COMPREENSÃO DA VIVÊNCIA DE IDOSAS BELENENSES SOBRE A COVID-19: UMA REFLEXÃO GESTÁLTICA
Idosas; COVID-19; pós-covid; Gestalt-terapia; Potencialidades; hermenêutica
O aumento da população idosa no Brasil demanda urgente discussão sobre a velhice, com intuito de promover a visibilidade das idosas, bem-estar e respeito. No Brasil o machismo e o etarismo propiciam desvantagens para a constituição da subjetividade feminina e do tornar-se mulher idosa. Somado a esta conjuntura, em 2020 ocorreu a pandemia da COVID-19, acrescentando medo, incertezas, perdas, solidão, ansiedade e sentimentos negativos à experiência de ser idosa. Partindo de experiências pessoais como recurso para lidar com as ocorrências no mundo da vida, questionei o fenômeno do envelhecimento, direcionando olhares para a potência da mulher. Os fundamentos da Gestalt-terapia contribuem para a compreensão dos ajustamentos criativos como recursos potenciais para que a mulher idosa possa se autorregular e mudar a sua realidade a partir do que seu campo vital. Assim, esta dissertação é um estudo qualitativo fenomenológico hermenêutico, com revisão narrativa sobre o envelhecimento de mulheres e análise do processo de tornar-se idosa, a partir das obras de Simone de Beauvoir: “A velhice – a realidade incômoda” e “O segundo sexo – a experiência vivida”. Objetivei compreender a vivência das mulheres idosas, de classe socioeconômica B, residentes em Belém-PA, a partir de suas potencialidades, utilizadas cotidianamente ou descobertas na pandemia da COVID-19. Especificamente, identificar as potencialidades das idosas em ajustar-se criativamente durante a pandemia da COVID-19; apresentar o significado da experiência das idosas, quanto a vivência relacional no período pandêmico; sistematizar os sentidos das vivências das mulheres idosas. Participaram 5 idosas entre 65 e 77 anos, que responderam a entrevista semiestruturada, realizada presencialmente. Para as análises e compreensão usei os estudos hermenêuticos da linguagem, do discurso e do texto de Paul Ricoeur. Dentre os resultados temos: a vivência pandêmica das idosas, em que cada uma atribui significados às suas experiências, de acordo com a sua realidade; o medo generalizado a partir da classificação das pessoas idosas como grupo de risco; o não reconhecimento das participantes como “ser idosa” enquanto conflitos entre a realidade e subjetividade, na tentativa de distanciamento dos estereótipos criados e perpetuados socialmente; os ajustamentos criativos como potência do ser idosa e seus desdobramentos para sobreviverem à pandemia; descobertas e potenciais como caminhos possíveis para a vivência da liberdade existencial e reconhecimento. Concluímos que, embora cercadas de limitações, as entrevistadas prosseguem batalhando pelos direitos, reconhecimento e visibilidade na condição de idosas, por meio do autoconhecimento e de olhares para suas potencialidades; o relato de suas experiências contribuiu para o rompimento da conspiração do silêncio que cerca a velhice em nossa sociedade. Por fim, é necessário produzir mais diálogos entre sociedade e as mulheres idosas, instigando futuras pesquisas, fundamentadas na Gestalt-terapia, principalmente ao que se refere a análise das potencialidades apontadas no estudo, no período pós-covid.