OS GRITOS DOS CÁRCERES: O PARADIGMA DO OPRESSOR NA CONSTRUÇÃO DA MULHER PERPETRADORA E MULHERES TORTURADAS
Gênero; Cárcere; Dispositivo de Controle; Ditadura militar argentina.
O presente texto tem como objetivo discutir sobre a mulher nas relações de poder patriarcais existente em nossa sociedade e que em períodos de guerra ou conflitos por razões de Estado se exarcerbam por conta do estado de exceção e da brutal forma de ação do poder estatal contra seus opositores. Para fins de estudo de caso elegemos a ditadura argentina, em particular o corpus de narrativas (testemunhos, entrevistas e depoimentos colhidos em âmbito judiciário) envolvendo a relação entre as prisioneiras do regime militar e a torturadora Mirta Graciela Anton, conhecida como "La Cuca". A problematização parte do pressuposto de que a carga conceitual que leva a palavra “mulher”, neste âmbito, as faz ter tratamentos diferenciados e, por conseguinte uma construção narrativa diferenciada, discurso que se constitui questionador desde o interior da militância, na qual várias mulheres reclamavam do tratamento que recebiam por parte dos companheiros de luta, e, principalmente, a relação entre a torturadora e as mulheres torturadas, no âmbito do cárcere no estado de exceção. Judith Butler concebe a diferença tácita entre o discurso e a materialidade do feminismo, desassociando do palpável o valor do gênero e definindo a mulher como ser constituído segundo o conjunto de interferências que a cerca. No âmbito da vida no cárcere por razões de Estado a mulher, enquanto construção social aos olhos dos agentes responsáveis e envolvidos na reclusão, é violável. Nesse processo, os mecanismos de identificação que esses agentes direcionam a essas prisioneiras estão relacionados aos códigos de ser-mulher, do ser-militante e do ser-oposição. Torturá-las, portanto, significa fazê-las menores enquanto ser humano e enquanto gênero; significa igualmente puni-las por se rebelarem contra a ordem instituída, por isso, grande parte das torturas visam atingi-las naquilo que é mais icônico no rol das apresentações relacionadas a esses mecanismos de identificação: a feminilidade. Para isso, não importa se o perpetrador das torturas é um homem ou uma mulher. Quando mulher o perpetrador espelha ou performatiza as mesmas constituintes falocêntricas dos homens ao torturarem mulheres. Considerando esse enquadramento e o corpus supracitado, defendemos a tese de que as aproximações quanto às práticas desenvolvidas entre o torturador e a torturadora estão relacionadas a mecanismos de identificação e menos de identidade, em relação à cultura falocêntrica e autoritária de onde emergem. Nesses termos, toda a pesquisa apresentada nesta tese se desenvolveu a luz dos conceitos de testemunho, estado de exceção e principalmente do feminino, e desta forma contará com cabedal teórico de Sarmneto-Pantoja, Judith Butler, Giogio Aganbem, Michel Foucault, entre outros.