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Banca de QUALIFICAÇÃO: JÉSSICA PINGARILHO BATISTA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: JÉSSICA PINGARILHO BATISTA
DATA: 19/08/2022
HORA: 08:00
LOCAL: Sala de Aula PPGP
TÍTULO:

Significante Autismo(s): o diagnóstico e suas reverberações


PALAVRAS-CHAVES:

Autismo; Diagnóstico; Significante


PÁGINAS: 40
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Este projeto tem como objetivo refletir de que maneira a amarração entre o discurso médico e o discurso materno pode ressoar no laço entre crianças diagnosticadas como autistas e suas mães, abarcando duas vertentes de discussão: primeiramente questionando como este diagnóstico, proferido pelo médico – que ocupa um lugar de suposto “saber” sobre o que afirma – ressoa na mãe, em suas expectativas e certezas acerca da condição de sua criança, e como pode dar sentido às suas manifestações que corroboram com as descrições do quadro diagnóstico. A segunda vertente de discussão propõe uma investigação de como estes sentidos em cadeia em torno do significante autismo ressoa no sujeito em constituição.

Lacan (1964) afirma no “Seminário 11 – Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”, que tudo se origina a partir da estrutura do significante, tendo em vista que as operações que implicam a condição de sujeito relacionam-se com sua dependência ao lugar do Outro, o significante que se produz no campo do Outro inaugura sujeito de sua significação: esta é a dimensão de seu poder. Partindo deste pressuposto, podemos questionar que efeito a resposta diagnóstica pode produzir ao oferecer um significante – autismo? Que reverberações este significante pode causar no estabelecimento do laço entre a mãe e a criança? A psicanalista Marie Couvert (2020), ao abordar a clínica pulsional do bebê, nos convoca a pensar sobre o ensinamento de Lacan sobre a primazia do Outro materno, este Outro que irá decifrar as insígnias que o bebê oferece através do grito, assim como, aborda a invocação da presença deste Outro que o bebê oferece como resposta. Do lado do bebê, o que este invoca ao Outro para a construção de um laço? A autora prossegue afirmando que “na ausência dessas características específicas do bebê, as competências da pessoa que o cuida são alteradas e acabam por se extinguir” (p. 34-36). Poderia o dado diagnóstico, advindo da figura do médico, apaziguar as angústias maternas acerca do enigma que a “linguagem fechada” (LACAN, 1975) das crianças autistas sinaliza?

Minhas indagações acerca da temática do autismo iniciaram após uma experiência pessoal enquanto estava no ensino médio. Em uma aula atípica, uma professora pediu alguns minutos antes da aula para falar sobre sua angústia por seu filho, à época com 5 anos, ter recebido diagnóstico de autismo. A partir deste diagnóstico, essa mãe passou a elencar diversas impossibilidades que vislumbrava para seu filho, todas focadas em dificuldades de comunicação e criação de laços - “ele nunca irá me olhar nos olhos”; “quando eu chegar em casa, ele não vai vir em minha direção para me dar um abraço”. É importante circunscrever o laço de afeto que tinha estabelecido nesta relação professora-aluna, a admiração existente e o estranhamento diante de sua angústia e a enumeração destas impossibilidades vislumbradas para aquela criança.

A partir deste laço, e em busca de compreender do que se trata no autismo, realizei uma investigação acerca deste tema durante a graduação e tive oportunidade de escutar mães e pais de crianças diagnosticadas com autismo. Este primeiro ensaio de pesquisa impulsionou meu percurso de estudos e vivência clínica, ancorados na teoria psicanalítica, e verteu na problemática de que se trata esse projeto, no qual busco traduzir as questões suscitadas acerca de quais as ressonâncias desse diagnóstico nos pais e que efeito de sentido produzem sobre a criança. A formulação conceitual que permitirá formular as respostas para as inúmeras indagações que permeiam este projeto terá como ponto de partida a constituição de sujeito, de acordo com a compreensão lacaniana de inconsciente estruturado como linguagem e a instauração do circuito pulsional no sujeito, o que nos servirá para compreender o que se coloca como impasse para a criança autista em sua constituição subjetiva.

Refletindo sobre o poder que o diagnóstico pode ter como efeito de sentido, podemos pensar acerca da figura do médico, que ocupa uma posição de saber sobre o sujeito, sendo responsável pela dor do doente, tendo o reconhecimento deste (MOURA, 2003). O doente faz um apelo, um pedido de ajuda, um saber sobre seu corpo e suas afecções. O médico pode ocupar um lugar de substituto para as reedições transferenciais do sujeito e uma posição no imaginário social de poder e saber inquestionáveis. Freud (1905 [1901]), compreende como transferência o conjunto destas reedições, reproduções das moções e fantasias, que no decorrer da análise podem se tornar conscientes. Na relação médico-paciente, o saber do sujeito é suprimido, tendo o médico o poder de deciframento e direção do tratamento das patologias corporais. Na contramão desta compreensão, em uma análise, o sujeito demanda um saber sobre seu sofrimento ao analista. Porém, Freud (1905 [1901]).) afirma que “quando se penetra na teoria da técnica analítica, chega-se à concepção que a transferência é uma exigência indispensável. Na prática, pelo menos, fica-se convencido de que não há nenhum meio de evitá-la” (p. 111). O tratamento psicanalítico não cunha a transferência, mas a revela, e o analista a opera.

Tendo essa indagação como norte a ser seguido nesta investigação, pretende-se traçar os seguintes passos neste trabalho: no primeiro capítulo discorreremos acerca do discurso da medicina, em especial da psiquiatria, sobre o diagnóstico de autismo, o percurso histórico do conceito até suas classificações em manuais, que muitas vezes podem ser apressados ou generalizantes; no segundo capítulo será abordada a compreensão da psicanálise acerca do autismo, enquanto um modo singular de se haver com a linguagem, como é realizado o diagnóstico psicanalítico, sempre em espera e em busca de apreender as diversas facetas que ancoram a constituição subjetiva; no terceiro capítulo, a partir da compreensão da psicanálise sobre a função materna, indagar as questões que se colocam para as mães[1] de crianças enquadradas no espectro autista, qual sua relação com o advento do diagnóstico, o que permeia este processo, e a importância da escuta sobre o sofrimento psíquico que o laço estabelecido com sua criança possa acarretar, assim como, pretende-se discorrer acerca das possíveis consequências que este enlace entre discursos possa acarretar para a criança diagnosticada com autismo, alienada ao discurso científico e à marca que este significante pode acarretar, quais chances são possíveis para que se constitua como sujeito.

A partir desse percurso teórico e considerando que: “a psicanálise se interessa pelo que constitui o particular do sujeito” (GUERRA, 2010, p. 139), esta pesquisa, portanto, surge da  necessidade de se compreender qual o caminho da constituição de sujeito no autismo, para que seja possível entender de que forma o dito do Outro sobre este sujeito pode interferir no desenvolvimento de seu quadro clínico, levando em consideração que o sujeito autista suscita uma diversidade de questões acerca da linguagem, relação com o outro, com o corpo, e construção subjetiva de sua realidade. O autismo aponta para outro modo de funcionar na linguagem. Compreender esse funcionamento, o caminho que esse sujeito percorre para advir em busca de construir um discurso sobre si, é o que torna este trabalho necessário.



[1] Em virtude de observarmos que a maior parte dos acompanhantes das crianças nos serviços públicos serem mães, madrastas e avós, nos referiremos aos responsáveis da criança utilizando as palavras mãe, mães etc.


MEMBROS DA BANCA:
Interno - 3118391 - IZABELLA PAIVA MONTEIRO DE BARROS
Externo à Instituição - ROSANE BRAGA MELO
Presidente - 3153020 - ROSEANE FREITAS NICOLAU
Notícia cadastrada em: 10/08/2022 10:05
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