PESCA, BIOLOGIA E ESTRUTURA POPULACIONAL DO AVIÚ Acetes paraguayensis Hansen, 1919(CRUSTACEA: DECAPODA: SERGESTIDAE) NO RIO TAPAJÓS, PARÁ, BRASIL
Palavras-chave:Acetes; Pesca; CPUE; Estrutura populacional.
Acetes paraguayensisHansen, 1919, constitui-se em uma espécie de grande importância ecológica, social e econômica para a população onde ocorre, inclusive concorrendo como uma espécie com enorme potencial aquícola, porém é muito pouco estudada. Visando contribuir para o maior conhecimento e melhor aproveitamento deste recurso, foram realizadas coletas mensais, em 06 estações de pesca, tanto de organismos pertencentes a esta espécie quanto das variáveis abióticas. Ao total foram realizados cento e cinquenta e seis amostras abióticas (26 meses x 06 matapis por mês), com auxílio de uma pequena embarcação de madeira alugada, e cento e vinte coletas bióticas (20 meses x 06 matapis por mês). Ambas as amostragens foram efetuadas, nas mesmas estações de pesca no rio Tapajós, durante o período diurno, em Santarém-PA, entre maio de 2016 a junho de 2018, englobando o período chuvoso e menos chuvoso. As amostragens biológicas foram obtidas ao acompanhar os pescadores nas despescas dos matapis, do tipo duplo, com dimensões semelhantes (covo - 2, 50 m de comprimento x 1, 50 m largura x 2, 50 m de altura, abertura de 0, 03 m e esteira - 20, 0 m de comprimento x 3, 0 m de altura), distantes a mais de 200, 0 m entre si. O material obtido da despesca dos matapis foi acondicionado em sacos plásticos, etiquetado conforme a estação de pesca amostrada e depositado em caixas térmicas com gelo. Posteriormente, esse material foi transportado para o laboratório da Estação Santa Rosa, onde foi realizada as análises pertinentes. Em razão do completo desconhecimento de diversos aspectos relacionados a A.paraguayensis, esta tese está composta por quatro capítulos, no intuito de tentar disponibilizar aos interessados, o máximo das informações coletadas durante todo o período da pesquisa acerca da espécie. Principalmente as relacionadas à sua pesca e apetrechos utilizados em sua captura, estrutura populacional, aspectos da sua biologia e suas inter-relações com variáveis ambientais amostradas. No Capítulo I, há uma introdução geral, onde se aborda vários aspectos dos camarões do gênero Acetes, tais como morfologia, classificação, chaves de identificação sexual, distribuição geográfica, dispersão entre habitats, proporção sexual, relações biométricas e morfométricas, entre outros, bem como a pesca e sua destacada importância econômica no mundo e na Amazônia, especificamente. No Capítulo II, foram identificados 66 novos pontos de captura, constatando que a área onde se pratica atualmente a pesca de A. paraguayensisé extensa, não se restringindo apenas aos locais próximos de Santarém, conforme as informações esparsas, desencontradas e imprecisas disponíveis na literatura até o presente momento. Os períodos de maior volume de captura da espécie são os meses chuvosos, quando ocorre o período de aglomeração dos animais, destacando-se entre eles, por ordem crescente em volume de produção, março, abril e maio, respectivamente. Os apetrechos identificados e mais utilizados na captura da espécie na área de estudo são seis: arrasto com panagem de poliéster; rede arrasto de poliéster; puçá-de-mão, puçá-de-mão; puçá arrasto-de-popa, e finalmente, o matapi. Todas as artes pesquisadas utilizam o método de pesca ativo, exceto o matapi. Dentre os apetrechos, o matapi se destaca por ser o mais oneroso (US$ 345.81), empregar maior número de pescadores, e o mais produtivo, com maior quantidade de dias de pesca efetiva (10.57 ± 13.71) que os demais. Porém, também é o que causa maior dano ambiental, já que captura uma grande quantidade de peixes pequenos (fauna acompanhante), muitos dos quais, de valor comercial. No Capítulo III, foi comprovado a efetividade dos matapis na captura de A. paraguayensis, embora utilize o método passivo de captura, diferentemente de outras artes utilizadas ao redor do mundo na pesca de sergestídeos. Verificou-se que os apetrechos que utilizaram lâmpadas como atratores luminosos, apresentaram maior produção mensal e CPUE em relação aos que não as empregaram, demonstrando que esta estratégia interfere positivamente nas capturas de A. paraguayensisna área estudada (fototropismo positivo).Observou-se também, uma forte correlação entre a pluviosidade, o pulso de inundação e a produção de A. paraguayensisprovenientes dos matapis, sendo os maiores valores de captura registrados nos meses mais chuvosos. No Capítulo IV, foram pesquisadas a estrutura populacional, proporção sexual e as relações bio-morfométricas de A. paraguayensis.Foram analisados 3690 indivíduos (fêmeas = 2325 e machos =1365), sendo os machos mais abundantes nas menores classes de tamanho, e as fêmeas, dominantes em classes maiores. As fêmeas apresentaram comprimento total médio (LT= 21,44 ± 2,39 mm) e de carapaça (LC=5,13 ± 0,68 mm) maiores que os machos (LT=19,19 ± 2,11 mm) e (LC=4,50 ± 0,58 mm), respectivamente. Já a proporção sexual foi de 1, 7♀: 1♂. No que concerne às relações entre o peso e comprimento total, os machos e sexos agrupados (machos mais fêmeas) apresentaram crescimento alométrico negativo (b<3), enquanto que as fêmeas, crescimento isométrico (b=3). Para as relações entre comprimento total (mm) e comprimento da carapaça (mm), todos os grupos (machos, fêmeas e sexos agrupados) apresentaram crescimento alométrico positivo (b>1). Durante todo o período de coletas, as fêmeas foram mais abundantes e apresentaram os maiores valores em comprimento (total e de carapaça) e peso, quando comparadas aos machos, reforçando a hipótese da existência de dimorfismo sexual em comprimento. Neste estudo, foi observado que a espécie A. paraguayensisforma grandes aglomerados paralelos à linha costeira, nadando acompanhando o fluxo das correntes fluviais, e também na foz dos rios e das conexões entre os grandes rios e os lagos. A pesca de A. paraguayensiscoincide com a época de aglomeração, que corresponde ao período chuvoso na Amazônia (dezembro a maio). Neste período, observa-se um aumento da biomassa planctônica, o qual está associado ao período reprodutivo desta espécie. Constatou-se também que A. paraguayensisé fortemente sazonal e migradora, reduzindo drasticamente sua abundância entre os meses de junho (início do período de seca) e agosto, não ocorrendo na área de estudo nos meses de setembro, outubro e novembro, voltando a surgir apenas esporadicamente, no mês de dezembro, em pequenas quantidades, quando tem início o período das enchentes.Durante o período inicial da estiagem (de seca), os animais realizam uma migração para os grandes lagos para desovar, possivelmente em razão da maior disponibilidade de alimentos, existente nesses locais e a proteção contra possíveis predadores. Os resultados obtidos no presente trabalho são inéditos, e demonstram que essa espécie, apesar da elevada relevância ecológica, econômica e social, nunca tinha sido antes pesquisada, em razão da ausência de dados disponíveis, provavelmente por causa das dificuldades de obtê-los em campo, e da escassez de pesquisadores interessados. Essas informações são de grande valia para trabalhos futuros que visem o manejo populacional, a preservação e o cultivo dessa espécie, que vem sendo intensamente explorada na região em estudo.