Tintas de ontem, tintas de hoje: conservação e restauro de pinturas à base de cal
Tinta à base de cal; caiação; compatibilidade; Restauro.
As caiações vêm progressivamente sendo substituídas nas intervenções em prédios antigos por tintas poliméricas, incompatíveis com revestimentos à base de cal, ou sendo descartadas em detrimento da aplicação de tintas sílico-minerais que implicam na perda de substratos históricos. Esta opção de renovação dos materiais está associada também à baixa resistência das tintas à base de cal às intempéries e à necessidade de manutenção frequente, além da perda da prática das caiações nas intervenções atuais. Neste sentido, o trabalho objetiva avaliar formulações de tintas à base de cal para restauro, primando pela sua compatibilidade com rebocos antigos e pela menor vulnerabilidade às ações intempéricas. Para tanto, o trabalho é dividido em cinco etapas metodológicas: discussão teórica e tecnológica sobre as permanências e transformações das pinturas à base de cal e suas cores aplicadas no patrimônio edificado; caracterização dos sistemas de pintura históricos e da matéria-prima da tinta de restauro; produção da tinta de restauro com base na literatura existente, com incorporação de pigmento produzido em laboratório a partir de matéria-prima local, de um biocida a base de zinco e de um aditivo fixador; aplicação da tinta em túmulos do Soledade, um cemitério histórico de Belém-PA, sobre substrato de argamassa antiga e argamassa de restauro a base de cal; e avaliação da tinta quanto à suas características de poder de cobertura, pulverulência e permeabilidade, e quanto à durabilidade, vulnerabilidade frente às ações intempéricas e alterações cromáticas e no sistema de pintura. A partir de uma avaliação preliminar, a tinta de restauro à base de cal avaliada revelou grande relação dos aditivos empregados com seu desempenho frente às intempéries, de modo que quanto maior a quantidade de aditivo fixador, maior a permanência da tinta no substrato e menor a pulverulência do material. Entretanto, quando este é introduzido em demasia, diminui-se a permeabilidade e porosidade da tinta, com reflexos na compatibilidade e viabilização da carbonatação do substrato. Já a adição de óxido de zinco, contribui frente à biocolonização e aumento do poder de cobertura da tinta. Além disso, pode-se dizer que a pesquisa também contribui para o resgate do “saber fazer” das caiações e para a permanência e salvaguarda da memória de um material único, cujo testemunho vem se perdendo.