A TRANSFIGURAÇÃO DA HISTÓRIA EM LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DA METAFICÇÃO HISTORIOGRÁFICA EM PAULINA CHIZIANE, MÁRCIO SOUZA E JOSÉ CARDOSO PIRES.
Paulina Chiziane; Márcio Souza; José Cardoso Pires; metaficção historiográfica; memória.
O presente trabalho tem como propósito refletir as diferentes dimensões que o fato histórico assume no âmbito da ficção na literatura moçambicana, portuguesa e brasileira. O corpus de análise se pauta em O alegre canto da perdiz (2008), de Paulina Chiziane, Galvez, imperador do Acre, de Márcio Souza (1976), e Balada da praia dos cães (1982), de José Cardoso Pires. Isso porque nessas narrativas, percebe-se um acontecimento histórico constitutivo do fazer literário: a colonização em Moçambique, a anexação do Acre ao Brasil e a ditadura salazarista em Portugal, momentos históricos representativos na construção dessas nações. Ademais, demonstrar-se-á como essas construções literárias de diferentes sociedades, nesse caso, africana, portuguesa e brasileira, realizam, por intermédio da literatura, textos originais representantes de posicionamentos ideológicos. Nesse sentido, este estudo propõe analisar as relações paradoxais entre literatura e história, de forma a demonstrar como elas interferem nas obras mencionadas. Assim, na possibilidade de estudos comparados com outras áreas do conhecimento, o que ora se propõe é uma análise comparativa de textos em língua portuguesa, cuja latência nota-se o conspecto da história, seja ela oficial ou não. Trata-se, portanto, de uma investigação de caráter bibliográfico, com ênfase na discussão das relações entre literatura e realidade. Por este caminho, analisaremos os romances de Paulina Chiziane, de Márcio Souza e de José Cardoso Pires, que refletem o próprio processo de elaboração artística e, ao mesmo tempo, utilizam a história para contestar a sua veracidade. Dessa forma, nota-se que nos países Brasil, Moçambique e Portugal, a metaficção historiográfica se apresenta enquanto estratégia de reflexão da história, bem como de ressignificação e interpretação de fatos. Logo, observa-se a metaficção historiográfica à luz dos estudos de Linda Hutcheon (1991) e estudiosos como Zênia de Faria (2012), Maria Tereza de Freitas (1986), a meta-história em Hayden White (1994), o romance histórico a partir de Lukács (1983). Ademais, como a memória se apresenta como artifício nas obras analisadas, essa categoria é tratada por meio de Paolo Rossi (2010); Aleida Assmann (2011) e Halbwachs (2013).