A prática restaurativa no patrimônio cultural edificado da cidade de Belém/PA
Bens Culturais; Preservação; Restauro; Teoria da Restauração; Ciência da Conservação.
A preservação de edificações históricas, desde que passou a assumir conotação cultural, a partir da segunda metade do século XVIII, é resultado de uma sistematização, lenta e gradual, de pelo menos dois séculos de produções teóricas associadas a experiências práticas. Esse processo de maturação consolida-se quando, a partir do fim do século XIX, percebesse que o momento de intervenção em uma obra era distinto daquele de sua criação e que, portanto, a forma de atuar deveria evidenciar essa diferença, respeitando as várias fases por que passou o monumento. Assim, as ações antes ditadas por razões pragmáticas, passaram a ser, paulatinamente, alicerçadas em conhecimentos teóricos, científicos e tecnológicos, bem como no conhecimento histórico e em análises formais da obra. No caso da cidade de Belém/PA, situada na região norte brasileira, após intensa transformação do seu Centro Histórico durante as décadas de 1970 e 1980, tem sua primeira experiência de restauro, tecnicamente atualizado, no início dos anos 1990, com a restauração do Palácio Antônio Lemos (1992-1994), no qual critérios científicos são aplicados por profissionais qualificados em intervenções restaurativas. O objetivo desta pesquisa é apresentar a trajetória da conservação e do restauro na prática preservacionista do patrimônio cultural edificado na capital paraense. Por meio da pesquisa teórica, histórico-documental e entrevistas, são examinadas as práticas de intervenção executadas sobre os bens culturais da cidade, confrontando-as com os princípios teóricos, científicos e tecnológicos estabelecidos para a restauração em cada momento histórico, e associando-as à formação do profissional arquiteto restaurador na Amazônia. Destaca-se que em Belém/PA, assim como no restante do país, a prática preservacionista partiu de ações que buscavam a valorização de um período histórico considerado como mais relevante para obra, desconsiderando seu transcorrer na história e ainda as especificidades do restauro como disciplinar – tratando a intervenção em bens de interesse cultural como um trabalho comum do campo da arquitetura e/ou engenharia. A partir do início da formação voltada para a práxis restaurativa no exterior e, posteriormente, no Brasil, tem-se o segundo momento na intervenção do patrimônio construído da cidade, à medida que arquitetos com especialização passaram atuar no campo da preservação, havendo certa convergência para os princípios da teoria da restauração de Cesare Brandi, consolidada a partir do século XX, utilizada até hoje como fundamentação teórica nas intervenções em bens culturais da cidade. Atualmente, com a ampliação do conceito de patrimônio cultural (que estendeu a preservação a diversos bens) e o início da formação do arquiteto restaurador na Amazônia, nível stricto sensu, a prática restaurativa vem assumindo caráter científico, de investigação científica e tecnológica, cujos desafios frente a responsabilidade em intervir em bens de interesse cultural, únicos e não reproduzíveis, leva-nos a fazer desta ação uma atividade multidisciplinar que envolve conhecimento das humanidades às ciências exatas, e que se desenvolve além da dialética dos aspectos históricos e estéticos, considerando outros valores relativos a aquilo que se preserva, conserva e restaura.