Espaços construídos dos quilombos no Pará, do Colonial à Pós-abolição (século XIX ao XXI)
Quilombo, espaços construídos, Amazônia, Pará
Esta tese aborda as lógicas de produção espacial dos quilombos no Pará em dois tempos distintos: pré-abolição da escravatura no Brasil, especificamente no século XIX e pósabolição, nos séculos XX e XXI. A hipótese principal está em expressar como as lógicas próprias, únicas desses territórios, estão intimamente ligadas à história da ocupação negra na Amazônia, em processos de territorialidade que trazem na memória coletiva dos grupos remanescentes práticas ancestrais, desenvolvidas in loco, pelos primitivos mocambeiros e somadas aos repertórios aprendidos, ressignificados e preservados por esses indivíduos no mundo cativo. Para isso, inicialmente, aportamos nossa análise nas terras atuais, analisando relatórios de pesquisa de campo das áreas da antropologia e sociologia em diferentes áreas do Pará: região metropolitana de Belém, Nordeste, Marajó, Baixo Amazonas e Baixo Tocantins. Esses estudos nos mostraram que a ancestralidade defendida no discurso desses grupos é demonstrada em atividades cotidianas de uso comum da terra, construções de suas moradias, calendários produtivos e zoneamentos espaciais que são tidos como originários de exercícios que foram preservados desde as primeiras gerações desses quilombolas, no século XIX. A partir disso procuramos uma ligação desses exercícios de lógicas de produção espacial com a história das ocupações desses quilombos no século XIX. Com tal finalidade, realizamos um exaustivo levantamento de fontes históricas e documentais que nos fornecem informações sobre como eram esses quilombos no Pará oitocentista. Por fim, compreendemos que os exercícios de cultura material, imaterial e territorialidade desses sujeitos não começaram diretamente no quilombo, mas vieram de repertórios de vida e identidade anteriores, ainda na vida cativa. Em vista disso, inserimos também um estudo extenso sobre os espaços impostos aos negros escravizados no Pará, no campo e na cidade, buscando compreender como esses lugares foram utilizados no processo de dominação desses sujeitos na escravidão, gerando, ao mesmo tempo, movimentos de resistência de suas identidades e culturas que mais tarde foram vividos de forma plena no quilombo.