Variabilidade Espaço-Temporal da Estrutura e Dinâmica do Mesozooplâncton em um Estuário Tropical do Litoral Amazônico (Caeté, Pará, Brasil)
Plâncton, dinâmica populacional, estuário Amazônico, mudanças climáticas, produção secundária.
No presente estudo, analisamos a estrutura e composição das assembleias mesozooplanctônicas e suas variações espaço-temporais com base em diferentes estatísticas uni-multivariadas. As coletas foram realizadas durante marés de quadratura e sizígia, em três estações fixas localizadas ao longo do estuário do Caeté (estuário superior-S1, médio-S2 e inferior-S3), utilizando para tais redes cônicas de plâncton com aberturas de malha de 200 μm. As amostragens de plâncton e água ocorreram em outubro, dezembro de 2013 e setembro 2014 (estação seca) e em junho de 2013, abril, junho de 2014 e março de 2015 (estação chuvosa). As amostras foram coletadas durante as marés de enchente e vazante, em intervalos regulares de 3 horas ao longo de um período de 24 horas, totalizando 189 amostras. O estuário do Caeté é caracterizado como um ambiente altamente variável química e físicamente, que é afetado pelos altos níveis de precipitação, descarga de água doce e pelo ciclo das marés. A salinidade foi a principal variável responsável pela manutenção do padrão espacial no estuário estudado. As assembleias do zooplâncton exibiram variabilidade espacial e temporal em resposta às condições ambientais e hidrológicas dinâmicas que variam de acordo com a posição dentro do gradiente estuarino. Este grupo de organismos foi distribuído ao longo do gradiente de salinidade de acordo com as tolerâncias fisiológicas específicas de cada táxon. As assembleias do zooplâncton são ainda reguladas pelo tempo de residência na água, com maior abundância e produção geralmente associadas a tempos de residência mais longos e taxas mais baixas de transporte advectivo. Os resultados também ressaltam a alta diversidade do zooplâncton em estuários dominados por manguezais, com 25 espécies identificadas, representadas principalmente pelo grupo Copepoda. A ocorrência do evento de seca em junho de 2013 foi marcada pela baixa pluviosidade e consequentemente pelo menor fluxo dos rios, aumento da salinidade e maiores concentrações de nitrato (), nitrogênio inorgânico dissolvido (NID), ortofosfato () e silicato dissolvido (SiD), que foram responsável pela alta biomassa fitoplanctônica (clorofila-a) registrada neste período. Essas condições permitiram o aumento substancial na densidade populacional de copépodos, particularmente em direção ao estuário a jusante, que foi dominado por espécies estuarinas e costeiras, como Pseudodiaptomus richardi(895 ± 1.878 ind.m-3, p<0,05), Oithona hebes (74 ± 667 ind.m-3), Acartia lilljeborgii (1.045 ± 1.675 ind.m-3, p<0,05), Acartia tonsa (926 ± 1.165 ind.m-3) e Paracalanus quasimodo (349 ± 614 ind.m-3), que apresentou densidades maiores em jun/2013 do que as obtidas no período normal de precipitação (jun / 2014). Além disto, observamos que a biomassa mensal dos copépodos e a produtividade em um estuário dominado pelo ecossistema de manguezal tropical podem ser relativamente altas em comparação com outras águas lagunares, estuarinas e neríticas do mundo. A alta produtividade dos Pseudodiaptomus no estuário do Caeté pode ser atribuída às altas temperaturas durante todo o ano, salinidade moderada, elevada biomassa fitoplanctônica, a água sendo rica em matéria orgânica particulada que se origina da serapilheira de bosques de mangue, capacidade de consumir células de um amplo espectro dimensional, e maiores taxas de produção de ovos, como observado para P. richardi (com picos de até 938,7 ± 1.681,2 mg C m-3 d-1, p<0.0001). De forma geral, pode-se concluir que as variações temporais observadas na estrutura da comunidade do mesozooplâncton foram principalmente controladas pelo efeito conjunto das variáveis climatológicas e hidrológicas, as quais modularam a dinâmica populacional destes organismos no estuário estudado.