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LUANA DE NAZARE PINTO PENA
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A INTERNET COMO ESPAÇO DE ATUAÇÃO POLÍTICA PARA MULHERES CAPOEIRISTAS EM TEMPOS DE ISOLAMENTO
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Data: 22/12/2023
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Os espaços em rede configuraram novas dinâmicas de sociabilidade, possibilitando o entrelaçamento de diferentes contextos histórico-sociais, uma multiplicidade de grupos, organizações e sujeitos com diferentes perfis de atuação e mobilização social e política, que atingiram novos patamares a partir dos contextos impulsionados pela pandemia do COVID-19 no ano de 2020. Foi neste cenário que a capoerista paraense Sabrina Silva utilizou as lives no Facebook para difundir o movimento feminino da capoeira no Pará. Diante do exposto, o presente estudo objetivou analisar como a internet se tornou um lócus de atuação política das mulheres capoeiristas durante a pandemia no ano de 2020, a partir do estudo de caso das Lives de Sabrina Silva. Para realizar as análises, adotamos a etnografia do virtual como método, ela é uma adaptação da análise etnográfica para o estudo de culturas on-line, visando explorar e expandir as possibilidades por meio do constante uso das redes digitais, postando o material coletado. Em relação ao arcabouço teórico, selecionamos, entre outros, autores que trabalham questões relacionadas à capoeira, como Nestor Capoeira (1999), Letícia Reis (2000) e Luiz Augusto Leal (2005); autores que discutem as relações de movimentos sociais na atualidade, como Manuel Castells (2014) e Maria da Gloria Gohn (2011); autores que debatem questões de gênero, raça e classe, por exemplo, Anne McClintock (1995) e Kimberlé Crenshaw (2002); e teóricos que discutem a etnografia do virtual, a saber, Beatriz Lins, Carolina Parreiras e Eliane Freitas (2020). Com isso, verificou-se que as mídias sociais foram apropriadas por mulheres durante um período em que encontros físicos estavam suspensos, a fim de difundir uma luta tão importante para a construção da cultura brasileira, assim, evidenciando as relações de poder presente na capoeira e suas possibilidades de expandirem as discussões sobre o tema e darem mais visibilidade a ele.
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LAIANE HELENA SILVA DA CRUZ
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CASTANHAL: A “CIDADE MODELO”, OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO
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Orientador : EDILA ARNAUD FERREIRA MOURA
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Data: 20/12/2023
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Esta dissertação tem como objetivo analisar a atuação do Estado no município de Castanhal (PA) diante de uma proposta de desenvolvimento regional. Seguindo o padrão nacional-desenvolvimentista, o governo brasileiro na segunda metade do século passado implementou uma série de políticas públicas que visavam o crescimento econômico, principalmente, por meio da industrialização. Com a implementação da ditadura militar na década de 60, o governo que visava integrar a Amazônia ao restante do país passou a adotar diversas políticas públicas como a construção de rodovias e ampla política de incentivos fiscais. A região, vista como um “espaço vazio” pelo Estado, se tornou o destino de milhares de migrantes em busca de um lote de terra. O município de Castanhal, localizado no estado do Pará, é analisado não só a partir deste contexto, mas também de outros acontecimentos que estão diretamente relacionados à sua criação, como o ciclo da borracha e a construção da Estrada de Ferro de Bragança. A pesquisa foi realizada a partir de estudos sobre a história de Castanhal e da Região Bragantina e com base em dados sociodemográficos, econômicos e agropecuários disponibilizados para os períodos mais recentes. O conceito de desenvolvimento assume papel de destaque na discussão como norteador do planejamento estatal e é objeto de análise em seu contexto amazônico.
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ANDRES FELIPE ORTIZ GORDILLO
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“Pueblo Pijao y recuperación de Ima: reetnización, sabidurías propias y defensa territorial en el Resguardo Indígena San Antonio de Calarma (Tolima, Colombia)”.
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Data: 20/12/2023
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Nesta pesquisa é realizada a sistematização crítica do processo de recuperação territorial que vem sendo implementado, desde meados da década de 1970, na Reserva Indígena San Antonio de Calarma Pueblo Pijao (Tolima, Colômbia). Este processo tem sido chamado de “a recuperação de Ima” (a Mãe Terra Pijao), e inclui duas dimensões estruturantes da luta territorial indígena no município de San Antonio de Calarma: a recuperação da “propriedade” de territórios considerados “ancestrais” –o que tem ocorrido por meios institucionais e por meios de facto através da ocupação territorial–, e da cura ou recuperação do equilíbrio do «mundo seco» (Ima, o território) para «retornar à origem».
Através de um trabalho de pesquisa militante, que se situa no campo metodológico das etnografias colaborativas e que retoma princípios epistemológicos da pesquisa-ação participante, constatou-se que a recuperação de Ima, além de ser um processo de defesa territorial, investiga pelo próprio modo Pijao de ser, de sentir, de sentipensar o território, sendo também um processo onto-epistêmico, que tem levado à recuperação de sabedorias próprias denominadas “Concepções-vida”, um complexo sistema relacional de conhecimento territorial que propõe alternativas às crises impostas pelo capitalismo.
Paralelamente, o processo de recuperação de Ima contribuiu para a re-existência do povo Pijao no sudoeste do departamento de Tolima, ao problematizar as estratégias de “desindianização”que fazendeiros e empresários agroindustriais têm utilizado, desde meados do século XIX, para “camponesar”a força de trabalho indígena e inserir a região no circuito produtivo do café, que sustentou a economia colombiana no século XX. Neste sentido, o processo de recuperação de Ima éuma expressão da reindianização-reetnização vivida pelo povo Pijao do Tolima, que encontrou nas lutas territoriais o médio para des-cobrir as suas próprias sabedorias, as suas formas diferenciais de organização e mobilização, com o último objetivo de «recuperar o equilíbrio do mundo seco e retornar àorigem»
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THAIS DE OLIVEIRA COSTA
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“EM TODO TEMPO MULHER FOI TAPETE”: A escrevivência de um corpo rebarbado sobre as relações assimétricas de gênero na Assembleia de Deus em Boa Esperança - PA
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Data: 19/12/2023
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Este texto sintetiza parte dos resultados da pesquisa que desenvolvo desde 2018 e centra-se nas discussões referentes à liderança de mulheres na igreja evangélica Assembleia de Deus. A instituição, fundada em 1911, em Belém do Pará e que atualmente está presente em todos os estados brasileiros, reserva às mulheres papéis subservientes e não permite que estas ascendam na hierarquia eclesiástica. Esse fator endossa a postura androcêntrica da igreja que, em seus 110 anos de fundação, nunca consagrou mulheres aos cargos de liderança eclesiástica, mesmo tendo uma mulher como pioneira na fundação na igreja e um público de maioria feminina. Buscando desenvolver uma escrevivência, como propõe Conceição Evaristo, delimitei como campo de pesquisa etnográfica a comunidade cristã da qual sou “membra desviada”, cuja sede fica em Boa Esperança, na zona rural do município de Santarém, no Oeste do Pará. Mais especificamente, o trabalho se desenvolveu por meio do diálogo com integrantes do Círculo de Oração, a fim de compreender as relações assimétricas de gênero enquanto instância de poder e entender as formas de atuação feminina dentro desse espaço.
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FIAMA GOES MAUES
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DAS MAMETUS ÀS MUZENZAS: AS ARTICULAÇÕES E VIVÊNCIAS DE MULHERES NEGRAS DENTRO DE UM TERREIRO DE CANDOMBLÉ E OS REFLEXOS NO EXERCÍCIO DA VIDA EM COMUNIDADE
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Data: 19/12/2023
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Esta dissertação intenta demonstrar como as articulações e vivências de mulheres negras dentro de um terreiro de Candomblé refletem e se estendem para a vida em comunidade. Para isso, realizei uma análise do terreiro como um local de produção de conhecimento ancestral africano e criação de redes de apoio, considerando-o como um quilombo urbano, o qual está presente e resiste dentro de um contexto ocidentalizado. Através das vivências, saberes e perspectivas individuais e coletivas de mulheres negras, acompanhei seus passos e sua rotina dentro da Casa de Santo e fora dela, e então, pude observar as redes compartilhadas entre o terreiro e a sociedade civil, por meio de suas vidas comunitárias e de seus projetos sociais. Para esse propósito, utilizei o método etnográfico, tendo como referencial bibliográfico um campo epistêmico afrocentralizado para além dos autores ocidentais, promovendo, assim, uma conversa entre estes saberes coexistentes no contexto pesquisado.
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VALBER OLIVEIRA DE BRITO
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Ética e religiosidade: a contribuição de Ermanno Olmi como crítica e resistência ao mundo contemporâneo.
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Orientador : KATIA MARLY LEITE MENDONCA
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Data: 15/12/2023
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A presente tese focaliza o percurso e os resultados de nossas investigações sobre a relação existente entre ética e religiosidade – cuja sustentação teórica central se deu, sobretudo, a partir de Georg Simmel e Martin Buber –, presentes nas produções artísticas e no pensamento de Ermanno Olmi, entendendo-a como crítica e resistência à sociedade contemporânea. Longe de defendermos uma teoria em petição de princípio – e como forma de evitar tal equívoco interpretativo – nos associamos a Simmel, Buber e à abordagem hermenêutica fundamentada em Gadamer para ratificar que o cinema de Ermanno Olmi não está assentado em normas apolíneas de um sistema de crenças. Antes devemos compreender seus filmes como traspassados por sua noção de religiosidade, entendida como sentimento da espiritualidade, de que a vida tem sentido, de que não podemos desperdiçar a convivência. Seu cinema apresenta-se como expressividade estética cristã que é, ao mesmo tempo, crítica à própria modernidade que o contorna. Em particular, de sua produção cinematográfica, selecionamos filmes com maior evidência e elaboramos uma hermenêutica da imagem com a finalidade de atingirmos o objetivo proposto, tendo como ponto de análise os filmes “La leggenda del Santo Bevitore” (1988) e “Centochiodi” (2007) e “Il Villaggio di Cartone” (2011). São filmes onde Olmi maneja maior multiplicidade de recursos que expressam sua perspectiva ética, o que envolve sua noção de religiosidade e sua interconexão com mundo moderno. Neste sentido, tais obras foram analisadas com mais detalhes, recorrendo às outras, mesmo as não selecionadas, sempre que se mostrou necessário, pois toda sua filmografia orienta-se – de forma direita ou indireta – pela tessitura da perspectiva apontada acima. Suas obras são o resultado de um pensamento pautado em um constante repensar que tinha por finalidade evitar a atrofia dogmática e determinista. O seu é um cinema com teor ético cristão antropologicamente positivo, que pede para não cedermos às dimensões atrofiadas de uma realidade autofágica que se sugere desfavoravelmente emancipativa e iluminadora. Se a sociedade contemporânea está cada vez mais baseada no uso midiático de imagens que indica um processo de dessacralização da mesma; Olmi, ao contrário, mostra o potencial ainda vigente, uma condição de melhoramento ainda possível. A ética do seu cinema encontra-se precisamente na contínua tentativa de mediação entre a sensibilidade cristã e o mundo: os valores do primeiro e do outro, à luz de uma consciência honesta.
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JORGE OSCAR SANTOS MIRANDA
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O “riso brasileiro”: O imaginário político na obra humorista de Chico Anysio.
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Orientador : KATIA MARLY LEITE MENDONCA
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Data: 12/12/2023
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Esta pesquisa busca abordar o humor brasileiro como expressão cultural, histórica e social. Para tanto, não parte das análises de anedotas, piadas ou cenas cômicas, embora fosse pertinente, já que centralizou esforços na compreensão do risível sob a perspectiva de um autor do riso, o humorista. O trabalho em questão percorreu reflexões sobre o imaginário em Gilbert Durand, para, então, adentrar o imaginário social do humor brasileiro a partir de Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o Chico Anysio. Artista popular e “homem de fronteira”, como pontuou François Dosse, pois vivenciou momentos de transformação do país que se encontram refletidos na sua arte humorística iniciada ainda no final dos anos 40 no rádio, no tempo em que esse meio de comunicação assumia o protagonismo. Todavia, ficou mais conhecido pelo grande público ao começar a trabalhar como produtor (na época, redator) de programas humorísticos na televisão nos anos 50 e quando apresentou ao país o revolucionário programa “Chico Anysio Show” na década de 60, na TV RIO. Através do recurso do videoteipe, o humorista criou um elenco particular, e ele próprio interpretava e interagia com todos seus personagens, com esse modelo de programa se tornando a assinatura do humorista. Mais tarde, em 1973, no período da ditadura militar, Chico cria “Chico City”, cidade ambientada na região Nordeste, no entanto, com traços bem brasileiros, incluindo os problemas sociais. O programa foi exibido na emissora, que apoiou o golpe militar, a Rede Globo, entretanto o humorista, em meio ao contexto de censura, lançou críticas à sociedade e ao autoritarismo a partir da sua linguagem humorística contida nos seus personagens, “tipos brasileiros”, os quais podem ser encontrados no cotidiano, a exemplo de “O político corrupto” (Justo Verissimo), “O professor mal remunerado, mas que acredita na profissão” (Professor Raimundo), “O contador de estórias, mentiras, que acredita nela” (Pantaleão), “O líder religioso avarento” (Tim Tones), entre outros. Foram mais de duzentos personagens criados, os quais, boa parte, tiveram a realidade social como fonte de criação, moldada pelas experiências do comediante nas quais podem se inscrever no que Alfred Schutz chamou de “províncias finitas de significados”. Sendo assim, para melhor entendimento de como o humorismo de Chico atinge tal condição analítica, fez-se necessário abordar uma leitura hermenêutica dos depoimentos, das entrevistas do artista, bem como dos arquivos de jornais, revistas e episódios de programas. Desse modo, coube investigar a relação entre o humor e o imaginário social e político na obra humorística de Chico Anysio.
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FABRICIO TAVARES DE MORAES
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O MOVIMENTO SOCIAL CONTRA O ATERRO SANITÁRIO EM MARITUBA (PA): UM ESTUDO SOBRE O FÓRUM PERMANENTE ‘FORA LIXÃO’
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Data: 07/11/2023
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Este estudo faz uma análise do movimento social denominado Fórum Permanente ‘Fora Lixão’ em suas práticas de atuação no município de Marituba (PA) sob a concepção da Teoria do Confronto Político (TPP). A pesquisa recorreu a uma abordagem qualitativa e ao método de estudo de caso, seguindo os procedimentos de entrevistas, documentos jornalísticos, judiciais, administrativos e pesquisa bibliográfica. Os resultados demonstraram uma organização interna do movimento composta de associações de comunidade, partidos políticos, movimentos sociais e segmentos da igreja católica, assim como formas de participação popular que oscilaram entre o confronto e a colaboração com o Estado. A pesquisa nos informa sobre como a sociedade civil organizada e instituições públicas construíram arranjos, parcerias e formas de participação política, para o caso da rejeição do aterro sanitário de Marituba, conhecido popularmente como “lixão de Marituba”. A pesquisa também informa sobre o fortalecimento da mobilização popular, no sentido de se conquistar uma democracia participativa popular, para um tratamento dos resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém, de acordo com parâmetros técnicos mais evoluídos e condizentes com as diretrizes da Política Nacional dos Resíduos Sólidos e as leis que a amparam.
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ELTON LUIS DA SILVA JUNIOR
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"MINHA COR É O BRASIL? O DESMONTE ADMINISTRATIVO E SIMBÓLICO DA FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES (2019-2022)".
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Data: 24/10/2023
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O objetivo deste trabalho é analisar como as ações e discursos do ex-presidente da Fundação Cultural Palmares – FCP, Sérgio do Nascimento Camargo, aliado ao fenômeno do bolsonarismo vivenciado pelo Brasil, implicam no negacionismo e omissão do combate ao racismo do país, refletindo em um desmonte administrativo e simbólico da referida instituição. Nesse sentido, realizamos uma análise das ações institucionais concretas que procuraram enfraquecer a principal instituição federal de fomento à cultura afro-brasileira e de combate ao racismo no país. Para tanto, realizamos pesquisas no site oficial da instituição a fim de identificarmos documentos oficiais tais como Portarias, Instruções Normativas, Legislações, Notas Oficiais para investigarmos a maneira com que ocorreu o desmonte administrativo e simbólico da FCP. Além disso, realizamos entrevistas com duas lideranças Quilombolas paraenses para entendermos como os desmontes da fundação impactaram o cotidiano dos territórios no que se refere ao acesso ou não a direitos sociais. Metodologicamente, para análise da pesquisa, utilizamos as etapas técnicas de análise de conteúdo, tal como seguem: organização das informações; leitura do material; exploração e maturação do corpus; tratamento dos resultados, inferência e interpretação sobre a forma como a então gestão da FCP promoveu um desmonte administrativo e simbólico da instituição e seus reflexos no cotidiano de duas Comunidades Quilombolas paraenses. A partir da leitura crítica dos documentos e entrevistas, organizamos os principais pontos de discussão em categorias de análise interpretativa. Os resultados da pesquisa apontam que aquela gestão da instituição caminhou em um sentido contrário à política de valorização da cultura afro-brasileira, estimulando o racismo em suas diversas ramificações e a aversão aos elementos de valorização afro-brasileiros. Portanto, entendemos que as ações institucionais da gestão de Sérgio Camargo e sua equipe atuaram em direção oposta ao Regimento Interno da Fundação, atacando cotidianamente, em redes sociais e institucionalmente, tudo o que estava relacionado à nossa herança afro-brasileira.
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DANIEL SILVA PINTO
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PEREGRINOS DA FÉ NA AMAZÔNIA URBANA: FACES DO INDIVIDUALISMO RELIGIOSO
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Data: 29/09/2023
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O estudo da dinâmica da religiosidade nos tempos hodiernos, especialmente sobre os processos de construção identitária individuais indicam investigações mais sistemáticas e de maior alcance sobre os efeitos do individualismo religioso moderno na configuração de campos religiosos nacionais; tal fenômeno afeta o tamanho e a mensuração de religiões tradicionais como a cristã e, principalmente, como a religião institucionalizada é afetada em sua capacidade de transmissão de sua memória ou herança religiosa autorizada. A análise de tal fenômeno no Brasil, em seu plano teórico, neste trabalho - o que poderia levar a produção de uma literatura sociológica da religião com menos foco nas instituições e mais no indivíduo em seu livre trânsito pelo imenso mercado simbólico-religioso nacional – está centrado no conceito de peregrino de Danielle Hervieu-Léger. A figura do peregrino seria o símbolo de uma nova religiosidade - ou poderíamos chamar de espiritualidade?- neste início de século, sempre em movimento e sem nenhuma vocação para a religiosidade tradicional, afeita à fronteiras simbólicas e rituais fixas. Na Amazônia, esta religiosidade mais fluida e desterritorializada pode ser melhor exemplificada e identificada em sua dimensão urbana e com mais intensidade nos grupos praticantes das genericamente classificadas como religiões de Nova Era em fusão ou hibridismo com práticas e cosmologias do imaginário religioso amazônico. Seus adeptos ou praticantes enfatizam mais uma religiosidade de busca pessoal ou de desenvolvimento espiritual em contraste com as tradicionais religiosidades de transcendência cristã. Por sua vez, cristãos, católicos e evangélicos, não deixam de manifestar práticas e crenças hibridizadas com outras matrizes simbólico--religiosas, e mesmo um intensotrânsito, seja interno ou endógeno, ou seja, entre a diversidade de denominações evangélicas, (pentecostais e neopentecostais), ou externo, exemplificadas pela duplas ou múltiplas pertenças de católicos.
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ANDREA CARDOSO E CARDOSO
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QUILOMBOLA E PENTESCOSTAL: A CONSTRUÇÃO DE UM DIÁLOGO NA COMUNIDADE MOJU MIRI (PA).
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Data: 06/09/2023
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Esta pesquisa teve por objetivo entender a influência da igreja evangélica Assembleia de Deus na cultura, no saber e no fazer do quilombo Moju Miri, uma comunidade quilombola localizada no município de Moju, estado do Pará, às margens esquerda do rio Moju. A proposta metodológica se apoia em parte no método da pesquisa ação participante (BORDA,1978), buscando produzir uma transformação que venha a resultar em um diálogo intercultural, uma prática de conversação entre moradores evangélicos e não evangélicos e com a própria igreja Assembleia de Deus, a fim de garantir a manutenção de valores quilombolas na vida do território. O alcance deste diálogo faz parte do Bem Viver comunitário de Moju Miri, o qual estamos permanentemente construindo. Busquei responder a algumas questões que me inquietaram a partir de experiências vivenciadas na escola da comunidade na condição de professora acerca das práticas culturais e ancestrais de Moju Miri, uma vez que a comunidade é formada por pessoas afrodescendentes e seus conhecimentos estão entrelaçados na forma de vida que possuem. Nesse sentido, busco exercer algum poder de agência e influenciar nas mudanças necessárias para a comunidade resistir às imposições que as lideranças evangélicas tentam nos impor. Para nós, o Bem Viver inclui a resistência contra o apagamento das nossas tradições africanas e afro-brasileiras, e eu, como quilombola e evangélica, e do entrelugar situado entre comunidade e universidade, luto não apenas para compreender as possibilidades dessa relação intercultural, mas também para transformá-la. Dessa maneira considero que estarei contribuindo com a escola do território, com a igreja e com a comunidade. No primeiro capítulo apresento as minhas escrevivências e a oralidade também como recursos metodológicos, para, a partir das fronteiras e entrelugares em que me encontro, efetivar uma ação política e militar em favor do respeito à diferença na comunidade e à construção da interculturalidade. Para falar das minhas escrevivências, trago Conceição Evaristo com esse conceito que me possibilita usar a escrita na primeira pessoa e também minha experiência dada por uma vida engajada na comunidade, como professora e liderança comunitária. Assim como Conceição Evaristo, que fala das atividades das mulheres negras da sua favela, trago na minha dissertação vozes de outras mulheres quilombolas com que me relaciono. O relato de pessoas comuns e diálogos que reporto neste trabalho falam de cultura, modo de vida e pertencimento. Trago também de Lélia Gonzalez o compartilhamento de vozes e a comunhão que ela faz entre pensamento e ação. Nesse sentido, busco uma compreensão ampla de significados para trabalhar contra o apagamento da cultura, do ser e do saber ancestral de Moju Miri, que ocorre pela imposição e intransigência de algumas lideranças evangélicas que atuam dentro da nossa comunidade. Entendo que a negação de nossas ancestralidades é uma forma de colonização e racismo e não podemos de forma alguma abrir mão da nossa cultura ancestral, porque isso seria abrir mão da nossa identidade. Assim, em minha escrevivência estão incluídos educação, resistência, intervenção social, a coletividade, a oralidade, a informalidade, o sentir e pensar de alguém que se situa entre a universidade e a comunidade. Na sequência, no segundo capítulo, trago a minha autobiografia dividida em subtópicos: minhas Lutas e minhas Dores, a minha experiência como professora, as minhas vivências no mestrado e na militância, com a minha trajetória de lutas, resistências, enfrentamentos do machismo e dos racismos, a minha atuação na igreja, na escola, no movimento quilombola, na comunidade e na universidade, tudo isso informando meu texto. Em seguida, no terceiro capítulo exponho a cultura quilombola de Moju Miros mediante diálogos, com meu pai, minha mãe e minha tia Nazaré. Muito do conhecimento ancestral adquirido de nossos ancestrais, por onde caminha a educação quilombola, vem dessa oralidade. No quarto capítulo trago o contexto histórico da comunidade, o processo de formação política, lutas, organização, construção do protocolo de consulta prévia livre e informada, que marcou uma “divisão de águas” na comunidade. Importante enfatizar que o protagonismo da mulher quilombola de Moju Miri esteve sempre presente em todas as conquistas da comunidade, na liderança política, além dos cuidados, especialmente durante a pandemia de Covid 19, e nas tomadas de decisões, nos trabalhos coletivos, no cuidado com a saúde do território, no uso das plantas medicinais, e nos trabalhos da igreja evangélica. Com toda essa atuação, as mulheres cumprem um papel decisivo na comunidade. No quinto capítulo discuto valores para uma educação anterracista e quilombista, contextualizada de acordo com o cotidiano dos estudantes quilombolas, ribeirinhos e do campo, levando em consideração a diversidade cultural existente nessa realidade. E, por fim, no sexto capítulo trago um confronto entre a cultura ancestral quilombola e o pentecostalismo, a nossa cultura e seus elementos representativos, que permanecem na comunidade, que aprendemos com os mais velhos e precisam ser estimulados e reavivados.
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ANDREZA CRISTINA MORAES VIANA
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“VIRGENS DO BECO É SHOW”: PERFORMANCES DE UMA QUADRILHA HUMORÍSTICA EM SANTARÉM – PA
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Data: 29/08/2023
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Esta pesquisa tem como objetivo investigar as expressões e significados do riso nas performances de quadrilhas juninas classificadas como humorísticas na cidade de Santarém, Pará. O percurso do estudo parte das apresentações da quadrilha intitulada As Virgens do Beco, tomadas como unidades empíricas de investigação. Essa quadrilha é especialmente reconhecida em Santarém pela sua capacidade de mobilizar elementos risíveis, dança e teatro nas apresentações. Estas são analisadas por meio de uma abordagem fundamentada na antropologia da performance e no estudo do riso, à luz das contribuições de Bakhtin, sobretudo acerca do realismo grotesco. A investigação também considera as exibições da quadrilha como eventos ritualizados, com destaque para as interações face a face que ocorrem durante as apresentações. A análise buscou compreender a exploração e os sentidos do humor nas performances. Evidencia-se que, enquanto algumas partes cômicas são predefinidas, uma porção significativa do humor é criada de forma improvisada. Ademais, este estudo explora as nuances do riso e do risível no contexto das quadrilhas humorísticas de Santarém. Percebe-se que temas relacionados ao corpo e à sexualidade desempenham um papel proeminente nos esquetes desse estilo de dança junina, como indicado pelo próprio nome do grupo, "As Virgens do Beco".
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JUSSIA CARVALHO DA SILVA VENTURA
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RÁDIO, CIDADE, GOSTO E MEMÓRIA: uma etnografia da Belém que toca na Feira do Som
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Data: 19/07/2023
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As transformações tecnológicas têm imposto adaptações às emissoras de rádio que possibilitam a formação de realidades híbridas que coexistem em espaços tecnológicos diferenciados, que atendem público e realidades também diferenciadas. A Rádio Cultura do Pará, emissora pública criada em 1977 e ligada à Fundação Paraense de Radiodifusão (Funtelpa), apresenta esse tipo de hibridismo. Neste universo de pesquisa escolhi trabalhar com o programa “Feira do Som”, um dos programas mais antigos da rádio paraense, no ar desde 1972. Para fazer uma etnografia da Belém que é tocada nesse programa radiofônico foi necessário utilizar algumas técnicas metodológicas: audição participante, audição não participante, entrevista em profundidade (presencial e com suporte online), análise descritiva do programa. A pesquisa tem como objetivo geral identificar qual cidade de Belém é construída e consumida a partir do programa radiofônico Feira do Som da Rádio Cultura FM, uma das primeiras rádios públicas da Amazônia. Defende-se como hipótese que a construção de memória social e afetiva da cidade, a partir da relação do público com a mídia, é facilitada quando este produto midiático pertence à Comunicação Pública. Assim, o conteúdo veiculado no programa radiofônico Feira do Som permite uma construção de memória afetiva e social da cidade de Belém, seja por conta de uma Belém antiga, seja pela seleção musical regional. A construção da memória social da capital paraense a partir do programa radiofônico Feira do Som é pautado pelo gosto, que é uma experiência sensível, sensorial e de sintonia com o lugar de pertencimento.
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TAINAH SOUSA DO NASCIMENTO FERREIRA
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CORPOS IGNORADOS: uma análise sobre o ingresso de pessoas com deficiência no Serviço Público Federal.
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Data: 27/06/2023
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O presente trabalho parte do interesse em analisar a formação do gosto estético e cultural ocidental desejável para o trabalho no serviço público federal, mais especificamente para o exercício da atividade policial, a partir da perspectiva da decolonialidade, do corpo desejável e do corpo perfeito, estabelecendo diferenças e categorizações de corpos considerados normais ou deficientes, investigando a existência de desigualdades entre pessoas sem e com deficiência, tendo como premissa a existência de um padrão previamente estabelecido. O esforço deste trabalho destaca como característica a perspectiva decolonial orientadora da análise crítica do conhecimento científico acerca do tema proposto e efetividade ou não das normativas legislativas no Brasil. Chama-se atenção, portanto, para as mudanças de perspectiva hermenêutica em relação à compreensão da limitação de corpos categorizados como deficientes e incapazes. Com o advento da entrada em vigor da Lei 8.213, em 1991, a qual estabeleceu cotas para contratação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, houve um grande avanço legislativo no reconhecimento da necessidade de inclusão. O documento legal mais robusto e recente é o Estatuto da Pessoa com Deficiência, consagrado na Lei 13.146, de 6 de julho de 2015. No entanto, percebe-se a necessidade de ampliação de tais direitos, assim como há a necessidade de efetivação da legislação de proteção a essa categoria. Apresenta-se como um desafio o reconhecimento dos direitos de inclusão de pessoas com deficiência, inclusive na atividade policial, pois até 2013 nenhum edital no Brasil havia previsto vagas para pessoas com deficiência na atividade-fim das carreiras policiais, para cargos policiais. O pioneirismo da previsão editalícia se deu em 2013 com a publicação, pela Polícia Rodoviária Federal, do Edital Nº 1 – PRF – Policial Rodoviário Federal, de 11 de junho de 2013, que previa mil vagas para o cargo de Policial Rodoviário Federal, das quais novecentos e cinquenta foram destinadas à ampla concorrência e cinquenta vagas foram reservadas aos candidatos com deficiência. Muitas foram as barreiras encontradas pelos candidatos inscritos às vagas para pessoas com deficiência. A partir da análise de narrativas dos atores como forma de interpretação da experiência individual e coletiva, propõe-se compreender a classificação de “deficiência”. Conclui-se que apenas a previsão legal e/ou editalícia não são suficientes para a materialização da inclusão da população com deficiência no mercado de trabalho e que os governos e instituições devem implementar políticas públicas que auxiliem neste processo de inclusão que garanta o direito ao trabalho às pessoas com deficiência.
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GLEIDSON WIRLLEN BEZERRA GOMES
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Olhares da/na ci(s)dade: transexualidades/travestilidades, raça e práticas nos espaços citadinos de Belém-PA "em plena luz do dia"
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Data: 19/06/2023
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Esta tese tem como objetivo compreender as relações entre as transições de gêneros de pessoas trans/travestis e suas práticas nos espaços (CERTEAU, 2014) citadinos de Belém “em plena luz do dia”. Assim, a etnografia aqui proposta foi elaborada a partir de referências e reflexões da Antropologia Urbana, em diálogo com os estudos de gênero, sexualidades e raça. Teve como uma de suas bases as narrativas biográficas (ROCHA; ECKERT, 2013a) de cinco interlocutoras/es que, a partir de suas trajetórias de vida, permitiram refletir sobre as questões de gênero, sexualidade e raça implicadas em seus trânsitos cotidianos pela cidade. Além das entrevistas semiestruturadas voltadas para as trajetórias de vida, foram utilizadas também as narrativas e reflexões das pessoas trans/travestis sobre Belém, bem como realizei observações diretas com elas/eles, utilizando a técnica da etnografia de rua (ROCHA; ECKERT, 2013b) para descrever e interpretar as situações ocorridas em lugares de Belém como ruas, praças, calçadas e, também, em seus deslocamentos na urbe dentro de coletivos. Os dados etnográficos assim construídos foram organizados em “cenas”, com inspiração em Perlongher (1984), nas quais é possível perceber as performances (TURNER, 2015; SCHECHNER, 2012) nelas contidas, gestos e expressões faciais, evidenciando os olhares dos desconhecidos na capital paraense como um dos micro-gestos que compõe as interações (GOFFMAN, 2014) urbanas das pessoas trans/travestis, quando elas têm seus corpos ora questionados, ora desejados, ou observados com curiosidade, demonstrando parte da complexidade do estilo de vida urbano nesta cidade amazônica. Nesses jogos de olhares são também percebidas territorialidades (PERLONGHER, 1984; 2008) em suas demarcações simbólico-espaciais em Belém, o que nos ajuda a pensar na ideia de uma ci(s)dade, ou seja, uma cidade que tem em seus fundamentos a cisgeneridade e a branquitude, atuando nas delimitações dos espaços concretos da urbe e compondo parte das relações sociais nela vivenciada.
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MARCUS MAURO DE OLIVEIRA CONOR MORAES
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HERÓIS MASCULINOS NAS FANTASIAS ELETRÔNICAS: COMO A MASCULINIDADE HEGEMÔNICA REFORÇA ESTEREÓTIPOS DE MASCULINIDADE NOS VIDEOGAMES
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Data: 30/05/2023
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O presente trabalho tem como objetivo analisar a masculinidade no contexto do mundo digital dos videogames, mais precisamente a masculinidade hegemônica, atribuída aos protagonistas masculinos e suas narrativas nos videogames. A análise se deu nas mais diversas camadas sociais e culturais, passando não só do âmbito da literatura e cinematografia, como também, principalmente no âmbito comercial, onde se encontra a indústria de videogames. Falar de masculinidade, tanto como feminilidade, não se trata somente de uma discussão acerca da identidade do indivíduo, mas também de sua interação com todo o resto da sociedade, que identifica e interpreta a expressão desta consonância, seja ela genuína, construída ou instituída, como o caso das atribuições hegemônicas da masculinidade nos mais diversos espaços do recreacionismo. A escolha do videogame, além da minha familiaridade, se dá por ele ser uma mídia de entretenimento, que promove interatividade do indivíduo para com o personagem o qual ele está controlando. Portanto, mesmo que ele não tenha as atribuições vigentes de uma masculinidade aceita ou idealizada, ele está no controle de um personagem que pode representar isso. A intenção deste trabalho é de a partir desta análise observar como o público de consumidores de videogames posicionam-se diante a uma indústria que pode estar reproduzindo hábitos e comportamentos masculinos, que podem ser nocivos socialmente e até mesmo individualmente, seja tanto para o homem quanto para todo o resto de seu meio social.
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BRUNO FERREIRA DOS PASSOS
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“VAI ROLAR ESSA DIAMBA?”: UMA ETNOGRAFIA DE USOS MEDICINAIS, RELIGIOSOS E RECREATIVOS DA MACONHA EM UM BAIRRO PERIFÉRICO DE BELÉM/PA.
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Data: 26/05/2023
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Este trabalho tem por objetivo identificar e compreender diferentes usos da maconha por moradores de um bairro da periferia de Belém/PA. A presença da maconha pôde ser percebida em contextos recreativos, medicinais e religiosos. Pessoas que vivem o mesmo território experimentam de forma distinta a repressão policial, a segregação espacial, a proibição moral, e o alto custo do medicamento derivado da maconha, em um cenário no qual o uso recreativo sofre forte repressão, enquanto o uso medicinal tem seu acesso discreto e seletivamente flexibilizado. Realizei esta etnografia em diferentes lugares dentro do bairro: o condomínio - espaço de lazer bem urbanizado e com paisagem bem diferente do restante do bairro; a margem - espaço que se divide entre uma feira durante o dia e sede de festas de aparelhagem durante a noite; e nos arredores das ruas e praças -. As primeiras entradas em campo se deram por minhas experiências pessoais, as quais se somaram ao que foi vivido junto aos interlocutores na produção dos dados etnográficos. Para proteger todos os envolvidos na pesquisa, lugares e pessoas tiveram seus nomes ocultados ou ficcionados. Os dois primeiros capítulos desta monografia apresentam o problema de pesquisa, apresentam detalhes metodológicos e teóricos ao redor dos diversos usos da maconha, além de apresentar um breve panorama do tema no campo das ciências sociais. A partir dai os resultados do trabalho etnográfico são apresentados em três capítulos. No terceiro capitulo abordaremos os usos recreativos, discutindo diferenças na repressão policial sobre usuários a partir de critérios raciais, e como o estereótipo do maconheiro vem historicamente recaindo sobre negros e pobres, fundamentando políticas de segregação espacial até os dias de hoje. Em seguida, no quarto capítulo apresentaremos os usos religiosos em um terreiro de candomblé do bairro, no qual a maconha aparece como mais um elemento ritual, ainda que invisibilizado. O quinto e último capítulo reflete sobre dificuldades desiguais que mulheres do bairro enfrentam na busca por tratamentos de saúde com maconha medicinal, devido a uma moralidade hegemônica, e o racismo vivenciado em tentativas de acesso aos serviços de saúde.
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ANA SHIRLEY PENAFORTE CARDOSO
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Mulheres Tembé-Tenetehara: entre saias, memórias, subjetividades e fotografias.
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Orientador : DENISE MACHADO CARDOSO
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Data: 27/04/2023
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Esta tese é resultado de uma pesquisa etnográfica com Indígenas mulheres do povo Tembé Tenetehara, que vivem na Terra Indígena Alto Rio Guamá, TIARG, localizada no estado do Pará. O estudo parte de vivências e da observação em campo com a liderança cultural Kuzà’í, a pajé Francisca e com informações sobre a trajetória da capitoa Verônica Tembé, falecida em dezembro de 2013. A pesquisa utilizou a fotografia como um elemento de interação e análise, com a qual elaborou uma etnografia à luz da antropologia visual. O objetivo desta articulação teórico-metodológica foi observar as convergências entre os enunciados verbais e visuais, que possibilitem compreender a produção historicamente construída sobre povos indígenas forjando uma identidade, a partir da ótica de colonialidade, conceito que se distancia do modo como os próprios indígenas observam seu cotidiano. Buscou-se assim refletir sobre uma imagem simbólica construída historicamente do que seria uma mulher indígena e analisar aspectos dessa produção imagética que se conflita com o olhar dos indígenas, cuja apreensão se distancia bastante da versão que os próprios indígenas têm sobre si mesmos. Busquei analisar as subjetividades entre as mulheres Tenetehara em meio às práticas culturais e às movências históricas de sua sociedade, que as singulariza, diante das 305, sociedades indígenas que vivem atualmente no Brasil, das quais possuem 275 línguas ‘locais’ (IBGE, 2010), estas informações e as observações do campo possibilitam notar a generalização imposta historicamente às populações indígenas no país, prevalecendo, uma ideia da “índia” e do “índio”, em uma espécie de matriz eurocêntrica, marcada pelo exotismo, que desconsidera as particularidades destes povos, horizontalizados em uma perspectiva de colonialidade do poder, de dispositivo colonial que atravessa a história e encontra eco na contemporaneidade. Evidencio o protagonismo das indígenas mulheres, a partir do conceito de corpo-território (CELENTANI, 2014; XAKRIABÁ, 2018; KARIPUNA, 2021), que atravessa seus modos de vida. A imagem aqui é concebida como um instrumento de conhecimento, de memória, de percepção do corpo destas mulheres em meio a seus espaços de lutas, de direitos e de conquistas que é o Território, nos distanciando da matriz imposta e marcada pela colonialidade do olhar.
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MARCELO SANTOS SODRE
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A ESCOLA COMO UM “EU-ISSO BUBERIANO”: ARENDT, HABERMAS E O PERSONALISMO COMO CHAVES DE LEITURA DO FENÔMENO EDUCACIONAL
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Data: 12/04/2023
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Como Problema central de pesquisa, esta Tese de Doutorado investigou do ponto de vista do Personalismo em Mounier e em Buber (com forte diálogo com Arendt e Habermas) se a escola pública pode ser concebida como um “eu-isso buberiano” e se está vivenciando nas últimas duas décadas um modelo de escolarização para o Ensino Médio o qual instrumentaliza alunos e alunas em direção a desresponsabilização destes/as para com o mundo comum. Buscou-se compreender se o fato de reduzir o modelo atual a um mero “curso preparatório” para diversos processos seletivos de acesso ao ensino superior, especialmente para àqueles que utilizam a “nota do ENEM” como critério de seleção, estaria promovendo tanto a despersonalização quanto a despolitização dos(as) estudantes pelo ensino escolar. Assim, por um lado, analisou-se se este modelo promoveu aquilo que denomino neste trabalho de “dissolução da esfera pública/do mundo comum”, e, por outro, se a “aula como encontro” eleva-se como alternativa de rompimento com o caráter instrumental típico da educação escolar. Portanto, os locais de investigações foram escolas públicas selecionadas entre os anos de 2016 e 2020, e a Metodologia desenvolvida seguiu as matrizes explicativa e compreensiva, com abordagem dedutiva a partir de pesquisas teóricas e de campo. Como resultado, confirmou-se a tese investigada.
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ENDERSON GERALDO DE SOUZA OLIVEIRA
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Experiências; Avenida Braz de Aguiar; distinção; ócio; fisionomia urbana.
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Data: 31/03/2023
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Nesta pesquisa observo as vivências e experiências de sujeitos na avenida Braz de Aguiar, bairro de Nazaré, considerado um dos mais destinados às camadas médias de Belém do Pará, Amazônia (achei estranho isso. Talvez “um dos bairros de maior status”). Levando em conta que as paisagens são construções processuais (SANSOT, 1983; SILVEIRA, 2004; ECKERT, 2009; ECKERT e ROCHA, 2013), me atento principalmente ao estabelecimento de “paisagens de poder” (ZUKIN, 1996), que são provocadas e/ ou se coadunam às práticas dos sujeitos. Tais poderes, em especial o econômico, se expressam nos habitus (BOURDIEU, 1983), perceptíveis mediante a realização da Etnografia de Rua (ECKERT e ROCHA, 2013) e da Etnografia da
Duração (ECKERT e ROCHA, 2013). Na via, os serviços eram e ainda são direcionados a uma camada financeiramente mais privilegiada da cidade, com maior poder de consumo, aquisitivo e status, algo fundamental na construção e manutenção de certa “distinção” no contexto belenense. A Braz, então, torna-se um “espaço geográfico socialmente hierarquizado” (BOURDIEU, 2007), em que o ócio (VEBLEN, 1965) parece ser mais possível de ser praticado, mas não por todos. Em conjunto, isto aponta para o estabelecimento de processos específicos de sociabilidade e sociação (SIMMEL, 1983) no mundo urbano belenense, em que é necessário discutir também a forma “aristocrática” como alguns indivíduos aderem/(re)criam tal fisionomia urbana contemporânea e como a avenida é referida e representada nas redes sociais.
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VICTOR LEAN DO ROSÁRIO
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“NESSE TERREIRO TEM AXÉ E TEM VIADO”: EXPERIÊNCIAS HOMOAFETIVAS E SEXUALIDADE NUM TERREIRO DE UMBANDA NO NORDESTE PARAENSE
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Data: 28/02/2023
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O terreiro Mina Nagô Cabocla Mariana e Tapinaré das Matas, localizado na cidade de Igarapé Açu, é um dos principais centros afro-religioso do município, pois comporta diversos corpos, sexualidades e expressões de gênero que fogem a heteronormatividade, especialmente os homens gays, que habitam o espaço e potencializam a dinamicidade ritualística. Deste modo, esta pesquisa tem por objetivo compreender como se dá o lugar da homossexualidade masculina que se encontram no Terreiro Mina Nagô Cabocla Mariana e Tapinaré das Matas, sejam como rodante, seja como simpatizante da religião, cujas experiências são tecidas como os diversos sagrados presentes no espaço. As vivências, memórias e relações construídas entre os gays e as entidades foram analisadas a partir da etnografia, que tem como base demonstrar a instabilidade dos vínculos formados durante os rituais, giras, conversas e conflitos. Além disso, as entrevistas abertas com interlocutores gays e entidades auxiliaram na compreensão das suas subjetividade, concepções e sentido. Por isso, tais dinâmicas (re)produzidas no terreiro servem como instrumento de potencialização dos contatos entre homens gays, caboclos, exus, pomba-gira, erês, pretos-velhos, dentre outras entidades que povoam o visível e o invisível do terreiro. Desta forma, analiso como estes corpos dissidentes também fazem parte da construção do sagrado na casa de umbanda.
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ELISA GONCALVES RODRIGUES
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Espaços da morte na vida vivida e suas sociabilidades no Cemitério Santa Izabel em Belém-PA: Etnografia urbana e das emoções numa cidade cemiterial
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Data: 27/02/2023
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A morte permeia diversos campos da experiência humana em termos físicos e imaginários, portanto, individuais, coletivos e sociais. Tal construção circunda os sujeitos, suas relações e marcadores sociais, bem como a posição social em que determinados indivíduos ocupam, neste caso, dispostos no que chamo de cidade cemiterial. Sendo assim, esta dissertação tem o intuito de identificar como as emoções e vivências, vividas e relatadas, em sua maioria, pelos trabalhadores e transeuntes desta cidade cemiterial, dão corpo, impactam e influenciam o seu cotidiano, trabalhando com e para a morte. Através das perspectivas produzidas junto aos trabalhadores, transeuntes e usuários do campo santo, por meio de uma etnografia no contexto cemiterial urbano, ancorada nas três dimensões antropológicas que me interessam mais diretamente - das Emoções, Urbana e da Morte -, percorri as ruas das cidades dos vivos e dos mortos considerando sua mais ampla sensorialidade (evocada pelo sensível, o imaginário e os ritos), sob escuta e observação participante na rotina das datas coletivas de forte reverberação simbólica do/no Cemitério Santa Izabel. Através das andanças pelas ruas cemiteriais percebi que os que circulam dentro da necrópole experienciam a morte numa experiência conjunta à vida em perspectiva de interação com a morte. Nos sepultamentos, nas datas simbólico-coletivas, e em demais momentos referidos nesta pesquisa, notei a ambiência do lugar que a cidade dos mortos ocupa na cidade dos vivos, e vice-versa. Diante disso, a pesquisa em questão, através da etnografia voltada ao sensível no contexto cemiterial, abre espaço para as reflexões que consideram o olhar dos sujeitos que manejam a morte e a compreendem como um lugar em sua vida seja no trabalho ou fora dele, e dimensionam, portanto, as fronteiras que tocam o dia a dia da necrópole, que os alcançam para além das delimitações da cidade cemiterial amazônica.
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GLAUCIA MACEDO SOUSA
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REZAR E AGIR: A IGREJA CATÓLICA E A FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS DO OESTE DO PARÁ DAS DÉCADAS DE 1970 A 1980
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Data: 27/02/2023
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Nessa pesquisa, objetivei investigar a formação de lideranças do Cristianismo da Libertação à luz do aporte teórico-metodológico dos frames. Para tanto, parti da investigação de (frame bridging), instituições e agremiações religiosas que foram acessadas na trajetória de vida de pessoas que se destacaram na organização de movimento sindical e em movimentos de bairro em Santarém, PA, entre as décadas de 1970 a 1980. Realizei pesquisas bibliográficas, documentais, observações e participação em grupos de formação remanescentes ou semelhantes àqueles acessadas pelas lideranças. Os principais resultados mostram que por trás do processo de formação existiu o acesso a instituições da Igreja Católica, localizadas no Nordeste brasileiro, cujas influências da categoria intelectual orgânico ajudou a enquadrar os limites e potencialidades do clero enquanto aliado do movimento, para quem se objetivou formar filhos de trabalhadores rurais para atuar como lideranças. Estes retornaram ao lugar de origem, Oeste paraense, onde se aproximaram de trabalhadores rurais migraram do Sul do Brasil para a Transamazônica, marcando uma dinâmica de transformações e reinterpretações de esquemas primários que eram prejudiciais a ação coletiva, porque inferiorizavam e dividiam o grupo.
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MARLLEN KARINE DA SILVA PALHETA
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“VOCÊ VÊ AQUELE BICHINHO ALI, NÃO TEM NOÇÃO DO TRABALHO QUE DÁ”: ESTUDO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL E AMBIENTE NA PESCA DE CURRAL EM SÃO CAETANO DE ODIVELAS.
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Data: 16/02/2023
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A pesca artesanal na Amazônia é uma temática vasta, que envolve diferentes atores sociais,
processos produtivos, relações econômicas e sociais. O Salgado Paraense figura como uma área
importante dentro deste contexto, dada sua história como primeira área de ocupação após a
chegada dos portugueses na Amazônia, assim como uma localidade importante em decorrência
do desembarque pesqueiro na área. A pesca realizada por essas populações se destaca como o
principal ponto a ser observado e descrito nesta tese, em especial a pesca de curral. A pesca
artesanal se divide em muitas outras modalidades, mas a pesca de curral figura como ponto de
interesse deste trabalho, dada a própria constituição do ambiente que proporciona as melhores
condições para ser realizada tal atividade, acarretando o uso do ambiente numa perspectiva
harmoniosa por parte das populações tradicionais. Este estudo foi realizado na localidade do
Aê, localizado no município de São Caetano de Odivelas. O Aê possui como principal atividade
pesqueira a pesca de curral e, esta tese trará a discussão acerca da atividade exercida nessa
localidade, o significado desta arte para os pescadores, e como se dá o processo de transmissão
dos currais, haja vista que existe uma relação de descendência e herança especificamente na
linha de curral. Também aborda como os pescadores se organizam, sendo o parentesco o
elemento que norteia, organiza e conduz a atividade.
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DÉBORA MELO ALVES
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“ESSA CASA NÃO É DO INCRA, ESSA CASA É MINHA”: EFEITOS FUNCIONAIS E SIMBÓLICOS DO CRÉDITO HABITACIONAL EM UMA RESEX MARINHA DA AMAZÔNIA
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Data: 01/02/2023
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O objetivo desta dissertação é analisar a implementação do Crédito Habitacional do II Programa Nacional da Reforma Agrária (II PNRA) na Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu (REMCT), que possibilitou a construção de habitações para uma parcela da população. A REMCT está localizada no município de Bragança, e é um território onde residem pescadores e capturadores de caranguejo. Esta análise busca identificar como a dinâmica local afeta e modifica as proposições funcionais da habitação que também é constituída por sua dimensão simbólica, a qual está inscrita na história de vida dos atores e no modo de viver em uma Resex; e, se a política de habitação em questão possibilitou ganhos na qualidade de vida dos contemplados por ela. A metodologia utilizada será predominantemente qualitativa, baseada na revisão bibliográfica, na análise de entrevistas feitas com as moradoras da REMCT, lideranças e técnicos, e de atas e documentos oficiais. Dados quantitativos levantados em bases oficiais são usados de forma complementar, com vistas a enfatizar as principais questões destacadas nas entrevistas. No que se refere ao campo teórico, parto da perspectiva da sociologia que possibilita analisar as relações entre Estado e sociedade, destacando a importância dos atores, processos e estruturas, com destaque à dimensão social (CORTÊS e LIMA, 2012), e por essa abordagem permitir apurar a compreensão do papel dos grupos sociais, cujas interações possuem poderes para influenciar as estratégias, os projetos e os resultados das políticas públicas (LASCOUMES e LE GALÈS, 2012). Os resultados vêm mostrando que a política do Crédito Habitacional do II PNRA tem potencial para reduzir desigualdades, isto porque a construção de habitações destinadas a populações empobrecidas, propicia um teto para morar e traz consigo estruturas funcionais como quartos, sala, cozinha, banheiro e água encanada, capazes de levar mais qualidade de vida. Por outro lado, a política pública em questão não considerou aspectos regionais nem ambientais, e por tratar-se de um tipo de Unidade de Conservação a implementação da política deveria dialogar com a questão da sustentabilidade do território, considerando também a participação das populações locais na construção e implementação da política habitacional.
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