O LUGAR DA LEITURA NA DISCIPLINA SALA DE LEITURA NO MUNICÍPIO DE BELÉM: HISTÓRIA, PRÁTICA E PODER
Sala de leitura; Relações de poder; Dispositivos de controle; Dispositivo ensino de leitura.
A disciplina sala de leitura foi instituída no município de Belém em 1989, na gestão do Prefeito Sahid Xerfan. Implementada em todas as escolas via decreto, iniciou suas atividades sem diretrizes de trabalho delineadas, a fim de orientar quais seriam as designações do referido espaço. Inicialmente, conforme o nome sugerira, configurou-se como um espaço físico implantado para fomentar o exercício da leitura. Porém, esse novo lugar de ensinar a ler iniciou suas atividades sem definir em quais conceitos de leitura a Secretaria Municipal de Educação estava se apoiando, por quais ações a sala de leitura deveria se constituir e quem seria o professor capacitado para atuar legitimamente em tal espaço. Com bastante opacidade sobre as atividades que o professor deveria assumir, esse espaço configurou-se por um longo período como mero depósito de livros, na maioria das escolas. Assim, os professores que eram lotados na sala de leitura deveriam além de organizar os livros, ensinar o aluno a ler. Entretanto, ensinar a ler estava relacionado às práticas que envolvem o processo de ensino de leitura? Partindo de tal reflexão, este trabalho, apoiando-se no conceito de práticas discursivas e nas relações de poder foucaultianas, visa discutir o conceito de leitura que a Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC) assumiu, quando organizou a disciplina sala de leitura, pensada em 1989, passando por uma reformulação em 2005, até sua total reconfiguração, implicando, inclusive, na mudança de nome, em 2016, com o fim de trabalhar especificamente atividades pedagógicas de leitura, que ultrapassassem o mero exercício de decodificação. Baseando-se nas análises dos documentos, nas entrevistas realizadas com as professoras lotadas na sala de leitura e com as formadoras da referida disciplina e na observação das aulas de algumas professoras, busca-se saber se o ensino de leitura é um dispositivo de controle que age mantendo a ordem discursiva por meio da relação saber-poder, o que pode tornar a leitura proficiente uma prática reservada para um determinado grupo social. Nesse sentido, sobraria ao dispositivo escolar a estabilização de outras práticas, como permanecer representando a concepção de leitura como sinônimo de decodificação e a responsabilidade pelo baixo desempenho leitor dos alunos da rede municipal.