DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM MALÁRIA VIVAX NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Malária; Desenvolvimento cognitivo; Saúde da criança; Amazônia.
A malária é um problema relevante de saúde pública na Amazônia brasileira, onde ocorre de forma heterogênea e atinge todas as faixas etárias. As crianças representam grupo de risco dado que os repetidos episódios da doença podem comprometer diferentes aspectos do seu desenvolvimento, os quais podem repercutir na fase adulta. Este estudo de caso / controle objetivou avaliar o desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes com malária vivax, residentes em Anajás, Arquipélago do Marajó, Pará. Foram coletados dados sócio-demográficos, realizado exame clínico, avaliação nutricional e aplicados 10 subtestes do Wechsler Intelligence Scale for Children Third Edition empregado para avaliar o quociente intelectual. Foram incluídos no grupo caso 35 sujeitos, crianças e adolescentes, com malária confirmada e no grupo controle foram incluídas 37 crianças e adolescentes saudáveis sem história pregressa da doença. Os resultados revelaram que a maioria dos casos apresentou ocupação autônoma (85,7%), recebia bolsa família (82,9%) e vivia com renda familiar com menos de 1 salário mínimo (62,2%), assim como, morava em casa sem esgotamento sanitário dotada de fossa a céu aberto. A água para consumo utilizada nos dois grupos era proveniente de poço comum e tratada. Nos adolescentes, embora a maioria, nos dois grupos de estudo, tenha apresentado altura adequada para idade verifica-se que 1 a cada 6 crianças no grupo caso e 1 para 4 do grupo controle estavam com estatura baixa ou muito baixa para a idade. A avaliação do quociente intelectual indicou que nos subtestes agrupados na escala Verbal os participantes do grupo caso obtiveram desempenho com médias inferiores ao grupo controle em todos os subtestes. Na escala de Execução as médias do grupo caso também foram menores em todos os subtestes, mas apenas o Arranjo de Figura e Cubos foram significantes entre os subtestes de Execução. Os valores médios dos escores de QIs (Verbal, Execução e Total) e dos Índices Fatoriais (Compreensão verbal, Organização perceptual, Restrição à Distração e Velocidade de Processamento) dos casos foram inferiores ao controle. Na análise qualitativa, os QIs dos casos receberam classificação abaixo da média (média inferior e limítrofe), já os controles apenas o Índice Fatorial da Velocidade de Processamento recebeu classificação de Média Inferior, mostrando clara diferença entre os grupos. Os valores médios do QI Verbal foram menores nos casos tanto nos resultados totais, quanto por faixa etária. Os casos apresentaram valores médios menores de QI Total, classificados como “limítrofe” quando comparados aos controles, classificados como “média”. Essa diferença também foi observada nas faixas etárias. A aplicação do WISC-III demonstrou diferença significativa (p<0,05) nas médias encontradas nos grupos caso e controle para QIs e Índices Fatoriais na análise quantitativa e qualitativa. Na análise multivariada, não houve significância quando as variáveis foram comparadas com a malária, com exceção da correlação no grupo caso para as variáveis QI Execução X Idade que apresentou correlação significante (p = 0,0194) e na regressão, apenas no grupo caso para as variáveis Execução X Idade (p = 0.0331). Os resultados do estudo permitem concluir que a malária pode alterar de forma significante o desempenho cognitivo de crianças e adolescentes.