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ELIANY NAZARE RODRIGUES RODRIGUES
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MULHERES DA BAIXADA: Vulnerabilidades no Território, Violência Doméstica e Emancipação
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Data: 19/12/2023
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A presente dissertação de mestrado em psicologia se origina a partir do cotidiano do trabalho no Setor Psicossocial do Juizado de Violência Doméstica na cidade de Santana/AP, discorre especialmente sobre as mulheres da Baixada do Ambrósio, bairro periférico com altos índices de violência e baixo acesso das suas moradoras ao Juizado. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, estruturada na modalidade de pesquisa-ação, mas que esteve disponível a acolher o que o campo oferecesse. Partindo das evidências das múltiplas violências dirigidas às mulheres em nossa sociedade patriarcal, apoia-se na psicanálise para analisar as vulnerabilidades no território, barreiras de acesso à rede de atendimento, condições que são resultantes do lugar das mulheres como objetos e/ou abjetos, que as conduzem a um processo de mortificação simbólica e que, em muitos casos, pode chegar ao feminicídio. Buscou identificar e analisar ainda as possíveis estratégias de enfrentamento e emancipação dessas mulheres. Quanto aos resultados, foi possível identificar e analisar as abjetificações dos corpos das mulheres e da comunidade, produtos das violências sociais e de estado, que surgem do modelo econômico-político vigente, do processo histórico que produz opressões, de suas histórias de vida, da sociedade patriarcal que enreda a todos. A rede de atendimento, se mostrou tanto reprodutora da violência estatal quanto ponto de apoio. As barreiras de acesso são compostas de um emaranhado de condições advindas do processo de construção histórica, que desemboca na dinâmica da comunidade e mantém as mulheres assentadas num ciclo social violento. As possíveis estratégias de enfrentamento e emancipação, comunitárias e/ou governamentais, que visassem o enfrentamento da violência e que em seu desenvolvimento pudessem produzir o vislumbre de algum processo emancipatório coletivo, se mostraram ausentes. Contudo, foi possível identificar os modos de viabilizá-los e possibilitar a construção de ações coletivas que possam ser gestadas no interior da comunidade, surgidas de seus moradores e que sejam vividas no território.
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LORENA MARIA DA CUNHA BEZERRA LUZ
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"Agressividade em (cena): a cena política brasileira e a cena do inconsciente a partir do documentário "Democracia em Vertigem"
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Orientador : ROSEANE FREITAS NICOLAU
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Data: 13/12/2023
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A agressividade enquanto expressão humana perpassa a história da humanidade. Contudo, ela pode tomar distintas vicissitudes de acordo com a subjetividade do contexto sócio-histórico e da cultura. A atual cena política brasileira, especialmente no período compreendido entre os anos de 2018 a 2022, demonstrou-se permeada de circunstancias envolvendo situações da ordem da agressividade a repercutirem nas relações familiares, sociais e institucionais. O presente trabalho versa sobre o fenômeno da agressividade relacionado a atual cena política brasileira. À guisa de ilustração, utilizou-se o documentário “Democracia em vertigem” de autoria de Petra Costa. Como objetivo principal foi proposto elucidar de que forma a agressividade explicitou-se na referida película. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa teórica, além de análise fílmica. Na perspectiva da relevância das ferramentas conceituais da Psicanálise, visou-se empreender uma análise de determinados fatos políticos cotejados no filme a partir de conceitos psicanalíticos como agressividade, identificação, laço social, teoria dos discursos e discurso do mestre. Tal linha de investigação conduz à conclusão de que a dominância do discurso do mestre ao legitimar expressões agressivas traduzem-se em eventos como os verificados na atual cena política brasileira.
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RONILDA BORDO DE FREITAS
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Mulheres negras quilombolas: direitos humanos e as políticas públicas afirmativas na educação na Universidade Federal do Pará.
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Data: 08/12/2023
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O presente trabalho trouxe importantes contribuições e reflexões sobre as mulheres negras quilombolas, direitos humanos e políticas públicas afirmativas no âmbito da educação no Ensino Superior na Universidade Federal do Pará. Para tanto, realizou-se uma breve história do contexto das mulheres negras quilombolas que foram excluídas de uma sociedade marcada por ausência de uma democracia etnocêntrica que não valoriza a população negra. Diante dessa realidade, foi importante destacar que essa temática me constituiu como autora deste trabalho e me fez desejar aprofundar o estudo sobre o cotidiano de formação das mulheres negras nos processos de ingresso, permanência e realização do Ensino Superior, especialmente, das mulheres negras quilombolas. Buscou-se estabelecer uma analítica da interface da formação como garantia da universidade na perspectiva inclusiva dos direitos humanos, sobretudo, a partir da ênfase no direito à Educação no Ensino Superior por meio das políticas públicas de ações afirmativas. Desse modo, essa pesquisa teve como objetivo geral: analisar as escrevivências de uma mulher negra quilombola na Universidade Pública na Amazônia Paraense, acessando o Ensino Superior por cotas na Universidade Federal do Pará. Como objetivos específicos foram estabelecidos os seguintes: a) historicizar as memórias de uma mulher negra Quilombola, suas vivências e seus atravessamentos na Universidade Federal do Pará; b) analisar por meio da escrevivência as resistências e tensões vividas por mim como mulher negra quilombola amazônida durante a graduação; c) descrever o impacto psicossocial das políticas de ações afirmativas nas mulheres negras quilombolas, analisando como elas são subjetivadas e criam relações de pertencimento na experiência acadêmica. Para alcançar os objetivos propostos, a metodologia desta pesquisa teve uma abordagem qualitativa, buscando na genealogia de Michel Foucault e na escrevivência de Conceição Evaristo construir uma autobiografia, na Nova História Cultural do presente por meio da Micro-história e da História Oral com a análise documental das memórias orais. Diante disso, trabalhamos com alguns conceitos da genealogia em Michel Foucault, como forma de pensar a positividade do poder como insurreição dos saberes sujeitos e ativação dos saberes locais. Por fim, justifica-se este estudo, problematizando o acontecimento de que as mulheres negras na Amazônia Paraense, assim como, as mulheres quilombolas, indígenas entre outras venham ser protagonistas nos espaços ainda não ocupados por elas. Como resultados, é possível afirmar que há ganhos significativos na UFPA na garantia de direitos de ingresso e permanência de mulheres negras quilombolas na universidade, mesmo enfrentando dilemas e tensões na implantação das políticas públicas afirmativas pelo fato de que há conflitos na comunidade acadêmica e na sociedade quanto às cotas em função da defesa de privilégios de branquitude presentes em diversos espaços e relações sociais, o que implica em sofrimento no âmbito da saúde mental e coletiva de mulheres negras quilombolas atrelado às desigualdades sociais e raciais, materializadas pelo preconceito, racismo, etnocentrismo, sexismo, questões sócio-econômicas e pela discriminação negativa que estão presentes na vida delas em um país que acredita na parcialidade de uma democracia universalizante.
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JESSICA COSTA VEIGA
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SOB O OLHAR DA ESPREITA: interdições e usos na praça da república na Belém da belle époque paraense.
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Data: 08/12/2023
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A cidade de Belém carrega em sua arquitetura urbana fortes traços do período denominado por belle époque. Devido ao grande investimento público em construir uma cidade inspirada nos modos de viver europeus, reverberou no imaginário coletivo como uma época de grandes riquezas, estabelecendo-se como um cenário em disputa de narrativas da branquitude. A Praça da República foi um dos lugares que sofreu esse processo de revitalização para atender aos moldes desse modo de viver, tendo suas características modificadas a partir de um ideário social, subjetivo e cultural branco/ eurocêntrico, passando a ser um território de uso político, como forma de marco de uma gestão. Tratava-se de um período que historicamente se preocupou com a assepsia do espaço, por meio de práticas de gentrificação, caracterizadas pela prática da revitalização do espaço dito obsoleto, para atender usos neoliberais, reforçando o higienismo e a eugenia. Nesse sentido, falar de espaço urbano é interligar diretamente aos processos de subjetivação e relações raciais, tendo em vista que todos irão de alguma forma ser subjetivados e objetivados pelo racismo estrutural. Destarte, a arquitetura e urbanismo opera a biopolítica ao intervir no espaço urbano, maquiado pelo discurso perigoso de revitalização, olha sob a perspectiva do fenômeno da gentrificação, remanejando pessoas pobres e não brancas para localidades de desinteresse econômico, com uma urbanização incompleta, sem perspectiva de melhoria na estrutura física da região, onde são deixados para morrer. Assim, fazendo viver, o modo de vida da branquitude a partir de acordos tácitos, segue se beneficiando secularmente da estrutura racista que ela criou, sendo omissa em relação a esta realidade em termos de que a mesma marginaliza outras vidas, em sua grande maioria, não brancas. Portanto, essa pesquisa tem como objetivo geral problematizar os processos de subjetivação e gentrificação na belle époque paraense na Praça da República, em Belém do Pará. A metodologia utilizada para esta pesquisa consiste na genealogia de Michel Foucault, no sentido de fazer emergir os saberes locais a partir da investigação documental que possibilite a formação de séries discursivas. Bem como a Interseccionalidade, teoria crítica de raça cunhada por Kimberlé Crenshaw, devido ao método possibilitar enxergar a colisão das relações de poder, contemplando raça, gênero e classe. Para, por fim, problematizar de que forma o espaço é produzido e como opera a biopolítica e a necropolítica, sendo dois conceitos que instrumentalizam a morte de sujeitos negros pela branquitude. A política de morte foi racializada e se encontra materializada na dimensão territorial, desde o acesso à escola, lazer, trabalho, moradia digna, segurança, matando objetiva e subjetivamente corpos pretos, pobres e classes empobrecidas.
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NATASHA CABRAL FERRAZ DE LIMA
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COMPREENSÃO DAS VIVÊNCIAS DE PSICÓLOGAS SOBRE O TRABALHO NO HOSPITAL DURANTE A COVID-19
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Orientador : ADELMA DO SOCORRO GONCALVES PIMENTEL
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Data: 07/12/2023
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A pesquisa focaliza a compreensão das vivências de Psicólogas que trabalharam em um hospital em Belém/Pará, capital situada na Região Norte, durante a pandemia de Covid-19 que, de forma específica, apresentou repercussões significativas na vida dos que a experimentaram. Como em todos os setores sociais, a atuação psicológica no período pandêmico viu-se necessitada em ajustar a sua prática aos desafios emergentes dispostos pela Covid-19. Com o objetivo de realizar um estudo sobre as percepções de profissionais de psicologia que atuaram na área hospitalar durante a pandemia de Covid-19, esta dissertação é um estudo qualitativo fundamentado na teoria fenomenológica existencial. O método de análise dados parte da perspectiva de Amedeo Giorgi. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética da UFPA. O perfil das participantes da pesquisa delimitou-se a cinco psicólogas, maiores de 18 anos, residentes da grande Belém/PA, que atenderam pessoas infectadas e hospitalizadas por Covid-19 entre março de 2019 e março de 2022. A partir da análise da estrutura da experiência identificamos sentidos comuns em todas as entrevistas: 1. A Volatilidade das informações, velocidade das mudanças cotidianas, características intrínsecas à emergência de saúde; 2. Problemática dos EPI 's afetando o atendimento e o contato físico e humanizado; 3. Do paciente à equipe de saúde, a pandemia afetou a saúde mental de todos, em diferentes formas e graus de sofrimento; 4. Na pandemia, as Tecnologias de Informação e Comunicação se tornaram imprescindíveis aos atendimentos; 5. A Psicologia clínica foi considerada um serviço essencial; 6. Os profissionais de saúde expressaram a necessidade de autocuidado. Também a partir da contextualização dos aspectos singulares da subjetividade entre as entrevistas, desvelamos os aspectos variantes: 1. Capacidade de ajustamento criativo pessoal baseado na autopercepção e autoconhecimento; 2. Pandemia e questões de gênero; 3. Fragilização da saúde pós-pandemia. Considera- se relevante a pesquisa devido o desvelamento de achados subjetivos e intersubjetivos da vivência das Psicólogas na pandemia. Concluímos que o estudo apontou indicadores para novas pesquisas em saúde mental e estratégias de cuidado, bem como o aprofundamento das modalidades de realizar atendimentos psicológicos, por meio das TIC 's.
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ALEXANDRE THEO DE ALMEIDA CRUZ
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A PSICANÁLISE NA INSTITUIÇÃO JURÍDICA: da escuta do sujeito à produção de documentos
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Data: 27/11/2023
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Esta tese resulta de uma pesquisa desenvolvida no Ministério Público do Estado do Pará, cujos dados são provenientes da escuta de adolescentes em conflito com a lei, por ocasião da apuração do ato infracional. O levantamento das histórias e condições sociais demonstram que são jovens em sua maioria, oriundos de um sistema social marcado pela exclusão, pelo racismo e pela necropolítica, condição que os coloca em uma posição passiva frente ao discurso institucional que determina um trabalho de normalização e orientação que desconsidera a singularidade do caso a caso. O objetivo da tese é articular, a partir da psicanálise, como a escuta do sujeito em uma instituição jurídica pode incidir na produção de documentos, de modo que esses possam fundamentar decisões jurídicas que considerem as particularidades de cada caso. O discurso jurídico, com suas práticas voltadas aos adolescentes em conflito com a lei, pode ser identificado ao discurso do mestre, pois supõe que detém a verdade por se basear em relatórios e pareceres técnicos. Esses, entretanto, não remetem à verdade do sujeito, pois não levam em conta sua singularidade. Propõe-se ainda ressaltar a importância do discurso do analista frente ao discurso do mestre para promover algo de novo, no sentido de reconhecer o outro como sujeito que produz significantes e é capaz de falar de sua própria história e dar sentido ao seu ato. A presença da psicanálise nas instituições jurídicas favorece que a dimensão daquilo que é dito pelos sujeitos possa ser incluído na elaboração e produção de documentos, levando em conta, portanto, a escuta desses sujeitos, escapando, assim, da lógica do tecnicismo e da exclusão. A teoria dos discursos de Jacques Lacan (1959-60/1992) fundamenta a discussão sobre a abertura à possibilidade de fazer giro nos discursos institucionais, intervindo, em algum ponto, no discurso do analista, que não se limita apenas à prática da escuta dos sujeitos em uma instituição, na medida em que pode ter desdobramentos, tais como a incidência na produção de documentação e, consequentemente, sobre os aspectos de avaliação. Serão apresentados fragmentos de quatro relatórios de adolescentes que cumpriram internação em Unidades no Estado do Pará. Ficou demonstrado como a força do discurso do mestre institucional age no sentido de disciplinar o adolescente mediante a sua condição de passividade, escutando apenas os atores institucionais que emitem as respostas documentadas.
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GESSE DUQUE FERREIRA DE OLIVEIRA
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O CORPO E O DISCURSO DO CAPITALISMO: ENLAÇAMENTOS POSSÍVEIS A PARTIR DO FILME HER
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Orientador : ROSEANE FREITAS NICOLAU
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Data: 27/10/2023
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A forma de estabelecer laços está sofrendo mudanças importantes. Até há algum tempo, para encontrar alguém era necessário circular por festas, pelo trabalho, pela universidade com um corpo físico. A tecnologia mudou essa cartografia, hoje se pode ficar em casa e passear pela internet com um perfil e uma foto para se conectar a outros sujeitos numa relação mediada por telas como também é possível construir relacionamentos com inteligências artificiais como mostra o filme her (JONZE, 2013), no qual um escritor de cartas se apaixona por uma voz de um sistema operacional. É nesse contexto que essa tese se situa, tem-se o objetivo de investigar o destino que o corpo tem no laço que se estabelece entre um sujeito e um gadget como parceria amorosa, numa referência ao que Lacan denominou como discurso do capitalismo, um tipo de discurso específico que exclui o laço, a castração e o amor. Foram construímos três eixos para abordar essa problemática. Primeiramente, se articulou as novas formas de se enlaçar na contemporaneidade, desde as relações offline, passando pelas online até as relações com os gadgets; em seguida, se abordou as modalidades de discurso e sua ameaça de dissolução pelo Mercado; e, por fim, a concepção que o corpo tem na psicanálise freudo-lacaniana. Utilizou-se o filme her (JONZE, 2013) como um caso paradigmático das novas tentativas de laços sociais e problematizou-se algumas cenas para se pensar a relação entre sujeito, tecnologia, discurso e corpo, buscando recolher nessa obra cinematográfica questões pertinentes a esse debate. O olhar nessa tese não se direciona às ferramentas tecnológicas, em sua defesa ou ataque, mas aos laços que os sujeitos podem estabelecer por meio da tecnologia e com a tecnologia. Pensou-se que esses eixos pudessem confirmar a hipótese de que o discurso do capitalismo força a retirada do corpo do outro ou trata o outro como uma mercadoria privilegiando um gozo solitário. Nesse discurso, o corpo deve ser rechaçado, negado e retirado do laço, abolindo o sujeito, reduzindo-o ao orgânico, numa tentativa de também transformá-lo em um eu autônomo, numa máquina, denegando a experiência do inconsciente.
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JOHN LENNON LIMA E SILVA
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A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA E O MOVIMENTO ESCOLA SEM PARTIDO: NEOCONSERVADORISMO E SUBJETIVAÇÃO NA BNCC
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Data: 06/10/2023
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O objeto deste trabalho é o movimento Escola sem Partido no Brasil e as ações do mesmo no currículo em termos de atravessamentos reacionários na produção da subjetividade brasileira. As inflexões abordadas neste texto buscam interrogar o papel reformista envolvido na tentativa de disseminar, na educação, uma cultura dominante, por meio de mecanismos de controle e de subjetivação curriculares, tal qual se direcionou o movimento Escola sem Partido nos últimos anos. Usando as reformas curriculares como ponto de análise, referenciamos o uso da legislação escolar como dispositivo que seleciona saberes, comportamentos e estabelece, com base na educação utilitarista, modelos de sujeito que exaltam valores morais e nacionalistas, promovendo condutas disciplinares de acordo com o projeto político de poder de viés conservador. Diante disso, cartografamos dois momentos distintos da história educacional brasileira com pretensões reformistas: a promulgação da Lei 878/69, que estabeleceu a obrigatoriedade da disciplina Educação Moral e Cívica durante a Ditadura Civil-Militar, e a criação do projeto de Lei N.º 2974/2014, que apresentava as diretrizes do “Escola Sem Partido”. Esses dois períodos remetem a um processo histórico, no qual se inseriu um discurso conservador/tecnicista, e ambos apresentam semelhanças determinadas principalmente por ações que silenciam o carater critico-politico das disciplinas de ciências humanas, acusadas de doutrinação em sala de aula. Deste modo, faremos uma análise documental das referidas legislações, buscando problematizar seus discursos, disputas e objetivos, usando as teorias de Michel Foucault e seus estudos sobre genealogia e poder. Busca-se também na História Cultural e na pesquisa documental subsídios analíticos como metodologia dessa pesquisa. Com isso, investigaremos as mudanças na base comum curricular e sua tentativa de estimular condutas, valores e comportamentos na organização escolar, discutindo sobre o processo biopolítico e disciplinar no qual está inserido este debate político e os desdobramentos do movimento Escola sem Partido. Perceber esses embates pelas hegemonias de um currículo que como base a lógica fundamentalista atrelada à ordem militar nos permite identificar, dentro da perspectiva curricular e nos discursos reformistas, características que, além de ressaltarem o caráter anticientífico e revisionista, motivam a reprodução de e que reprodução de conceitos que desvalorizam a ciências humanas como fonte de conhecimento e o avanço e supervalorização de uma moral de viés religioso, que auxilia na desconstrução do debate sobre direitos humanos e igualdade. Diante do crescimento do neoconservadorismo como base educacional e política, se faz necessária a compreensão desses dispositivos de poder e sua manifestação como reguladores da verdade e do saber que discriminam, subjetivam, valoram, objetivam e modulam as práticas cotidianas educacionais em defesa de um modelo de civilidade hegemônica fundamentalista e reacionária.
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CYNTIA SANTOS ROLIM
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ENTRE O SILÊNCIO DAS ÁGUAS: PROBLEMATIZAÇÕES ACERCA DA VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL NO CONTEXTO AMAZÔNICO MARAJOARA
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Data: 06/10/2023
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A violência sexual que assola a realidade brasileira de inúmeras crianças e adolescentes tem chamado, cada vez mais, a atenção da sociedade e do poder público, sobretudo nas últimas duas décadas, considerando-a enquanto um fenômeno multicausal, multifatorial e multidimensional e de uma grave problemática de violação dos direitos e dignidade humana. Diante da alta incidência de manifestação desse tipo de violência no contexto amazônico, propôs-se traçar uma pesquisa a partir da realidade do território norte do Brasil, em especial, na região do Marajó do estado do Pará. Assim, objetivou-se enquanto centralidade problematizar as práticas de enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil no contexto amazônico do Marajó/PA, a partir do Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI da Pedofilia no estado; assim como analisar como se dão as práticas intersetoriais diante do enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil no Pará; interrogar o funcionamento da rede socioassistencial de garantia de direitos no enfrentamento à violência sexual infanto-juvenil; e refletir sobre o compromisso ético, social e político da Psicologia no enfrentamento à exploração sexual infanto-juvenil no contexto amazônico. Dessa forma, utilizou-se de arcabouço teórico-metodológico da arquegenealogia, que nos propõe refletir sobre as estruturas, práticas e conceitos importantes acerca da produção subjetividades, dos saberes e poderes, assim apropriando-se da análise de documentos específicos para a construção de um percurso investigativo a partir da análise documental, considerando tais documentos como acontecimentos a serem analisados, optando-se pelo Relatório da CPI da Pedofilia no Estado do Pará, ocorrida entre os anos de 2008 a 2010, que apuraram as denúncias acerca dos crimes sexuais praticados contra esse público no estado em tela. Nesse sentido, a presente pesquisa fora dividida em três eixos de análises que se complementam. No primeiro, aponta-se a construção histórica e dos marcos legais das crianças e adolescentes no Brasil, remontando a lógica garantista e atravessada pelo compromisso de diversas entidades que formam o Sistema de Garantia de Direitos – SGD; no segundo eixo analítico, explana-se acerca da exploração sexual diante da região Amazônica, apresentando os recortes problematizados a partir do Relatório da CPI; e, posteriormente, encerra-se apresentando a cultura do estupro enquanto aspecto estrutural da sociedade vigente que privilegia atos perversos, a partir da objetificação e subalternização da mulher na sociedade, apresentando o saber psicológico como fundamental diante desse enfrentamento. Considera-se que tal pesquisa não encerra esta temática, mas possibilita a abertura dos diálogos para um enfrentamento real a partir de ações articuladas e que possam atingir planos estratégicos não a nível de pessoas já marcadas pela exploração sexual, mas diante de uma perspectiva preventiva, garantindo acessos diversos, sobretudo à dignidade humana e territorial, desde tenra idade.
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RITA DE CASSIA SANTA FE BORGES DUARTE
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Crianças vivendo com HIV/AIDS: análise da oferta assistencial em um hospital público de alta complexidade.
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Data: 29/09/2023
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Esta pesquisa pretende investigar a oferta assistencial hospitalar, sob a perspectiva da psicologia social em saúde, de crianças vivendo com HIV/AIDS em uma instituição de média e alta complexidade no município de Belém/PA. O ambiente hospitalar é constituído de atores e práticas oficiais bem como arranjos do cotidiano. Os atores sociais implicados nessa proposta de pesquisa enquanto sujeito de direito são as crianças, numa perspectiva pouco investigada no âmbito acadêmico como delineamento de pesquisa. Inicialmente, nos primeiros capítulos, é realizado uma contextualização histórica da infância, demonstrando como essas são percebidas nas sociedades ocidentais, especificamente no Brasil, além da mudança em perceber tais momentos específicos desse segmento social, para demonstrar as necessidades psicossociais implicadas nessa fase do ciclo vital. Uma das categorias fundamentais nesta pesquisa será a infância, assim como cultura infantil, que serão tratados a partir de uma literatura especializada. Em seguida são apresentadas as políticas públicas direcionadas as crianças de maneira geral e específica, direcionadas as crianças vivendo com HIV/AIDS. Contextualizar a epidemia do HIV/AIDS e as políticas direcionadas de maneira direta e indireta as crianças. Assim nasce o problema de pesquisa: quais as condições assistenciais disponibilizadas às crianças hospitalizadas no hospital de média e alta complexidade e referência em doenças infecto parasitárias? Elas atendem e contemplam as exigências estabelecidas no arcabouço legal vigente no Brasil atualmente? O método de pesquisa qualitativo e bibliográfico, ou seja, por meio da Análise de Conteúdo, onde será realizado análise em documentos de domínio público enquanto recurso metodológico. O objetivo geral é o de analisar dimensões e práticas em um serviço de atendimento a crianças e adolescentes em um hospital na área metropolitana de Belém/Pará a partir de documentos de domínio público. Como resultados: os documentos analisados e cotejados com o serviço hospitalar de atendimento às crianças com AIDS indicaram a existência de várias estruturas, presença e ausência de protocolos, práticas institucionais exigidas por lei como Classe Hospitalar e Brinquedoteca, equipes multiprofissionais e interdisciplinares. Uma evidência é um serviço assistencial é um processo de trabalho cotidiano com implantações, descontinuidades, avanços e paralizações de natureza diversas, intra e extra serviços, ficando uma espécie de lição que o trabalho é contínuo pois as crianças não podem esperar, pois suas vidas e a qualidade de suas vidas estão a depender dos adultos, nesse caso.
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CARLA REGINA GUERRA MOREIRA LOBO TEIXEIRA
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PRODUÇÃO DA SAÚDE MENTAL E COLETIVA NO ENSINO SUPERIOR PRIVADO NA GRANDE BELÉM-PA: MEMÓRIAS DE UMA PROFESSORA-PESQUISADORA DE PSICOLOGIA
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Data: 26/09/2023
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A saúde mental docente, em geral, tem sido estudada pela via da precarização do trabalho, pelo sofrimento psíquico de um trabalho que é pouco valorizado no Brasil, ou ainda pelas práticas de gestão e educação em saúde mental e coletiva. Também é comum visualizar pesquisas a respeito da qualidade de vida na docência e a percepção de docentes sobre a própria saúde e riscos da profissão. Todavia, este trabalho de Mestrado em Psicologia tem como objeto a produção da saúde mental docente por meio das narrativas memoriais de uma professora do Ensino Superior Privado, na Grande Belém-PA e pesquisadora de Psicologia, a partir dos processos singulares que esta desenvolve como micropolítica do cuidado integral à saúde, considerada enquanto modo de andar a vida. Em termos de problema de pesquisa, observa-se que entre o trabalho prescrito e o realizado, é possível uma sobrevivência mortificada e reprodutiva despersonalizante em alguns momentos, porém, paradoxalmente, também é possível efetuar o trabalho vivo como criação, no cuidado de si e da cidade. Pergunta-se: quais tecnologias de si e práticas de cuidado em integralidade da saúde mental e coletiva são produzidas pela docente e pesquisadora de Psicologia que é a autora deste estudo de mestrado e decidiu fazer uma pesquisa autobiográfica a respeito das análises de suas memórias que são arquivos pessoais enquanto professora no Ensino Superior Privado, na Grande Belém-PA? Diante da precarização e desvalorização das práticas docentes e das violências de gênero sofridas por mulheres no cotidiano do trabalho, quais ações de resistências na produção da saúde mental e coletiva são possíveis de serem construídas a partir das narrativas autobiográficas da professora do Ensino Superior Privado que realiza este estudo? Justifica-se esta atividade de pesquisar a produção da saúde mental da docente de forma autobiográfica porque pouco se tem ouvido as vozes de mulheres no seu lugar de fala, além do que, a História Oral, em trabalhos de estudo de caso com autobiografias e biografias podem trazer contribuições relevantes para a Psicologia, a sociedade e a saúde na esfera de análises documentais e com diários de campo que são memórias políticas, culturais e afetivas do exercício de cuidado de si e da cidade como dispositivo de equidade, integralidade, intersetorialidade e cogestão da educação em saúde experimentada pela própria docente pesquisadora como trabalho vivo, em uma pesquisa-intervenção. Como metodologia, escolhi a História Oral, a autobiografia, a produção do diário de campo, a pesquisa documental e algumas ferramentas da Cartografia e dos estudos da Clínica do Trabalho na Análise Institucional a partir do cuidado de si e da cidade, no eixo metodológico da categoria de integralidade como prática de produção da saúde mental e coletiva em uma ética da existência da micropolítica do trabalho vivo. Pude vivenciar resistências e inventar novos modos de existência por meio da atividade docente, de pesquisadora e como psicóloga. Apesar das pressões experimentadas na precarização do meu trabalho, fui adquirindo maneiras de lidar com elas para que não me tomassem a ponto de me impedir de criar e acredita em mundos possíveis.
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ALBA CAROLINE TAVARES DOS SANTOS
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Envelhecer no capitalismo: um estudo psicanalítico sobre o mal-estar e a reificação da velhice no Brasil contemporâneo
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Data: 22/09/2023
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O objetivo da presente dissertação de mestrado em psicologia é analisar os efeitos do capitalismo sobre os corpos considerados velhos. Trata-se de pensar como o capitalismo contemporâneo contribui para as maneiras de se relacionar com a velhice e possibilidades de produção de mal-estar, logo, sofrimento psíquico. A pesquisa nasce tanto do um encontro teórico, quanto do encontro com a experiência encarnada do envelhecer no capitalismo que ensinou a pensar, esmiuçar a problemática, a trilhar os caminhos de escuta psicanalítica sobre a velhice e assim os desdobramentos teóricos. Assim, a narrativa de Margarida é fio condutor e problematizador da discussão, uma ficção possível fruto desses encontros. Consequência da transferência, é antes de tudo a narrativa que brota dos efeitos na autora. No entanto, ao se direcionar pelo saber sobre a vida, o manuscrito não se encerra com considerações finais, mais considerações passageiras ao apontar a continuidade de saberes e sua transmissão pela palavra e os encontros.
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ANDERSON REIS DE OLIVEIRA
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ESCREVIVÊNCIAS DE UM ARTISTA NEGRO AMAZÔNICO – INSURREIÇÕES CONTRA OS RACISMOS – ÉTICA, ESTÉTICAS E POLÍTICAS CONTRACOLONIAIS
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Data: 21/09/2023
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O objeto deste trabalho são as práticas artísticas e de escrita de si pelas escrevivências negras amazônicas como forma de resistências aos racismos como movimento ético, estético e político. Pergunta-se: quais memórias e histórias se entrecruzam nos percursos de pessoas negras na escolarização e na universidade como política afirmativa que traz tensões diversas, porém, abre campos de direitos e subjetivações que criam passagens inventivas de novos mundos? Que dramáticas foram experienciadas por estudantes negros na (des)formação dos sistemas de ensino e as práticas artísticas deram possibilidades de devir diante dos racismos vividos no cotidiano das reações sócio-afetivas e institucionais se tornam escrivências negras como dispositivo de produção da diferença e estilo de existência da vida como obra de arte? Esta pesquisa justica-se pela ausência de trabalhos a respeito das táticas de resistências de estudantes negros(as) pela arte na Amazônia como modo de criar para si corpo sem órgãos e fazer da própria existência uma vida afirmativa de lutas e inventividades enquanto prática contracolonial. Este trabalho tem impacto no enfrentamento aos racismos na educação e no cotidiano bem como nas políticas públicas e em um conjunto de áreas do conhecimento. A metodologia é um percurso e trajetória que se inscreve por meio do caminhar da cartografia da escrita de si pelo diário de campo, pela escuta das memórias e a transformação das mesmas em escrivências em lentes em perspectiva da microhistória com os usos de algumas estratégias da genealogia, tais como: insurgência dos saberes sujeitados e ativação dos saberes locais. Entre os resultados iniciais, é possível delinear que a produção artística de uma pessoa que vivencia o tornar-se negro ao se deparar com racismos faz coletivos como a formação de um bando e uma potência de multidão nas encruzilhadas que fazem aberturas onde parecia não existir possibilidade de transformação das práticas cotidianas extremamente cristalizadas pelo racismo institucional e estrutural.
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FELIPE SAMPAIO DE FREITAS
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A VIDA POR UM CLICK: governamentalidade algorítmica e produção de subjetividade na internet
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Data: 19/09/2023
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Esta tese tem como proposta central o debate sobre a constituição de subjetividade na relação entre o sujeito contemporâneo e o neoliberalismo em suas facetas biopolíticas. Instituindo como principal ponto de partida a inerência da internet (e de sua quase infinita gama de artifícios tecno-virtuais-digitais) em relação à subjetividade contemporânea e seus modos de vida, neste percurso, com o aporte teórico da filosofia de Michel Foucault, bem como, de outros autores, analisaremos alguns traços desta relação no que chamaremos de “atualíssima contemporaneidade”, isto é, o momento datado no registro das duas primeiras décadas do século XXI, que consta transversalizado por novas formas subjetivantes, a partir das quais os sujeitos tem suas vidas submergidas no âmbito da internet e do mundo informacional. Elencaremos alguns âmbitos a serem abordados, os quais entendemo-los como de suma importância ao diagnóstico do que seriam os sujeitos constituídos no tempo da internet: 1 – a constituição de subjetividade intrínseca ao capitalismo neoliberal, o qual promove um modelo de subjetividade onde o que se estabelece como princípio seria a produtividade, a eficácia e o autoempresariamento; 2 – a manifestação ininterrupta dos novos métodos de vigilância, os quais outrora atuavam somente pela via física-analógica (de instituições como hospitais; fábricas; prisões etc.), mas que, no século XXI, também se arvoram pelo viés do mundo virtual-modulado (internet; redes sociais; câmeras de vigilância); 3 – o aparecimento dos dispositivos de precarização-rarefação da vida/subjetividades (a exemplo, mencionem-se os diversos aplicativos/apps que pretendem “dinamizar” o mundo do trabalho contemporâneo) pelo registro tecno-informacional; 4 – finalmente, a intersecção entre a vida, a constituição de subjetividade e os panoramas biopolíticos, operacionalizados a partir das chamadas governamentalidades digitais, ou governamentalidades 2.0, contemporâneas. É desta forma que tais sujeitos contemporâneos têm suas subjetividades sempre constituídas e enviesadas por meio da internet: a partir de clicks, likes ou dislikes. Foucault diagnostica, em Nascimento da Biopolítica (1979), que um dos principais traços de constituição de subjetividade contemporânea seria o do homo oeconomicus, isto é, do sujeito que segue o balizamento neoliberal/biopolítico de produção/produtividade intensa da e na vida. O neoliberalismo, enquanto arte de governar e conduzir subjetividades, elevou seus panoramas biopolíticos, bem como, suas agendas de produtividade, com tais avanços tecno-virtuais-digitais. Nossa tese é de que o homo oeconomicus agregou nova face sob os arredores das circunstâncias tecnoinformacionais atuais, sendo dinamizado e potencializado no tempo da internet.
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KAREN PRISCILA LIMA DOS ANJOS
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ATIVISMO LGBT EM TEMPOS DE CÓLERA: ENGAJAMENTO POLÍTICO DE NOVOS ATIVISTAS ENTRE 2018 E 2022
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Orientador : MARIA LUCIA CHAVES LIMA
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Data: 18/09/2023
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O ativismo LGBT brasileiro possui um histórico que remonta ao período de redemocratização do país, passando por diferentes fases, crises e modelos de atuação até chegar aos dias atuais face ao fortalecimento de discursos de extrema-direita em âmbito nacional. Contudo, a literatura aponta que os fatores de mobilização para o engajamento político ou militância de pessoas LGBT não pode ser encarado como um processo automático vinculado a orientação sexual e identidade de gênero, pois a decisão de tornar-se ativista perpassa por uma diversidade de fatores, especialmente ao se considerar o descrédito a modelos tradicionais de reivindicação social por jovens na atualidade. A partir da análise deste contexto macropolítico recente, o presente projeto de pesquisa tem como objetivo compreender quais são os fatores que levam as pessoas de Belém (PA) a ingressarem em grupos e coletivos de ativismo LGBT a partir do ano de 2018. O desenho metodológico proposto parte de reflexões da psicologia social crítica e contempla o mapeamento dos grupos e coletivos LGBT atuantes na cidade de Belém e entrevistas com seus integrantes que ingressaram a partir do ano de 2018, este que foi marcado pelo período eleitoral que elegeu o atual governo federal do país em meio ao avanço de discursos de ódio e da violência LGBTfóbica.
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FLAVIA DANIELLE DA SILVA CAMARA
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POLÍTICAS DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO NEGRA: necropolítica, tensionamentos e caminhos para equidade racial em Belém
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Data: 15/09/2023
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A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) está em vigor desde 2009 pelo Ministério da Saúde e é uma política do SUS. Contudo, ainda são poucos os municípios brasileiros que a implementaram em seus territórios o que ratifica a pertinência do racismo institucional e estrutural no país. Nesse contexto, a necropolítica enquanto projeto político de Estado e categoria filosófico-analítica, auxiliou na compreensão de como uma saúde-diretriz foi estruturante do Estado-nação brasileiro e a técnica da eugenia estiveram à serviço da gestão da morte. Mediante as práticas coloniais, o estado de exceção e o inimigo racializado, criou-se as condições para administrar e fazer viver em mundos de mortes, atualizando as noções de humanidade, cidadania e instituindo modos de ser. Esta pesquisa objetivou analisar a maneira como a necropolítica estruturou os tensionamentos em torno da implementação da Política Municipal de Saúde da População Negra em Belém. Partiu-se da Epistemologia do Pensamento Feminista Negro e a interseccionalidade foi a metodologia utilizada para organizar o Método Misto (MM) de pesquisa qualitativa e quantitativa na qual se realizou análise dos documentos; Plano Municipal de Saúde (2002-2025) e o Plano Plurianual (2022-2025), análise das informações presentes no MUNIC/IBGE e realizou-se levantamento estatístico (cadastro individual e-SUS/AB, IBGE, DataSUS, Painel de Monitoramento SIM/SINASC) em diálogo com referenciais teóricos no campo de saúde da população negra. Assim, demonstrou-se a partir dos cadastros do e-SUS/AB (2022) do município que 475.113 indivíduos eram negros (pretos + pardos), 73.509 brancos, 12.691 amarelos e 659 indígenas, sendo a população negra a que mais afirmou ter hipertensão e diabetes (doenças prevalentes na raça), tem o maior índice de mortalidade materna e infantil por causas evitáveis e, ainda assim, Belém não implementou a Política Municipal de Saúde da População Negra. Concluiu-se que, mesmo os negros constarem como a maioria entre os cidadãos ativos no sistema de saúde municipal, a técnica da eugenia forjou o embranquecimento como saída de emergência à mestiçagem brasileira e, em Belém ganhou ares de “morenidade”. Esse processo sedimentou o caminho para a existência do mito da democracia racial que se utiliza da negação do racismo na sociedade e lança mão da igualdade dos indivíduos quando se mobilizam as diferenças no sentido da pluralidade, respeito e potência presente, por exemplo, nas denúncias e reivindicações dos movimentos negros e de mulheres negras por políticas afirmativas como é o caso da PNSIPN. A cidade de Belém vivenciou avanço com a instalação do Grupo de Trabalho Intersetorial da Saúde da População Negra em 2022, porém é preciso situar as ações no âmbito das políticas públicas de Estado no sentido da promoção à equidade racial em saúde, reafirmando a negritude na Amazônia belenense.
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LISTHIANE PEREIRA RIBEIRO
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O DESAFIO CONTEMPORÂNEO DO DIÁLOGO: Um encontro entre Hans-Georg Gadamer e Marshall Rosenberg
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Data: 15/09/2023
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Poderíamos supor que o desenvolvimento humano, social e tecnológico que alcançamos ao longo do tempo tivesse ampliado e aprofundado a nossa capacidade de diálogo. No entanto, temos constantes apelos e desafios que surgem cotidianamente que parecem atestar, no mínimo, algumas dificuldades nesse campo e, consequentemente, no relacionamento humano. Essa tese se constitui a partir do desafio de se colocar em um diálogo que valoriza a intimidade e supera os estranhamentos, visualizando os impasses e tensões que podem estar aí contidos. Para tanto, vamos nos aproximar dessa questão através da conversa com dois autores que se ocuparam com esse problema e que entendemos como dois interlocutores em potencial: o filósofo alemão Hans-Georg Gadamer (1900-2002) e o psicólogo norte-americano Marshall Bertram Rosenberg (1934-2015). A presente tese é uma pesquisa teórica, de abordagem qualitativa, fenomenológica e hermenêutica. O objetivo da pesquisa é compreender se e como a Comunicação Não Violenta responde à constatação gadameriana de que somos cada vez mais incapazes ao diálogo. Trata-se de uma “fusão de horizontes”, um “intercâmbio de pareceres”, que visa a promover reflexões sobre o que o diálogo implica, aqui entendido como comunicação de interpelação, que pressupõe “boa vontade” para ouvir “o que está vivo”, e solidariedade para participar deste jogo cooperativo em que, ao final, constrói-se algo novo. Ao final da tese, concluímos que Rosenberg consegue se colocar como interlocutor diante a provocativa gadameriana e oferecer respostas. Para tanto, apresenta um arcabouço teórico e prático que facilita a conexão empática, propondo a tradução de julgamentos e a substituição da linguagem cotidiana por uma linguagem não violenta, que “serve à vida”.
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ANTONIO SOARES JUNIOR
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(DES)MEDICALIZAÇÃO DAS IDENTIDADES E SEXUALIDADES DISSIDENTES: RESISTÊNCIAS DOS SISTEMAS CONSELHOS DE PSICOLOGIA FRENTE ÀS TENTATIVAS DE EXTERMÍNIO DAS SUBJETIVIDADES LGBTQIAP+
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Data: 12/09/2023
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A excessiva medicalização e patologização de modos devida tem acarretado uma série de problemas para a nossa sociedade atual, sendo alvo de preocupação em diversos estudos e intervenções realizadas por várias instituições. Quando nos concentramos nas esferas das orientações sexuais e identidades de gênero, podemos observar um cenário profundamente perturbador e a psicologia não pode estar aquém desta discussão. Ao longo dos anos, a Psicologia deixou de ser meramente uma ferramenta legitimadora da heteronormatividade e cisgeneridade, tornando-se uma fonte de resistência das diversidades sexuais e de gênero. Como objeto, buscou-se pensar as práticas na sociedade brasileira impulsionadas pelo avanço dos movimentos LGBTQIA+ e o protagonismo da Psicologia brasileira, por meio do Sistema Conselhos de Psicologia. Perguntou-se quais práticas vêm sendo construídas pelo Conselho Federal de Psicologia e pelos Conselhos Regionais de Psicologia quanto os preconceitos, discriminações e violências vividas pela população LGBTQIAP+? Quais efeitos de saber, de poder e subjetivação foram produzidas nestas práticas em termos desmedicalização e despatologização da população LGBTQIA+? Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar as práticas de resistências do Sistema Conselhos de Psicologia diante da medicalização e da patologização das orientações sexuais e identidades de gênero que divergiram da heterocisnormatividade. Os objetivos específicos foram: problematizar as resistências realizadas pelo Sistema Conselhos de Psicologia em relação à tentativa de aniquilamento da população LGBTQIA+; interrogar os processos de despatologização que apareceram como pauta na agenda do Sistema Conselhos de Psicologia em relação à Psicologia no atendimento à população LGBTQIA+. O procedimento metodológico utilizado neste trabalho foi de uma pesquisa qualitativa bibliográfica e alguns aspectos conceituais e metodológicos da arqueogenealogia de Foucault, que nos permitiram pensar a contemporaneidade, questionando práticas biopolíticas e necropolíticas voltadas à população LGBTQIA+.
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JÉSSICA PINGARILHO BATISTA
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NA SALA DE ESPERA: RESSONÂNCIAS DO DIAGNÓSTICO DE AUTISMO NA RELAÇÃO MÃE-CRIANÇA E IMPORTÂNCIA DA ESCUTA PSICANALÍTICA NO AMBIENTE AMBULATORIAL
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Data: 05/09/2023
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Esta dissertação buscou investigar a ressonância do diagnóstico de autismo na relação mãe-criança, destacando-se a possibilidade de que esta nomeação não se cole como uma marca identificatória para o sujeito, configurando impasses ao olhar direcionado a esta, bem como o giro discursivo que pode ocasionar; tendo como objetivos específicos: situar o conceito de autismo desde o discurso médico - em seu entendimento dentro um espectro - em contrapartida ao posicionamento teórico e ético psicanalítico; discorrer acerca do discurso materno sobre a criança, considerando a primordialidade deste laço para a constituição de sujeito; e apontar as possíveis ressonâncias no enlace destes discursos na criança, a partir dos atendimentos realizados no Centro de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança (CASMUC), no projeto O lugar da mulher na função materna: torções entre o feminino e o materno no cuidado à criança. Metodologicamente, caracteriza-se como uma pesquisa teórico-clínica, em que os conceitos investigados têm origem na teoria psicanalítica, desenvolvidos por Sigmund Freud (1895-1939) e continuados em seus avanços com Jacques Lacan (1953-1980), assim como autores contemporâneos. Aliados à proposta da escuta clínica realizada na universidade, são entrelaçados fragmentos de quatro casos atendidos no CASMUC através do projeto, em busca de proporcionar às mulheres a oportunidade de transformação por meio de sua própria fala, não prometendo suprimir o insuportável, mas bordejar algum suporte singular, diante do não-saber e do sintoma – como tantas falas, que giraram em torno do diagnóstico das crianças -, algo pode ser contornado de outras maneiras, distintas das repetitivas e promotoras de sofrimento psíquico. Compreendemos que é na relação individualizada, na escuta e na prática de cada mulher em sua relação com o filho(a), no exercício diário e intermitente dos cuidados atravessados por um ou mais diagnósticos, que foi possível trabalhar como um espaço de promoção da saúde psíquica, criando também uma rede de apoio. Sem oferecer uma visão romantizada da maternidade, nem prometer uma escuta que exclua o desconforto inerente à relação entre o sujeito e o Outro.
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ALBERTO GOMES DE FREITAS FILHO
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Salvando o mundo (dos jogos): Uma investigação psicanalítica da relação entre videogames e grupos gamer
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Data: 30/08/2023
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Segundo a Pesquisa Game Brasil 2022, 74,5% dos brasileiros tem o hábito de jogar videogames. Dados globais apontam para 3 bilhões de pessoas, tornando os games responsáveis por mais da metade do valor da indústria de entretenimento mundial, alcançando uma soma de US$ 163,1 bilhões em 2021. Tais indicadores demonstram que esta tecnologia alcançou um patamar de destaque dentro da cultura, a ponto de se tornar um objeto capaz de mediar identidades e formar grupos. Neste caso, estamos falando dos gamers. Ao longo das décadas, os grupos gamer demonstraram com certa frequência uma atitude de intolerância frente à alteridade, sendo o Gamergate o exemplo mais famoso desta postura de hostilidade a minorias sociais e a debates políticos progressistas. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi o de investigar a formação dos grupos gamer, tentando entender de que maneiras esses jogadores se relacionam com o videogame, enquanto sujeitos e enquanto grupo, e como isto media sua relação com a sociedade mais ampla. Para isto, utilizamos três frentes teóricas: primeiramente examinamos algumas teorias dos game studies para compreender que elementos compõem um jogo e o que o torna uma atividade prazerosa. Em seguida, a teoria psicanalítica nos ajuda a observar de que maneiras o sujeito que joga sente prazer e o que isto pode nos dizer sobre a relação entre sujeito e jogo, bem como também nos demonstra de que forma se dá o processo de identificação dos sujeitos com a categoria gamer e sua consequente afiliação a tais grupos. A terceira base teórica está alinhada à escola frankfurtiana, mais especificamente no que diz respeito às críticas feitas por Horkheimer e Adorno a uma sociedade que se relaciona de maneira patógena com a racionalidade técnica. Com os resultados obtidos, argumentamos que o jogo se estrutura de tal forma a ocupar uma função psíquica importante para alguns sujeitos na medida em que os torna capaz de, ao menos nesse mundo virtual, se aproximar de determinadas fantasias de supremacia e de um Ideal de Eu fortemente calcado em aspectos de ordem, controle e dominação que, por sua vez, são adquiridos a partir da própria dinâmica social da maneira como ela se dá em uma sociedade excessivamente afinada à razão e à técnica.
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MICHELE DE NAZARE PALMEIRA MOURA
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PRODUÇÃO DE SENTIDOS DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO SOBRE A NOTIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE
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Data: 30/08/2023
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A violência é caracterizada como um fenômeno multifacetado que está vinculado a inúmeros contextos. Para a Organização Mundial da Saúde, é um grave problema de saúde pública e os indivíduos mais afetados por este fenômeno são as crianças e os adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos. Para Minayo (2007), a violência contra crianças e adolescentes é todo ato ou omissão cometido pelos pais, parentes, outras pessoas e instituições capazes de causar danos severos à vítima. Neste sentido, este estudo visa analisar a produção de sentido dos profissionais de educação sobre a violência contra crianças e adolescentes e o processo de notificação dos casos em uma região de Belém-Pará. É uma pesquisa qualitativa, com metodologia de análise das práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano, fundamentando-se no referencial teórico do Construcionismo Social. Os participantes deste estudo são profissionais da educação básica, sendo a maioria mulheres (78%), na faixa etária de 40 a 49 anos (61%), com uma trajetória de mais de 10 anos (85%) na educação básica, casadas (43%) e autodeclaradas pardas (50%). A análise revela que as profissionais compreendem o caráter multicausal da violência, entendem a importância de enfrentar a situação, no entanto desconhecem o processo de notificação da violência e as práticas de atuação enquanto profissionais da educação. Existe formação continuada promovida pelas instituições, mas não contemplam essa temática, ocasionando medo, desconhecimento e insegurança no ato de notificar, além de desencadear consequências que dificultam a efetivação das políticas públicas, bem como a falta de qualificação profissional para lidar com os casos de violência contra criança e adolescente. Neste sentido, estudar a produção de sentido dos profissionais da educação diante da violência e o processo de notificação são fundamentais na política de proteção à infância e a adolescência. Para tanto, esperamos que esse estudo propicie a ampliação de discussões e reflexões que visam fortalecer a rede de proteção a criança e o adolescente, assim como fomentar a formação continuada sobre o assunto e ações mais efetivas de cuidado a esse público.
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JESSICA SAMANTHA LIRA DA COSTA
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Violência demasiadamente humana: uma leitura psicanalítica da Trilogia da Frieza, de Michael Haneke
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Data: 28/08/2023
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O presente estudo enfocou a noção de violência na obra freudiana, aqui pensada em uma possível articulação com o cinema de Michael Haneke - mais especificamente, com a chamada Trilogia da Frieza do diretor, composta pelos filmes O Sétimo Continente (1989), O Vídeo de Benny (1992) e 71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso (1994). Nesse sentido, evitando a pretensão da realização de interpretações de cunho reducionista e/ou meramente patologizante, seus objetivos podem ser divididos em quatro partes centrais: 1) abordar a construção, o desenvolvimento e as nuances da noção de violência no pensamento de Freud; 2) realizar um resgate teórico-conceitual acerca das relações entre a psicanálise e a arte cinematográfica; 3) esmiuçar a especificidade do cinema hanekiano e da filmografia aqui analisada; 4) realizar uma leitura psicanalítica da Trilogia da Frieza de Haneke. Para tanto, a metodologia aqui adotada consistiu na revisão bibliográfica, sendo privilegiado, conforme sugerido acima, o referencial teórico freudiano, e na análise fílmica, privilegiando, conforme relatado, o rigor metodológico da racionalidade científica, fazendo com que pudéssemos contemplar as obras hanekiana, a partir da decomposição de seus elementos. No que tange aos resultados, chegamos ao entendimento de que a maior das violências representadas pelo cinema de Haneke é a violência da apatia humana. Tendo em vista que após as incursões realizadas, notamos que a manifestação da pulsão de morte, em formato de apatia, contribui para uma espécie de implosão psíquica e que, por consequência, leva ao aniquilamento da atividade psíquica humana. Concluiu-se que há um tipo peculiar de violências simbólica e silenciosa transmitida por intermédio do cinema de Michael Haneke, violência tão avassaladora que impulsionam o homem ao abismo radical, ou seja, a violência demasiadamente apática que trabalhamos na tese. Com efeito, se há esperança para combatermos esse mal implacável, tal combate pode e deve ser empregado também por meio da palavra e da escuta, donde a psicanálise é convocada.
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LARISSA MARIA DE SOUZA CRUZ
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IDOSOS (AS) SOBREVIVENTES DE UM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: SUAS OCUPAÇÕES, PERDAS E LUTOS
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Orientador : VICTOR AUGUSTO CAVALEIRO CORREA
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Data: 11/08/2023
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Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva do tipo estudos de casos múltiplos. O objetivo principal foi compreender como se apresentam as ocupações de pessoas idosas após o Acidente Vascular Encefálico (AVE) e avaliar a realização de valores. Os estudos de casos múltiplos foram realizados com pessoas idosas que sobreviveram a um AVE. Participaram da pesquisa 3 (três) pessoas idosas atendidas no Ginásio Adulto da Faculdade de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (FFTO) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Para a coleta de dados, foram utilizadas a entrevista semiestruturada, uma atividade livre expressiva e a realização de uma ocupação. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas e, todas as demais etapas registradas em imagem e em diário de campo. Os dados foram analisados através da Análise de Conteúdo Temática de Bardin que permitiu a identificação de núcleos temáticos a partir dos relatos. Identificou-se que as ocupações desses idosos tiveram grande impacto após o AVE, principalmente, pelas sequelas remanescentes, gerando grandes mudanças no dia a dia, sendo evidenciadas perdas significativas e luto. Destaca- se que as ocupações remanescentes foram compreendidas como momentos de realização de sentido, e que apesar de todas as perdas, essas pessoas podem encontrar sentido na vida, mesmo diante do sofrimento inevitável.
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HELOA PONTES MAUES
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COMPREENSÃO DA VIVÊNCIA DE IDOSAS BELENENSES SOBRE A COVID-19: UMA REFLEXÃO GESTÁLTICA
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Orientador : ADELMA DO SOCORRO GONCALVES PIMENTEL
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Data: 12/07/2023
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O aumento da população idosa no Brasil demanda urgente discussão sobre a velhice, com intuito de promover a visibilidade das idosas, bem-estar e respeito. No Brasil o machismo e o etarismo propiciam desvantagens para a constituição da subjetividade feminina e do tornar-se mulher idosa. Somado a esta conjuntura, em 2020 ocorreu a pandemia da COVID-19, acrescentando medo, incertezas, perdas, solidão, ansiedade e sentimentos negativos à experiência de ser idosa. Partindo de experiências pessoais como recurso para lidar com as ocorrências no mundo da vida, questionei o fenômeno do envelhecimento, direcionando olhares para a potência da mulher. Os fundamentos da Gestalt-terapia contribuem para a compreensão dos ajustamentos criativos como recursos potenciais para que a mulher idosa possa se autorregular e mudar a sua realidade a partir do que seu campo vital. Assim, esta dissertação é um estudo qualitativo fenomenológico hermenêutico, com revisão narrativa sobre o envelhecimento de mulheres e análise do processo de tornar-se idosa, a partir das obras de Simone de Beauvoir: “A velhice – a realidade incômoda” e “O segundo sexo – a experiência vivida”. Objetivei compreender a vivência das mulheres idosas, de classe socioeconômica B, residentes em Belém-PA, a partir de suas potencialidades, utilizadas cotidianamente ou descobertas na pandemia da COVID-19. Especificamente, identificar as potencialidades das idosas em ajustar-se criativamente durante a pandemia da COVID-19; apresentar o significado da experiência das idosas, quanto a vivência relacional no período pandêmico; sistematizar os sentidos das vivências das mulheres idosas. Participaram 5 idosas entre 65 e 77 anos, que responderam a entrevista semiestruturada, realizada presencialmente. Para as análises e compreensão usei os estudos hermenêuticos da linguagem, do discurso e do texto de Paul Ricoeur. Dentre os resultados temos: a vivência pandêmica das idosas, em que cada uma atribui significados às suas experiências, de acordo com a sua realidade; o medo generalizado a partir da classificação das pessoas idosas como grupo de risco; o não reconhecimento das participantes como “ser idosa” enquanto conflitos entre a realidade e subjetividade, na tentativa de distanciamento dos estereótipos criados e perpetuados socialmente; os ajustamentos criativos como potência do ser idosa e seus desdobramentos para sobreviverem à pandemia; descobertas e potenciais como caminhos possíveis para a vivência da liberdade existencial e reconhecimento. Concluímos que, embora cercadas de limitações, as entrevistadas prosseguem batalhando pelos direitos, reconhecimento e visibilidade na condição de idosas, por meio do autoconhecimento e de olhares para suas potencialidades; o relato de suas experiências contribuiu para o rompimento da conspiração do silêncio que cerca a velhice em nossa sociedade. Por fim, é necessário produzir mais diálogos entre sociedade e as mulheres idosas, instigando futuras pesquisas, fundamentadas na Gestalt-terapia, principalmente ao que se refere a análise das potencialidades apontadas no estudo, no período pós-covid.
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ANNA CAROLINA FONSECA DE MELO
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Desamordaçando Anastácia: Um estudo sobre a produção psicanalítica relativa ao racismo no Brasil
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Data: 30/06/2023
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Este trabalho tem por objetivo analisar a produção psicanalítica acerca dos atravessamentos do racismo aos negros no Brasil no período entre 1980 e 2020. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica e a pesquisa em psicanálise, utilizando os descritores “racismo” e “psicanálise” junto aos principais repositórios de produção científica no país. Nesse contexto, observamos que o racismo no país tem marcadores diferentes daqueles identificados em outros países que também receberam o povo retirado do continente africano para serem escravizados, pois, no Brasil, passados os 338 anos de escravidão legal, não tivemos leis explicitamente segregadoras. Por outro lado, existiram, e existem até hoje, várias leis, condutas sociais e diversas manifestações ainda apoiadas no racismo que estrutura nossa sociedade e nossas relações, nas quais operam a denegação e diversas formas de silenciamentos imaginários, simbólicos e reais, que têm uma função importante na estruturação do racismo à brasileira. A psicanálise, ao chegar nesse território, também se encontra atravessada por essas questões que são anteriores à sua existência. Sobre os psicanalistas pretos e sobre a produção psicanalítica acerca do racismo também se produziu denegação e silenciamentos. Observa-se também que a maioria dos trabalhos se concentra nos últimos anos do recorte temporal da pesquisa, fruto dos movimentos decoloniais e da luta antirracista dentro e fora do meio psicanalítico, que, aludindo à icônica imagem da escravizada Anastácia, tem produzido um contínuo crescente de desamordaçamento.
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KARLA MARIA SIQUEIRA COELHO AITA
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SEM TI… SAUDADES: UMA COMPREENSÃO SOBRE REALIZAÇÃO DE VALORES NO LUTO PARENTAL QUE DESVENDA A PROPOSTA DE CUIDADO
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Data: 27/06/2023
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Estudos apontam que a morte de um(a) filho(a) amado(a) tende a causar sofrimento intenso, expresso por meio de valores e crenças, assumindo múltiplas configurações. Além disso, o significado da perda poderá ser mediado através da cultura, sociedade, religião, espiritualidade. Esta pesquisa propõe compreender a autotranscendência, o encontro autêntico e a realização de valores no luto parental por aqueles que cumprem com sua orientação ontológica para o sentido (Frankl, 2014, 2016). Nesta perspectiva, objetiva-se apresentar e defender uma proposta de cuidado aos pais e mães enlutados, tecida enquanto atividades grupais que possam estimular as manifestações do pesar, a entreajuda entre seus membros, assim como a realização de valores criativos, vivenciais e atitudinais, os quais possibilitam, segundo Viktor Frankl, o encontro de sentidos. Na busca por bases teóricas que ancorem o pensar sobre a clínica do luto parental, são apresentados os recortes dos diálogos da pesquisadora com a obra do professor Viktor Emil Frankl (1978, 1987, 1989, 1990, 2005, 2007, 2010, 2014, 2016, 2019a, 2019b, 2021, 2022) e com seus interlocutores Elizabeth Lukas (1989a; 1989b); Ivo Studart Pereira (2008, 2013, 2015, 2017, 2021), dentre outros. Também foram considerados os resultados dos estudos que se ocuparam em compreender a experiência do processo de luto dos pais conforme proposto por Parkes (1998, 2009); Bromberg (2000); Franco (2002, 2010, 2021); Shear et al. (2011); King (2015); Delalibera et al. (2017); Coughlin e Sethares (2017); Freitas (2018); Casellato (2020); Frankl (1989, 2014, 2016, 2005, 1978, 1990, 2003, 2007, 2008, 2010), os fundamentos teóricos referentes à Teoria do Apego desenvolvida por John Bowlby (1997, 1998, 2002) e as Tarefas do luto propostas por Worden (2013). No desenvolvimento do estudo, as reflexões avançam em direção à visão de homem proposta por Frankl, compreensão da vontade de sentido e apreensão da relação dialógica entre liberdade de vontade e vontade de sentido frente à travessia do luto, na qual o sentido no seu aspecto autoral desafia a liberdade humana em direção ao dever-ser. Por fim, defende-se um proposta de cuidado aos pais, na modalidade grupal, para deslindar interações entre percursos individuais, processos coletivos e o luto parental, nas quais os recursos a serem produzidos/partilhados, entre esses, objetos, símbolos, artefatos, palavras, escritas, sons, afetos etc., constituem o corpus da referida proposta. Destacam-se intervenções voltadas a estimular a realização de valores, a construção do “Mural da esperança”, a amplitude do cuidado no luto parental, assim como as possibilidades de significar as perdas e desvelar sentidos. A partir do pensamento frankliano, pode-se compreender que a presença da morte no ciclo vital assinala a premência em responder aos desafios e indagações colocados pela vida, em fluxo contínuo e assegurar no ser-passado (destino realizado), a existência da parentalidade frente à saudade.
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GIANE SILVA SANTOS SOUZA
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ANÁLISE DA CULTURA DO ESTUPRO NOS JORNAIS IMPRESSOS NO BRASIL: FOLHA DE SÃO PAULO E O LIBERAL
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Data: 26/06/2023
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Esta tese tem como objeto a (des)construção da cultura do estupro de mulheres na mídia, especialmente, em dois jornais: Folha de São Paulo (circulação nacional) e O Liberal (circulação regional). O trabalho busca como problemática interrogar como os referidos jornais abordam a violência sexual contra mulheres, sobretudo, no que tange à cultura do estupro, bastante difundida na realidade brasileira. Como metodologia, foi utilizada a História Cultural, Arqueogenealogia e o trabalho com documentos. Foram analisadas edições de 2013 a 2017 de ambos os jornais, a partir da abordagem do tema violência sexual contra mulheres no Brasil. O objetivo geral foi analisar as práticas de saber, de poder e de subjetivação nas (des)construção das manifestações do estupro nos jornais impressos Folha de São Paulo e O Liberal. Os objetivos específicos foram: identificar elementos do discurso midiático que definem a cultura do estupro nos jornais impressos Folha de São Paulo e O Liberal e as resistências efetuadas por estes jornais; problematizar a presença de discursos sobre a mulher vítima de estupro nos jornais impressos Folha de São Paulo e O Liberal. Uma das justificativas da pesquisa é a ausência de estudos comparativos entre jornais no país, sobretudo, quando se trata de temas referentes às mulheres. Busca-se nas obras de Judith Butler e de Michel Foucault bem como no campo de estudos feministas interseccionais e na criminologia crítica aportes para sustentação do trabalho. Inicialmente, nas análises prévias é possível afirmar como tese que as formas de abordagem do acontecimento não é a mesma pelos jornais estudados e, que apesar de ambos fazerem críticas à violência sexual contra mulheres, ainda trazem vestígios da cultura do estupro nos modos de produzir as notícias. Os modos do O Liberal trabalhar a temática é mais voltado ao olhar policial e punitivo-judicial, já, a Folha de São Paulo tenta ampliar o foco para a complexidade do tema, contudo, o faz de modo superficial. Por fim, é possível afirmar que ambos os jornais operam por paradoxos quanto à cultura do estupro, pois geram ações de desconstrução e, também atos que podem referendar e sustentar a difusão da cultura do estupro.
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KARLA DALMASO SOUSA
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PRÁTICAS QUE CONSTITUEM O PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL AO PACIENTE JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARÁ ₋ O ACONTECIMENTO PRAÇAÍ
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Data: 12/06/2023
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Esta pesquisa teve como objeto as práticas de saber, poder e subjetivação que produziram o Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário no Pará: O PRAÇAÍ, desde a sua emergência, no Pará. As perguntas norteadoras do problema de pesquisa foram: Quais são as práticas envolvidas nas relações de saber e poder exercidas para a criação do Programa PRACAÍ e que efeitos de subjetivação produziram? Quais resistências foram produzidas para impedir o programa de ser implementado? Em que medida, o PRAÇAÍ constituiu uma prática em consonância com os princípios de cuidado em liberdade da Reforma Psiquiátrica brasileira e do Movimento de Luta Antimanicomial, provocando insurgências relevantes no estado do Pará? O objetivo geral foi: Problematizar as práticas de saber-poder-subjetivação que produzem o Programa de Atenção ao Paciente Judiciário no Estado do Para/PA, desde a emergência e alguns de seus efeitos. Os objetivos específicos foram: Descrever e interrogar os mecanismos de poder que fazem emergir o Programa PRAÇAÍ; - Descrever e problematizar as práticas do saber-poder-subjetivação materializadas na implementação e execução do programa PRAÇAÍ; - Descrever e analisar as práticas de resistência à implantação e execução do PRAÇAÍ; - Descrever e pensar quais práticas de insurreição são realizadas e os gargalos que tentam sufocá-las. Utilizou como metodologia a genealogia a partir de Michel Foucault e a pesquisa documental com contribuições da História Cultural com análise de documentos de criação do Programa PRAÇAÍ, o uso do diário de campo, a História Oral e a Escrita de si de uma trabalhadora do referido Programa. A tese afirmada é a de que, apesar de inúmeros obstáculos, o PRAÇAÍ foi constituído como uma importante iniciativa de desinstitucionalização e tem fabricado rupturas nas práticas manicomiais e punitivas que acoplaram à internação penal o objeto periculosidade. Saberes forenses e médicos de perícias legais, articuladamente à lógica de poder punitivo-penal produziu a subjetividade louco-criminoso e a associou à periculosidade. Como resultados, conclui-se que o PRAÇAÍ possibilitou a desinternação e desinstitucionalização da maior parte das pessoas internadas-presas no Hospital de Custódia do Pará e continua a operar essa prática, mesmo com tensões e inúmeras dificuldades institucionais. As memórias de quem atuou na criação e articulação da execução do Programa trazem elementos relevantes da análise de saberes, poderes e subjetividades constituídas e materializadas na desinstitucionalização de pessoas internadas-presas no Hospital de Custódia do Pará e também, a desconstrução da categoria periculosidade e de louco-infrator.
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MARIA IZABEL DA CUNHA ARAUJO
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UMA ANÁLISE FENOMENOLÓGICA DAS NARRATIVAS DE PSICÓLOGAS (OS) SOBRE O TRABALHO NO SISTEMA PRISIONAL
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Data: 01/06/2023
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Na dissertação apresentamos as narrativas de quatro psicólogas (os) no contexto de atuação no sistema prisional paraense, descrevendo inicialmente, a complexa construção do cárcere, caracterizada por um conjunto de expressão de tensões, violência e desafios para aqueles que o compõem: os profissionais, nos vários modos de atuação; os custodiados; as formas de inserção; e os familiares. Considerando que as percepções dos psicólogos foram os elementos empíricos, situamos que a psicologia no âmbito jurídico é uma das bases teóricas, a partir da legalização da profissão e criação da Lei de Execução Penal; somada a reflexão da fenomenologia de Edmund Husserl sobre os conceitos de epoché, redução e atitude fenomenológica, bem como mundo da vida; a elementos do pensamento de Martin Heidegger no sentido, de interpretar e compreender as estruturas existenciais das narrativas das Psicólogas, considerando nas análises de suas práticas as condições da temporalidade, historicidade, responsabilidade e cuidado implicadas no trabalho nas unidades prisionais. Esta fundamentação permite o entendimento das ações das profissionais entrevistadas no cenário psicossocial carcerário, em que são confrontadas duas grandes demandas dos custodiados: saúde e reintegração social. Os objetivos da pesquisa foram: compreender os significados que as (os) psicólogas (os) atribuem às suas práticas cotidianas; sistematizar as narrativas sobre as atividades e os suportes institucionais que têm e que gostariam de ter; identificar se nas práticas psicológicas há atos de cuidado fundamentados na garantia de direitos. Colaboraram com a pesquisa quatro psicólogas (os) preenchendo formulário eletrônico no Google Forms; em seguida responderam a entrevista semiestruturada por videoconferência no Google Meet, sendo o processo realizado em um mês, aproximadamente. Incluímos na pesquisa psicólogas (os) com registro ativo no CRP10, vínculo institucional via concurso público, maiores de 18 anos, e com mais de cinco anos de experiência profissional. Para as análises e compreensões das narrativas, utilizamos o modelo de Amedeo Giorgi em que foi possível construir eixos temáticos. Dentre os resultados temos: prática do diálogo entre a psicologia e o horizonte técnico na orientação do cuidado à pessoa privada de liberdade; práticas que asseguram, ainda que, limitadamente a dignidade e humanização do público atendido; ressonâncias no espaço laborativo quanto a precarização do vínculo institucional, tanto nos limites do estado, quanto nas relações imediatas com agentes da segurança, sendo demarcadas pela lógica da disciplina e poder; o lugar de escuta e compreensão clínica situado na fronteira entre saúde, principalmente no seu aspecto biomédico, e reintegração, compreendida pelo retorno ao convívio com a sociedade após cumprimento de sentença, mediada por decisões jurídicas. Concluímos que a pesquisa reafirma a relevância do trabalho de psicólogas pautado no cuidado, o que contribui para enfrentar os preconceitos associados a população carcerária; que é possível a Psicologia contribuir para críticas e atualização do movimento automático e restritivo presentes na lógica do encarceramento. Por fim, ponderamos sobre a necessidade de configurar mais diálogo entre sociedade, estado e profissionais da saúde que atuam nas unidades carcerárias baseada em um projeto político-social, articulado com abordagens psicossociais e orientação ética para pensar e criar circunstâncias de possibilidade de uma prática criativa nas instituições dentro e fora do ambiente carcerário.
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ANA PAULA CHAGAS MONTEIRO LEITE
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DANÇA DO VENTRE, AUTOPERCEPÇÃO CORPORAL E CONHECIMENTO DE SI: uma leitura fenomenológica pela Gestalt-terapia
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Data: 29/05/2023
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O presente estudo traça correlações teórico-metodológicas de fundamentação existencialfenomenológica pelo olhar da Gestalt-terapia a respeito da vivência da dança do ventre por mulheres adultas. A pesquisa é qualitativa fenomenológica de campo pela perspectiva da pesquisadora e também bailarina, visando compreender os significados dados pelas participantes sobre a própria experiência de viver a dança do ventre. A tese defendida é: a dança do ventre contribui na autopercepção corporal e no conhecimento de si principalmente pela possibilidade de fluidez na relação organismo/ambiente. Este autoconhecimento ocorre no entendimento de cada mulher sobre suas necessidades individuais, seus objetivos e forma de ser-no-mundo pela awareness vivida na experiência de dançar. Assim, traz o reconhecimento de possibilidades e limitações, assimilação de experiências, integração de partes anteriormente alienadas de si e se evidencia pelo movimento e ação engajada no meio. Para coleta de dados entrevistei seis mulheres adultas, todas com mais de um ano de experiência, algumas professoras profissionais da dança. Como método fenomenológico de análise dos dados utilizei os passos de Amedeo Giorgi e Daniel Sousa (2010) e discuti os dados a partir das principais teorias de fundamentação e a forma de compreensão de ser humano e mundo da Gestalt-terapia, dialogando com a literatura dos fundadores da abordagem e seus principais estudiosos que ainda hoje aprofundam as premissas básicas em aperfeiçoamento teórico. Dessa forma, nas narrativas das participantes encontrei elementos que estabelecem parâmetros com as hipóteses levantadas a partir da literatura disponível acerca da temática e das minhas observações enquanto pesquisadora com experiência clínica e que, como bailarina, também reconheço na minha própria vivência as informações partilhadas nas entrevistas. Os resultados da pesquisa demonstram que a dança do ventre para mulheres é um viés de resgate do poder sobre si, viabilizado a partir de processo de ampliação da consciência de si e das relações interpessoais e intrapessoais, com fortalecimento do self-suporte, possibilitando, assim, ajustes mais saudáveis no campo organismo/ambiente, favorecendo a emergência fluida de figura-fundo no contato. Compondo Práticas Integrativas e Complementares (PICs), a dança tem sido usada como importante área em pesquisas e como oficinas regulamentadas pelo Ministério da Saúde via Sistema Único de Saúde viabilizando o cuidado em saúde integral. Como proposição para intervenção clínica, proponho que a dança do ventre possa ser integrada ao rol de PICs já ofertadas pela rede de saúde pública.
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CARMEN HANNUD CARBALLEDA ADSUARA
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EM BUSCA DO SOM DO MARACÁ: a etnopolítica do cuidado na caminhada conjunta entre uma psicóloga comunitária e uma guerreira do povo Ãwa na luta por terra, educação e dignidade
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Data: 23/05/2023
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A presente tese trata-se de uma tentativa de descrever e analisar as aprendizagens sensíveis provenientes da caminhada conjunta entre uma psicóloga comunitária e a liderança indígena Kamutaja, do povo Ãwa (Avá-Canoeiro do Araguaia), durante o período que compreende os anos de 2016 a 2023 no contexto da luta pela Terra Indígena Taego Ãwa e pela Escola Tutawa Ãwa, no Tocantins, norte do Brasil. Tomo como ponto de partida as memórias dessa luta conjunta, utilizando como fontes os documentos da associação indígena do povo Ãwa, os registros de meu diário de campo, fotografias e a história oral de Kamutaja, bem como literaturas diversas da psicologia social, ciências sociais e educação. Tais elementos foram bricolados a partir das narrativas que emergiram no trabalho de campo, no contexto de relação entre psicóloga e guerreira Ãwa, realizado a partir de uma perspectiva metodológica participante, em que o conhecimento produzido se encontra engendrado à práxis de transformação da realidade a partir da psicologia comunitária. Como pano-de-fundo, a tese encontra-se inspirada também em toda a minha trajetória acadêmica e profissional junto a diferentes movimentos sociais, organizações e entidades, principalmente no trânsito entre o Sudeste e o Norte do País, em realidades urbanas e rurais, conforme descrito em meu Memorial. Durante a análise das aprendizagens retratadas, pontuo marcos de um projeto ético-político de psicologia junto aos povos indígenas - o que estou chamado de etnopolítica do cuidado, preocupada em sensibilizar para uma psicologia que reconheça, valorize e lute junto aos povos indígenas. Com isso, de forma específica, pretendi visibilizar histórias individuais e coletivas do povo Ãwa; demonstrar na práxis a inserção da psicologia junto a luta por território a partir do lugar que foi fornecido a mim no ethos comunitário; evidenciar a importância do trabalho junto a figuras de liderança; incentivar caminhos que possam potencializar a produção de conhecimento, novos saberes e práticas; produzir uma memória das trocas afetivas do trabalho de uma psicóloga indigenista a partir da construção de um projeto coletivo; e demonstrar que o trabalho com os Ãwa conFiguraura um processo de aprendizagem sensível para o fortalecimento de uma psicologia ética, política, popular.
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DANIELA PONCIANO OLIVEIRA
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A EXPERIÊNCIA DO LUTO EM UMA CRIANÇA ÓRFÃ PELA PANDEMIA DA COVID-19
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Data: 03/05/2023
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No contexto atual da Covid-19, falar sobre luto e morte adquire repercussões ainda maiores, no que concerne aos intensos efeitos psicológicos, do que comumente já se costuma ter. Com o advento da pandemia e o quantitativo assustador de mortes, principalmente em adultos e idosos, revelou-se a urgência de se pensar em luto coletivo. Esse contexto se torna ainda mais crítico no campo da saúde mental das crianças, que têm experimentado perdas repentinas em várias áreas da vida quando são seus pais os acometidos e mortos pelo novo coronavírus. Em virtude disso, os tempos pós pandêmicos escancaram a situação de orfandade, já que milhares de crianças e adolescentes perderam mães, pais, responsáveis legais e/ou outros parentes, e muitas delas passaram a viver em situação de grande vulnerabilidade, uma situação que deve ser considerada como uma questão de emergência de saúde pública. A morte de familiares de maneira abrupta, como pode ocorrer devido à Covid-19, por seu caráter potencialmente traumático, pode gerar inúmeros desafios para as crianças. Partindo de tal pressuposto, o objetivo deste estudo é conhecer a expressão do luto em seus estatutos biopsicossociais em crianças órfãs pela pandemiada Covid-19 por meio da realização de entrevistas, do uso do Teste das Fábulas, do Procedimento de Desenho Estória com Tema e um desenho livre. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória, caracterizada como estudo de caso clínico, com enfoque psicanalítico. O estudo atende a todos os requisitos éticos estabelecidos nas resoluções que regulamentam a pesquisa que envolve seres humanos e com o parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Participaram deste estudo uma criança de 09 anos, que passou por situação envolvendo a morte da mãe em decorrência da Covid -19, e uma irmã mais velha que assumiu seus cuidados. Com a criança foram realizados 4 encontros, um para cada procedimento de coleta. Para análise dos dados resultantes da aplicação das técnicas projetivas foram utilizadas as recomendações do próprio procedimento de Desenho Estória com Tema e do manual do Teste das Fábulas. Para integração dos dados e construção do caso clínico, a teoria psicanalítica, especialmente as contribuições winnicottianas, sustentou as articulações. Como resultado, compreende-se que os sintomas que uma criança pode experimentar logo ou muito depois da perda de quem exerce a função materna, podem repercutir em todas os campos do seu desenvolvimento. Deste modo, o estudo traz achados sobre a expressão biopsicossocial da criança enlutada, a vivência do luto familiar e localiza como um complicador as perdas secundárias. Assim, no processo do luto é necessário que a criança vivencie os sentimentos e possa entrar em contato com as fantasias que decorrem da perda. A partir desses dados articulados com a teoria psicanalítica, foi possível pensar que o trabalho de luto pode se beneficiar da capacidade da criança de criar um espaço de transição onde haja a possibilidade de reconstruir a realidade por meio de um impulso criativo e espontâneo, mesmo em condições difíceis como o luto pela morte da mãe. Por fim destaca-se a necessidade de um olhar interdisciplinar no cuidado com a criança enlutada.
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HELDER CORREA LUZ
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O cuidado de si e dos outros no processo de subjetivação de um docente do ensino publico em Belém-Pa: um ensaio sobre a vida como obra de arte
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Data: 03/05/2023
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Esta pesquisa visou cartografar os processos e os modos de subjetivação de um trabalhador docente da rede pública estadual da educação básica do município de Belém, a partir das práticas de gestão precarizantes presentes no contexto neoliberal que aí atuam. Dessa forma, é importante pensar algumas questões, quais sejam: Como o Capitalismo Mundial Integrado (CMI), sob a insígnia da globalização e do neoliberalismo, opera na “captura”, na “negação” e/ou na “despotencialização” dos processos de subjetivação dos docentes? Como se dão as relações de saber-poder no âmbito da escola? E, como se operam as estratégias de resistência utilizadas pelos professores, no sentido de tentar criar novos modos de existências ante às forças que os subjetivam? Dessa forma, esta tese é relevante porque permite problematizar as nuances dos processos de subjetivação de docentes, visando contribuir e intervir no cuidado integral quanto à saúde e ao bem-estar de professores e professoras. A partir dessa premissa, esta pesquisa lança luz sobre os paradoxos e as controvérsias de um ambiente permeado por lutas e resistências, que questionam como o trabalho precarizado vem se consumando como forma hegemônica na vida em sociedade. Com efeito, optamos por analisar os campos de tensão permanentes entre prazer e sofrimento no trabalho, sem perder o foco dos processos capitalísticos que tentam precarizar e minha vida, liberdade e a resistência como trabalhador da educação pública, na micro-história de caráter autobiográfico. Esta pesquisa está ancorada nas pistas cartográficas e arqueogenealógicas presentes em conversações com Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault, onde busca-se acompanhar histórica e criticamente os agenciamentos políticos, os atravessamentos dos discursos institucionais, os processos diagramáticos e analisar os paradoxos, bem como seguir as redes de controvérsias de modo documental e etnográfico, lançando mão, inclusive, dos hipomnémata, ou seja, a técnica de escrita de si como arte de viver. Desse modo, defendemos a tese de que a precarização imposta pelo CMI é um mecanismo capaz de “sequestrar” a subjetividade do trabalhador docente, de forma que este se molde e se submeta às forças constituídas que dominam os modos de organização do trabalho, onde há utilização de tecnologias, formas de controle e jogos de poder, que geram a intensificação desta precarização, o assujeitamento e a modelização do processo de produção de subjetividade, porém, há enfrentamentos e resistências na docência face às tentativas de precarização realizadas. Ao final desta pesquisa, pretendeu-se responder aos seguintes questionamentos: É possível produzir novas tecnologias, técnicas e práticas de “cuidado de si” no mundo atual? É possível produzir uma vida livre em termos de agonística? Como resultado, é possível afirmar que há uma luta permanente entre a vida como obra de arte, uma vida digna, potente, criativa, numa época em tudo tende à homogeneização e à autofagia de todas as formas de existência, ao aprisionamento do ser, ao assujeitamento a um modelo de viver empreendedor e assujeitado, apesar das inúmeras realidades de dor e sofrimento experimentadas no processo de precarização do trabalho docente na rede pública de ensino, na atualidade. Desse modo, conclui-se, assinalando que é possível reinventar-se.
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VERA LUCIA FONSECA DE SOUZA
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A REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO MUNICÍPIO DE BELÉM: INTERFACES E DESAFIOS NA INTERSETORIALIDADE DA SUA CONSTRUÇÃO.
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Data: 17/04/2023
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Esta pesquisa tem o objetivo de historicizar a trajetória da política de saúde mental desde a criação da Secretaria Municipal de Saúde do Município de Belém, através da Lei Ordinária N.º 7341 de 18/03/1986, até a estruturação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), descrevendo os desafios, características e singularidades, as quais, resultaram na homologação pelo Conselho Municipal de Saúde do Protocolo Municipal de Saúde Mental na Atenção Primária neste município, em agosto de 2020. Frente ao cenário de conflitos, que ora pareciam de ordem político-partidária, ora pareciam da ordem da falta de compreensão de competências das políticas públicas, uma questão persistia nessa trajetória de construção de uma política específica: quais estratégias e ações poderiam ser tomadas para efetivar a Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas na Rede de Atenção Psicossocial do Município de Belém? Diante dessa pergunta, pareceu pertinente visitar essa trajetória, através da aplicação de investigação e levantamento histórico, baseada em método de natureza qualitativa, integrada às bases teórico-metodológicas de autores/as que estão inscritos/as na vertente crítica, discursiva, tomando como norteadores autores como Mary Jane Spink e Peter Spink. Realizou-se revisão da literatura, aliada à pesquisa documental e aos marcos legais no âmbito da saúde mental nacional, estadual e municipal. Nessa abordagem, evidenciou-se os desafios na intersetorialidade e suas interfaces nas políticas públicas na proposta de descrever as diretrizes municipais para implantação da Rede de Atenção Psicossocial. Por fim, este trabalho almeja descrever possibilidades de críticas construtivas, para o avanço de ações em prol da saúde mental do município de Belém, a partir da sistematização desta construção visando identificar estratégias, intersetorialidade e dificuldades nesse percurso histórico, em vista da continuidade da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas na rede municipal.
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AIDE ESMERALDA LÓPEZ OLIVARES
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A DANÇA ENQUANTO VIA DE AUTOCONHECIMENTO: ABORDAGENS, DESAFIOS E PROPOSTAS DE IMPLEMENTAÇÃO
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Data: 05/04/2023
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O presente trabalho propõe compreender o conhecimento de si mesmo que pode prover da experiência de dançar. Conforme o filósofo da hermenêutica filosófica Hans-Georg Gadamer (2010), há um conhecimento impulsionado pela experiência da arte, que se caracteriza pelo autoconhecimento. A partir de tal colocação, a pesquisa focou-se, especificamente, na dança, postulando a tese de que a dança pode abrir caminho enquanto via de autoconhecimento, pois não é simplesmente uma expressão física, além da técnica ou estilo, mas é uma experiência humana que promove conexão com o si mesmo e, por sua vez, uma ampliação do conhecimento do si. A fundamentação teórica do trabalho desenvolve-se a partir da perspectiva do pensar fenomenológico, gerando diálogos entre os estudos da filosofia hermenêutica de Gadamer, a perspectiva do psicoterapeuta James I. Kepner, especialista em psicoterapia Gestalt do corpo, e as investigações realizadas pela pesquisadora em dança Shirley Rodrigues. Para a fundamentação da tese, realizou-se uma revisão de literatura integrativa, captando as produções científicas publicadas nos últimos 15 anos (entre 2008 e 2022). A busca foi realizada on-line e, para a análise dos dados, utilizou-se a análise interpretativa. Acerca dos resultados, constatou-se que a concepção de dança é maiormente referenciada como uma expressividade livre; que a área da saúde sobressai por ter mais escritos publicados, porém, a implementação da dança dá-se mais como ferramenta pedagógica em formações acadêmicas. As produções promovem a compreensão do ser humano como um todo e o autoconhecimento posiciona-se como um elemento que acontece enquanto se realiza a experiência de dançar, isto é, no aqui e agora. No que tange aos desafios, aponta-se a amplitude da concepção de autoconhecimento quanto à diversidade de sentidos e à necessidade de continuar abrindo diálogos sobre a dança, o corpo e o autoconhecimento, a partir de uma perspectiva de cuidado e desenvolvimento humano.
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IGOR DO CARMO SANTOS
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“FOUCAULT E A PROBLEMÁTICA DO GOVERNO NAS PSICOLOGIAS: USOS E EFEITOS NO BRASIL”
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Data: 02/03/2023
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Esta pesquisa realizou uma investigação sobre alguns usos nas Psicologias da temática do “governo” presente na obra de Michel Foucault, sobretudo como esse tema aparece em sua obra a partir do ano de 1978, no seu curso intitulado: Segurança, Território, População e que apresenta novas possibilidades de análise sobre a questão do “poder” já presente em trabalhos anteriores. O uso dessas análises em diversos campos das ciências humanas e sociais intensifica-se a partir da publicação dos seus cursos em formatos de livros e, no Brasil, isso passa o ocorrer principalmente a partir dos anos 2000. Com efeito, este trabalho teve como principal objetivo historicizar e mapear os modos com os quais as práticas de escrita e pesquisa na Psicologia tem feito uso desse operador conceitual “governo” presente na obra de Michel Foucault nas produções acadêmicas da Pós-Graduação em Psicologia no Brasil. Para realizar esse empreendimento, utilizou-se da metodologia histórico-documental a partir das ferramentas da arqueologia e da genealogia de Michel Foucault na investigação dos usos de artefatos e documentos. Os documentos selecionados como fonte primária foram Teses desenvolvidas em Programas de Pós-Graduação em Psicologia entre os anos de 2008 a 2020 e que traziam uma discussão dessa temática. Como resultado das análises, temos que a produção em Psicologia que têm feito uso da analítica foucaultiana para pensar os modos de governo de si e dos outros na atualidade, vêm permitindo uma leitura crítica das diferentes racionalidades e tecnologias que atravessam a governamentalização do estado brasileiro, pensando sobretudo as políticas públicas e a gestão de determinadas populações, tendo o saber psicológico como uma estratégia seja de controle e/ou de produção de liberdades. Esses trabalhos apontam também as possibilidades de resistências aos modos dominantes de governo que têm se efetivado no cenário nacional. Defendemos a tese de que as práticas de governo das condutas presentes na Psicologia brasileira estão circunscritas aos paradoxos que permeiam a complexidade do jogo biopolítico entre o exercício de formas de controle da população e dos sujeitos pela segurança e/ou pela liberdade e que uma analítica dos modos de governo de si e dos outros no contemporâneo tem contribuído com uma posição crítica da Psicologia em uma ontologia histórica dos nossos modos de ser nesse tempo.
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ARTUR NASCIMENTO BARBEDO COUTO
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O SISTEMA CONSELHOS DE PSICOLOGIA COMO DISPOSITIVO DE (RE)EXISTÊNCIAS AOS RETROCESSOS DA POLÍTICA NACIONAL DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS (2016 A 2022): memórias das trincheiras de lutas
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Data: 01/03/2023
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Entre os anos de 2016 e 2022, a Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas foi objeto de ataques sistemáticos pelo Governo Federal. Nomeações, resoluções, portarias e legislações foram modificadas em um movimento conhecido como contrarreforma psiquiátrica no Brasil. O problema de pesquisa se baseou nas perguntas: Quais práticas o Sistema Conselhos de Psicologia construiu diante das tenttivas de desmonte das Políticas Públicas de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas durante os anos de 2016 a 2022? Quais paradoxos enfrentou e que articulações realizou com outras entidades, associações e movimentos sociais? A tese justifica-se porque não há pesquisas a respeito desta atuação do Sistema Conselhos de Psicologia no Brasil e pela relevância da temática estudada. Este trabalho teve por objetivo geral: analisar a atuação de resistências do Sistema Conselhos de Psicologia frente aos retrocessos nas políticas de atenção e cuidado em saúde mental, álcool e outras drogas. Como objetivos específicos: analisar saberes, problematizar poderes, descrever resistências e memórias políticas das práticas do Sistema Conselhos de Psicologia diante do objeto proposto. Para tanto, partimos da análise documental de notícias do portal do Conselho Federal de Psicologia (CFP), na internet, bem como: cartas, notas públicas, moções de repúdio, fiscalizações e diversas outras estratégias visando a garantia dos direitos humanos, o fortalecimento de políticas públicas de saúde mental e de outras políticas intersetoriais orientadas pela perspectiva da Reforma Psiquiátrica Brasileira, da Luta Antimanicomial e da promoção da cidadania da pessoa com transtorno mental e/ou usuária de álcool e outras drogas. Visando alcançar tais objetivos, dispomos da analítica das relações de poder como esboçadas por Michel Foucault e outros. Destacamos como resultados que o Sistema Conselhos de Psicologia apresentou práticas discursivas e não-discursivas orientadas pelo cuidado humanizado em saúde mental, a dignidade da pessoa humana usuária de álcool e outras drogas, o cuidado territorializado, a defesa da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), a crítica às Comunidades Terapêuticas, a defesa da política da redução de danos e a produção de subjetividades vinculadas à pessoa com transtorno mental e usuária de álcool e outras drogas como sujeito de direitos. Por fim, destacamos a necessidade de multiplicar as ferramentas discursivas para resistir aos retrocessos das políticas em contexto de recrudescimento penal, criminalização da população e transversalidade de questões como gênero, racismo e classe social.
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MARCIO BRUNO BARRA VALENTE
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TESTEMUNHOS DA PERDA DE MÃES OU DE PAIS POR COVID-19: a relação entre luto e política na pandemia no Brasil
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Data: 28/02/2023
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Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou como pandemia a doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), a Covid-19. Nos seus dois primeiros anos, a pandemia impactou os modos de viver e de morrer que obrigaram as sociedades e as existências singulares a se desconstruir. Isso implicou perdas diferentes e de intensidades distintas nas dimensões sociais, políticas, econômicas, científicas, profissionais e tantas mais. No Brasil, foram mais de 695 mil pessoas mortas que deixaram aproximadamente entre quatro e seis milhões de brasileiros, vivenciando seus lutos em condições precárias dadas os impactos causados pelo vírus quanto pela gestão do governo federal da crise sanitária. O objetivo desta pesquisa consiste em compreender como filhos vivenciaram suas experiências com o luto pela morte por covid de seus pais ou suas mães durante a pandemia no país. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, na modalidade on-line, a partir de uma pergunta disparadora: “compartilha comigo como tens vivido o luto desde a perda do teu pai (ou da tua mãe)?”. Participaram da pesquisa quatro pessoas: duas mulheres que perderam seus pais em 2020; um homem e uma mulher que perderam suas mães em 2021; as idades variaram entre 26 e 45 anos; todas possuem ensino superior completo; profissionalmente um trabalha como autônomo e as demais como funcionárias públicas, sendo todas financeiramente independentes de seus genitores. A mãe de apenas uma participante morreu tendo recebido a primeira dose da vacina contra a covid; a mãe de um outro participante descobriu a infecção às vésperas de receber sua dose e os pais das demais quando ainda nem existia vacina. A entrevista foi inspirada pelo pensamento fenomenológico hermenêutico heideggeriano, que ensina que precisa existir uma rigorosa correspondência entre o fenômeno investigado e a forma de acessá-lo. Por isso, em todas as entrevistas se buscou acompanhar os enlutados em seus pesares, dúvidas e afetações, permanecendo junto deles como um ouvinte que consegue ouvir a narração insuportável e promete que essa será levada adiante enquanto recorte singular de uma catástrofe mundial. Por fim, cabe destacar que a pesquisa com os enlutados foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Ciências da Saúde da UFPA (Nº do Parecer: 5.452.525). Cada encontro foi surpreso e intenso. Ao mesmo tempo, no decorrer da investigação, assuntos foram se repetindo, bem como percepções acerca do fenômeno, sugerindo que se havia atingido um ponto de saturação, pelo menos considerando os perfis dos entrevistados, o momento histórico e o as condições emocionais em cada encontro. Após a transcrição das entrevistas, de leituras balizadas na produção científica disponível e da compreensão do pesquisador, emergiram possíveis sentidos sobre a experiência com o luto por covid-19 dos entrevistados. Esses foram dispostos em três perspectivas distintas e complementares: (1) o morrer de um familiar por covid-19; (2) o luto durante a pandemia; e (3) o luto e a gestão do governo federal no combate à pandemia. Os sentidos apontados em cada perspectiva, por sua vez, foram organizados em três eixos de análise: sentidos mais comuns (compartilhados por todas as participantes); sentidos menos comuns (por três ou dois participantes) e sentidos pouco comuns (por apenas uma pessoa). Na primeira perspectiva, a experiência com o morrer de um familiar por covid-19, oito sentidos se mostraram, respectivamente: “o que está acontecendo?” e “rápido, muito rápido, abrupto”; “transmissão, contágio e culpa”, “saco preto”, “não queria largar, tive que deixar” e “negação e fake news”; “múltiplas mortes” e “não estava lá”. Na segunda, a experiência com o luto por covid-19 na pandemia no Brasil, três sentidos se mostraram: “sem flores, sem nada”; “ritualização da morte para acolher a perda”; e “ritos online”. Na terceira e última perspectiva, a experiência com o luto e a gestão do governo federal no enfrentamento à pandemia, quatro sentidos se manifestaram: “se a vacina tivesse chegado antes” e “isso me dá uma raiva e uma revolta”; “debochando das pessoas sem ar”; e “somos um pouco de cobaias”. Os resultados da pesquisa mostram uma transformação na experiência e vivência do luto a partir do novo coronavírus durante a pandemia: as perdas que aconteceram em um cenário caótico, súbitas, traumáticas e longe dos familiares dado o isolamento físico; o sepultamento ou a cremação não deveria ultrapassar 24h, o não visualização do corpo do falecido e a supressão dos rituais de despedida dada as escolhas políticas da União, impuseram a milhares de brasileiros e brasileiras um luto em condições precárias de expressão, validação e recebimento de suporte social; a presença de sentimentos de raiva e injustiça pelo fato de que as medidas preventivas poderiam ter minimizado o número de mortes, assim como pela morosidade na compra da vacina e no estabelecimento do plano nacional de vacinação do Ministério da Saúde e ainda pela postura do então Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, que adotou uma postura efusiva de negação do vírus e da pandemia, promovendo dúvida entre a população quanto gravidade da situação e descumprimento das medidas de segurança; das fantasias ligadas a chegada da vacina, há tempo de salvar o ente amado; a culpa pela contaminação tanto do enlutado para com o falecido quanto do enlutado para consigo e seus pares; a presença de sensações e sentimentos de luto não reconhecido em razão da falta de empatia dada as polemicas em torno da morte por covid-19, promovida pelas fake news e pela postura de deboche para com os mortos e de minimização das perdas dos enlutados; e tanto outras mais peculiaridades que circunscrevem o luto da pandemia no Brasil. Mesmo que não tenhamos condições adequadas para um recolhimento meditativo dado nosso cotidiano ainda marcado pela crise sanitária nem de um distanciamento histórico necessário para conhecer e compreender o que aconteceu a fim de tirarmos conclusões mais estáveis e definitivas, certamente, podemos apontar o luto por covid-19 como uma nova manifestação do luto em virtude de suas peculiaridades que o precarizou, rompendo com o percursos esperados do enlutamento e exigem novas compreensões e práticas de intervenções profissionais e político-governamentais. Argumentamos ainda que o luto da pandemia no Brasil não pode ser apenas ou simplesmente compreendido como uma vivência privada e, nesse sentido, deslocada do coletivo e despolitizada. Haja vista que desde janeiro 2021, através do trabalho de pesquisadoras brasileiras, descobrimos que a postura negacionista do Presidente Bolsonaro não era uma ação isolada de um fanfarrão nem a morosidade do Ministério da Saúde era fruto de negligência ou incompetência, mas evidências de que existia uma estratégia institucional de propagação do vírus, pois a imunização da população deveria ser atingida sem a necessidade de vacinação através da contaminação em massa, independentemente do número mortes evitáveis, quadros graves ou de sequelas que atingissem os brasileiros e as brasileiras. Concluímos que o fenômeno investigado requer que sua compreensão se circunscreva através do entrelaçamento entre o privado, o coletivo e o político, em um só tempo. A partir disso, acreditamos que uma clínica do luto por covid-19 precisa se desenvolver. Além disso, precisamos encontrar formas de validar o luto das perdas na pandemia brasileira, não ignorando ou silenciando suas experiências e considerando os enlutados como testemunhas de uma catástrofe sanitária, histórica, humanitária e política, seja através de estudos, seja dos serviços de saúde mental públicos e privados, seja pelo reconhecimento do estado quanto aos crimes praticados pela gestão do governo federal, sob a liderança do Presidente Bolsonaro, e pela promoção de ações restaurativas junto aos enlutados.
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VALBER LUIS FARIAS SAMPAIO
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O PROCESSO DE JUDICIALIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA ANÁLISE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO
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Data: 28/02/2023
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O processo de judicialização é um acontecimento contemporâneo, compreendido como um processo pelo qual o poder Judiciário tem ganhado relevância frente aos poderes Legislativos e Executivos, o que denota acerca de decisões em diversos níveis, sendo solicitado por diversos atores sociais para interceder no cotidiano. Nesse sentido, esse processo intervém diante das gestões dos diversos modos de vida, transformando relações por meio de figuras/operadores jurídicos. Esse acontecimento deságua diante das políticas públicas a partir da produção de sujeitos de direitos com a Constituição Federal de 1988. No entanto, esta tese de doutorado afirma que a participação expandida do Poder Judiciário incide intensamente, sobretudo, quando está em pauta a proteção de crianças e adolescentes. Esta pesquisa propôs-se analisar as práticas que emergem diante de um processo de judicialização no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), realizadas especificamente no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) no Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa (MSE) de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC). Sabe-se que as MSE’s em meio aberto propõem executar atenção aos/às adolescentes, e suas respectivas famílias, no cumprimento de determinações judiciais por algum ato infracional perpetrado. Nesse sentido, foi proposto um estudo histórico-genealógico. Tem-se documentos como fontes primordiais na problematização e historicização da Assistência Social, tal como das MSE em meio aberto que por meio desta é executada. Estes documentos são entendidos aqui como acontecimentos que produzem práticas diversas. Posteriormente, utilizou-se a escrivivência como fluxo analítico de memórias documentais. Foram analisados também os cadernos de propostas do controle social do município de Belém (Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS), assim como documentos da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e do Sistema Conselhos de Psicologia. Portanto, questiona-se: como se dão as práticas de judicialização no Serviço de Proteção Social a Adolescentes em cumprimento de MSE em meio aberto? Objetivou-se analisar como se operam as práticas de judicialização no Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de MSE, do CREAS; assim como, problematizar como se dão as práticas da Psicologia no Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de MSE em meio aberto no CREAS; analisar como se dá a relação entre a Assistência Social e o âmbito do Poder Judiciário, a partir da proposta de acompanhamento de adolescentes em cumprimento de MSE em meio aberto; interrogar a produção de saber, poder e subjetivação por meio dos discursos e os efeitos de verdades nos documentos do controle social desta política pública. Dessa forma, como resultados, encontramos: a construção da PNAS e a maneira como se estruturam suas práticas, sobretudo, no que tange às MSE em meio aberto construíram
uma forte relação de judicialização – enquanto governo das condutas - em meio às práticas da Psicologia no CREAS. Concluímos que as práticas do saber psicológico que operariam enquanto medida protetiva acabaram, muitas vezes, ganhando um sentido de julgamento, vigilância e/ou punição, em que proteção e judicialização se tornaram um paradoxo em constante tensão no âmbito das MSEs em meio aberto, apensar do Sistema Conselhos de Psicologia tentar resistir a esta lógica.
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ARTHUR ELIAS SILVA SANTOS
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“FÉLIX GUATTARI NO BRASIL: CARTOGRAFIAS DE UM INSURGENTE”
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Data: 27/02/2023
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Esta pesquisa se localizou na fronteira entre as vindas de Félix Guattari para o Brasil e as ressonâncias de seu pensamento na Psicologia brasileira. A justificativa está relacionada à originalidade da tese, à importância do legado no país de Félix Guattari e as contribuições que pode trazer para diversas áreas e políticas públicas. Em termos de pergunta de pesquisa, perguntou-se: Quais impactos e usos foram produzidos pelas vindas de Félix Guattari ao Brasil? O trabalho teve por objetivo cartografar as passagens do pensador e escritor Félix Guattari pelo Brasil. Sendo assim, a pesquisa apresentou três objetivos específicos: a) dar visibilidade para documentos que marcaram as diversas vindas de Félix Guattari ao país (entrevistas, jornais, fotos, etc.), em um recorte histórico que vai de 1978 a 1985; b) cartografar, a partir dos documentos apresentados, as passagens de Guattari pelo Brasil nas ressonâncias éticas, estéticas e políticas c) analisar as produções acadêmicas de alguns intelectuais da Psicologia brasileira que foram orientadas pelo pensamento de Guattari. Deste modo, a tese empreendeu a construção de uma narrativa sobre Guattari no Brasil de forma a pensar as condições de possibilidades de suas vindas e os usos e apropriações de seu pensamento no país. Do ponto de vista metodológico, foram utilizadas as ferramentas conceituais da Arqueogenealogia de Michel Foucault, da História Cultural e da Cartografia de Gilles Deleuze e Félix Guattari para construir a memória diagramática e descontínua de um pensador de múltiplas contribuições. Como tese, afirmou-se que Félix Guattari gerou efeitos importantes neste território, mas que tem sido pouco lembrado e/ou parcialmente ignorado pela Psicologia que aqui tem se constituído, afirmação esta que é, por fim, a tese deste trabalho. Entre os resultados analisados, foram delineadas as seguintes linhas do diagrama: Guattari e suas marcas em movimentos sociais no Brasil articulados à Psicologia; Guattari e as ressonâncias na problematização ética das lutas na Saúde mental, Psicologia, educação e justiça; Guattari e os deslocamentos estéticos na cultura em interface com a singularização da subjetividade. Apesar do grande legado, Guattari tem sido pouco lido, citado, pesquisado e ensinado na Psicologia brasileira.
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ABIGAIL ALEXSANDRA RIBEIRO FARIAS
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“Ocupações, liberdade e a realização de valores para pessoas em uma unidade de terapia intensiva coronariana”
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Data: 27/02/2023
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O processo de adoecimento é um estado indesejável. De acordo com a doença e com a gravidade do caso é necessário hospitalização em UTI. A UTI é um ambiente de rotina rígida, de procedimentos invasivos, com diversas restrições, o que pode acarretar repercussões físicas, emocionais, sociais, ocupacionais e espirituais. Destaca-se que em paralelo a esse ambiente, encontram-se pessoas internadas, dotada de subjetividades e singularidades que são mobilizadas pelas possíveis perdas e adversidades desse processo e da vida e merecem ser cuidadas em todas as suas dimensões. Sendo assim, este estudo objetivou compreender como se apresentam o viver, as ocupações e os valores de pessoas que se encontram internadas em uma Unidade de Terapia Intensiva Coronariana, ancorada na Logoterapia e Análise Existencial de Viktor Emil Frankl. Refere-se a uma pesquisa qualitativa, exploratória, descritiva do tipo estudo de caso, na qual participaram 2 (duas) pessoas internadas em uma Unidade Coronariana em Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca. Para a coleta de dados, foram utilizadas uma entrevista semi-estruturada, uma atividade de expressão livre, bem como diário de campo e observação participante. Os participantes relataram impactos da rotina intensa da UTI sobre suas ocupações (sono, alimentação, banho), assim como a ocorrência de perdas da autonomia e da independência, a manifestação de sentimentos de medo, ansiedade, isolamento social e outros. Apesar de perdas e das adversidades da internação, por meio da liberdade última do ser humano que caracteriza a dimensão noética manifestada pela autotranscedência e autodistanciamento, os colaboradores posicionaram-se mediante as dificuldades realizando valores criativos, vivenciais e atitudinais. Nesse sentido, destaca-se a importância de compreender a pessoa internada em todas as suas dimensões, promovendo um cuidado integral que favoreça as ocupações e os valores existenciais.
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JEICE SOBRINHO CARDOSO
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SOBRE AS PESSOAS COM ESCLEROSE MÚLTIPLA E SUAS OCUPAÇÕES: um estudo qualitativo
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Data: 24/02/2023
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A Esclerose Múltipla é uma doença autoimune que atinge o Sistema Nervoso Central. Trata-se de uma doença que afeta com frequência estruturas neurológicas como cérebro, o tronco cerebral, os nervos ópticos e a medula espinhal. Pessoas com Esclerose Múltipla podem apresentar dificuldades em ocupações devido às interferências do quadro clínico em sua saúde física, emocional, social e cognitiva. Compreendendo a complexidade desse processo de adoecimento no cotidiano dessas pessoas, o objetivo do presente estudo é compreender como se apresentam as ocupações e a realização de valores de pessoas com esclerose múltipla. Como fundamentação teórica para esta pesquisa, será utilizado a Ciência Ocupacional a qual exerce um papel fundamental na estruturação de conhecimentos acerca da ocupação e a Logoterapia de Viktor Frankl a qual possui como mensagem central, dizer sim à vida mesmo diante de situações difíceis e que causem sofrimento, além disso, concede um arcabouço teórico sensível para buscar compreender situações particulares e subjetivas. Como estrutura metodológica para o alcance dos objetivos, delimitou-se como um estudo de abordagem qualitativa de caráter exploratória com delineamento de estudo de casos múltiplos. O estudo contou com a participação de 3 pessoas. Para coletar os dados, foi utilizado um questionário semiestruturado e para análise dos dados foi utilizado a Análise de Conteúdo proposta por Bardin. O estudo seguiu todas as normas éticas de pesquisa com seres humanos. Como resultados, o trabalho apresenta o estudo de 3 casos de pessoas com Esclerose Múltipla produzindo reflexões no campo das ocupações e dos valores em Logoterapia. Por meio do estudo dos casos, foi possível compreender que pessoas com Esclerose Múltipla perpassam por dificuldades na realização de suas ocupações devido às perdas funcionais e sintomatologia da doença, como é o caso da fadiga que limita o envolvimento e o desenvolvimento de ocupações significativas. Além disso, o estudo caminha pela compreensão de que, apesar de estarem diante de uma situação limitante e imutável, pessoas com esclerose múltipla realizam valores por meio de ocupações que desenvolvem. Por fim, foi possível identificar que os processos de luto transversam a vida das pessoas que portam o diagnóstico de esclerose múltipla.
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PAMELLA AUGUSTA PASSOS VENTURA
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VIVÊNCIAS DE MÃES DE CRIANÇAS EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO: UM RECORTE DO ESTADO DO PARÁ
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Data: 24/02/2023
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O objeto desta pesquisa é o processo de vulneralibilidade vivenciado por mães de crianças com câncer que estão sendo atendidas em internação hospitalar, no Pará, no século XXI. O problema de pesquisa consistiu em apresentar as seguintes questões: o conhecimento prévio de que em casos de adoecimentos que exijam ao paciente cuidados hospitalares em âmbito de internação, sobretudo com câncer no caso de crianças e a família seja diretamente afetada, especialmente, as mães envolvidas em todos os aspectos. Como psicóloga em enfermarias de oncologia, aprendi na prática que se tratando de um adoecimento do público infanto, o impacto familiar pode ser devastador, principalmente em casos de doenças graves e ou ameaçadoras de vida, tais como: o câncer infantil. Assim, levantei as seguintes perguntas de pesquisa: 1) De que modo as famílias se organizam para cuidar das crianças com diagnóstico oncológico? 2) Quais fatores podem facilitar o enfrentamento do câncer de crianças por suas famílias, especialmente, pelas mães? 3) Quais são as dificuldades que as mães enfrentam durante o tratamento de câncer das crianças e adolescentes em Belém? A justificativa desta dissertação foi: Realizando o acompanhamento psicológico destes pacientes e seus cuidadores durante as internações, sendo a primeira hospitalização ou a de número talvez nem mais contabilizado, após anos de tratamento, observei em seus discursos a presença constante da vulnerabilidade em que havia sido submetidas após o adoecimento e testemunhava diariamente as diferentes formas de reorganização à qual cada família possuía para conseguir lidar com as novas necessidades impostas pela doença oncológica e o tratamento. Como metodologia, foram adotadas as modalidades de uma pesquisa qualitativa de campo, com estudo de caso, de caráter bibliográfico e exploratória com realização de entrevistas e produção do diário de campo. O objetivo geral foi: Analisar e descrever quais mudanças psicossociais ocorreram nas famílias, especificamente das mães de crianças durante tratamento de câncer pela rede pública de saúde em um Hospital Oncológico Infantil da rede pública de saúde, localizado na cidade de Belém do Pará. Os objetivos específicos foram: Analisar se as dificuldades enfrentadas pelas mães em termos psicossociais de crianças em tratamento de câncer na cidade de Belém do Pará; Compreender como as famílias se reorganizam para oferecer os cuidados necessários à criança após o diagnóstico oncológico; Identificar os fatores que facilitam o enfrentamento das famílias de crianças com câncer durante o tratamento. Entre os resultados, foram encontradas situações dolorosas vividas pelas mães de
criança com câncer, que impactam a saúde mental e coletiva das mesmas; violências de gênero experienciadas pelo cônjuge que não compreendia o afastamento da companheira durante o período de tratamento dos filhos com câncer, em Belém; também constatou-se a existência de sofrimentos psicossociais diante da realidade dos filhos em tratamento e dos filhos que ficaram em casa, em outras cidades com familiares. Concluindo, o trabalho trouxe contribuições para a área e áreas afins bem como para as políticas públicas de saúde da criança e das mulheres mães. Vale salientar que as mães das crianças receberam suportes de redes de apoio em Belém, tais como da Casa de Apoio e dos profissionais de saúde dos Hospitais e ainda vale destacar que estas mães apresentaram resistências e potências face às realidades descritas.
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PRISCILA DOS SANTOS PEREIRA CARDOSO
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A PAIXÃO SEGUNDO G. H. E O INFAMILIAR: UMA EXPERIÊNCIA DE VERTIGEM
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Data: 16/02/2023
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Com destaque às reverberações da interlocução entre literatura e psicanálise e suas possíveis transmissões, este trabalho objetivou analisar o fenômeno do infamiliar a partir de Freud e Lacan pela via do percurso da voz narrativa da protagonista no romance A paixão segundo G. H., de Clarice Lispector. Nessa direção, será apresentado o percurso de investigação e análise dos autores psicanalíticos acerca do fenômeno estudado, evidenciando as especificidades da literatura lispectoriana para tal investigação. Este estudo se deu a partir de uma pesquisa teórica em psicanálise, de cunho bibliográfico, seguindo a linha de orientação do método investigativo e interpretativo psicanalítico. De certo, o fenômeno do infamiliar aponta para algo vultoso à experiência psicanalítica. Assim, considerando o campo estético, apreender pela via do discurso narrativo na escrita literária o que se apresenta nele como efeito de uma manifestação psíquica e o que transcende tal ponto amplia o leque de possibilidade de investigação. Portanto, o ensaio apresentado como resultado trouxe importante material para a comunidade acadêmica, psicólogos e psicanalistas por tratar-se de dois campos discursivos em que tal dialética contribui para o avanço no que concerne a importância da literatura para a psicanálise e sua metapsicologia, destacando as construções de Freud e os avanços teóricos acerca da temática apontados por Lacan a partir de sua releitura do autor. Dessa forma, com a leitura-escuta da narrativa da personagem G. H., consideramos que o fenômeno do infamiliar aparece em diversos fragmentos, apontando a presença do retorno do recalcado com Freud e o encontro com o Real a partir de Lacan, com destaque à barata como objeto central para a emergência de tais acontecimentos.
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WINTHNEY PAULA SOUZA OLIVEIRA
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HABILIDADES SOCIAIS NA ESCOLA-VIDA: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
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Data: 15/02/2023
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Considera-se a escola,para além do pedagógico,um território privilegiado para o desenvolvimento de novas possiblidades e práticas. Nesta pesquisa, as habilidades sociais são compreendidas como criação de novas subjetividades que acontecem no cruzamento das linhas das histórias de vida a partir do contexto escolar.Apresentam-se aspectos da infância e juventude, sua relação com a família, com a escola e com a comunidade. Contextualiza-se sobre os processos de ensino, as implicações do trabalho docente no repertório social dos estudantes e estratégias de potencialização do repertório de habilidades sociais das crianças e adolescentes.O objetivo geral delineado foi compreender o contexto escolar brasileiro contemporâneo para a promoção das habilidades sociais das crianças e adolescentes.Trata-se de uma pesquisa bibliográfica qualitativa, do tipo pesquisa-intervenção, sustentada nas ideias de Félix Guattari, Gilles Deleuze e Fernando González-Rey, para tessitura dos pressupostos fundamentais epistemológicos e metodológicos.O presente estudo conta ainda com a apresentação de uma proposta, pesquisa-intervenção, “Sou habilidoso para produzir minha inserção no mundo”, que consiste em um caminho com possibilidades de invenções e reinvenções entre os participantes, a partir de cada encontro da proposta.Nesse contexto, esta dissertação faz viagens, conexões a vários destinos, em que cada participante tem um mapa, que, juntos, formam um grande atlas, que permite produzir mudanças no próprio contexto ou criar novos territórios a serem explorados e habitados. É um convite, uma abertura para o “outrar-se”.
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ADRIANA HELENA MORAES E MORAES
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SER MULHER, NEGRA E DOCENTE UNIVERSITÁRIA: escrevivências possíveis
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Data: 14/02/2023
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Este trabalho pretende analisar as escrivivências por meio da autobiografia e história oral, microhistória e genealogia, com a recepção de Conceição Evaristo com os estudos sobre negritude. O objeto foi a autobiografia e a escrivivência de uma mulher, professora negra, na Amazônia paraense, na sua formação, currículo, inserção em associações e movimentos sociais e no exercício docente. Trata-se de trabalhar com a escrivivência a partir da singularidade e da visibilidade da memória afetiva, cultural e política da constituição de uma mulher negra como docente na formação, na atuação profissional docente, na articulação em movimentos sociais, em grupos de trabalho sobre relações étnico-raciais e nas associações científicas. O trabalho da construção de uma escrita de si é forjado nas anotações no diário de campo da pesquisadora e na análise do mesmo, a partir dos objetivos da pesquisa que foram os seguintes: Como objetivo geral: Investigar e analisar a minha trajetória profissional de docente negra, tomando um estudo de caso da minha experiência, a partir da autobiografia e das minhas escrivivências no ensino superior, na Amazônia paraense. Como objetivos específicos: Identificar os percursos que eu realizei ao longo do processo de formação educacional e profissional no que tange a minha carreira, currículo e atuação na docência superior, analisando os vieses racistas na minha formação e atuação profissional; Analisar os desafios que eu enfrentei, minhas participações em associações e em movimentos sociais ligados à negritude e às relações étnico-raciais na educação e na atuação docente, delimitando as nuances racistas vividas. Entre os resultados, é possível afirmar que uma mulher negra se autoriza, escreve em nome próprio como docente e pesquisadora com suporte de políticas afirmativas, apoio da família com a força da ancestralidade, sustentação espiritual e alianças com movimentos sociais. Sem estas redes de apoio não haveria como enfrentar a violência do racismo estrutural.
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ANACLAN PEREIRA LOPES DA SILVA
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Quando Amor e Dor Irrompem na Alma: trabalho, prazer e sofrimento entre trabalhadoras e trabalhadores do ensino superior em uma universidade da Amazônia
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Data: 07/02/2023
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A presente tese visa analisar, a partir da Teoria da Psicodinâmica do Trabalho e diante do cenário de transformações no mundo do trabalho que afetam o serviço público brasileiro, como os fatores da organização do trabalho em uma universidade pública na Amazônia, reverberam em prazer e sofrimento na categoria de trabalhadoras e trabalhadores técnico-administrativos que possuem o vínculo de concursadas/os ou de temporárias/os na instituição. Trata-se de uma pesquisa calcada na teoria da Psicodinâmica do Trabalho, de caráter qualitativo, em que foram realizadas sete entrevistas semiestruturadas com servidoras e servidores da Universidade do Estado do Pará (UEPA), sendo quatro mulheres e três homens, dos diferentes tipos de vínculo citados. Tal interesse de pesquisa se originou do trabalho da pesquisadora na universidade alvo da pesquisa como psicóloga, tendo sido responsável pela constituição de um serviço de atendimento psicossocial para as/os servidoras/es da IES. Foram analisadas nas entrevistas as categorias fundamentais da teoria da Psicodinâmica do Trabalho, tais como: organização do trabalho, prazer e sofrimento no trabalho, estratégias de defesa individuais e coletivas, mobilização subjetiva e reconhecimento no trabalho. Notamos que a organização do trabalho está intimamente relacionada ao setor no qual a/o servidora/or trabalha, assim como com seu tipo de vínculo, variando a divisão do trabalho e das pessoas que exercem as atividades laborais, de acordo com esses fatores. As estratégias de defesa são utilizadas para tornar o sofrimento no trabalho mais ameno e no contexto pesquisado o brincar e o debochar são as estratégias de defesa mais comuns. O prazer e o sofrimento no trabalho compareceram e tiveram leituras singulares para cada servidora/or, no entanto percebemos que as servidoras expuseram mais nitidamente seus dissabores no trabalho, ao contrário dos servidores, que procuraram relativizar os elementos negativos de suas atividades laborais, expondo assim uma diferenciação de gênero. A mobilização subjetiva para o trabalho variou em termos da formação acadêmica das/dos entrevistadas/os com relação ao cargo que exercem - alta formação acadêmica versus baixos requisitos do cargo redundou em baixa mobilização subjetiva, assim como quando da ocorrência de desvalorização no desempenho de suas atividades laborais. A alta mobilização subjetiva esteve atrelada à um alto reconhecimento no trabalho. O reconhecimento no trabalho foi um fator de divisão de opiniões. Enquanto algumas servidoras e alguns servidores sentiam-se
reconhecidas/os no trabalho, outras/os sentiam-se desvalorizadas/os, seja pela baixa remuneração, como pelo desmerecimento de suas opiniões. Servidores temporários tenderam a sentirem-se mais reconhecidos e satisfeitos com seu trabalho. O tema da precarização do trabalho no serviço público foi o pano de fundo das opiniões expostas nas entrevistas e no caso das/dos trabalhadoras/es com vínculos precários (temporários), o fato de estar empregada/o e ter uma remuneração, já é um benefício para elas e eles. Em resumo, o trabalho no serviço público brasileiro vem sofrendo ataques e precarizações, porém os trabalhadores encontram nele caminhos de sobrevivência, prazeres e dissabores que precisam ser discutidos, em busca da construção de um espaço mais igualitário e propiciador de saúde mental. O presente trabalho se propõe a ser uma contribuição neste sentido.
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LORENA SCHALKEN DE ANDRADE
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CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DE SAÚDE E DE CIÊNCIA NA POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE
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Data: 31/01/2023
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A Política Nacional Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPICS) é uma produção que reúne o atendimento das diretrizes e recomendações realizadas em várias Conferências Nacionais de Saúde. A tese que busquei durante o percurso de estudos doutorais foi: Os princípios descritos na política pública das PICS promovem rupturas com as premissas científicas positivistas de saúde, por estabelecer uma compreensão de pessoa integral, sem reduzi-la aos sintomas de uma doença, e por preconizar o uso de recursos terapêuticos não hegemônicos. Sua composição foi associada ao problema de pesquisa: Quais as bases epistemológicas da concepção de saúde e de ciência presentes na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e nos textos gestálticos? Objetivou-se identificar a concepção de ideologias e de saúde presentes no discurso oficial da PNPIC, juntamente com os textos gestálticos. Como objetivos específicos: analisar as concepções de saúde identificadas nos documentos sob a ótica do pensamento gestáltico de Laura Perls; compor uma reflexão crítica acerca dos princípios que fundamentam o pensamento oficial e o gestáltico, destacando os avanços e os limites nas concepções de (sujeito) ciência e de saúde. Utilizou-se para isto a Análise documental de fontes científicas e oficiais, públicas e disponíveis online, com o propósito de obter informações para compreender o fenômeno estudado. O ponto de partida das análises foram os documentos e manuais da política pública das PICS para discutir as concepções epistemológicas de saúde e de ciência, contextualizando à realidade brasileira, a complexidade da organização das terapias que constam nos documentos, juntamente com a perspectiva de integralidade preconizada pelo sistema de saúde, perspectiva holística de saúde em Gestalt-terapia e os subsídios decolonias. Foram identificados os seguintes elementos de sustentação da Política: Racionalidades Médicas, Práticas Complementares, o Diagnóstico Situacional e as Diretrizes de Implantação. Pondero que a tese foi a confirmação de que a diversidade de saberes é caminho de potência para saúde e pode contribuir para o avanço nas terapêuticas, desde que alinhadas com as necessidades de quem busca atendimentos, no entanto, destaco que esta diversidade é seletiva e por isso, a tese se conclui parcialmente. Concluo que as PICS podem ser importantes recursos para os cuidados em saúde, no entanto ressalto a urgência das reflexões acerca das epistemologias do Sul global e a inclusão do conhecimento tradicional indígena nas discussões em saúde no contexto brasileiro.
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