PARÂMETROS DE SAÚDE METABÓLICA E VISUAL EM PACIENTES DIAGNOSTICADAS COM CÂNCER DE MAMA EM TRATAMENTO ANTICÂNCER

Câncer de mama, terapia anticâncer, quimioterapia, Tamoxifeno e metabólitos, espessura da retina, lipídios, lipoproteínas, estresse oxidativo, citocinas pró-inflamatórias.

SIQUEIRA, M. L. S. Parâmetros de Saúde Metabólica e Visual em Pacientes Diagnosticadas com Câncer de Mama em Tratamento Anticâncer, 2021, 107 fls. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Pará. Instituto de Ciências Biológicas. Programa de Pós-graduação em Neurociências e Biologia Celular: Biologia Celular. Belém/PA, 2021. O câncer de mama feminino, segundo as estimativas atuais, ainda vem atingindo um nível de incidência e prevalência bem elevado no Brasil e no Pará. A necessidade por estudos que venham ampliar o conhecimento sobre as opções terapêuticas e mitigar os danos sofridos pelo câncer, torna-se inovador em nossa região. Desta forma, objetivamos determinar e avaliar parâmetros de saúde metabólica e visual em pacientes diagnosticadas com câncer de mama expostas a terapias anticâncer. Seção I: Marcadores lipídicos, antropométricos, estresse oxidativo, citocinas pró-inflamatórias e alterações metabólicas: determinação de marcadores lipídicos, antropométricos, estresse oxidativo e citocinas pró-inflamatórias para avaliar a saúde metabólica; Seção II: Impacto dos níveis de lipoproteínas na exposição aos metabólitos do tamoxifeno durante a hormonioterapia: determinação dos metabólitos de tamoxifeno (4-hidroxitamoxifeno e endoxifeno) e correlação com lipídios sanguíneos para avaliar a interação e metabolismo da droga no tratamento; Seção III: Influência dos tratamentos anticâncer na espessura da retina: realizar testes visuais para avaliar o efeito das terapias na espessura da retina. Pesquisa aprovada pelo comitê de ética com parecer no 1.915.051 (CEP-HOL) e 1.897.057 (CEP-ICS-UFPA) no período de março de 2017 a setembro de 2019. Foi constituída por 40 mulheres diagnosticadas com câncer de mama (Carcinoma Ductal Grau II e III) em um hospital público de referência oncológica em Belém do Pará e que consentiram participar da pesquisa. Um grupo de 20 pacientes formaram o grupo que estavam em quimioterapia (GQt), 20 pacientes o grupo em hormonioterapia com tamoxifeno (GTam) e um outro grupo de mulheres sem câncer foi constituído como controle comparativo (GC) a partir dos critérios de inclusão. Todas as pacientes foram convidadas a fornecerem seus dados em formulário, coleta de amostras de sangue e realização de testes visuais, após assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. Para a determinação dos marcadores bioquímicos, foi utilizado o método automatizado em equipamento COBAS®6000; a antropometria seguiu o manual do Ministério da Saúde; para o estresse oxidativo o método colorimétrico; para a dosagem de citocinas o método de ELISA; para a determinação do tamoxifeno e metabólitos no plasma foi utilizado a CLAE; para as análises visuais foi utilizado a tomografia de coerência óptica (TCO), Heidelberg Engineering®. Os testes estatísticos: ANOVA, correlação linear de Sperman, comparação múltipla de Tukey e a estatística descritiva foram utilizados para avaliar os grupos. Os resultados mostraram. Seção I: as características das pacientes são de mulheres predominantemente com idade entre 40 a 50 anos, pardas, com renda de 1 a 3 salários mínimos, estavam na pré e pós-menopausa; apresentaram sobrepeso/ obesidade com IMC elevado, entre 25 a 29,9 kg/m2, circunferência abdominal acima de 80 cm e não realizavam atividade física regular. As concentrações médias de lipídios mostraram-se alteradas em ambos os grupos, mas com destaque para o grupo quimioterápico com altos níveis de Colesterol total, LDL e Triglicerídeos e baixos níveis de HDL colesterol, diferente do padrão de normalidade (p<0.05). Os parâmetros antioxidantes (TEAC, GSH, CAT e SOD) mostraram baixos níveis de GSH e elevada atividade da CAT, para o grupo quimioterápico e em menor atividade para o grupo de tamoxifeno em relação ao controle (p<0.01). Os parâmetros pró-oxidantes (MDA e NO), mostraram que pacientes de quimioterapia apresentaram maior nível de peroxidação lipídica diferente das pacientes de tamoxifeno comparado ao controle (p<0.05). A razão GSH/MDA mostrou maior sensibilidade aos danos oxidantes para as pacientes de quimioterapia em relação às pacientes de tamoxifeno e

controle. Quanto aos níveis circulantes de citocinas pró-inflamatórias, TNF-α e IL-6 mostraram-se elevadas tanto no grupo de quimioterapia quanto no grupo tamoxifeno, diferente significativamente do controle (p<0.05). Seção II: as concentrações plasmáticas média de tamoxifeno, 4-hidroxitamoxifeno e endoxifeno foram 62 ng/mL, 1.04 ng/mL and 8.79 ng/mL. Níveis de triglicerídeos variaram de 59 a 352 mg/dL, Colesterol total de 157 a 321 mg/dL, LDL-c de 72 mg/dL a 176 mg/dL e HDL-c de 25.1 mg/dL a 62.8 mg/dL. Não houve associação significativa entre tamoxifeno e os metabólitos com os níveis de colesterol e triglicerídeos. A análise multivariada revelou fraca associação entre tamoxifeno e os metabólitos ativos com HDLc, LDLc e VLDLc. Seção III: a comparação entre os grupos sobre a média da espessura macular da retina revelou não ter diferença significativa entre as pacientes que receberam quimioradioterapia e tamoxifeno com controle (F 180 = 1.533, p > 0.05). A comparação da espessura macular regional revelou que somente um campo macular apresentou diferença significativa entre dois grupos. No campo macular nasal externo, as pacientes de quimioradioterapia mostraram a espessura da retina mais fina em relação ao controle (p ajustado=0.02). Concluímos, que pacientes de câncer de mama, expostas a quimioterapia e hormonioterapia, apresentaram: Seção I: perfil lipídico desfavorável com níveis elevados de colesterol total, LDL, triglicerídeos e baixo HDL, diferente do padrão normal. Medidas antropométricas, apontaram para sobrepeso e obesidade. Diferenças significativas entre o estado antioxidante e pró-oxidante, resultaram em menor capacidade antioxidante para as pacientes que receberam quimioterapia. Os níveis sistêmicos de citocinas inflamatórias, TNF-α e IL-6, mostraram-se elevados. Esses parâmetros alterados podem comprometer a recuperação das pacientes com câncer de mama e podem aumentar o risco para o desenvolvimento de doenças cardiometabólicas. Seção II: houve fraca associação entre as concentrações plasmáticas de tamoxifeno e seus metabólitos ativos com os níveis de HDL-c, LDL-c e VLDL- c, com baixo impacto dos níveis de lipoproteínas na exposição ao tamoxifeno, 4-hidroxitamoxifeno e endoxifeno, pois a taxa da droga não ligada e sua distribuição nos tecidos corporais, provavelmente não foi afetada pela variação dos níveis de lipídios mesmo com o uso a longo prazo de tamoxifeno. Seção III: apenas um campo macular foi alterado no grupo quimioterápico, que apresentou retina mais fina em comparação com o grupo controle. Ao todo, pacientes de quimioradioterapia e hormonioterapia, não apresentaram alteração significativa na espessura da retina, no entanto a estrutura da retina mostrou-se sensível à presença dos metabólitos do tamoxifeno no sangue e enfatizam a necessidade de cuidados com o uso prolongado da droga.