Estuques de relevo das fachadas dos Palacetes de Belém – Subsídios de Conservação e Restauro
Estuques decorativos; Fachadas; Palacetes; Alterações; Caracterização; Conservação
A técnica do estuque consiste na elaboração de aparatos em argamassas históricas constituídas primeiramente de componentes básicos como argila, cal e gesso, mistura que se transformava em pasta com areia e água. No entanto, ao longo da história, outros componentes foram registrados enquanto ligantes e agregados responsáveis por incluir diferentes propriedades, assim como se desenvolveram técnicas de reprodução e fabricação de ornamentos. Em Belém, o estuque foi utilizado no interior e exterior das construções principalmente durante o período da Borracha, que caracteriza o momento econômico próspero da cidade, e promoveu diversas transformações no âmbito arquitetônico, nos quais se destacam a prática decorativa de fachadas de palacetes residenciais. Os estuques decorativos perduram entre os séculos nestas edificações configurando importantes exemplares nas paisagens culturais da cidade até o presente. Desta forma, se apresenta como objetivo principal da pesquisa identificar os diferentes tipos de estuque em ornatos externos dos objetos de estudo a partir da caracterização física, química e mineralógica, como também os processos de alteração. Os objetos de estudo consistem nos palacetes Facíola (1895), Augusto Montenegro (1903) e Bolonha (1915), nos quais apresentam distintos repertórios artísticos. A pesquisa documental histórica permitiu constatar a escassez de registros de autoria e origem, mas também o emprego intenso da técnica aliada a avanços tecnológicos provenientes da Revolução Industrial e a facilidade de importação de materiais e objetos decorativos. Além do mais, a análise visual das alterações dos ornatos demonstra a acentuada susceptibilidade às ações intempéricas, visto que os estuques necessitam de constante manutenção para evitar danos mais graves que provoquem perdas totais, uma vez que os pormenores acabam por facilitar o depósito de sujidades e o acúmulo de umidade. As caracterizações morfológicas, químicas e mineralógicas indicaram distintas composições em uma mesma edificação, mas a predominância de argamassas de natureza calcária no Palacete Augusto Montenegro, e agregados de origem quartzosa. O emprego do cimento Portland enquanto testemunho de inovação tecnológica em aparatos que se repetem nas fachadas do Palacete Bolonha se constata pela presença prevalecente das fases cristalinas da larnita(belita), portlandita e a etringita associdada a processos de deterioração de argamassas hidráulicas. Em suma, a pesquisa pretende fornecer subsídios acerca dos estuques em relevos de fachadas em palacetes na Amazônia, ainda pouco abordados na literatura científica local, enquanto relevantes manifestações artísticas e culturais, e, portanto, passíveis de intervenções que visem a sua adequada conservação e restauração.