O Espaço Tradicional em Contexto Periférico, Inadequações e Tensões entre Visões de Mundo: O caso de Afuá
O tema central deste trabalho é o espaço urbano da várzea ribeirinha, investigado a partir da ótica da complexidade. A pesquisa apoiou-se em um percurso teórico que procurou investigar o avanço da modernidade sob a ótica do desenvolvimentismo e da colonialidade do saber, assumindo a perspectiva do sul global e a forma subordinada como a várzea amazônica está inserida no cenário global e nacional. A partir do caso de Afuá, verificou-se que o percurso da modernidade cooptou espaços, apoiando-se no discurso desenvolvimentista. Avançou por fronteiras até alcançar o espaço urbano-tradicional da várzea, provocando rupturas com o modo de vida local e gerando novas complexidades. A pesquisa revelou um descompasso entre o modo de vida pré-existente na região e as novas manifestações espaciais de inspiração exógena, os discursos políticos e políticas públicas inadequadas. A pesquisa evidenciou as mudanças emergentes no espaço urbano-tradicional ribeirinho da cidade de Afuá, que é instrumental ao modo de vida da várzea, e se reproduzia há séculos no território amazônico. Foram identificadas distâncias entre as demandas da população e as ações do poder público, que intervém no espaço gerando circunstâncias complexas e híbridas e nem sempre adequadas para o modo de vida local. A investigação espera contribuir para o aprofundamento da discussão sobre o espaço ribeirinho da Amazônia, ampliando a análise do discurso político para os discursos técnicos ideológicos de modo a permitir a reflexão sobre o papel do arquiteto e urbanista, na condição de agente determinante de novas emergências nesse espaço. A trajetória da cidade de Afuá contém ensinamentos que não são valorizados dentro da academia, mas que podem ser tomados como referências de urbanidade, sociabilidade e funcionalidade para o contexto em que vivemos, uma vez que demonstram capacidade de resistir com todos os seus atributos espaciais a um ritmo de modernização quase inexorável. A reflexão sobre as práticas do planejamento urbano e as inadequações de políticas públicas para a região, entrelaça visões de mundo com base no pensamento decolonial e na perspectiva do Bem Viver, na medida em que procura incorporar a natureza e o modo de vida secular tradicional nas políticas públicas, na economia e no cotidiano como alternativa para um desenvolvimento endógeno e a redefinição das relações entre os processos urbanos, natureza e a região amazônica.