Conhecimento e agrobiodiversidade das plantas alimentícias no quilombo de Deus Ajude, Arquipélago do Marajó – Pará.
Amazônia. Etnobotânica. Comida de quilombo. Soberania alimentar. Autonomia.
Nesta pesquisa, buscamos analisar os conhecimentos tradicionais que constituem a agrobiodiversidade das plantas alimentícias, bem como, são capazes de assegurar a soberania alimentar e a autonomia na produção dos alimentos no quilombo de Deus Ajude, Salvaterra/PA. Para a constituição da pesquisa, utilizamos a abordagem quali- e quantitativa com o auxílio do estudo de caso e dos procedimentos metodológicos de observação participante, entrevistas não diretivas, questionários, listas livres, coleta e identificação de material botânico. A análise dos dados coletados foi realizada pela sistematização das informações, análise vertical e horizontal das entrevistas, triangulação dos dados e Índice de Saliência Cognitiva. Os resultados demostraram que o conhecimento tradicional da comunidade quilombola sobre as plantas alimentícias é constituído a partir da relação diária do quilombola com a natureza, bem como, pela promoção continuada do diálogo de saberes entre as diferentes gerações. A sazonalidade amazônica revelou-se como uma reguladora da pluralidade de atividades produtivas ao logo do ano, e, estas são desempenhadas por intermédio de uma associação simbiótica, onde natureza e quilombo se sustentam. No mais, as comidas representativas do quilombo marajoara, como: beiju, cação, tiborna, cunhapira e crueira etc., transformam-se em uma das formas de manter a agrobiodiversidade do quilombo. Em contrapartida, questões sociais do território e as influências externas são ações concretas e simbólicas promotoras de mudanças na forma como os alimentos são obtidos e nos hábitos alimentares dos quilombolas. Portanto, a valorização da cultura quilombola é uma resistência ao seu modo de vida e torna-se uma aliada a preservação dos conhecimentos tradicionais e da natureza manejada.