A RODA-VIVA DA CORPORALIDADE: VIVÊNCIAS E RESSIGNIFICAÇÕES DOS DESEJOS EM “A ESTÓRIA DE LÉLIO E LINA”
“A estória de Lélio e Lina”; Guimarães Rosa; Erotismo; Canibalismo erótico; Sexualidade.
Levando em conta que “A estória de Lélio e Lina”, texto originalmente integrante do primeiro volume de Corpo de baile (1956), sob a autoria de Guimarães Rosa (1908-1967), confina-se, substancialmente, com o intercalar entre planos imagéticos/discursivos, de ordem sugestiva, e entre experiências sexuais impelidas e efetivamente consumadas, nas interações das personagens, conforme as micronarrativas progridem, recorrendo a flashbacks, entre outros recursos figurativos, faz-se mister examinar algumas das diversas nuances correlacionadas à corporalidade, que, na novela em tela, se desdobra no erotismo; na representação da mulata, em que se tem o fenômeno da objetificação e do desejo de devoração associados à mulher de cor (canibalismo erótico), como partes de um conjunto de “sintomas” socioculturais da opressão masculina sobre o feminino, e do exercício da sexualidade propriamente dita. Sendo assim, concernente ao primeiro tópico supracitado, enquanto forma de dispêndio improdutivo, com base nos argumentos de BATAILLE (2016; 2017), intenciona-se elucidar como se dá o rompimento sistemático dos interditos e da violação de leis/tabus (transgressão) na relação ambígua e tumultuada de Lélio, vaqueiro protagonista, e da jovenzinha Sinhá-Linda, cuja presença-ausência permeia o passado e presente do sertanejo errante. Pela via do canibalismo erótico (SANT’ANNA, 1984), discute-se em que medida determinados paradoxos relativos aos construtos sociais brasileiros solidificados, como o sistema patriarcal (FREYRE, 2006), são entretecidos num sertão de natureza plurissiginificativa, ao se fazer a leitura do imaginário do corpo da preta/mulata por meio das sensuais Conceição e Jiní, e, por fim, arrematando-se a seção primeira, a temática da sexualidade (FREUD, 2016) predisposta e reencenada, nos comportamentos, atos e pulsões masculinas e femininas tensionadas em Lélio e sua principal interlocutora, Rosalina (Lina). Referente ao método seguido nesta dissertação, adotar-se-ão os postulados de Hans Robert Jauß (1983, 2002), na Estética da recepção, sobretudo aqueles que tratam de categorias-base, como experiência estética, leitura e recepção, auxiliando-nos, assim, no engendramento de novas investigação para a hipótese central do trabalho: a de que estamos diante de movências não empíricas dos corpos. Além da natureza da primeira seção, já explanada, acrescentam-se mais duas (2) seções textuais, cujas naturezas conjugam, respectivamente, interpretação da narrativa rosiana e estudos direcionados para a recepção, tendo em vista os extratos das antinomias e das confluências nos discursos da crítica especializada ao pontuarem aspectos passíveis de serem vinculados à corporalidade, culminando, assim, em atualizações dos horizontes interpretativos de “A estória de Lélio e Lina”.