USO DO ARTIGO DEFINIDO DIANTE DE NOME PRÓPRIO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Artigo definido diante de nome próprio; geossociolinguística; projeto atlas linguístico do Brasil.
Amparada no arcabouço teórico-metodológico da Dialetologia e da Geolinguística
(CHAMBERS; TRUDGILL, 1994; FERREIRA; CARSOSO, 1994; CARDOSO, 2010, e
outros), da Sociolinguística Variacionista (SILVA-CORVALÁN, 1989; LABOV, 2008) e do
aparato metodológico da Geossociolinguística (CARDOSO; RAZKY, 1997; RAZKY, 1998;
LIMA, 2003; LIMA; RAZKY; OLIVEIRA, 2020), esta tese objetiva fazer uma descrição,
análise e mapeamento da variação do uso do artigo definido antes de nome próprio de pessoas
– os antropônimos – no corpus utilizado para análise nesta tese. Partiu-se da hipótese de que o
português brasileiro contemporâneo apresenta tendência ao uso do artigo antes de nome
próprio, que configura a estrutura “artigo definido + nome próprio”. Levantou-se, ainda, a
hipótese de que este uso estaria se espalhando pelo território brasileiro, atingindo áreas que
tradicionalmente se caracterizam pelo não uso do artigo no contexto aqui observado. A amostra
analisada nesta tese é proveniente do corpus do Projeto Atlas Linguístico do Brasil – Projeto
ALiB – referente às 25 capitais que constituem a rede de pontos do referido Projeto. Da audição
na íntegra das 200 entrevistas linguísticas do Projeto ALiB – constituídas pelos questionários
Fonético-Fonológico, Semântico-Lexical e Morfossintático, e pelos Discursos Semidirigidos
(cerca de 700h de fala contínua) – extraíram-se os 2.645 dados da análise final, que foram
submetidos ao tratamento estatístico por meio do programa computacional GoldVarb X, que
auxiliou na análise quantitativa. A análise quantitativa e linguística dos dados deu-se mediante
o controle de variáveis de natureza linguística e extralinguística, a fim de se levantar os fatores
que estariam condicionando o uso do artigo antes de nome próprio. Os resultados mostraram
uso majoritário do artigo definido diante de antropônimo nas regiões Norte, Centro-Oeste,
Sudeste e Sul do Brasil e não uso majoritário do artigo na Região Nordeste. Os dados foram
analisados em função de dois contextos de ocorrência distintos: quando o nome próprio figura
como “isolado”, há tendência em não se usar artigo: das 533 ocorrências, 402 (75,4%)
apareceram sem artigo anteposto, e 131 delas (24,6%) apareceram antecedidas de artigo; já
quando o nome próprio figura em estruturas sentenciais, a tendência observada é a de uso do
artigo: das 2.112 ocorrências, 1.301 (61,6%) são articuladas e 811 (38,4%) não são articuladas.
O programa GoldVarb X selecionou como significativos os seguintes grupos de fatores: capital,
função sintática, antropônimo como item de enumeração, tipo de antropônimo, sexo, estrutura
do sintagma nominal e circunstância em que o nome próprio é citado.