A(u)tor em cena: estratégias autoficcionais na literatura brasileira contemporânea
Autoficção. Autor. Ricardo Lísias. Bernardo Kucinski.
Observa-se, no cenário literário, a crescente de publicações que desestabilizam o estatuto da ficção, suscitando discussões intrigantes tanto acerca da expansão da literatura quanto à sua relação com a realidade. Entre eles, destacam-se aquelas compreendidas como autoficcionais, em que há um desprendimento simultâneo tanto com a verdade factual, quanto com ficção tradicional. O presente trabalho volta-se à análise de narrativas autoficcionais a partir de suas estratégias discursivas, com enfoque na literatura brasileira contemporânea. Parte-se da hipótese de que há duas tendências autoficcionais evidentes: a primeira em que a identidade onomástica espetaculariza a si e aos outros na construção um enredo propositalmente fabular, embora com aspectos referenciais, tal como é possível observar em obras de Ricardo Lísias, tal como Divórcio (2013), em que o autor parte de uma experiência íntima para continuar um jogo de exposição narrativa iniciada em contos anteriores, como Meus três Marcelos (2011) e Divórcio (2011); enquanto na segunda, observa-se a escrita como uma tentativa de chegar ao cerne de uma experiência pessoal do autor, aspecto observado em obras de Bernardo Kucinski como em K. relato de uma busca (2013), que tematiza o desaparecimento da irmã do autor durante a ditadura militar brasileira, e Os visitantes (2015) em que encena possíveis recepções da obra anterior. Resguardadas as particularidades de cada tendência, as obras autoficcionais e seus respectivos espetáculos respondem aos anseios de um mercado cada vez mais voyeurístico mas, para além de superficialismos, também possibilitam reflexões sobre a nossa história e sociedade, em um exercício crítico e memorialístico tão necessário aos dias atuais.