da amostra e hospedeiro fonte. Para verificação da viabilidade viral, os vírus foram cultivados em monocamada da linhagem celular Vero A18. Após a amplificação viral, as cepas foram sequenciadas por meio da plataforma NextSeq 500. A montagem dos genomas sequenciados ocorreu por meio da metodologia De Novo, seguido do mapeamento e identificação de regiões de interesse no genoma viral e que tenham relação com os objetivos do estudo. As sequências obtidas foram analisadas quanto à composição nucleotídica e aminoacídica, bem como à distância filogenética. A reconstrução da filogenia ocorreu com base nas sequências obtidas no estudo e sequências previamente depositadas nos bancos de dados genômicos. As sequências foram alinhadas e avaliadas para determinação de um modelo de substituição nucleotídica e reconstrução através do método de Máxima Verossimilhança com posterior visualização da filogenia, assim como análise dos grupos virais formados. A análise filogenética demonstrou que, apesar das diversas mutações observadas, a maioria dessas era do tipo sinônima, não afetando a funcionalidade das proteínas virais. Além disso, o estudo revelou uma considerável diversidade genômica do ILHV ao longo do período analisado. Observou-se que as cepas apresentavam padrões específicos de mutações organizadas conforme os locais de isolamento. O fator geográfico foi determinante na formação de grupos distintos de cepas virais, com agrupamentos específicos para Brasil, Venezuela e Peru. Os resultados deste estudo são importantes para a compreensão das cepas de ILHV circulantes no Brasil, a formulação de ferramentas de prevenção, insumos para tratamento contra o vírus e técnicas de diagnóstico molecular mais acuradas e ágeis. Ainda, as informações geradas nesse estudo contribuirão para a construção de estratégias de monitoramento que podem permitir a visualização de um panorama epidemiológico mais preciso, fortalecendo a vigilância e resposta a possíveis emergências causadas por novas linhagens do ILHV.