Estrutura populacional e pesca artesanal das tracajás (Podocnemis unifilis: Testudines, Podocnemididae) da Volta Grande do Xingu - antes e após hidrelétrica Belo Monte
Amazônia, Xingu, Volta Grande do Xingu, Belo Monte, Juruna (Yudjá), Monitoramento Participativo, Podocnemis unifilis, Tracajá.
Os grandes empreendimentos hidrelétricos representam a principal ameaça biológica nas bacias hidrográficas, dependentes da dinâmica sazonal dos pulsos de inundação. Na bacia amazônica, destaca-se a Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte, responsável pelo barramento do rio Xingu na região conhecida como Volta Grande do Xingu (VGX), próximo a cidade de Altamira (PA). A UHE Belo Monte é responsável pelo desvio de grande parte da vazão destinada a VGX por um canal escavado para alimentação do reservatório intermediário da barragem. Essa redução na taxa de vazão natural interfere na dinâmica hidrológica natural, rompendo grande parte da conexão do rio com as planícies alagáveis. Essa drástica redução de vazão e perda da previsibilidade e regularidade do pulso anual de inundação coloca em risco o ambiente, a biota e os modos de vida das populações humanas estabelecidas naquela região, como os Juruna (Yudjá) da aldeia Miratu, localizado Território Indígena Paquiçamba. Este estudo objetiva investigar os efeitos da UHE Belo Monte sobre a pescaria artesanal e estrutura populacional dos tracajás, Podocnemis unifilis na Volta Grande do Xingu. Os dados serão obtidos por meio do preenchimento de fichas de pesca, nas quais serão feitos todos os registros referentes a pescaria e aos parâmetros biométricos do tracajá. Este estudo será conduzido de forma participativa com um projeto de monitoramento independente que já vem sendo realizado pelos indígenas Juruna (Yudjá) da aldeia Miratu. As fichas repassadas pelo pesquisador indígena local serão enviadas mensalmente e posteriormente analisadas. Para analisar os dados referentes a captura do tracajá será realizada Análise de Coordenadas Principais (PcoA) com distância de Gower e uma Análise de Covariância (ANCOVA) para as informações referentes a estrutura populacional da espécie. Observou-se mudança na taxa de vazão para a região da Volta Grande do Xingu associada ao barramento do rio, com impacto nas áreas de pesca, métodos de captura, rendimentos das pescarias e alterações nos dados biométricos dos tracajás nos anos seguintes ao barramento, resultando em espécimes com tamanho e peso médio inferior aos indivíduos capturados entre 2014 e 2016.