ESTUDO SOROEPIDEMIOLÓGICO DO SARS-CoV-2 EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS DOS ESTADOS DO PARÁ E TOCANTINS
SARS-COV-2; Soroprevalência; Quilombolas; Pará; Tocantins.
O surgimento de um novo coronavírus humano (SARS-CoV-2) em Wuhan, China em
dezembro de 2019 ocasionou um surto de COVID-19 que se espalhou rapidamente pelo
mundo. A Organização Mundial da Saúde definiu a situação como uma nova pandemia e uma
emergência de saúde pública de preocupação internacional em 2020. A ausência de dados
soroepidemiológicos para as populações quilombolas e a subnotificação de casos mascaram a
situação vivenciada por estas comunidades desde o início da pandemia. Assim, o presente
trabalho tem como objetivos investigar e descrever a prevalência do SARS-CoV-2 e os
aspectos epidemiológicos de risco para a exposição ao vírus em comunidades quilombolas,
localizadas nos Estados do Pará e Tocantins. Fizeram parte do estudo 551 quilombolas, sendo
352 do Pará e 199 do Tocantins. Os dados epidemiológicos foram obtidos por meio da
aplicação de questionários semiestruturados. O sangue venoso periférico (10 mL) foi coletado
por um sistema de colheita à vácuo em dois tubos contendo EDTA como anticoagulante. A
detecção de anticorpos IgG anti-SARS-CoV-2 foi realizada pelo método de ensaio
imunoenzimático. A análise univariada e teste qui-quadrado ou teste G foram utilizados para
verificar as associações entre as variáveis do estudo e a presença de anticorpos IgG anti-
SARS-CoV-2. Na análise geral, observou-se que o contato com indivíduos infectados e o
confinamento foram associados a presença de anticorpos IgG anti-SARS-CoV-2. Nos
quilombos do Pará o uso da máscara foi considerado fator de proteção, enquanto que nos
quilombos do Tocantins o uso da máscara e a lavagem das mãos foram associados a presença
de anticorpos IgG anti-SARS-CoV-2. A perda de olfato foi comum em ambos os estados. Nos
quilombos do Tocantins os sintomas característicos da COVID-19 associados a presença de
anticorpos foram febre, dor de cabeça, dor no corpo, dor abdominal, diarreia, perda do olfato
e perda do paladar. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre as
características sociodemográficas e comportamentais dos indivíduos reagentes para anticorpos
anti-SARS-CoV-2 nos quilombos dos estados do Pará e Tocantins. Este é o primeiro estudo
soroepidemiológico realizado em comunidades quilombolas que fornece informações
importantes que podem auxiliar na compreensão das desigualdades socioeconômicas,
características comportamentais e dinâmicas de transmissão viral associadas ao risco de
infecção por SARS-CoV-2. Os dados encontrados enfatizam o cenário epidemiológico de
suscetibilidade das comunidades quilombolas.