As Políticas-selvagens em A maçã no escuro e em Água viva, de Clarice Lispector: os vegetais e o diálogo com outras artes latino-americanas (1960-1970)
Clarice Lispector, América Latina, Vegetais, Política, Arte visuais femininas.
A presente tese visa apontar as políticas vegetais antifascistas no contexto cultural latinoamericano nas décadas de sessenta e setenta. Para isto, analisamos o romance A maçã no escuro (1961) e a escritura Água viva (1973), de Clarice Lispector (1920-1977), em diálogo com diversos tipos de artes visuais produzidas por mulheres. Com as plantas – Nascimento (2021), Cixous (2022) –, ressaltamos o caráter da resistência – Dalcastagnè (2020) – e das radicalizações insurgentes diante das realidades sustentadas nas violências institucionalizadas e opressões fundamentadas na mentalidade metafísico-colonial, advinda da complexa história da América Latina – Viveiros de Castro (2002), Santiago (2019), Giorgi (2016). Em nosso estudo, defendemos as criações estéticas pautadas na filiação das revoltas femininas que são potencializadas pelo pensamento oswaldiano dos anos 1920 – Sterzi (2022), Nascimento (2011) –, cuja força instaura a chave para articular críticas aos sistemas castradores da vida, principalmente em períodos marcados por maiores totalitarismos. Nessa dimensão, consideramos o “belo-selvagem” a maneira pela qual as obras tramadas na tensão política operam segundo um intento não colonizador de si mesmo e dos outros – Deleuze e Guattari (2011). O contra-ataque estético-feminino desenvolve-se no afeto das plantas, as quais servem de signo político-libertário, pois são renovadoras do instinto de vida – Buck-Morss (2012), Guimarães (2020) –, sobretudo nos momentos em que a existência é pouco valorizada. Dessa maneira, investigamos o “imaginário botânico” atrelado às políticas não-hegemônicas. Sendo assunto comum em objetos culturais de tantas artistas latino-americanas, as representações vegetais são catalisadoras da desmobilização e descentralização de ideias construídas patriarcalmente sobre as mulheres, a exemplo da fragilidade vista como aspecto social-cultural do modo de ser feminino – Colling (2014). Na pesquisa, em “ato de guerrilha”, lançamos “flechas” epistemológicas do sul que (re)avaliam criticamente as produções das décadas de sessenta e setenta, à luz da compreensão das discussões políticas nesse período.