RASURAS POÉTICO-FOTOGRÁFICAS DA AMAZÔNIA
Poesia;Fotografia; Amazônia; Rasura; Mitologia Branca
Pensar a Amazônia e a arte que se produz na Amazônia, dá-se a partir de uma fronteira. Visto ser um espaço de entrecruzamento de saberes, culturas e memórias, não seria a Amazônia apenas uma imensidão verde de natureza exuberante, mas, sim, região natural e cultural que convivem dialeticamente; espaço para o diálogo (nem sempre pacífico), por exemplo, entre o saber técnico-científico ocidental e os saberes e cosmogonias indígenas e de matriz africanas, elas que de forma acintosa têm sofrido inúmeros apagamentos ao longo de, pelo menos, 520 anos, tempo que perdura o cultivo de um imaginário monocultural da Amazônia e seus habitantes, engendrado pela mitologia branca. Esta, entendida por Jacques Derrida (1991), como a tradição metafísica ocidental; o homem branco tomando o seu discurso, a sua língua e a si próprio como universal. Diante disso, este estudo pretende investigar como as imagens poético-fotográficas produzidas pelas fotógrafas Elza Lima (Rio trombetas, Pará, 1997; Rio das Lavadeiras, Altamira, Pará, 1989; Anjo do Brasil, Vigia, Pará, 1991) e Nayara Jinknss (A romantização do termo moreno como forma de apagamento e rejeição da identidade afroamazônica, 2019; S/T, 2019), e os poetas Paes Loureiro (1981) (Os rotos da Amazônia ou Deslenda rural) e Bruno de Menezes (1984) (Alma e ritmo da raça) rasuram uma certa imagem de/da Amazônia e seus habitantes produzida pela mitologia branca. Far-se-á esse percurso através do método comparativo, pretendendo colocar em perspectiva as teorias que fundamentam as linguagens em questão, em que a correspondência entre literatura e fotografia se mostra como potência de uma intermediação simbólica sobre a Amazônia, e um pouco à maneira de Barthes (2015), em seu O prazer do texto, sempre de passagem, talvez um pouco precário e irregular, porque, no momento, será ainda uma procura de ler nos poemas nas fotografias se estão resolvidos enquanto acontecimentos poéticos intervenientes à realidade amazônica. Pensaremos a mitologia branca, a rasura, bem como a “usura” da metáfora branca Amazônia a partir de Jacques Derrida (1991); o poema Rasuras, de Max Martins (2001), será tanto suporte teórico quanto poético para ajudar a pensar a rasura. Nessa esteira ainda virá Vicente Franz Cecim (2020) e Eidorfe Moreira (1958) para clarear um certo sentido de região. Para pensar a imagem na fronteira entre os dois sistemas semióticos, traremos, em especial, Adolfo Montejo Navas (2017), Octavio Paz (2012) e Roland Barthes (2011); as questões concernentes à cultura, raça e identidade, dialogaremos com Stuart Hall (2023), Frantz Fanon (2020) e Homi Bhabha (1998; 2020).