Incubação de ovos, gonadogênese e desenvolvimento folicular ovariano de Kinosternon scorpioides (Chelonia: Kinosternidae)
muçuã, reprodução, ovoscopia, desenvolvimento gonadal, foliculogênese
A compreensão dos mecanismos reprodutivos da fauna silvestre é uma ferramenta importante para atender ao manejo e controle de estoques populacionais. Esse estudo objetivou estudar os processos relacionados a reprodução de Kinosternon scorpioides, com a finalidade de conhecer o processo do manejo incubatório de ovos, o desenvolvimento gonadal e a morfologia ovariana. O trabalho foi desenvolvido no criatório científico de K. scorpioides da Embrapa Amazônia Oriental, situado na cidade de Salvaterra-Pará. Os ovos foram incubados artificialmente, a uma temperatura de 28,5°C e umidade acima de 80%. Para a análise do desenvolvimento embrionário, utilizou-se o método da ovoscopia, onde os ovos (n=58) foram acompanhados, pesados e registrados com câmera fotográfica. Para a análise do desenvolvimento gonadal, as amostras foram dissecadas e fixadas (cinco embriões para cada estágio de desenvolvimento), e processadas para microscopia de luz e eletrônica de transmissão. Para observação da foliculogênese, os ovários de indivíduos de diferentes fases reprodutivas (filhotes n=7, pré-púberes n=6, e adultos n=7) foram encaminhados para análise em microscopia de rotina, além de microscopia eletrônica de transmissão e varredura. Como resultado, a ovoscopia demonstrou o crescimento embrionário a partir do sétimo dia de incubação, onde os estágios foram divididos em três períodos distintos: 1- inicial (1-35 dias), marcado pela presença e expansão do sistema circulatório vitelínico e descida do embrião para cima do vitelo; 2- intermediário (36-71 dias), com o embrião em decúbito lateral, com intensa pigmentação, e alteração para decúbito ventral; 3- tardio (72 dias até a eclosão), ocorre o crescimento do embrião, preenchendo grande parte do espaço interno do ovo. A partir do estágio 12, foi observada a migração das células germinativas para crista gonadal. Durante o estágio 16, verificou-se a gônada indiferenciada, caracterizada pela presença de um epitélio germinativo periférico e de células germinativas dispostas aleatoriamente. A partir do estágio 21 notou-se a diferenciação do tecido gonadal. Em animais no estágio 26 (pré-eclosão), os ovários apresentaram córtex com folículos iniciais e medula com um estroma rico em vasos; os testículos possuíam túnica albugínea na região cortical e o epitélio seminífero imaturo, na região medular. Ao analisar a dinâmica folicular, identificaram-se quatro estágios distintos: no estágio I, observaram-se folículos com uma camada granulosa de formato cúbico simples; no estágio II, verificou-se a presença de vacúolos no citoplasma do oócito, bem como a presença da zona pelúcida e da teca; no estágio III, notaram-se grânulos de vitelo no interior dos vacúolos; e no estágio IV, os grânulos de vitelo estavam presentes em maior quantidade e em formato poliédrico. Em recém-eclodidos, a região cortical foi vista repleta de oogônias e folículos no estágio I. Nos ovários de pré-púberes, além dos estágios já mencionados, observaram-se folículos no estágio II. Em fêmeas adultas, a dinâmica folicular revelou-se mais diversa, com a presença de folículos de maior diâmetro em comparação com os estágios anteriores, incluindo folículos em todos os estágios observados, bem como a ocorrência de atresia folicular. Nossos resultados, contribuem no protocolo de boas práticas de manejo de incubação ex situ e in situ. Além de servirem como parte da tecnologia de fomento a criação comercial dessa espécie em cativeiro e a sua conservação.