A AZULEJARIA HISTÓRICA NA ARQUITETURA MORTUÁRIA DO CEMITÉRIO NOSSA SENHORA DA SOLEDADE: SUBSÍDIOS PARA A SUA CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO
azulejo histórico; arquitetura mortuária; diagnóstico do estado de conservação; caracterização; restauração à quente; consolidação
A azulejaria foi bastante utilizada na cidade de Belém no século XIX. Neste período destaca-se no Cemitério da Soledade a decoração de sepulturas com azulejos portugueses de estampilha. Estas peças encontram-se em elevado estágio de deterioração, devido às condições à que estão submetidos, e não há registro cadastral das unidades azulejares. O objetivo desta pesquisa é desenvolver processos restaurativos adequados à preservação dos azulejos históricos das sepulturas do Cemitério Nossa Senhora da Soledade, tendo como base a caracterização e os processos de deterioração desses materiais. A metodologia consiste em: 1) documentação (cadastro e mapeamento de danos) e diagnóstico do estado de conservação (nível de intemperismo e estágio de alteração) de painéis de azulejos de sepulturas do Soledade; 2) caracterização de amostras de azulejos por microscopia óptica; microscopia eletrônica de varredura com sistema de energia dispersiva, absorção total em água e difração de Raios-X; 3) avaliação de procedimentos de restauro à quente para recuperação da camada vitrificada dos azulejos; 4) avaliação de procedimentos de consolidação de corpos de prova vitrificados com aplicação, de diferentes maneiras, de solução de Paraloid B-72 em acetona (grupo 1 – impregnação da chacota e do vidrado das amostras; grupo 2 – impregnação da chacota das amostras). Os azulejos foram divididos de acordo com seu eixo de assentamento. Os painéis horizontais majoritariamente apresentam perda de vidrado, inserem-se no nível 1 de intemperismo e no estágio de alteração 2. A maioria dos painéis verticais apresenta manchas escuras, encontra-se no nível intempérico 3 e no estágio de alteração 2. As camadas vitrificadas e cerâmicas possuem caráter heterogêneo e defeitos de fabricação, devido ao processo de produção artesanal. As porosidades variam de 13,29% a 22,94%. As chacotas apresentam em sua composição: quartzo; gehlenita, calcita; rutilo; cristobalita; diopsídio; anortita; hematita e wollastonita. A requeima eliminou defeitos de fabricação e patologias existentes no vidrado, mas causou mudanças da composição mineralógica das cerâmicas. Após a impregnação com a solução de Paraloid B-72 não ocorreram alterações cromáticas nos vidrados, mas houve um aumento do brilho maior que 100% e maiores reduções no percentual de absorção total em água nas amostras do Grupo 1. Os azulejos apresentam risco natural de desaparecimento, que é acelerado por fatores externos. Os processos de alteração nos painéis não são simples, sendo raros os exemplares em bom estado de conservação. Mesmo tendo em comum o país de origem, século de produção, técnica decorativa e temperatura de queima as amostras apresentam variações em sua microestrutura e mineralogia. Se utilizada com cautela, a técnica à quente é uma das alternativas para aumentar a durabilidade e salvaguardar o conjunto azulejar do Soledade. A impregnação das camadas cerâmica e vitrificada do azulejo com solução de Paraloid B-72 e acetona pode ser considerada uma boa alternativa quando necessário aprimorar a consolidação do material, em relação ao fechamento do craquelê e da porosidade acessível. Tais informações são importantes para o conhecimento do material para fundamentar futuras intervenções restaurativas.