ESSA TERRA AQUI, ESSE RIO AQUI, KAROSAKAYBU DEIXOU PARA NÓS: MEMÓRIAS, NARRATIVAS E TERRITÓRIO MUNDURUKU
Munduruku, Memórias, Narrativas, Território, Resistência
O ponto de partida deste projeto de pesquisa está nas narrativas do povo indígena Munduruku do médio Tapajós – envolto em uma história de décadas (quem sabe, séculos!?) de ameaças a seus territórios e a sua cultura –, e em que se pretende investigar as marcas discursivas de resistência nas suas relações interétnicas, podendo-se verificar as particularidades de seus saberes e de sua organização de mundo bem como se perceber a produção de sentidos presentes nestas narrativas mais contemporâneas – sejam orais, do corpo, da ação (autodemarcação de terras) e até escritas. Seja como for, os conhecimentos e o modo de vida da etnia Munduruku seguem uma via de resistência (construindo e sendo construído em suas memórias), e rompendo os silenciamentos de um discurso oficial em nossa sociedade (Estado), através de manifestações de denúncias (os processos de antropização), de contestações (às intenções dos grandes empreendimentos dominantes na região) e de reivindicações de seus direitos diante de uma trágica conjuntura sócio-histórica (construções de barragens, de estações de portos, de estradas etc., como partes de um megaprojeto desenvolvimentista) por que atravessa a vida nas margens do rio Tapajós. Sob a perspectiva do enfoque dos Estudos do Discurso com Michel Foucault (1972; 1996; 2008; 2014) no Brasil, propõe-se verificar a “memória como processo narrativo”, problematizando o passado (as tradicionais narrativas do povo Munduruku) e tornando visíveis os acontecimentos na constituição dos sentidos. Somam-se a esta proposta as contribuições dos estudos de Maurice Halbwachs (2006) acerca da Memória Coletiva e de outros estudiosos comoPollak (1989), Nora (1993), Assmann (2011), no que diz respeito às considerações sobre Memórias, uma vez que as aldeias da etnia Munduruku se veem imersas (afetadas ou deslocadas) no advento do processo da globalização.