VARIAÇÃO DE NÓS E A GENTE NAS CAPITAIS BRASILEIRAS: estudo a partir do corpus do Atlas Linguístico do Brasil
Variação de nós e a gente. Atlas Linguístico do Brasil. Geossociolinguística
Este trabalho teve como objetivo geral descrever analisar a variação de nós e a gente nas capitais brasileiras (excetuando-se Palmas, capital do Tocantins, e o Distrito Federal), a partir de um recorte do corpus do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). Esse recorte corresponde à pesquisa do ALiB nas 25 capitais brasileiras, constituindo uma amostra com 200 entrevistas com média de 3h30min cada uma, num total de cerca de 700h (ou mais de 29 dias) de fala contínua. O perfil dos informantes nas capitais, no corpus do ALiB, compreende
quatro homens e quatro mulheres (variável diassexual), quatro indivíduos do nível fundamental e quatro do nível universitário (variável diastrática), quatro indivíduos da faixa etária entre 18 e 30 anos e quatro entre 50 e 65 anos (variável diageracional); as coletas das entrevistas foram realizadas por meio de aplicação de questionários (QFF, QSL, QMS) e de estratégias de perguntas para respostas livres, para a obtenção de um discurso mais espontâneo, o discurso semidirigido. Para a realização deste trabalho, buscamos amparo nos
pressupostos teóricos e metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2010; 2006; 1972), da Gessociolinguística (RAZKY, 1998; LIMA; RAZKY; OLIVEIRA, 2020), da Dialetologia Pluridimensional e Relacional (THUN, 2005; 1998; ALTENHOFEN; THUN, 2016), dentre outros. Ao todo, foram controlados nesta pesquisa treze grupos de fatores, sendo sete extralinguísticos (espacial: regiões e capitais; social: idade, sexo, escolaridade; temporal: tempo de fundação das capitais; e diafásico: discurso semidirigido/resposta a questionários) e seis linguísticos (preenchimento do sujeito; paralelismo linguístico; marca morfêmica; tempo verbal; função sintática; e tipo de referência). Após audição das entrevistas, na íntegra, foram catalogadas 8.824 ocorrências para a variável sob análise, sendo 6.706 (76%) da variante a gente, e 2.118 (24%) da variante nós. O programa GodVarb X (ROBINSON; LAWRENCE; TAGLIAMONTE, 2005) selecionou como relevantes, após as rodadas estatísticas, nove grupos de fatores, sendo os três mais significativos: marca morfêmica, capitais e sexo. Os resultados, tanto dos fatores selecionados, quanto dos fatores considerados irrelevantes pelo programa, foram analisados e estão descritos por meio de tabelas, gráficos estatísticos e cartas linguísticas, conforme a metodologia geossociolinguística. O que percebemos de conjunto, a partir dos dados aqui analisados, é que a variante a gente não apenas predomina no território nacional, mas também está se ampliando.