Adaptação e automatização de um teste de exploração visual (voitures)
Testes de cancelamento; Voitures; Ferramentas computacionais; Pesquisa visual
A avaliação do desempenho de uma pessoa em uma tarefa de encontrar e selecionar alvos específicos dentro de uma cena com diversos distratores, conhecido na literatura como processo de pesquisa visual, pode ajudar a identificar a existência de estratégias de processamento visual (p.e. esquerda para direita, cima para baixo) adotadas por elas para compreender os estímulos aos quais estão sujeitas.
Existem na literatura diversos testes que propõem-se a avaliar a pesquisa visual de indivíduos. Dentre eles, destacam-se os testes de cancelamento, onde é possível, a partir da análise das relações entre o padrão de pesquisa visual e os parâmetros de desempenho visuoespacial na detecção do alvo, compreender, por exemplo, como crianças com dificuldade de aprendizagem atendem ao layout de leitura.
Além da compreensão descrita acima, os testes de cancelamento também fornecem informações de exploração visual que possibilitam uma análise mais detalhada sobre o desenvolvimento cognitivo de indivíduos. Assim, esses testes podem auxiliar profissionais da saúde na definição de quadros clínicos na infância, como dislexia, transtorno do déficit de atenção/hiperatividade e transtorno do espectro autista.
No entanto, sabe-se da carência que o Brasil tem de instrumentos eficientes para avaliar questões importantes relacionadas ao desenvolvimento cognitivo de crianças, fato que limita a ação dos profissionais da saúde, forçando-os a utilizar mecanismos menos precisos e mais trabalhosos, como teste avaliativos executados de forma manual (SALLES, 2011).
Nesse contexto, este trabalho propõe uma adaptação ecológica do famoso teste de cancelamento originário da França conhecido como teste dos carros, ou voitures (BARRAY, 2002b). A ideia desse teste é que o indivíduo aponte numa prancha de papel alvos na forma de carros. Contudo, esses carros encontram-se embaralhadas no meio de outras figuras (casa, bola, estrela, entre outras) que funcionam como distratores de atenção. O participante deve, então, indicar o maior número de carros dentro de um tempo pré-estabelecido.
Assim, o objetivo principal deste trabalho é desenvolver e entregar para a sociedade uma ferramenta computacional que automatize o teste dos carros. Nesse primeiro momento, o foco será o público infantil. Para isso, será implementado um software multi-plataforma com interação através do toque em monitores touch-screen. Além de trazer maior precisão, coletar maior quantidade de dados e deixar o teste mais atraente para a criança, o uso deste instrumento libertará o aplicador de anotações manuais, permitindo que ele preste mais atenção ao comportamento apresentado pelo participante durante o teste.
Para validar a ferramenta proposta, aplicações do teste (manual e computacional) serão realizadas numa amostra de crianças de 6 à 9 anos de idade em fase escolar. Os experimentos serão realizados na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará. No fim, além de recomendações de uso, será feita uma análise quantitativa e qualitativa comparando os resultados das duas versões do teste também com os relatos da validação do teste dos carros realizada na França, no intuito de discutir possíveis discrepâncias.