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Banca de QUALIFICAÇÃO: YUKIMI MORI MESQUITA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: YUKIMI MORI MESQUITA
DATA: 29/03/2023
HORA: 14:30
LOCAL: Plataforma Google Meet
TÍTULO:

O Mal-Estar Masculino e a Ascensão de Movimentos Autoritários no Brasil: Possíveis Afinidades Entre o Ideal Viril e a Personalidade Autoritária


PALAVRAS-CHAVES:

Masculinidades; Personalidade Autoritária; Mal-estar


PÁGINAS: 88
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Ao abordar o tema da “masculinidade”, geralmente se associa esta a uma certa universalidade dotada de características tradicionalmente difundidas como necessárias à identificação do sujeito como homem: distanciamento das próprias emoções, agressividade, dominação, não sinalizar fraquezas e se afastar o máximo possível de identificadores considerados femininos. Todavia, a exigência do exercício de uma masculinidade amparada em ideais viris pode ser indicada como a origem de uma perturbação real na esfera do masculino: os homens são os indivíduos que mais cometem suicídio no Brasil – apresentando um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio quando comparados às mulheres, de acordo com dados do Ministério da Saúde (2021) –, ao passo em que também são os indivíduos que mais cometem violência contra mulheres e grupos LGBTQIA+ (Mesquita & Corrêa, 2021). Diante desse cenário, grupos masculinistas – defensores da supremacia masculina –
passam a rechaçar tudo que possa ser minimamente relacionado ao feminino, já que este seria responsável por enfraquecer “. . . a natureza viril do homem, que encontra sua essência na hostilidade” (Pinheiro-Machado, 2019, p. 90). Esse medo do feminino pode remontar ao processo edípico do sujeito reconhecido como homem, uma vez que a ameaça de castração pode ser vislumbrada a partir do corpo “mutilado” feminino, levando-o a se afastar do que demarca essa categoria: “sabe-se igualmente em que grau a depreciação da mulher, a disposição à homossexualidade derivam da convicção definitiva de que a mulher não possui pênis” (Freud, 1923/2011b, p. 173). A constante reafirmação de uma hostilidade que seria primordial aos homens acaba por resultar em discursos que promovem a violência contra minorias, à medida que a existência de um grupo coeso e total presume a existência de um outro não pertencente, os chamados out-groups (Adorno, 1972/2015), a quem seria justificado direcionar a liberação da pulsão agressiva reprimida pelo contexto civilizatório. Além disso, a necessidade de reafirmação do lugar masculino por meio da valorização de traços historicamente reconhecidos como viris em contraposição a tudo que possa estar “contaminado” pelo feminino manifesta a carga frágil e ilusória deste conjunto de identificadores, pois esta reiteração demonstra, precisamente, como a falta se demarca justamente nas tentativas de coesão, fazendo com que as imaginárias adjacências do que seria a masculinidade mostrem sempre seu teor de ficção (Mesquita & Corrêa, 2021). Concomitantemente, é possível observar a intensificação de um discurso permeado por traços autoritários no cenário social brasileiro, tendo como referência o retorno a uma  masculinidade tradicional e quase mítica em oposição aos recorrentes questionamentos contemporâneos acerca do lugar do homem e do sistema patriarcal. Seja por conta da ocorrência de crises econômicas que desestabilizam o papel de provedor – um dos pilares fundamentais do ideal de homem total, capaz de tudo dar conta –, seja devido aos constantes questionamentos levantados por grupos feministas quanto ao privilégio masculino e sua legitimidade, o fato é que se pode notar uma inquietação no âmbito da masculinidade. Dadas as observações, fica evidente a existência de uma amarra que une o conjunto de características conferidas ao masculino ao ideal constantemente reencenado por líderes autoritários, fazendo-se imprescindível buscar compreender de que maneira estes aspectos podem estar relacionados. Afinal, de acordo com Adorno (1967/2020, p. 45), “os pressupostos dos movimentos fascistas, apesar de seu colapso, ainda perduram socialmente, mesmo se não perduram de forma imediatamente política”. Dessa forma, trazer à luz a problemática insidiosa dessa masculinidade opressiva – para os próprios homens e, como consequência, aos grupos para os quais a violência decorrente desse conflito interno se direciona –, compreende uma busca por compreender os fatores contidos em uma naturalização de modelos autoritários, pois ao conhecê-los, promove-se uma conscientização geral com o intuito de evitar que eles se tornem assim novamente (Adorno, 1967/1986). Assim, buscamos compreender: de que forma a construção da subjetividade masculina alicerçada em ideais específicos como virilidade, força e racionalidade se relaciona com a crescente naturalização de manifestações autoritárias direcionadas a grupos externos – ou out-groups, como referido por Theodor W. Adorno (1972/2015) – ao grupo “homem”? O exercício de uma masculinidade amparada em ideais viris necessariamente culmina em comportamentos de caráter autoritário? Nesse âmbito, como as mudanças sociais relativas ao gênero ocorridas nas últimas décadas podem haver impactado a posição masculina na sociedade brasileira e sua tentativa de garantir a segurança do identitário a partir do retorno a uma virilidade que permanece? Diante dos questionamentos acima mencionados, o presente trabalho se ampara em uma pesquisa teórico-bibliográfica, na qual pretendemos realizar uma revisão da obra de Theodor W. Adorno, especialmente no que tange os Estudos Sobre a Personalidade Autoritária (1975/2019), além de Antissemitismo e Propaganda Fascista (1946/2015), Teoria Freudiana e o Padrão da Propaganda Fascista (1951/2015), Observações Sobre Política e Neurose (1954/2015), Tabus Sexuais e Direito Hoje (1964/2015), Aspectos do Novo Radicalismo de Direita (1967/2020) e Educação Após Auschwitz (1967/1986), levando em conta a interface com a teoria freudiana sobre a qual o autor se debruça. A escolha pelo percurso teórico pautado a partir da perspectiva de Adorno se justifica pela relevância da produção do autor nos estudos em relação à presença de caracteres autoritários nas sociedades modernas, independentemente da adoção de práticas violentas de coerção. A teoria freudiana, por sua vez, será levada em conta a partir dos conceitos tomados por Adorno para a compreensão da construção de uma subjetividade de caráter autoritário, tendo como base, principalmente, textos como Totem e Tabu (1913/2013), Considerações Contemporâneas Sobre a Guerra e a Morte (1915/2021), O Infamiliar (1919/2019), Além do Princípio de Prazer (1920/2021), Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921/2021), O Problema Econômico do Masoquismo (1924/2011), O Futuro de Uma Ilusão (1927/2021) e, por fim, O Mal-Estar na Cultura (1930/2021). A partir desse vínculo teórico entre ambos os autores, pretendemos promover uma melhor compreensão quanto às formações subjetivas possíveis diante do contexto cultural vigente, tendo em mente a necessidade de pensar o sujeito como uma construção que se dá, também, a partir de ideais disseminados socialmente. A partir desse panorama e das ferramentas supracitadas, portanto, almejamos compreender de que maneira o exercício de uma masculinidade amparada em ideais viris se relaciona ao desenvolvimento de traços autoritários e à consequente naturalização de suas expressões, além de analisar as mudanças ocorridas nas últimas décadas responsáveis pela produção de uma instabilidade no lugar de privilégio ocupado pelos homens e seus principais desdobramentos na produção desse mal-estar no âmbito masculino.


MEMBROS DA BANCA:
Interno - 327007 - ERNANI PINHEIRO CHAVES
Interno - 2618255 - HEVELLYN CIELY DA SILVA CORREA
Externo à Instituição - MARIA CRISTINA CANDAL POLI
Presidente - 1549198 - MAURICIO RODRIGUES DE SOUZA
Notícia cadastrada em: 24/03/2023 15:10
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