A QUESTÃO DO AMOR NOS INTERSTÍCIOS DA MORTE EM “PÁRAMO”, DE JOÃO GUIMARÃES ROSA
Questão. Amor. Morte. “Páramo”. Estas estórias.
Há muito, em seu complexo de tradições fúnebres, o lugar histórico do humano tem acolhido a questão da Morte no horizonte constituído pela história, presentificado em tensão nas diferenças e busca por identidade. A manutenção de espaços especialmente reservados ao enterro e culto dos mortos em edificações que aproximam a arte de processos ritualísticos é aspecto fundamental do velar e desvelar da vida ante o fascínio que a consciência de sua finitude desperta. A Morte em Vida-Vida em Morte de que nos fala João Guimarães Rosa em “Páramo”, narrativa publicada postumamente na obra Estas estórias (1969), abriga a desolação amorosa paramuna de onde os ventos frios descem revoltos, provocadores, prolongados, aqueles que, frente ao espelho, têm de re-aprender a respirar, a ver e a amar. Nessa busca, lançamo-nos ao vazio, ao nada, ao silêncio, ao mistério do cárcel de los Andes, visando interpretar, sob a égide da circularidade hermenêutica, as questões do Amor e da Morte postas em obra, sendo também obra, em pro-cura da aprendizagem poética de finar-se continuando, amando, como ponto de partida ou chegada ao ponto de um destino indefinitivo. Para a morte nos lançamos amorosamente com o intuito de adentrar no (des)conhecido e experimentar a condição de ser homem-Humano questionante com a semelhança, aspecto, ar, fluidos, presença, frio, alguma coisa ou o todo de Cadáver, no fluxo que orienta o pensar acerca de existir, transmutar-se, renascer e amar em labiríntica viagem, in via, travessia.